O ataque à classe pensante deste País nunca foi tão longe depois do 25 de Abril.
Quando chegamos à verdadeira causa das coisas, controlamos melhor as emoções em benefício da análise.
O ensino público em Portugal está de rastos. Perante este facto incontornável, o que confrange são visões fragmentadas de alguns colegas, pois parecem pensar que os problemas da escola se desligam da situação mais geral do País.
A prática deste governo é tanto mais de esquerda quanto encapotada de liberalizante. Passo a explicar-me. Será possível que a docência se desligue da tradição? Quando um professor de Matemática ensina o teorema de Pitágoras não se insere em toda uma tradição científico-cultural? Nesta perspectiva, atacar os professores é atacar uma tradição que no campo da ciência e da cultura remonta a muito mais de dois mil anos. Ora a esquerda não vive pacificada com a tradição porque esta impede o avanço daquela. Perguntar-me-ão: a esquerda não vive pacificada com o teorema de Pitágoras? A tradição transcende infinitamente esse teorema. É a Religião tão arreigada à estrutura mais intrínseca dos homens. É a Filosofia que nunca excluiu Deus até à modernidade. É a influência destas duas áreas humanas no Direito, etc. E quem transmite todos estes saberes às novas gerações? Obviamente os professores. Portanto, a grande trama é lançar uns contra os outros, desautorizá-los perante os alunos, desacreditá-los aos olhos da sociedade.
No que toca à parte económica, essa vai derrapando tão depressa quanto o múnus do professor é desvalorizado.
A questão de fundo é esta: relativamente ao poder central, qual a posição dos professores?
31 maio 2006
Causas em lista de espera
A lista de questões lançadas neste blogue, que esperam solução ou resposta, não cessa de aumentar.
Na medida do possível tenho procurado reconfirmar a evolução das matérias abordadas e, infelizmente, todos os factos relatados permanecem na mesma.
No final de Maio, a relação de matérias é a seguinte:
28/11/2005 - Pedido ao presidente da câmara
2/1/2006 - Recomendação de leitura
9/1/2006 - Estão a atirar-nos água para os olhos
10/1/2006 - Negócio malcheiroso
16/2/2006 - Samouco: salvem a Casa do Mirante
13/1/2006 - Ordem na água
16/2/2006 - Samouco: sugestões para mostrar serviço
14/2/2006 - Sim e não
31/1/2006 - Um passo adiante mas...
21/2/2006 - Negócio malcheiroso (II)
22/2/2006 - Não metam água, por favor
25/2/2006 - Atenção à História local
27/2/2006 - Expliquem-se, por favor
1/3/2006 - Palmeiras engrossam, canteiros rebentam
2/3/2006 - Atenção aos eucaliptos
3/3/2006 - Escândalo em Samouco!
3/3/2006 - D. Mariana Gonçalves perdoar-nos-á?
3/3/2006 - Bucolismo
4/3/2006 - Valha-nos Deus!
6/3/2006 - Novamente o Rossio, para variar...
6/3/2006 - Aviso e recomendação
7/3/2006 - A grua não sabe voar
10/3/2006 - Há regulamento de publicidade? Não parece...
11/3/2006 - Leite por caixa; papel por árvores
13/3/2006 - Para que alguma coisa mude
14/3/2006 - Bagunça na toponímia de Alcochete
17/3/2006 - O site oficial da Câmara
19/3/2006 - Para que alguma coisa mude (4)
20/3/2006 - São Francisco: sugestões para mostrar serviço
21/3/2006 - São Francisco: sugestões para mostrar serviço (2)
22/3/2006 - São Francisco: sugestões para mostrar serviço (3)
22/3/2006 - Dêem à luz, por favor!
22/3/2006 - Aprendam mentes brilhantes!
22/3/2006 - A cola do ex-libris
23/3/2006 - Raios os partam
23/3/2006 - Intendência dos leitores
24/3/2006 - Ideias para reflectir
24/3/2006 - Para inglês ver
25/3/2006 - Sporting merece mais
25/3/2006 - Pinhal do Concelho
25/3/2006 - Um conto, um ponto, e o vigário
26/3/2006 - Passil
27/3/2006 - Torroal
27/3/2006 - O Palácio do Senhor Presidente 3
28/3/2006 - Tenham vergonha!
29/3/2006 - Comovente!
29/3/2006 - Comovente!
30/3/2006 - Olh'á barraca fresquinha!
12/4/2006 - Há alguém acordado?
12/4/2006 - Praia dos Moinhos I
13/4/2006 - Praia dos Moinhos II
13/4/2006 - Praia dos Moinhos III
13/4/2006 - Pasquim de propaganda
14/4/2006 - Estátua ao bombeiro
17/4/2006 - A praça
19/4/2006 - Não aos funcionários descartáveis
20/4/2006 - Bom exemplo de recuperação
21/4/2006 - Não se entende
23/4/2006 - Cobrador de promessas
16/5/2006 - Auditoria? Qual auditoria?
23/5/2006 - Para quando parques infantis legais?
24/5/2006 - Ai Flamingo, Flamingo!
26/5/2006 - Pedido ao presidente da câmara (2)
29/5/2006 - Negócio malcheiroso (2)
Na medida do possível tenho procurado reconfirmar a evolução das matérias abordadas e, infelizmente, todos os factos relatados permanecem na mesma.
No final de Maio, a relação de matérias é a seguinte:
28/11/2005 - Pedido ao presidente da câmara
2/1/2006 - Recomendação de leitura
9/1/2006 - Estão a atirar-nos água para os olhos
10/1/2006 - Negócio malcheiroso
16/2/2006 - Samouco: salvem a Casa do Mirante
13/1/2006 - Ordem na água
16/2/2006 - Samouco: sugestões para mostrar serviço
14/2/2006 - Sim e não
31/1/2006 - Um passo adiante mas...
21/2/2006 - Negócio malcheiroso (II)
22/2/2006 - Não metam água, por favor
25/2/2006 - Atenção à História local
27/2/2006 - Expliquem-se, por favor
1/3/2006 - Palmeiras engrossam, canteiros rebentam
2/3/2006 - Atenção aos eucaliptos
3/3/2006 - Escândalo em Samouco!
3/3/2006 - D. Mariana Gonçalves perdoar-nos-á?
3/3/2006 - Bucolismo
4/3/2006 - Valha-nos Deus!
6/3/2006 - Novamente o Rossio, para variar...
6/3/2006 - Aviso e recomendação
7/3/2006 - A grua não sabe voar
10/3/2006 - Há regulamento de publicidade? Não parece...
11/3/2006 - Leite por caixa; papel por árvores
13/3/2006 - Para que alguma coisa mude
14/3/2006 - Bagunça na toponímia de Alcochete
17/3/2006 - O site oficial da Câmara
19/3/2006 - Para que alguma coisa mude (4)
20/3/2006 - São Francisco: sugestões para mostrar serviço
21/3/2006 - São Francisco: sugestões para mostrar serviço (2)
22/3/2006 - São Francisco: sugestões para mostrar serviço (3)
22/3/2006 - Dêem à luz, por favor!
22/3/2006 - Aprendam mentes brilhantes!
22/3/2006 - A cola do ex-libris
23/3/2006 - Raios os partam
23/3/2006 - Intendência dos leitores
24/3/2006 - Ideias para reflectir
24/3/2006 - Para inglês ver
25/3/2006 - Sporting merece mais
25/3/2006 - Pinhal do Concelho
25/3/2006 - Um conto, um ponto, e o vigário
26/3/2006 - Passil
27/3/2006 - Torroal
27/3/2006 - O Palácio do Senhor Presidente 3
28/3/2006 - Tenham vergonha!
29/3/2006 - Comovente!
29/3/2006 - Comovente!
30/3/2006 - Olh'á barraca fresquinha!
12/4/2006 - Há alguém acordado?
12/4/2006 - Praia dos Moinhos I
13/4/2006 - Praia dos Moinhos II
13/4/2006 - Praia dos Moinhos III
13/4/2006 - Pasquim de propaganda
14/4/2006 - Estátua ao bombeiro
17/4/2006 - A praça
19/4/2006 - Não aos funcionários descartáveis
20/4/2006 - Bom exemplo de recuperação
21/4/2006 - Não se entende
23/4/2006 - Cobrador de promessas
16/5/2006 - Auditoria? Qual auditoria?
23/5/2006 - Para quando parques infantis legais?
24/5/2006 - Ai Flamingo, Flamingo!
26/5/2006 - Pedido ao presidente da câmara (2)
29/5/2006 - Negócio malcheiroso (2)
30 maio 2006
Carta aberta aos sócios do Desportivo
Caros associados:
Sou um simples mas atento adepto do Grupo Desportivo Alcochetense. Não sendo sócio, desta vez, pelo menos, nenhum mentecapto poderá alegar que as minhas intervenções cívicas visam lançar uma candidatatura pessoal aos órgãos dirigentes da colectividade.
E como há meses ninguém parece disponível para liderar uma lista concorrente aos órgãos sociais daquela que é uma das mais antigas e prestigiadas colectividades de Alcochete, livro-me também de que ineptos me acusem de estar a fazer campanha a favor seja de quem for.
Todavia, continuo fiel aos meus princípios de lutar por Alcochete e, como disponho desta tribuna a que alguns fazem o favor de dedicar atenção, uma vez mais sinto ser meu dever alertar para a necessidade de uma mobilização geral, desta vez em torno do Grupo Desportivo Alcochetense.
Lamento o desinteresse demonstrado por quase 1.500 associados do Desportivo que, em cinco meses, ainda não encontraram duas dezenas de filiados disponíveis para integrar os seus corpos sociais.
Estranho que o Alcochetense, detentor de um invejável e potencialmente rentável património desportivo – superior até ao de muitos clubes do segundo escalão do futebol nacional – registe um impasse directivo na época em que a sua equipa sénior ascendeu, mais uma vez, à 3.ª divisão e se classificou a meio da tabela.
Considero deplorável que, semanalmente, quase 200 jovens praticantes honrem o emblema do clube e o nome do concelho sem nenhum reconhecimento da comunidade, tendo conquistado nesta época o 7.º lugar no Campeonato Distrital de Juniores da 1.ª Divisão; o 7.º lugar no Campeonato Distrital de Juvenis da 1.ª Divisão; o 10.º lugar no Campeonato Distrital de Iniciados da 1.ª Divisão e o 3.º lugar no torneio distrital complementar de Infantis, série B.
Podiam ter feito melhor? Pois podiam. Mas é desumano exigir-lhes mais quando jogam perante bancadas vazias e se sentem abandonados por muitos dos que os incitaram a suar a camisola do Desportivo.
É inexplicável que numa colectividade com 69 anos de história, declarada de utilidade pública e dispondo de um estádio graciosamente oferecido pela autarquia, perdure um longo e, aparentemente, insolúvel vazio directivo, apesar de estarmos a cerca de mês e meio do início de nova época desportiva.
Acordai alcochetanos!
Um clube que emana do povo, porque fundado por quatro trabalhadores do rio, não pode morrer assim na praia!
Ajudemos o Desportivo (ou o Alcochetense, como quiserem chamar-lhe) a seguir em frente!
Vamos esquecer interesses mesquinhos e a merda da política. Vamos acabar com esta vertigem da multiplição das colectividades (quase três dezenas num concelho com cerca de 15.000 habitantes), só porque alguns se envaidecem a dirigir qualquer coisa e no montepio municipal não há ninguém com coragem para acabar com a subsídio-dependência generalizada.
Não há disponibilidades financeiras públicas, nem apoios privados, nem praticantes, nem adesão popular, para suportar tamanho disparate.
Basta-nos um único grande clube desportivo em que a maioria dos alcochetanos se reveja, que acolha no seu seio gente e atletas das três freguesias, onde se pratiquem todas modalidades com potenciais interessados.
Um clube cujos dirigentes tenham o concelho de Alcochete na mente e no coração, que deixem aspirações políticas e interesses pessoais em casa.
Entrelacemos as mãos e unamo-nos em torno de uma das instituições de referência da terra, que carece da colaboração de todos. É necessário encontrar dirigentes que congreguem os alcochetanos em torno do Desportivo e compreendam os sentimentos de associados e simpatizantes.
Faltam seis anos para a comemoração das Bodas de Diamante do Alcochetense.
Apareçam mulheres e homens capazes de delinear um programa de recuperação, de consolidação e de valorização do clube nesse lapso de tempo. Ponham a fasquia tão alta quanto possível.
Por exemplo: em 2012 ter 5.000 sócios com as quotas em dia, 1.500 atletas federados, competir em 20 modalidades desportivas, recuperar e ampliar o património edificado, possuir uma escola de vela e uma piscina com as medidas regulamentares para competições oficiais.
Sou um simples adepto do Desportivo e assim desejo continuar. Porém, se puder ser útil em alguma coisa, contem com o meu modesto e desinteressado contributo para que, em 2012, os alcochetanos se orgulhem de um clube desportivo que conseguiu alcançar metas para muitos hoje impensáveis.
Mãos à obra! Já!
Não sou gnóstico
Talvez esteja enganado, mas fiquei com a ideia de que um(a) anónimo(a), através de uma recomendação de leitura, quis insinuar que eu, no fundo, sou gnóstico. Se este tão benévolo quanto (aparentemente) desconhecido leitor tivesse alguma razão, eu seria um poço de contradição.
Já tinha lido o texto que me foi sugerido. Não sei se Olavo de Carvalho, cuja obra conheço em boa parte, é gnóstico. Eu não sou.
Por ler Santo Ireneu, alguns evangelhos apócrifos, René Guénon, etc., sou gnóstico? Quem lê Mein Kampf é nazi? As coisas não são assim!
Em primeiro lugar, não sou gnóstico porque, para mim, a salvação não está no conhecimento, mas em Cristo.
Quando falo de Cristo, falo do Cristo dos Evangelhos e de toda a tradição sancionada pela Igreja Católica. Se o Bispo da minha diocese me ordenasse que me abstivesse de escrever sobre temas da Confissão Cristã, eu obedeceria imediatamente porque, como costumo dizer, a humildade é a verdade.
Particularizando, não sou gnóstico porque me dirijo a todos e não só às elites, abomino o secretismo, sou pelo progresso digno, não tenho pensamento anti-histórico, alio-me ao tempo, defendo a unidade de Deus contra o dualismo, rechaço a ideia da unidade de Deus e do homem, penso que Deus ama o mundo e que a Criação é boa.
O mal, para mim, é um acidente da Criação. Todo o homem pode libertar-se da estrutura de pecado e salvar-se.
Já tinha lido o texto que me foi sugerido. Não sei se Olavo de Carvalho, cuja obra conheço em boa parte, é gnóstico. Eu não sou.
Por ler Santo Ireneu, alguns evangelhos apócrifos, René Guénon, etc., sou gnóstico? Quem lê Mein Kampf é nazi? As coisas não são assim!
Em primeiro lugar, não sou gnóstico porque, para mim, a salvação não está no conhecimento, mas em Cristo.
Quando falo de Cristo, falo do Cristo dos Evangelhos e de toda a tradição sancionada pela Igreja Católica. Se o Bispo da minha diocese me ordenasse que me abstivesse de escrever sobre temas da Confissão Cristã, eu obedeceria imediatamente porque, como costumo dizer, a humildade é a verdade.
Particularizando, não sou gnóstico porque me dirijo a todos e não só às elites, abomino o secretismo, sou pelo progresso digno, não tenho pensamento anti-histórico, alio-me ao tempo, defendo a unidade de Deus contra o dualismo, rechaço a ideia da unidade de Deus e do homem, penso que Deus ama o mundo e que a Criação é boa.
O mal, para mim, é um acidente da Criação. Todo o homem pode libertar-se da estrutura de pecado e salvar-se.
Contra todos os equívocos
A verdade é a base da minha relação com o outro, custe o que custar.
Detesto as águas do equívoco porque não são leais.
Deve convencer-se o meu benévolo leitor de que eu não assumo neste blog qualquer cruzada pela religião até porque sou em primeiro lugar cristão e depois religioso.
Que ninguém se iluda: o meu posicionamento neste blog é antes de tudo político. É aqui que rendo homenagem aos meus respeitáveis inimigos porque neste pormenor eles não se deixam enganar a meu respeito.
Mas vamos ao que interessa. Quando, por exemplo, afirmo que sou um homem livre, é óbvio que quero chegar à pessoa cuja liberdade está infinitamente para lá dos determinismos físicos e sociais. Assim sendo, ordeno a pessoa a Deus que só concebo como absoluta liberdade. O meu objectivo é apresentar o exemplo que se opõe ao materialismo dialéctico de Marx e Engels, convicto de que a defesa da liberdade pessoal é barreira aos totalitarismos de toda a espécie.
Detesto as águas do equívoco porque não são leais.
Deve convencer-se o meu benévolo leitor de que eu não assumo neste blog qualquer cruzada pela religião até porque sou em primeiro lugar cristão e depois religioso.
Que ninguém se iluda: o meu posicionamento neste blog é antes de tudo político. É aqui que rendo homenagem aos meus respeitáveis inimigos porque neste pormenor eles não se deixam enganar a meu respeito.
Mas vamos ao que interessa. Quando, por exemplo, afirmo que sou um homem livre, é óbvio que quero chegar à pessoa cuja liberdade está infinitamente para lá dos determinismos físicos e sociais. Assim sendo, ordeno a pessoa a Deus que só concebo como absoluta liberdade. O meu objectivo é apresentar o exemplo que se opõe ao materialismo dialéctico de Marx e Engels, convicto de que a defesa da liberdade pessoal é barreira aos totalitarismos de toda a espécie.
29 maio 2006
Quem nos avisa...
A ler com atenção este e este textos, que não comento.
O tema é totalmente distinto mas vale a pena ler também este texto, escrito por uma ex-ministra politicamente insuspeita.
O tema é totalmente distinto mas vale a pena ler também este texto, escrito por uma ex-ministra politicamente insuspeita.
Negócio malcheiroso (2)
Esta talvez fosse uma boa notícia se o executivo camarário explicasse algumas coisas importantes aos munícipes de Alcochete...
Por exemplo: qual o agravamento previsto da taxa de saneamento quando a nova ETAR entrar em funcionamento? A tecnologia desta ETAR permite a reutilização de água para rega, lavagem de artérias, autoclismos, etc.? Tem o município prevista a introdução nos edifícios de dois circuitos hidráulicos independentes: um de água potável e outro de água para fins diversos?
Poucos munícipes sabem que, desde a vereação de 1998/2001, a câmara de Alcochete decidiu integrar a rede de esgotos do concelho num sistema multimunicipal de saneamento de águas residuais da península de Setúbal, tendo para o efeito sido constituída, há alguns anos, a sociedade Simarsul (na qual a empresa estatal Águas de Portugal detém 51% do capital e os municípios de Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra e Setúbal o restante).
O município de Alcochete é o mais pequeno dos societários da Simarsul e detém acções no montante de 375.455 euros (pouco mais de 75.000 contos), equivalentes a 1,5% do capital.
Esta solução fora descrita, pelo anterior chefe da edilidade de Alcochete, como "um salto qualitativo no domínio da recolha e do tratamento de águas residuais" e representar "mais um passo em frente no longo caminho do desenvolvimento sustentável", mas a cláusula 5.ª dos contratos de recolha de efluentes determina que os municípios aderentes aplicarão, aos utilizadores do sistema, tarifários de saneamento que deverão cobrir os respectivos encargos com a concessionária.
Serão, pois, os munícipes a pagar a factura – cujo valor se desconhece – do salto qualitativo e do passo em frente, os quais ignoram ainda se beneficiam algo dos elevados lucros desta actividade.
Numas das sessões públicas da edilidade, no mandato anterior, um munícipe perguntou ao presidente da câmara se sabia qual o agravamento previsto para a taxa de saneamento, logo que o sistema multimunicipal estivesse a funcionar (o que deverá ocorrer perto do final do próximo ano).
A resposta então dada foi negativa mas, nas considerações complementares, ficou patente ser inevitável o aumento da taxa actualmente cobrada (1/4 do valor da água consumida).
De quanto será esse aumento, não se sabe. No entanto, no vizinho concelho de Montijo, por exemplo, no início de 2006 foram decididos aumentos sucessivos superiores a 10% ao ano. Mais um exemplo: noutro município, este do Sul do país, cujos efluentes são já tratados num sistema multimunicipal, a taxa de saneamento representa, presentemente, cerca de 45% do valor da água facturada.
Recordo que a taxa de saneamento cobrada pelo município de Alcochete foi agravada, há sete anos, em cerca de 50%, o que na altura causaria algumas reacções negativas.
No mandato da penúltima edilidade, quando principiaram os estudos para a criação do sistema multimunicipal de águas residuais da península de Setúbal, previa-se que a empresa concessionária cobrasse ao município entre 70$00 e 80$00 (0,35€ e 0,40€) por m3 dos efluentes de saneamento geral. Contudo, o valor contratual fixado entre a Simarsul e o município de Alcochete acabaria por ser de 84$/m3 (0,418€).
Nunca foram reveladas informações que permitam conhecer, antecipadamente, o agravamento previsto para a taxa de saneamento em Alcochete, tanto mais que, além do valor a pagar à concessionária, deverá ter-se em conta que o município continuará a responsabilizar-se pela conservação e manutenção da sua rede pública, o que representa despesas acrescidas.
Demagogia
Dão nas vistas em qualquer lugar
Jogando com as palavras como ninguém
Sabem como hão-de contornar
As mais directas perguntas
Aproveitam todo o espaço
Que lhes oferecem na rádio e nos jornais
E falam com desembaraço
Como se fossem formados em falar demais
Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira
P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral
Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total
Desde o último até ao primeiro
Vão-se curar em banquetes, numa social
Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira
Letra e música de Luís Pedro Fonseca
Álbum «Perto de ti», Lena d’Água, 1982
(som original está aqui)
Jogando com as palavras como ninguém
Sabem como hão-de contornar
As mais directas perguntas
Aproveitam todo o espaço
Que lhes oferecem na rádio e nos jornais
E falam com desembaraço
Como se fossem formados em falar demais
Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira
P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral
Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total
Desde o último até ao primeiro
Vão-se curar em banquetes, numa social
Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira
Letra e música de Luís Pedro Fonseca
Álbum «Perto de ti», Lena d’Água, 1982
(som original está aqui)
28 maio 2006
Eu sou um homem livre
Que acontece quando digo que sou um homem livre?
A afirmação de que sou um homem livre é irredutível a qualquer representação. Esta irredutibilidade donde vem? De algo profundamente pessoal.
Mas o que é profundamente pessoal começa e acaba em mim? Se respondo que sim, embrenho-me na mais crassa imanência.
Pergunto: quem sou eu? Tão grande que possa negar Algo para lá de mim maior que eu? Esta inversão destrói a minha estrutura mais intrínseca. Sou pequeno. Por isso afirmo o não-demonstrável porque a verdade: há Algo para lá de mim maior que eu. Para esta ideia o nome mais comum é Deus.
Eu sou criado à essência de Deus, absolutamente irredutível a qualquer representação, razão por que ninguém viu Deus com os olhos da cara ou da mente. Estes olhos fazem registos. Ora a absoluta liberdade de Deus torna-O insubmisso a qualquer registo.
Portanto, quando digo que sou um homem livre, instauro-me pessoa, reflexo da Pessoa Suprema e totalmente livre que é Deus.
A afirmação de que sou um homem livre é irredutível a qualquer representação. Esta irredutibilidade donde vem? De algo profundamente pessoal.
Mas o que é profundamente pessoal começa e acaba em mim? Se respondo que sim, embrenho-me na mais crassa imanência.
Pergunto: quem sou eu? Tão grande que possa negar Algo para lá de mim maior que eu? Esta inversão destrói a minha estrutura mais intrínseca. Sou pequeno. Por isso afirmo o não-demonstrável porque a verdade: há Algo para lá de mim maior que eu. Para esta ideia o nome mais comum é Deus.
Eu sou criado à essência de Deus, absolutamente irredutível a qualquer representação, razão por que ninguém viu Deus com os olhos da cara ou da mente. Estes olhos fazem registos. Ora a absoluta liberdade de Deus torna-O insubmisso a qualquer registo.
Portanto, quando digo que sou um homem livre, instauro-me pessoa, reflexo da Pessoa Suprema e totalmente livre que é Deus.
26 maio 2006
Défice de informação
Há tempos, em textos que podem ser lidos aqui, aqui e aqui, neste blogue recordámos a insensatez de investir em obras públicas dispensáveis enquanto a escassos 7kms do Largo de São João há alcochetanos a viver em condições deploráveis e carentes de infra-estruturas elementares (saneamento e artérias pavimentadas, nomeadamente).
São problemas insolúveis há muito, nem todos dependentes de um ou mais proprietários privados, como bem sabem os residentes nesses lugarejos terceiro-mundistas.
Notícia publicada na última edição do jornal «Sem Mais» aflora uma das vertentes do problema – relacionada com o Passil – parecendo-me oportuno recomendar a sua leitura atenta, tanto mais que confirma o essencial do que então se escreveu.
Passil, Terroal e Pinhal do Concelho, entre outros lugarejos alcochetanos, entraram enfim na agenda política. Recomendam-se visitas turísticas a esses locais, porque nenhum residente em Alcochete deve ignorá-los.
Há ainda factos novos: estão planeadas para o Passil um milhar de novas habitações (mais de 3.000 moradores, cerca do quíntuplo dos actualmente existentes) – fora o previsível aumento do loteamento industrial – sem que haja ainda planos gizados para as infra-estruturas de apoio indispensáveis (escola, centro de saúde, etc.).
Uma vez mais estranho que matérias de interesse público generalizado, citando projectos existentes na autarquia, continuem a chegar-nos por via indirecta e não através dos meios informativos do próprio município.
Não há comunismo honesto
Esta câmara d'Alcochete já está no poder há meio ano. Face a tal constatação, levantam-se algumas perguntas: o que é que já foi feito? Acabou-se, ao menos, a 2ª fase da variante urbana? O que impede a entrega desta via ao tráfego? Os munícipes estarão a ser sacrificados a interesses políticos de alguns que só os deuses sabem?
E quanto às múltiplas promessas feitas pelos comunistas à população na campanha eleitoral? Por exemplo, já foi criado o tão badalado Conselho Municipal?
Mas se há uma coisa que fere todo o espírito do programa comunista é o fecho de informação aos munícipes. Veja-se que entre o boletim municipal e o site miserável da câmara a diferença está no suporte das aparentes notícias: no boletim o papel; no site a electrónica.
Em síntese, estamos perante uma mentira total. Isto não surpreende porque já Lenine e Hitler tinham descoberto que a mentira integral é mais fácil de impor que mentiras parciais.
Os meus pacientes leitores poderão achar o meu discurso assaz virulento. Talvez! Sou cristão porque tenho de ser, o que não me obriga a ser cordeiro nas goelas do lobo.
E quanto às múltiplas promessas feitas pelos comunistas à população na campanha eleitoral? Por exemplo, já foi criado o tão badalado Conselho Municipal?
Mas se há uma coisa que fere todo o espírito do programa comunista é o fecho de informação aos munícipes. Veja-se que entre o boletim municipal e o site miserável da câmara a diferença está no suporte das aparentes notícias: no boletim o papel; no site a electrónica.
Em síntese, estamos perante uma mentira total. Isto não surpreende porque já Lenine e Hitler tinham descoberto que a mentira integral é mais fácil de impor que mentiras parciais.
Os meus pacientes leitores poderão achar o meu discurso assaz virulento. Talvez! Sou cristão porque tenho de ser, o que não me obriga a ser cordeiro nas goelas do lobo.
Pedido ao presidente da câmara (2)
Pela primeira vez, há cerca de seis meses, pedi ao presidente da câmara de Alcochete que mandasse publicar informação detalhada acerca do acordo celebrado com a Santa Casa da Misericórdia de Alcochete, que viabilizou o prosseguimento da construção da nova biblioteca pública.
Lamentavelmente, até hoje não o fez.
Acabo de ler no «Jornal do Montijo» e no «Jornal de Notícias» que ambas as entidades combinaram, recentemente, mais uma permuta de terrenos, para viabilizar um possível financiamento público da construção de um novo lar de idosos.
Tudo o que se faça é pouco para ajudar a Santa Casa da Misericórdia de Alcochete – que tem a seu cargo quase duas centenas de idosos e muitos mais necessitados em lista de espera, não dispondo de instalações adequadas para o cumprimento dessa meritória acção social – mas qualquer autarquia tem o dever legal de anunciar e explicar aos munícipes os acordos que negoceia com entidades privadas e públicas.
Por isso insisto no pedido: pode o executivo da câmara fazer o favor de nos explicar, no mínimo, decisões administrativas que envolvem bens de interesse público?
Lamentavelmente, até hoje não o fez.
Acabo de ler no «Jornal do Montijo» e no «Jornal de Notícias» que ambas as entidades combinaram, recentemente, mais uma permuta de terrenos, para viabilizar um possível financiamento público da construção de um novo lar de idosos.
Tudo o que se faça é pouco para ajudar a Santa Casa da Misericórdia de Alcochete – que tem a seu cargo quase duas centenas de idosos e muitos mais necessitados em lista de espera, não dispondo de instalações adequadas para o cumprimento dessa meritória acção social – mas qualquer autarquia tem o dever legal de anunciar e explicar aos munícipes os acordos que negoceia com entidades privadas e públicas.
Por isso insisto no pedido: pode o executivo da câmara fazer o favor de nos explicar, no mínimo, decisões administrativas que envolvem bens de interesse público?
Boas e más notícias
A recente reunião entre os presidentes das câmaras de Alcochete e de Montijo – noticiada pelo jornal «Sem Mais» – merece realce e espero que seja prenúncio de um entendimento longo e profícuo para os respectivos munícipes.
É que no anterior mandato os chefes de ambas as edilidades andaram de candeias às avessas, nem sempre pelas melhores razões, embora pertencessem ao mesmo partido (PS).
Sempre entendi ser indispensável o relacionamento privilegiado dos autarcas de Alcochete com os homólogos dos concelhos adjacentes, por haver inúmeras vantagens na cooperação mútua e no lançamento de projectos complementares, tanto para as autarquias como para as colectividades e instituições de solidariedade social.
Parece-me, de resto, que a geminação de Alcochete com as vilas e cidades vizinhas na margem Sul do Tejo seria interessante inovação à escala nacional, pelo que sugiro o estudo aprofundado dessa possibilidade.
Entretanto, a notícia do «Sem Mais» contém um pormenor que constituirá mais uma surpresa para a esmagadora maioria dos eleitos no mandato anterior, pois nunca vi o assunto referido em documento algum ou invocado por qualquer autarca local: a câmara de Alcochete acumulou, desde 2002, uma dívida de cerca de 5.000 euros (aproximadamente 1.000 contos em moeda antiga) à sua congénere de Montijo, respeitante a transporte escolar dos jovens residentes em Alcochete que estudam em estabelecimentos de ensino do concelho vizinho.
Viva a transparência do poder local!
É que no anterior mandato os chefes de ambas as edilidades andaram de candeias às avessas, nem sempre pelas melhores razões, embora pertencessem ao mesmo partido (PS).
Sempre entendi ser indispensável o relacionamento privilegiado dos autarcas de Alcochete com os homólogos dos concelhos adjacentes, por haver inúmeras vantagens na cooperação mútua e no lançamento de projectos complementares, tanto para as autarquias como para as colectividades e instituições de solidariedade social.
Parece-me, de resto, que a geminação de Alcochete com as vilas e cidades vizinhas na margem Sul do Tejo seria interessante inovação à escala nacional, pelo que sugiro o estudo aprofundado dessa possibilidade.
Entretanto, a notícia do «Sem Mais» contém um pormenor que constituirá mais uma surpresa para a esmagadora maioria dos eleitos no mandato anterior, pois nunca vi o assunto referido em documento algum ou invocado por qualquer autarca local: a câmara de Alcochete acumulou, desde 2002, uma dívida de cerca de 5.000 euros (aproximadamente 1.000 contos em moeda antiga) à sua congénere de Montijo, respeitante a transporte escolar dos jovens residentes em Alcochete que estudam em estabelecimentos de ensino do concelho vizinho.
Viva a transparência do poder local!
24 maio 2006
Ai Flamingo, Flamingo!
Noutros tempos, depois de empossados os novos autarcas procuravam marcar a diferença executando pequenas obras de beneficiação e de remodelação. Coisas simples de concretizar num curto lapso de tempo, dispensando burocracia e esperas inúteis.
Na maior parte dos casos, o adiamento ou a ignorância dessas obras implicara a perda de votos aos antecessores e a correcção imediata dos erros era uma forma de sedução. Visava criar uma imagem distintiva e de estímulo à adesão de novas bases eleitorais, porque só o apoio popular sustenta o poder do governante.
Vêm estas cogitações a propósito da ridiculamente célebre Alameda do Tejo, na urbanização do Flamingo, em Alcochete, situada atrás da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I.
Do ponto de vista urbanístico "os Flamingos" – como a maioria designa o bairro – são um monumental aborto. A praceta interior da Alameda do Tejo é um dos espaços mais áridos e desumanos que conheço em Alcochete.
Dezenas de floreiras, canteiros tratados com gosto e espaços verdes devidamente cuidados poderiam amenizar aquele disparate urbanístico. Mas passaram-se sete anos desde que os primeiros moradores ali chegaram, vamos no terceiro mandato municipal e ninguém do poder demonstra a mínima disposição em resolver os casos pendentes.
Os inacabados espaços verdes e outros problemas custaram muitos votos aos derrotados no passado Outubro, os quais, durante quase dois anos, pareciam poder resolvê-los de vez. Muita gente acreditou nisso e deu-lhes o benefício da dúvida, mas como pouco ou nada sucedeu depois e ninguém explicou porquê, a maioria cobrou-lhes mais essa dívida.
Não estranho que sete meses depois das eleições as coisas continuem praticamente na mesma e a Alameda do Tejo apresente o aspecto patente nas imagens acima inseridas. Estranho é que os vencedores de Outubro tivessem um programa eleitoral em que prometiam o oposto do que têm demonstrado na prática diária.
23 maio 2006
Coisas de Alcochete
Casualmente, descobri há pouco este blogue de um alcochetano anónimo.
O primeiro texto foi publicado há cerca de uma semana e «Coisas de Alcochete» já contém hiperligação a este condomínio – o que muito agradeço e retribuo, obviamente.
Os temas até agora abordados são interessantes, alguns pouco conhecidos e só é pena o autor não se identificar. É "Alcochetano, Puro e genuíno. Amante de histórias, História e contos".
Seja bem-vindo quem parece vir por bem!
Para quando parques infantis legais?
Mais de uma vez avisei que a maioria dos parques infantis do concelho de Alcochete não cumpre os preceitos legais. Estão todos irregulares, menos os dois novos: São Francisco e praia de Samouco.
Uns não têm vedação, noutros o piso é impróprio, há brinquedos perigosos e em todos faltam as placas previstas na lei.
Não sei se essas e outras anomalias visíveis explicam a deserção das crianças, mas os parques infantis do concelho de Alcochete são os menos frequentados entre dezenas que observei nos últimos meses em diversos pontos do país.
Escapa à minha compreensão que dois novos parques infantis tenham as condições mínimas, mas ninguém do município ou das juntas de freguesia demonstre preocupação com os antigos.
Continuarão assim até que haja um acidente grave?
O executivo camarário não pode continuar a ser mero tesoureiro e emissor de licenças de urbanização e de construção.
O paradigma dominante e o sinal da Cruz
É preciso, no campo da ciência, lutar pela emergência de um método científico que integre o melhor do paradigma dominante e o supere a favor de uma nova metodologia de investigação.
O paradigma dominante em ciência assenta na separação sujeito/objecto. Este dualismo, há séculos ensinado nas escolas, é responsável por afirmações brutais do tipo: um homem é um homem, uma mulher é uma mulher. Isto quer dizer que a diferença de sexo discrimina radicalmente homens e mulheres.
Mas se eu com o outro me posicionar numa envolvência unitiva, anulo a separação sujeito/objecto (observador/observado) e instauro uma nova racionalidade que traz o fim de um mundo e o princípio de outro.
E no que consiste esta nova racionalidade? Consiste em fazer cruzar a minha subjectividade com tudo o que me é exterior. Aqui não pode haver discriminação de raça, religião, sexo, etc. É isto que poderá ser feito para, pelo menos, relativizar o método cartesiano em ciência e elevar o sinal da Cruz de Cristo que é o sinal da vida desde toda a Eternidade: união pelo Amor do Sujeito Supremo com a multiplicidade das coisas que d'Ele saem e n'Ele estão.
Dou testemunho de que a Cruz de Cristo, imagem visível do Deus Uno e Trino, é porta para o Amor e também método para a compreensão científica do homem e do mundo.
NOTA - Este texto não prescinde a leitura de outro em baixo intitulado A Cruz e o método.
22 maio 2006
Não dá para entender
Acabei de ler este texto e, muito sinceramente, não entendo a lógica do parecer votado pela maioria que hoje pontifica no município de Alcochete, a propósito do Dr. José Grilo Evangelista. Estranho em especial o seguinte parágrafo:
"«Não se trata de pôr em causa o mérito do patrono proposto mas sim por se considerar não estarem reunidas, no caso, as condições para uma efectiva e ampla participação da comunidade escolar, aconselhando-se desse modo uma reanálise da situação, nova proposta de patronos e envolvimento de todos os intervenientes na Secundária local» justifica o executivo municipal em documento aprovado por maioria, mas com a abstenção dos vereadores socialistas".
Se não se põe em causa o mérito do patrono... sugere-se nova proposta de patronos? Na escolha do patrono houve envolvimento de dezenas dos actuais representantes legítimos da comunidade escolar mas... sugere-se o envolvimento de todos os intervenientes na secundária local?
Desconfio que anda aqui manobra da 'processionária' – a tal que causa uma comichão dos diabos – porque à data da sua morte o homenageado era um "situacionista" confesso! Coisa que, quase 34 anos após a morte do Dr. José Grilo Evangelista, ainda causa coceira a certas "mentes brilhantes"!
Esquecem-se que maioria havia na edilidade quando se decidiu, em 1999/2000, a existência de uma Av.ª Dr. José Grilo Evangelista na Urbanização dos Barris, em Alcochete?
Pobre Dr. José Grilo Evangelista, que deve andar às voltas no túmulo 57 anos após ter escrito o texto que reproduzo no 'post' anterior!
Formulo um único voto: oxalá a DREL ignore o parecer (não vinculativo) do município e aprove a atribuição do nome do Dr. José Grilo Evangelista à Escola Secundária de Alcochete. Não é por mais nada, somente porque detesto habilidades de 'dinossauros excelentíssimos' e mentes conservadoras que tentam apagar da memória colectiva Homens bons, simplesmente porque se orientavam por outros ideais!
E se o bom-senso vencer a esperteza vermelhusca, quem tiver documentos e textos relacionados com esse alcochetano ilustre deverá contactar o presidente da comissão instaladora do estabelecimento escolar em causa, que deseja recolher histórias protagonizadas pelo Dr. Grilo Evangelista na terra que foi a sua.
Pode a escola contar, desde já, com o meu apoio voluntário e desinteressado se quiser reunir num sítio na Internet toda a documentação recolhida.
A propósito: leiam ainda os seguintes textos do meu companheiro de blogue:
O Dr. Grilo ou a liberdade de um povo
Um pequeno-grande texto do Dr. Grilo
O Dr. Grilo, também poeta
"«Não se trata de pôr em causa o mérito do patrono proposto mas sim por se considerar não estarem reunidas, no caso, as condições para uma efectiva e ampla participação da comunidade escolar, aconselhando-se desse modo uma reanálise da situação, nova proposta de patronos e envolvimento de todos os intervenientes na Secundária local» justifica o executivo municipal em documento aprovado por maioria, mas com a abstenção dos vereadores socialistas".
Se não se põe em causa o mérito do patrono... sugere-se nova proposta de patronos? Na escolha do patrono houve envolvimento de dezenas dos actuais representantes legítimos da comunidade escolar mas... sugere-se o envolvimento de todos os intervenientes na secundária local?
Desconfio que anda aqui manobra da 'processionária' – a tal que causa uma comichão dos diabos – porque à data da sua morte o homenageado era um "situacionista" confesso! Coisa que, quase 34 anos após a morte do Dr. José Grilo Evangelista, ainda causa coceira a certas "mentes brilhantes"!
Esquecem-se que maioria havia na edilidade quando se decidiu, em 1999/2000, a existência de uma Av.ª Dr. José Grilo Evangelista na Urbanização dos Barris, em Alcochete?
Pobre Dr. José Grilo Evangelista, que deve andar às voltas no túmulo 57 anos após ter escrito o texto que reproduzo no 'post' anterior!
Formulo um único voto: oxalá a DREL ignore o parecer (não vinculativo) do município e aprove a atribuição do nome do Dr. José Grilo Evangelista à Escola Secundária de Alcochete. Não é por mais nada, somente porque detesto habilidades de 'dinossauros excelentíssimos' e mentes conservadoras que tentam apagar da memória colectiva Homens bons, simplesmente porque se orientavam por outros ideais!
E se o bom-senso vencer a esperteza vermelhusca, quem tiver documentos e textos relacionados com esse alcochetano ilustre deverá contactar o presidente da comissão instaladora do estabelecimento escolar em causa, que deseja recolher histórias protagonizadas pelo Dr. Grilo Evangelista na terra que foi a sua.
Pode a escola contar, desde já, com o meu apoio voluntário e desinteressado se quiser reunir num sítio na Internet toda a documentação recolhida.
A propósito: leiam ainda os seguintes textos do meu companheiro de blogue:
O Dr. Grilo ou a liberdade de um povo
Um pequeno-grande texto do Dr. Grilo
O Dr. Grilo, também poeta
Em honra de um grande alcochetano!
O dr. José Grilo Evangelista escreveu, em 1949, um dos mais sucintos e esclarecedores textos acerca da restauração do concelho de Alcochete, ocorrida a 13 de Janeiro de 1898.
Cerca de meio século volvido, no extinto jornal «A Voz de Alcochete» (edição n.º 7, Ano 1), de Janeiro de 1949, o dr. José Grilo Evangelista, destacado médico e poeta local, exortava os mais novos a recordarem a restauração do concelho, com um artigo intitulado «Restauração do concelho de Alcochete - Exortação aos Novos».
É bom saber que o Dr. José Grilo Evangelista nasceu a 11 de Novembro de 1895, em Alcochete, e faleceu a 24 de Dezembro de 1972 (em «Antologia de Poetas Alcochetanos», II vol., podem encontrar-se alguns das centenas de poemas que este ilustre médico nos legou).
Na actualidade, quando para a maioria a data da Restauração do Concelho já nada significa e mesmo a nível institucional vai perdendo relevância, vale a pena recordar o que foi escrito em 1949 por esse ilustre clínico que, em vida, jamais negou assistência aos pobres.
Eis, na íntegra, esse artigo do dr. José Grilo Evangelista. É longo, bem sei. Mas vale bem a pena recordar o pensamento de um Homem que serviu, amou e prestigia Alcochete:
"Para os alcochetanos, Janeiro encerra duas datas indeléveis: Em 15 se restaurou o Concelho, em 30 se reintegrou o arquivo municipal.
Foi em 1898. Já vai um ano a transbordar de meio século! - um nada na revolução dos tempos! - uma eternidade na vida de uma flor!
Recordar o que então se passou (1895-1898) sabe bem neste começo de 49, brumoso, friorento, enigmático.
Vão maus os tempos.
Vive-se uma vida agreste, açoitada por um vento sibilino, em rajadas ciclónicas, numa tempestade inclemente que tudo pretende subverter.
As paixões ideológicas cegam os homens e não raro a torrente galga o penedio das margens para se levantar em ondas encapeladas, plenas de facciosismo, tentando derrubar os fundamentos da sociedade, tudo encharcando, tudo nivelando na mesma vasa enganadora, estonteante, demoníaca.
Acordar os novos é, pois, uma obra meritória. Arrancá-los à nirvana embaladora, integrá-los na tradição de seus maiores, prendê-los à História da Terra em que nasceram, subtraí-los à indiferença, fazê-los viver e sentir o amor da Pátria é uma obra de obrigação e de devoção para quantos, já hoje, hajam dobrado, como eu, o alteroso «cabo das tormentas» da vida.
Recordemos por isso, nesta data, a página, porventura a mais dolorosa e mais nobre da nossa História Concelhia, para que os novos aufiram dela ensinamento e fervor patriótico e, como prólogo, façamos a declaração prévia de que, se como alcochetanos somos forçados a reprovar factos e atitudes de certo modo insolentes, isso o fazemos sem prejuízo das relações amistosas que é de boa norma e da mais elementar cortesia existirem entre povos vizinhos.
Setembro de 1895. Era então Ministro do Reino o ConseIheiro João Franco.
O Governo com o fim de centralizar mais os serviços do Ministério ao Reino, estudou e decretou uma reforma administrativa pela qual foram suprimidos muitos Concelhos do País.
Desta sorte, quase ditatorialmente, naquele triste Outono de 95, a nossa Terra viu-se esbolhada da sua autonomia administrativa, bem como de todos os privilégios que, desde tempos imemoriais, vinha disfrutando.
Não é fácil descrever a dor de quem tão dura e injustamente se vê privado da sua liberdade; não se descreve o sofrimento moral de quem, imolado à fúria legisladora, se vê na dura obrigação de prestar vassalagem ao jugo vexatório de estranhos, e muito menos, quando, nesses estranhos, é manifesto o propósito firme de nos exterminar.
Calcule-se pois a mágoa deste povo, quando, na manhã de 30 de Setembro de 1895, se apresentou aqui em nossa Terra, aqui em nossa casa, um empregado do Concelho de Aldegalega, escudado por numerosa força pública, e munido de um simples alvará do Governo Civil, a exigir a entrega de todos os documentos, móveis e títulos do nosso arquivo municipal.
A ânsia de agravar a nossa sensibilidade foi tal, que nem se esperou pelo cumprimento das formalidades do estilo, nem ao menos pela publicação do decreto da supressão no «Diário do Governo».
Eu não sei se nessa tristíssima manhã o sol deixou de brilhar intenso no azul do firmamento, mas o que sei, do que tenho a certeza plena, é que nesse dia 30 de Setembro de 1895, nesse dia funestíssimo em que passámos a ser vassalos forçados de Aldegalega, não houve peito de alcochetano que não gemesse angustiado, não houve lar nesta Terra que se não amortalhasse num silêncio profundo, silêncio feito de mágoa, silêncio feito de dor, silêncio feito de raiva.
Começou, então, a nossa tortura.
Começou assim o nosso cativeiro, que havia de durar anos, dois longos anos, sofridos de lágrimas nos olhos, mas também de dignidade altiva, de luta heróica, tremondo, incessante, luta de vencer ou morrer.
Escrevi há pouco que fôramos injustamente privados da nossa autonomia.
De facto, muitos concelhos do País, bem mais pequenos do que o nosso e alguns até dentro do próprio distrito de Lisboa, a que então pertencíamos, foram poupados.
Tão pouco nos era desfavorável o coeficiente populacional, com quase 25% de indivíduos sabendo ler e escrever e com mais cidadãos elegíveis para os corpos administrativos do que o próprio concelho em que fomos incorporados.
E, quanto a recursos económicos, saiba-se de uma vez para sempre que Alcochete não devia cinco réis a ninguém.
Pelo contrário: do seu cofre transitaram para o de Aldegalega valores que, na moeda de hoje, andariam para cima de mil contos.
Imolados assim sem uma razão forte, sem um motivo assaz poderoso, resultou ao menos do nosso sacrifício algum bem para Alcochete?
Que o diga a análise imparcial dos factos.
A conduta do município absorvente para connosco pode resumir-se em poucas palavras:
- Incompatibilizar entre si as freguesias do concelho extinto.
- Desvalorizar o seu património; e
- Utilizar em proveito próprio os seus rendimentos.
Hipocritamente revestiu de crepes as armas do seu Paço Municipal como se de sentimento estivesse pela nossa autonomia perdida, e, para nos suavizar a mágoa, deixou correr à revelia as nossas mais pequenas e urgentes necessidades, desbaratou quase por completo o famoso Pinhal do Concelho, agravou desmedidamente os impostos (só o do pão sofreu um aumento anual de 2.162$000, ou seja quase 70 contos de hoje).
Até nos próprios serviços públicos entrou a corrupção, dispensando-se empregados nossos, que o eram de direito, para apaniguar protegidos e afilhados. E, finalmente, a coroar todo este descalabro administrativo, mil e uma picuinhas impertinentes e vexatórias.
Eis a súmula, rápida mas exacta do nosso aviltante Cativeiro; eis um dos frutos, bem sezonados da reforma administrativa de João Franco.
Como não podia deixar de ser, Alcochete reagiu e reagiu bem. A luta atingiu, por vezes, uma violência extrema. Sucederam-se as representações, uma delas dirigida até ao próprio Chefe Supremo da Nação, a Sua Majestade.
Publicaram-se folhetos, artigos em jornais, moveram-se as mais altas influências, espumavam-se ódios, esboçavam-se conflitos pessoais e a tal ponto subiu o desespero do povo desta Terra que, certo dia, fez saber oficialmente aos Poderes Constituídos, que preferia ser simples freguesia do Concelho de Canha restaurado, a sê-lo de Aldegalega, engrandecida pela ditatorial reforma de João Franco.
Estamos agora em princípios do ano de 1897. O partido progressista assume o poder. José Luciano de Castro promete remediar o erro de João Franco, mandando restaurar os concelhos suprimidos. Mas... às freguesias rurais faculta-se-lhes o direito de não acompanharem as cabeças do concelho na sua reintegração.
Para isso basta que a maioria dos seus habitantes o requeiram. Nomeiam-se comissões distritais. Nomeia-se a Comissão Central que tudo apreciará em última instância.
Vão queimar-se os últimos cartuchos. Aldegalega pretende à viva força que Samouco requeira para lhe continuar anexado. Domingos Tavares, Presidente da Câmara, na noite de 14 de Março, vai em pessoa a Samouco, com música e foguetes. Promete o arruamento da freguesia e a conclusão de uma estrada, oferece restos de madeira do depauperado Pinhal do Concelho e, por fim, intima os habitantes da freguesia a assinarem o requerimento a favor de Aldegalega.
Entretanto, Alcochete, submete ao exame da Comissão Central uma bem fundamentada exposição em que analisa uma por uma as razões que lhe assiste e rebate com vigor as malévolas pretensões de Aldegalega.
O entusiasmo e a esperança são cada vez maiores. Crê-se firmemente na vitória.
Decorrem mais alguns dias. A Comissão Central elabora o seu parecer e entregou-o ao Governo.
A ansiedade é enorme. A toda a hora se espera a publicação do Decreto libertador.
Na estação Telégrafo-Postal é contínua a afluência de gente. Todos querem notícias.
Muitos operários da construção civil e alguns rurais negam-se a ausentarem-se do Vila no ânsia de festejarem a boa nova.
Na ponte-cais, os barcos da carreira de Lisboa são esperados impacientemente.
Não há casa em Alcochete, de rico ou de pobre, onde não hajo foguetes, foguetes guardados em silêncio, foguetes que rebentarão com estrépito na hora da vitória.
Vive-se nervosamente.
Vive-se febrilmente.
Afinal de contas a feliz notícia chegou duma maneira curiosa a Alcochete.
A Farmácia Gameiro era um dos pontos de reunião obrigatória de muitos magnates locais daquele tempo. Na noite de 14 de Janeiro encontravam-se ali reunidos, como de costume, o Prior Sá Ferreira, António Carlos da Cruz, Manuel da Piedade Pereira, Estêvão Monteiro Grilo, José Francisco Evangelista, António Alves Júnior e outros mais. Discutia-se animadamente o assunto de sempre.
Em dado momento, alguém entrou, pálido e açudado. Era Nicolau Francisco Freire, amanuense aposentado da Câmara, e muito da intimidade do Senhor Marquês de Soydos. Mal podia falar, preso da intensa comoção.
«Meus queridos amigos - disse a meia voz, quase a medo - o decreto restaurando o nosso querido Concelho já está na Imprensa Nacional. É publicado amanhã. Chegou mesmo agora o Senhor D. João (D. João Pereira Coutinho) vindo de Lisboa, com essa notícia muito em segredo.
Eu é que não tive mão em mim que não lhes viesse contar. Mas... pelo amor de Deus... não me comprometam. O Senhor D. António (D. António Pereira Coutinho, Marquês de Soydos, mandou-me agora mesmo pedir as bandeiras para engalanar o bote em que há-de vir amanhã o Senhor D. Miguel, com a notícia oficial».
Ainda não tinha acabado e já rebentava nos ares e no silêncio da noite um foguete «primeiro ai de um povo desoprimido. Manuel da Piedade Pereira, o velho «Canhum», mal escutara Nicolau Freire, correra farfalhudo a casa e impando de satisfação e chorando de alegria, dera o sinal de alarme. Daí em diante ninguém mais sossegou nessa Terra toda a santa noite: os foguetes sucediam-se uns após outros, numa fúria louca.
Eram às dezenas, às centenas, talvez aos milhares, de toda a parte, cruzando-se e reeruzando-se, estalando ensurdecedoramente.
A população do Concelho secundou a da Vila com o mesmo entusiasmo. Chorava-se de satisfação. Chorava-se de alegria.
Nas ruas pejadas de gente, abraçavam-se uns aos outros. A filarmónica, reunida à pressa, percorreu as ruas da vila, no meio de muito povo, de muitos vivas, de muito fogo, tocando o «Hino da Restauração» esse Hino que um alcochetano compôs, (João Baptista Nunes Júnior) e que todos nós alcochetanos sabemos cantar e sentir.
Ia, enfim, soar a hora da libertação!
Duas semanas depois, no dia 30 de Janeiro, entrava solenemente nos seus Paços Municipais o Arquivo do Concelho de Alcochete, não trazido por um simples oficial de diligências mas sim pelas mãos fidalgas de D. António Pereira Coutinho, o primeiro presidente do município restaurado. Muito propositadamente o fora buscar em pessoa a Aldegalega, o ilustre marquês de Soydos, com D. João Pereira Coutinho, António Luís Nunes e José Francisco Evangelista.
A população inteira, acompanhada pela filarmónica, esperou, fremente de alegria e comoção, à entrada do Concelho, a um quilómetro para lá de São Francisco. Dali partiu, depois, o cortejo em direcção à Vila, percorrendo todas as ruas lindamente engalanadas com bandeiras e ricas colgaduras, sempre no meio de um entusiasmo indescritível, chegando a tal ponto que, num certo momento, o povo desatrelou os cavalos do carro onde ia o Senhor Marquês e assim o levou em triunfo até aos Paços do Concelho. Este gesto de tal forma o impressionou que lhe deu causa a um pequeno delíquio.
À noite não houve edifício público, não houve casa particular, rica ou pobre, grande ou pequena, que não iluminasse a sua fachada em sinal de regozijo.
Desta forma começaram as festas da «Restauração». Eis o seu programa, como outro igual ainda se não realizou em Alcochete:
DIA 31 - Alvorada, tocando a filarmónica uma marcha triunfal expressamente escrita pelo maestro Rosa Martins.
AO MEIO DIA - Bodo aos pobres, seguido de concerto musical na Fábrica dos Fósforos, hoje Asilo Barão de Samora Correia.
ÀS 16 HORAS - Posse da Câmara, dada pelo Administrador do Concelho D. João Pereira Coutinho.
À NOITE - Iluminações pública e particulares.
DIA 1 DE FEVEREIRO - Alvorada.
AO MEIO DIA - Condução da imagem de Nossa Senhora da Conceição da sua Capela para a Igreja Matriz.
À TARDE - Recepção de grande número de convidados de Lisboa, para as festas religiosas.
À NOITE - Ladainha a grande instrumental e continuação da iluminação.
DIA 2 DE FEVEREIRO - Alvorada - Missa solene a grande instrumental em honra de Nossa Senhora da Conceição. Sermão pelo distinto orador Sagrado Dr. Santos Farinha. Procissão percorrendo as ruas da vila.
ÀS 18 HORAS - Solene «Te-Deum», também a grande instrumental, voltando o orar o Reverendo Dr. Farinha.
ÀS 20 e 30 HORAS - Grande banquete na sala nobre do Palácio Pereira Coutinho, durante o qual a filarmónica executou vários trechos musicais, e finalmente, como fecho da festa, uma imponentíssima marcha luminosa, apoteose formidável, estranha faixa de luz, melhor, de fogo, alastradora, interminável, por toda a beira-rio, onde dezenas de barricas, alcatroadas, ardiam fantasticamente.
E, para tudo haver nessa marcha rubra de calor e frenesim, nem faltarem mãos delicadas de mulheres, sustentando, gentis e orgulhosas, clássicos e portuguesíssimos archotes.
Assim terminaram, exuberantes de alegria e de nobreza, as grandes Festas da Restauração, consoladora recompensa de dois anos de martírio, estupenda manifestação de uma liberdade reconquistada.
Dormem já o sono da morte a maior parte desses esforçados batalhadores a quem Alcochete tanto ficou devendo.
Velhos e gastos estarão por ventura os poucos que ainda vivem.
A ilustre família Pereira Coutinho
D. João de Alarcão
Conselheiro Pereira de Miranda
José Alexandre de Sousa
José Maria de Brito
Beneficiado Francisco José de Oliveira
Manuel Gonçalves Caixeiro
António Alves Júnior
Coronel Ramos da Costa
António Luís Nunes
José Francisco Evangelista
António Carlos da Cruz
José Luís da Cruz e tantos outros.
Recordar seus nomes neste momento é um consolador dever de gratidão.
Para os vivos, se algum ainda vivo está, deve ir o testemunho do nosso carinho.
Para os mortos, o preito sentido da nossa saudade.
Homens de Alcochete, novos e velhos que, de qualquer forma estais presos a este torrão, olhai para trás, à distância de quase meio século.
Dirigentes responsáveis locais, meditai nesta página da nossa existência concelhia.
Rapazes de Alcochete, aprendei nela o muito que ela vos ensina.
Saibam os primeiros zelar por este património, que é nosso, que é de todos nós, acrescentando-o sempre, melhorando-o constantemente.
Saibam os segundos cerrar quadrado e terçar armas, com a inteligência, com o coração, com o braço, contra certos exotismos que são o oposição ao nosso lema de sempre: Deus, Pátria, Família."
Cerca de meio século volvido, no extinto jornal «A Voz de Alcochete» (edição n.º 7, Ano 1), de Janeiro de 1949, o dr. José Grilo Evangelista, destacado médico e poeta local, exortava os mais novos a recordarem a restauração do concelho, com um artigo intitulado «Restauração do concelho de Alcochete - Exortação aos Novos».
É bom saber que o Dr. José Grilo Evangelista nasceu a 11 de Novembro de 1895, em Alcochete, e faleceu a 24 de Dezembro de 1972 (em «Antologia de Poetas Alcochetanos», II vol., podem encontrar-se alguns das centenas de poemas que este ilustre médico nos legou).
Na actualidade, quando para a maioria a data da Restauração do Concelho já nada significa e mesmo a nível institucional vai perdendo relevância, vale a pena recordar o que foi escrito em 1949 por esse ilustre clínico que, em vida, jamais negou assistência aos pobres.
Eis, na íntegra, esse artigo do dr. José Grilo Evangelista. É longo, bem sei. Mas vale bem a pena recordar o pensamento de um Homem que serviu, amou e prestigia Alcochete:
"Para os alcochetanos, Janeiro encerra duas datas indeléveis: Em 15 se restaurou o Concelho, em 30 se reintegrou o arquivo municipal.
Foi em 1898. Já vai um ano a transbordar de meio século! - um nada na revolução dos tempos! - uma eternidade na vida de uma flor!
Recordar o que então se passou (1895-1898) sabe bem neste começo de 49, brumoso, friorento, enigmático.
Vão maus os tempos.
Vive-se uma vida agreste, açoitada por um vento sibilino, em rajadas ciclónicas, numa tempestade inclemente que tudo pretende subverter.
As paixões ideológicas cegam os homens e não raro a torrente galga o penedio das margens para se levantar em ondas encapeladas, plenas de facciosismo, tentando derrubar os fundamentos da sociedade, tudo encharcando, tudo nivelando na mesma vasa enganadora, estonteante, demoníaca.
Acordar os novos é, pois, uma obra meritória. Arrancá-los à nirvana embaladora, integrá-los na tradição de seus maiores, prendê-los à História da Terra em que nasceram, subtraí-los à indiferença, fazê-los viver e sentir o amor da Pátria é uma obra de obrigação e de devoção para quantos, já hoje, hajam dobrado, como eu, o alteroso «cabo das tormentas» da vida.
Recordemos por isso, nesta data, a página, porventura a mais dolorosa e mais nobre da nossa História Concelhia, para que os novos aufiram dela ensinamento e fervor patriótico e, como prólogo, façamos a declaração prévia de que, se como alcochetanos somos forçados a reprovar factos e atitudes de certo modo insolentes, isso o fazemos sem prejuízo das relações amistosas que é de boa norma e da mais elementar cortesia existirem entre povos vizinhos.
Setembro de 1895. Era então Ministro do Reino o ConseIheiro João Franco.
O Governo com o fim de centralizar mais os serviços do Ministério ao Reino, estudou e decretou uma reforma administrativa pela qual foram suprimidos muitos Concelhos do País.
Desta sorte, quase ditatorialmente, naquele triste Outono de 95, a nossa Terra viu-se esbolhada da sua autonomia administrativa, bem como de todos os privilégios que, desde tempos imemoriais, vinha disfrutando.
Não é fácil descrever a dor de quem tão dura e injustamente se vê privado da sua liberdade; não se descreve o sofrimento moral de quem, imolado à fúria legisladora, se vê na dura obrigação de prestar vassalagem ao jugo vexatório de estranhos, e muito menos, quando, nesses estranhos, é manifesto o propósito firme de nos exterminar.
Calcule-se pois a mágoa deste povo, quando, na manhã de 30 de Setembro de 1895, se apresentou aqui em nossa Terra, aqui em nossa casa, um empregado do Concelho de Aldegalega, escudado por numerosa força pública, e munido de um simples alvará do Governo Civil, a exigir a entrega de todos os documentos, móveis e títulos do nosso arquivo municipal.
A ânsia de agravar a nossa sensibilidade foi tal, que nem se esperou pelo cumprimento das formalidades do estilo, nem ao menos pela publicação do decreto da supressão no «Diário do Governo».
Eu não sei se nessa tristíssima manhã o sol deixou de brilhar intenso no azul do firmamento, mas o que sei, do que tenho a certeza plena, é que nesse dia 30 de Setembro de 1895, nesse dia funestíssimo em que passámos a ser vassalos forçados de Aldegalega, não houve peito de alcochetano que não gemesse angustiado, não houve lar nesta Terra que se não amortalhasse num silêncio profundo, silêncio feito de mágoa, silêncio feito de dor, silêncio feito de raiva.
Começou, então, a nossa tortura.
Começou assim o nosso cativeiro, que havia de durar anos, dois longos anos, sofridos de lágrimas nos olhos, mas também de dignidade altiva, de luta heróica, tremondo, incessante, luta de vencer ou morrer.
Escrevi há pouco que fôramos injustamente privados da nossa autonomia.
De facto, muitos concelhos do País, bem mais pequenos do que o nosso e alguns até dentro do próprio distrito de Lisboa, a que então pertencíamos, foram poupados.
Tão pouco nos era desfavorável o coeficiente populacional, com quase 25% de indivíduos sabendo ler e escrever e com mais cidadãos elegíveis para os corpos administrativos do que o próprio concelho em que fomos incorporados.
E, quanto a recursos económicos, saiba-se de uma vez para sempre que Alcochete não devia cinco réis a ninguém.
Pelo contrário: do seu cofre transitaram para o de Aldegalega valores que, na moeda de hoje, andariam para cima de mil contos.
Imolados assim sem uma razão forte, sem um motivo assaz poderoso, resultou ao menos do nosso sacrifício algum bem para Alcochete?
Que o diga a análise imparcial dos factos.
A conduta do município absorvente para connosco pode resumir-se em poucas palavras:
- Incompatibilizar entre si as freguesias do concelho extinto.
- Desvalorizar o seu património; e
- Utilizar em proveito próprio os seus rendimentos.
Hipocritamente revestiu de crepes as armas do seu Paço Municipal como se de sentimento estivesse pela nossa autonomia perdida, e, para nos suavizar a mágoa, deixou correr à revelia as nossas mais pequenas e urgentes necessidades, desbaratou quase por completo o famoso Pinhal do Concelho, agravou desmedidamente os impostos (só o do pão sofreu um aumento anual de 2.162$000, ou seja quase 70 contos de hoje).
Até nos próprios serviços públicos entrou a corrupção, dispensando-se empregados nossos, que o eram de direito, para apaniguar protegidos e afilhados. E, finalmente, a coroar todo este descalabro administrativo, mil e uma picuinhas impertinentes e vexatórias.
Eis a súmula, rápida mas exacta do nosso aviltante Cativeiro; eis um dos frutos, bem sezonados da reforma administrativa de João Franco.
Como não podia deixar de ser, Alcochete reagiu e reagiu bem. A luta atingiu, por vezes, uma violência extrema. Sucederam-se as representações, uma delas dirigida até ao próprio Chefe Supremo da Nação, a Sua Majestade.
Publicaram-se folhetos, artigos em jornais, moveram-se as mais altas influências, espumavam-se ódios, esboçavam-se conflitos pessoais e a tal ponto subiu o desespero do povo desta Terra que, certo dia, fez saber oficialmente aos Poderes Constituídos, que preferia ser simples freguesia do Concelho de Canha restaurado, a sê-lo de Aldegalega, engrandecida pela ditatorial reforma de João Franco.
Estamos agora em princípios do ano de 1897. O partido progressista assume o poder. José Luciano de Castro promete remediar o erro de João Franco, mandando restaurar os concelhos suprimidos. Mas... às freguesias rurais faculta-se-lhes o direito de não acompanharem as cabeças do concelho na sua reintegração.
Para isso basta que a maioria dos seus habitantes o requeiram. Nomeiam-se comissões distritais. Nomeia-se a Comissão Central que tudo apreciará em última instância.
Vão queimar-se os últimos cartuchos. Aldegalega pretende à viva força que Samouco requeira para lhe continuar anexado. Domingos Tavares, Presidente da Câmara, na noite de 14 de Março, vai em pessoa a Samouco, com música e foguetes. Promete o arruamento da freguesia e a conclusão de uma estrada, oferece restos de madeira do depauperado Pinhal do Concelho e, por fim, intima os habitantes da freguesia a assinarem o requerimento a favor de Aldegalega.
Entretanto, Alcochete, submete ao exame da Comissão Central uma bem fundamentada exposição em que analisa uma por uma as razões que lhe assiste e rebate com vigor as malévolas pretensões de Aldegalega.
O entusiasmo e a esperança são cada vez maiores. Crê-se firmemente na vitória.
Decorrem mais alguns dias. A Comissão Central elabora o seu parecer e entregou-o ao Governo.
A ansiedade é enorme. A toda a hora se espera a publicação do Decreto libertador.
Na estação Telégrafo-Postal é contínua a afluência de gente. Todos querem notícias.
Muitos operários da construção civil e alguns rurais negam-se a ausentarem-se do Vila no ânsia de festejarem a boa nova.
Na ponte-cais, os barcos da carreira de Lisboa são esperados impacientemente.
Não há casa em Alcochete, de rico ou de pobre, onde não hajo foguetes, foguetes guardados em silêncio, foguetes que rebentarão com estrépito na hora da vitória.
Vive-se nervosamente.
Vive-se febrilmente.
Afinal de contas a feliz notícia chegou duma maneira curiosa a Alcochete.
A Farmácia Gameiro era um dos pontos de reunião obrigatória de muitos magnates locais daquele tempo. Na noite de 14 de Janeiro encontravam-se ali reunidos, como de costume, o Prior Sá Ferreira, António Carlos da Cruz, Manuel da Piedade Pereira, Estêvão Monteiro Grilo, José Francisco Evangelista, António Alves Júnior e outros mais. Discutia-se animadamente o assunto de sempre.
Em dado momento, alguém entrou, pálido e açudado. Era Nicolau Francisco Freire, amanuense aposentado da Câmara, e muito da intimidade do Senhor Marquês de Soydos. Mal podia falar, preso da intensa comoção.
«Meus queridos amigos - disse a meia voz, quase a medo - o decreto restaurando o nosso querido Concelho já está na Imprensa Nacional. É publicado amanhã. Chegou mesmo agora o Senhor D. João (D. João Pereira Coutinho) vindo de Lisboa, com essa notícia muito em segredo.
Eu é que não tive mão em mim que não lhes viesse contar. Mas... pelo amor de Deus... não me comprometam. O Senhor D. António (D. António Pereira Coutinho, Marquês de Soydos, mandou-me agora mesmo pedir as bandeiras para engalanar o bote em que há-de vir amanhã o Senhor D. Miguel, com a notícia oficial».
Ainda não tinha acabado e já rebentava nos ares e no silêncio da noite um foguete «primeiro ai de um povo desoprimido. Manuel da Piedade Pereira, o velho «Canhum», mal escutara Nicolau Freire, correra farfalhudo a casa e impando de satisfação e chorando de alegria, dera o sinal de alarme. Daí em diante ninguém mais sossegou nessa Terra toda a santa noite: os foguetes sucediam-se uns após outros, numa fúria louca.
Eram às dezenas, às centenas, talvez aos milhares, de toda a parte, cruzando-se e reeruzando-se, estalando ensurdecedoramente.
A população do Concelho secundou a da Vila com o mesmo entusiasmo. Chorava-se de satisfação. Chorava-se de alegria.
Nas ruas pejadas de gente, abraçavam-se uns aos outros. A filarmónica, reunida à pressa, percorreu as ruas da vila, no meio de muito povo, de muitos vivas, de muito fogo, tocando o «Hino da Restauração» esse Hino que um alcochetano compôs, (João Baptista Nunes Júnior) e que todos nós alcochetanos sabemos cantar e sentir.
Ia, enfim, soar a hora da libertação!
Duas semanas depois, no dia 30 de Janeiro, entrava solenemente nos seus Paços Municipais o Arquivo do Concelho de Alcochete, não trazido por um simples oficial de diligências mas sim pelas mãos fidalgas de D. António Pereira Coutinho, o primeiro presidente do município restaurado. Muito propositadamente o fora buscar em pessoa a Aldegalega, o ilustre marquês de Soydos, com D. João Pereira Coutinho, António Luís Nunes e José Francisco Evangelista.
A população inteira, acompanhada pela filarmónica, esperou, fremente de alegria e comoção, à entrada do Concelho, a um quilómetro para lá de São Francisco. Dali partiu, depois, o cortejo em direcção à Vila, percorrendo todas as ruas lindamente engalanadas com bandeiras e ricas colgaduras, sempre no meio de um entusiasmo indescritível, chegando a tal ponto que, num certo momento, o povo desatrelou os cavalos do carro onde ia o Senhor Marquês e assim o levou em triunfo até aos Paços do Concelho. Este gesto de tal forma o impressionou que lhe deu causa a um pequeno delíquio.
À noite não houve edifício público, não houve casa particular, rica ou pobre, grande ou pequena, que não iluminasse a sua fachada em sinal de regozijo.
Desta forma começaram as festas da «Restauração». Eis o seu programa, como outro igual ainda se não realizou em Alcochete:
DIA 31 - Alvorada, tocando a filarmónica uma marcha triunfal expressamente escrita pelo maestro Rosa Martins.
AO MEIO DIA - Bodo aos pobres, seguido de concerto musical na Fábrica dos Fósforos, hoje Asilo Barão de Samora Correia.
ÀS 16 HORAS - Posse da Câmara, dada pelo Administrador do Concelho D. João Pereira Coutinho.
À NOITE - Iluminações pública e particulares.
DIA 1 DE FEVEREIRO - Alvorada.
AO MEIO DIA - Condução da imagem de Nossa Senhora da Conceição da sua Capela para a Igreja Matriz.
À TARDE - Recepção de grande número de convidados de Lisboa, para as festas religiosas.
À NOITE - Ladainha a grande instrumental e continuação da iluminação.
DIA 2 DE FEVEREIRO - Alvorada - Missa solene a grande instrumental em honra de Nossa Senhora da Conceição. Sermão pelo distinto orador Sagrado Dr. Santos Farinha. Procissão percorrendo as ruas da vila.
ÀS 18 HORAS - Solene «Te-Deum», também a grande instrumental, voltando o orar o Reverendo Dr. Farinha.
ÀS 20 e 30 HORAS - Grande banquete na sala nobre do Palácio Pereira Coutinho, durante o qual a filarmónica executou vários trechos musicais, e finalmente, como fecho da festa, uma imponentíssima marcha luminosa, apoteose formidável, estranha faixa de luz, melhor, de fogo, alastradora, interminável, por toda a beira-rio, onde dezenas de barricas, alcatroadas, ardiam fantasticamente.
E, para tudo haver nessa marcha rubra de calor e frenesim, nem faltarem mãos delicadas de mulheres, sustentando, gentis e orgulhosas, clássicos e portuguesíssimos archotes.
Assim terminaram, exuberantes de alegria e de nobreza, as grandes Festas da Restauração, consoladora recompensa de dois anos de martírio, estupenda manifestação de uma liberdade reconquistada.
Dormem já o sono da morte a maior parte desses esforçados batalhadores a quem Alcochete tanto ficou devendo.
Velhos e gastos estarão por ventura os poucos que ainda vivem.
A ilustre família Pereira Coutinho
D. João de Alarcão
Conselheiro Pereira de Miranda
José Alexandre de Sousa
José Maria de Brito
Beneficiado Francisco José de Oliveira
Manuel Gonçalves Caixeiro
António Alves Júnior
Coronel Ramos da Costa
António Luís Nunes
José Francisco Evangelista
António Carlos da Cruz
José Luís da Cruz e tantos outros.
Recordar seus nomes neste momento é um consolador dever de gratidão.
Para os vivos, se algum ainda vivo está, deve ir o testemunho do nosso carinho.
Para os mortos, o preito sentido da nossa saudade.
Homens de Alcochete, novos e velhos que, de qualquer forma estais presos a este torrão, olhai para trás, à distância de quase meio século.
Dirigentes responsáveis locais, meditai nesta página da nossa existência concelhia.
Rapazes de Alcochete, aprendei nela o muito que ela vos ensina.
Saibam os primeiros zelar por este património, que é nosso, que é de todos nós, acrescentando-o sempre, melhorando-o constantemente.
Saibam os segundos cerrar quadrado e terçar armas, com a inteligência, com o coração, com o braço, contra certos exotismos que são o oposição ao nosso lema de sempre: Deus, Pátria, Família."
21 maio 2006
A Cruz e o método
O método consiste na união da Eternidade e do tempo. Fui levado a esta plataforma de pensamento pela reflexão sobre o significado da Cruz de Cristo. Tal como o traço vertical entra pelo horizontal, assim a Eternidade entra pelo tempo.
Só se pode unir o que está separado. A união da verticalidade e horizontalidade não faz destas duas dimensões uma só coisa pela redução da primeira à segunda. De igual modo, a Eternidade está no tempo, mas não se dilui nele. Assim o Criador está na criatura, mas são distintos. O mesmo se diga, por força da coerência lógica, da Eternidade e do tempo.
Nesta conformidade, verifico que se me rendo exclusivamente ao tempo, isto é, à História, renego consciente ou inconscientemente o significado profundo da Cruz, vale dizer, o amplexo divino entre o Céu e a terra.
Que dizer de um ser humano apegado às coisas materiais (Imanência) sem o mínimo sentido da Eternidade (Transcendência)? Nesta base será possível construir a esperada cidade do futuro? Teríamos mesmo o homem? Às três perguntas respondo não, porque o tempo, por si só, como coisa que é, não salva.
Eu não estou a excluir o tempo porque se o fizesse, afinal, não perceberia nada do sentido da Cruz. O homem tanto perde o rosto vivendo o tempo sem Eternidade como vivendo a Eternidade sem tempo.
Na verdade, sem prejuízo da união, se a Eternidade não se dissolve no tempo, quer dizer que está separada dele sem o excluir. Assim, o tempo aparece-nos redimido porque escada para a Eternidade, perfeita sintonia do homem com Deus.
Podem perguntar-me: mas como é que se processa essa união da Eternidade e do tempo? Respondo que não sei porque esta é a melhor forma de saber, isto é, reconheço os meus limites. Quem negaria a união da mãe e do filhinho? E já alguém explicou como é que ela se processa?
Portanto, vejo que se vivifico o tempo com a Eternidade, transcendo as coisas.
Coisa é o tempo porque quantificável. Ele entra com a velocidade e a massa na resolução de problemas físicos.
Ora é no tempo que se desenrola a História, relato de factos levados a cabo pelo homem ao longo das épocas.
Se ao olhar para a Bíblia, eu faço uma avaliação só e tragicamente baseada em factos desencarnados do Espírito, dou a entender que não estou salvo pelo significado infinito da Cruz de Cristo, tudo reduzindo na Sagrada Escritura à dimenssão exclusivamente temporal. Isto repugna à minha liberdade.
O ser humano que não vá para lá dos factos posiciona-se monstruosamente contra a relação indefectível existente entre Deus (Ser primeiro) e o Universo (Ser segundo). Aqui está a génese do poder despótico, do assassínio, do desprezo pela mulher, etc. Logo, tal como a Eternidade está no tempo de forma separada sem desunião, assim nós que estamos no tempo devemos viver desapegados dos factos, embora não os excluamos, porque este mundo é caminho para uma vida superior, o Eterno.
Só se pode unir o que está separado. A união da verticalidade e horizontalidade não faz destas duas dimensões uma só coisa pela redução da primeira à segunda. De igual modo, a Eternidade está no tempo, mas não se dilui nele. Assim o Criador está na criatura, mas são distintos. O mesmo se diga, por força da coerência lógica, da Eternidade e do tempo.
Nesta conformidade, verifico que se me rendo exclusivamente ao tempo, isto é, à História, renego consciente ou inconscientemente o significado profundo da Cruz, vale dizer, o amplexo divino entre o Céu e a terra.
Que dizer de um ser humano apegado às coisas materiais (Imanência) sem o mínimo sentido da Eternidade (Transcendência)? Nesta base será possível construir a esperada cidade do futuro? Teríamos mesmo o homem? Às três perguntas respondo não, porque o tempo, por si só, como coisa que é, não salva.
Eu não estou a excluir o tempo porque se o fizesse, afinal, não perceberia nada do sentido da Cruz. O homem tanto perde o rosto vivendo o tempo sem Eternidade como vivendo a Eternidade sem tempo.
Na verdade, sem prejuízo da união, se a Eternidade não se dissolve no tempo, quer dizer que está separada dele sem o excluir. Assim, o tempo aparece-nos redimido porque escada para a Eternidade, perfeita sintonia do homem com Deus.
Podem perguntar-me: mas como é que se processa essa união da Eternidade e do tempo? Respondo que não sei porque esta é a melhor forma de saber, isto é, reconheço os meus limites. Quem negaria a união da mãe e do filhinho? E já alguém explicou como é que ela se processa?
Portanto, vejo que se vivifico o tempo com a Eternidade, transcendo as coisas.
Coisa é o tempo porque quantificável. Ele entra com a velocidade e a massa na resolução de problemas físicos.
Ora é no tempo que se desenrola a História, relato de factos levados a cabo pelo homem ao longo das épocas.
Se ao olhar para a Bíblia, eu faço uma avaliação só e tragicamente baseada em factos desencarnados do Espírito, dou a entender que não estou salvo pelo significado infinito da Cruz de Cristo, tudo reduzindo na Sagrada Escritura à dimenssão exclusivamente temporal. Isto repugna à minha liberdade.
O ser humano que não vá para lá dos factos posiciona-se monstruosamente contra a relação indefectível existente entre Deus (Ser primeiro) e o Universo (Ser segundo). Aqui está a génese do poder despótico, do assassínio, do desprezo pela mulher, etc. Logo, tal como a Eternidade está no tempo de forma separada sem desunião, assim nós que estamos no tempo devemos viver desapegados dos factos, embora não os excluamos, porque este mundo é caminho para uma vida superior, o Eterno.
O maior desrespeito
O maior desrespeito é fazer que o outro esqueça Deus.
O que é que eu faço para fazer o outro esquecer Deus? Apresento-me como exemplo de mera imanência, horizontalismo de nada.
Não se pode separar a Transcendência da imanência e abraçar esta porque não se abraça nada.
Se o homem une a Transcendência e a imanência, fica com aquela e esta. Se as desune, fica sem nada.
Sempre que o meu exemplo é mera imanência, rebaixo o outro a nível do calhau. Ora há mais qualquer coisa para lá da coisa. No fundo, isto mesmo sabem todos os abutres que por aí pairam.
Cristo, mistério máximo, é para todo o homem a verdadeira dignificação. Mas não é com esta que os necrófagos atestam a insaciável voracidade, senão com a total desespiritualização dos homens. A estes oferecem o cogito, a glorificação da razão e da ciência, ideologias, ecologismos, seitas religiosas, esoterismos, ocultismos e tantas outras excreções humanas que tolhem a liberdade.
O que é que eu faço para fazer o outro esquecer Deus? Apresento-me como exemplo de mera imanência, horizontalismo de nada.
Não se pode separar a Transcendência da imanência e abraçar esta porque não se abraça nada.
Se o homem une a Transcendência e a imanência, fica com aquela e esta. Se as desune, fica sem nada.
Sempre que o meu exemplo é mera imanência, rebaixo o outro a nível do calhau. Ora há mais qualquer coisa para lá da coisa. No fundo, isto mesmo sabem todos os abutres que por aí pairam.
Cristo, mistério máximo, é para todo o homem a verdadeira dignificação. Mas não é com esta que os necrófagos atestam a insaciável voracidade, senão com a total desespiritualização dos homens. A estes oferecem o cogito, a glorificação da razão e da ciência, ideologias, ecologismos, seitas religiosas, esoterismos, ocultismos e tantas outras excreções humanas que tolhem a liberdade.
O criminoso permanece homem
O respeito pelo outro é absoluto. Mesmo quando o outro comete o maior dos crimes, permanece homem.
O criminoso poderá horrorizar-se pelo crime que cometeu e reconciliar-se com Deus, mas esta verdade indispensável para a recuperação do rosto não invalida a prestação de contas perante a comunidade.
Só eu dou testemunho da minha reconciliação com Deus. O outro dá testemunho do meu crime.
A paz em cima tem que se cruzar com a paz em baixo. A minha reconciliação com Deus passa pela minha apresentação ao tribunal dos homens. Esta decisão é-me imposta pelo respeito que devo a mim próprio, condição sine qua non para respeitar o outro.
O criminoso poderá horrorizar-se pelo crime que cometeu e reconciliar-se com Deus, mas esta verdade indispensável para a recuperação do rosto não invalida a prestação de contas perante a comunidade.
Só eu dou testemunho da minha reconciliação com Deus. O outro dá testemunho do meu crime.
A paz em cima tem que se cruzar com a paz em baixo. A minha reconciliação com Deus passa pela minha apresentação ao tribunal dos homens. Esta decisão é-me imposta pelo respeito que devo a mim próprio, condição sine qua non para respeitar o outro.
20 maio 2006
O respeito pelo outro é absoluto
Penso comigo: será veraz que eu só deva ter dúvidas? Se eu tiver uma certeza absoluta, não avaliarei muito melhor o que é relativo?
Ora qual será a minha certeza absoluta e onde deverei procurá-la? Na ciência? Mas nesta, que se debruça sobre coisas, a verdade de hoje poderá ser a mentira de amanhã.
A minha certeza absoluta tem que ser procurada no âmbito do não-demonstrável. Mas o mundo à minha volta oferece-me uma certeza absoluta?
Os homens desviam rios, arrasam vales, erguem montanhas. Mas para isto o que é imprescindível? Se cada um fala a língua da própria soberba, a construção da torre pára, fica exposta à erosão do vento e aos caprichos inexoráveis do tempo.
Sem o respeito pelo outro nem o indez vem à luz em segurança. Então que devo testemunhar? Que o respeito pelo outro é uma certeza absoluta. Tu próprio que me lês aqui e agora, gostarias que eu declarasse que o meu respeito por ti é relativo?
O respeito pelo outro é absoluto. Esta afirmação não pode ser demonstrada por nenhuma disciplina das ciências, o que me tranquiliza quanto à veracidade da mesma porque estou em presença de um decreto (dogma) sem o qual o humanidade se precipitaria no extermínio.
A Matemática demonstra que dois e dois são quatro, mas sem o respeito pelo outro jamais o homem poderia fazer essa demonstração porque todo o tempo lhe seria pouco para defender a própria pele, o que teria deixado a espécie humana na idade da pedra ou em estádio anterior se o houve.
Verifico, portanto, que o respeito pelo outro é uma verdade superior a todas as verdades dadas pelas ciências. As verdades destas são relativas; o respeito pelo outro é uma verdade absoluta porque reflexo do respeito devido ao Totalmente Outro que é Deus.
Ora qual será a minha certeza absoluta e onde deverei procurá-la? Na ciência? Mas nesta, que se debruça sobre coisas, a verdade de hoje poderá ser a mentira de amanhã.
A minha certeza absoluta tem que ser procurada no âmbito do não-demonstrável. Mas o mundo à minha volta oferece-me uma certeza absoluta?
Os homens desviam rios, arrasam vales, erguem montanhas. Mas para isto o que é imprescindível? Se cada um fala a língua da própria soberba, a construção da torre pára, fica exposta à erosão do vento e aos caprichos inexoráveis do tempo.
Sem o respeito pelo outro nem o indez vem à luz em segurança. Então que devo testemunhar? Que o respeito pelo outro é uma certeza absoluta. Tu próprio que me lês aqui e agora, gostarias que eu declarasse que o meu respeito por ti é relativo?
O respeito pelo outro é absoluto. Esta afirmação não pode ser demonstrada por nenhuma disciplina das ciências, o que me tranquiliza quanto à veracidade da mesma porque estou em presença de um decreto (dogma) sem o qual o humanidade se precipitaria no extermínio.
A Matemática demonstra que dois e dois são quatro, mas sem o respeito pelo outro jamais o homem poderia fazer essa demonstração porque todo o tempo lhe seria pouco para defender a própria pele, o que teria deixado a espécie humana na idade da pedra ou em estádio anterior se o houve.
Verifico, portanto, que o respeito pelo outro é uma verdade superior a todas as verdades dadas pelas ciências. As verdades destas são relativas; o respeito pelo outro é uma verdade absoluta porque reflexo do respeito devido ao Totalmente Outro que é Deus.
Livre mercado
A esquerda jamais poderá defender o livre mercado sem deixar de ser esquerda. É aqui que aparentemente não se percebe a injecção de capitais públicos em empresas privadas por parte de Estados esquerdistas.
Bom, lancemos a primeira carta para a mesa: eu não acredito que a esquerda queira deixar de ser esquerda. Antes que isso possa acontecer, muita água correrá sob a ponte.
A segunda carta que puxo é a seguinte: dificilmente os empresários iludirão a esquerda. Já o inverso é mais plausível para mim. O empresário com consciência política é quase uma miragem. A maior parte deles são politicamente ignaros, disfarçando esta realidade com um pretenso pragmatismo que faz sempre o jogo da esquerda. Esta aproveita a ausência de capacidade empreendedora de falsos capitalistas para tramar projectos a longo prazo.
Se o Estado capitaliza empresas privadas, por onde passa a linha divisória entre aquele e estas? Constatar isto dá-me a impressão de que o Estado é patrão dessas empresas. Mas esta não é uma via subreptícia para o totalitarismo ou outra coisa que o valha?
Poder-me-ão dizer: existiria sempre a lei. Mas eu pergunto: há algum compromisso entre a esquerda e a lei que procede de uma visão liberal do homem e do mundo?
É pressuposto básico do livre mercado reduzir a interferência do Estado ao mínimo, remetendo-o para árbitro das regras do jogo. Sempre que os empresários entram em contradição com isto, as democracias liberais correm perigos que ameaçam o futuro do mundo livre.
Já as cartas da terceira rodada estão na mesa menos a minha. Alguém pediu que eu jogasse. Como se acordasse de estranho sonho, perguntei: qual é o trunfo? Responderam todos: o trunfo é espadas!
Bom, lancemos a primeira carta para a mesa: eu não acredito que a esquerda queira deixar de ser esquerda. Antes que isso possa acontecer, muita água correrá sob a ponte.
A segunda carta que puxo é a seguinte: dificilmente os empresários iludirão a esquerda. Já o inverso é mais plausível para mim. O empresário com consciência política é quase uma miragem. A maior parte deles são politicamente ignaros, disfarçando esta realidade com um pretenso pragmatismo que faz sempre o jogo da esquerda. Esta aproveita a ausência de capacidade empreendedora de falsos capitalistas para tramar projectos a longo prazo.
Se o Estado capitaliza empresas privadas, por onde passa a linha divisória entre aquele e estas? Constatar isto dá-me a impressão de que o Estado é patrão dessas empresas. Mas esta não é uma via subreptícia para o totalitarismo ou outra coisa que o valha?
Poder-me-ão dizer: existiria sempre a lei. Mas eu pergunto: há algum compromisso entre a esquerda e a lei que procede de uma visão liberal do homem e do mundo?
É pressuposto básico do livre mercado reduzir a interferência do Estado ao mínimo, remetendo-o para árbitro das regras do jogo. Sempre que os empresários entram em contradição com isto, as democracias liberais correm perigos que ameaçam o futuro do mundo livre.
Já as cartas da terceira rodada estão na mesa menos a minha. Alguém pediu que eu jogasse. Como se acordasse de estranho sonho, perguntei: qual é o trunfo? Responderam todos: o trunfo é espadas!
19 maio 2006
Descartes, um precursor do marxismo
Para Descartes (1596-1650), contra toda a tradição, a criança é mau modelo porque confia nos sentidos, fonte de suspeita para o fundador da filosofia moderna. Pensa este que se um juízo é recebido (legado), provavelmente é um erro. A razão não é lúcida quando recebe ideias, senão quando as produz. A certeza não está em confiar, mas em controlar, razão por que é necessário duvidar de todo o recebido, para chegar à primeira certeza.
Arrasada a tradição, Descartes pretende eliminar todas as ideias da própria mente à excepção de uma: penso. Este filósofo francês chega a afirmar que o pensar é o ser: «penso, logo existo» (cogito, ergo sum). Fica, assim, o pensamento por cima do ser. A partir daqui, o que entendemos, pode ser; o que não entendemos, não pode ser. Isto origina a fé num progresso sem limites: tudo o que possamos pensar, chegará a existir. Por outro lado, o cogito cartesiano instaura a incredulidade: o que não compreendemos, é impossível. O mistério fica abolido, a razão humana será a medida da realidade. Eis-nos perante o ideal clássico de que o homem é a medida de todas as coisas, também válido para o marxismo.
Arrasada a tradição, Descartes pretende eliminar todas as ideias da própria mente à excepção de uma: penso. Este filósofo francês chega a afirmar que o pensar é o ser: «penso, logo existo» (cogito, ergo sum). Fica, assim, o pensamento por cima do ser. A partir daqui, o que entendemos, pode ser; o que não entendemos, não pode ser. Isto origina a fé num progresso sem limites: tudo o que possamos pensar, chegará a existir. Por outro lado, o cogito cartesiano instaura a incredulidade: o que não compreendemos, é impossível. O mistério fica abolido, a razão humana será a medida da realidade. Eis-nos perante o ideal clássico de que o homem é a medida de todas as coisas, também válido para o marxismo.
18 maio 2006
A mais perigora das alienações
Neste começo do séc. XXI, eu diria que a mais perigosa das alienações é política, consistindo na subestimação das categorias direita e esquerda.
Pessoas de pensamento circunspecto defendem em política a acção pragmática, ao fim e ao cabo benquista à esquerda, pois esta o que diz hoje poderá não dizer amanhã, o que faz hoje poderá não fazer amanhã. E porquê assim? Porque o político de esquerda é um homem de ruptura com o recebido, isto é, sem compromissos. Ora é a este descomprometimento que se chama pragmatismo.
O político que se reclama de direita nunca pode fazer tábua rasa dos valores que a tradição arrasta, razão por que em importantes sectores do PSD-PPD e no CDS-PP descortina-se um fio condutor na defesa da respublica que chega a ter qualquer coisa de doutrinário.
Esta incapacidade para se saber o que é a direita e a esquerda leva-nos ao cumprimento do dever dominical e simultaneamente votar em partidos cujos valores jamais podem estar ao lado dos religiosos porque onde estão aqueles não podem estar estes e vice-versa.
Por exemplo, no campo da minha especialidade, a Literatura, não vejo como esta arte do tempo possa ser percebida sem uma clara distinção do que é a direita e a esquerda.
Quando não entendemos um poeta, não é porque o pensamento deste esteja para lá do comum dos mortais, mas porque não há qualquer possibilidade de comunicação com o emissor cuja ruptura com o legado e desconstrução da própria linguagem o torna insondável. O mesmo é válido para a pintura dos últimos decénios, teatro, escultura, etc.
Mas a distinção fulcral entre direita e esquerda está no modo de encarar a economia: a primeira defende o livre mercado e a segunda reforça o peso do Estado sobre a vida dos cidadãos. Ora é aqui que eu vislumbro a vitória da visão liberal do homem e do mundo porque em países de forte implantação esquerdista (América Latina) não é banido o livre mercado nem a propriedade privada, embora toda a análise neste campo, na minha perspectiva, se deva manter cautelosa.
Em síntese, deixar de ver as coisas à luz dada pelas categorias direita e esquerda é deixar que outros as vejam por nós e nos transformem num rebanho de carneiros.
Pessoas de pensamento circunspecto defendem em política a acção pragmática, ao fim e ao cabo benquista à esquerda, pois esta o que diz hoje poderá não dizer amanhã, o que faz hoje poderá não fazer amanhã. E porquê assim? Porque o político de esquerda é um homem de ruptura com o recebido, isto é, sem compromissos. Ora é a este descomprometimento que se chama pragmatismo.
O político que se reclama de direita nunca pode fazer tábua rasa dos valores que a tradição arrasta, razão por que em importantes sectores do PSD-PPD e no CDS-PP descortina-se um fio condutor na defesa da respublica que chega a ter qualquer coisa de doutrinário.
Esta incapacidade para se saber o que é a direita e a esquerda leva-nos ao cumprimento do dever dominical e simultaneamente votar em partidos cujos valores jamais podem estar ao lado dos religiosos porque onde estão aqueles não podem estar estes e vice-versa.
Por exemplo, no campo da minha especialidade, a Literatura, não vejo como esta arte do tempo possa ser percebida sem uma clara distinção do que é a direita e a esquerda.
Quando não entendemos um poeta, não é porque o pensamento deste esteja para lá do comum dos mortais, mas porque não há qualquer possibilidade de comunicação com o emissor cuja ruptura com o legado e desconstrução da própria linguagem o torna insondável. O mesmo é válido para a pintura dos últimos decénios, teatro, escultura, etc.
Mas a distinção fulcral entre direita e esquerda está no modo de encarar a economia: a primeira defende o livre mercado e a segunda reforça o peso do Estado sobre a vida dos cidadãos. Ora é aqui que eu vislumbro a vitória da visão liberal do homem e do mundo porque em países de forte implantação esquerdista (América Latina) não é banido o livre mercado nem a propriedade privada, embora toda a análise neste campo, na minha perspectiva, se deva manter cautelosa.
Em síntese, deixar de ver as coisas à luz dada pelas categorias direita e esquerda é deixar que outros as vejam por nós e nos transformem num rebanho de carneiros.
17 maio 2006
Um pequeno esclarecimento
Entre alguns filósofos do pós-guerrra como Martin Buber (precursor) e Emmanuel Levinas, a categoria outro opõe-se aos privilégios do eu.
Para esses pensadores, o outro é aquele que exige respostas.
No meu discurso, aparece com frequência a alusão ao outro. Então muitos julgam que quem fala assim deve acolher tudo o que pensa o seu semelhante, andar com este às costas e dar esmola a todos os pobres.
Eu não acolho tudo o que pensa o meu semelhante, não ando com este às costas nem dou esmola a todos os pobres.
Apenas desejo para o outro que renuncie à alienação, isto é, que ande sobre os próprios pés e não precise de pedir esmola a ninguém.
Para esses pensadores, o outro é aquele que exige respostas.
No meu discurso, aparece com frequência a alusão ao outro. Então muitos julgam que quem fala assim deve acolher tudo o que pensa o seu semelhante, andar com este às costas e dar esmola a todos os pobres.
Eu não acolho tudo o que pensa o meu semelhante, não ando com este às costas nem dou esmola a todos os pobres.
Apenas desejo para o outro que renuncie à alienação, isto é, que ande sobre os próprios pés e não precise de pedir esmola a ninguém.
Associação dos Amigos do Café Barrete Verde
Tive uma ideia quando estava a fumar no meu logradouro um habano (ninguém pense que isto de fumar dá ideias porque é falso).
O Café Barrete Verde é uma referência na terra de Alcochete. Depois há ali todo um cenário de alusões culturais à alcochetanidade, para além do ambiente castiço muito são que convém preservar.
Poderíamos criar a Associação dos Amigos do Café Barrete Verde que promoveria, pelo menos, um jantar anual no restaurante do mesmo nome e um passeio a lugares taurinos de Portugal ou Espanha.
Parece-me uma ideia simpática e meritória cuja concretização não seria difícil.
Legislação nada resolve
Na imagem ao lado, edifício municipal situado no n.º 24 da Rua Ciprião de Figueiredo, em Alcochete. Observem no local o seu estado.
É convicção de muita gente que o problema do despovoamento dos centros históricos das cidades e vilas portuguesas não se resolverá por esta ou esta vias.
Pela simples razão de que neles já não há inquilinos, sejam particulares ou empresas, estando os prédios devolutos há muitos anos.
O problema não é grave apenas em Lisboa e Porto, mas em todo o país. Em Alcochete e Samouco conhecemos bem o problema e também aqui centenas de casas estão devolutas há muito.
Até prédios classificados estão ao abandono, incluindo um de propriedade municipal! Há dois casos bem visíveis na Rua Ciprião de Figueiredo, em Alcochete. Alguém repara neles?
Os centros históricos de Lisboa, Porto, Coimbra, Figueira da Foz, Évora e Setúbal – para citar apenas cidades que, em menos de um ano, observei com atenção – são casos muito sérios de desertificação populacional. A poeira nas janelas e a degradação de telhados e fachadas evidencia que, acima do piso térreo, desapareceu toda a gente há anos.
Só algumas lojas familiares vão resistindo como podem ao estranho fenómeno lusitano dos centros históricos mortos. É graças a esses heróicos comerciantes que cidades e vilas, pujantes de vida há cerca de 30 anos, são hoje pouco recomendáveis apenas aos fins de semana e a partir das 20h00 dos dias úteis.
Ao longo da vida conheci um bom pedaço do mundo e, sinceramente, não me recordo de reparar em fenómeno idêntico em parte alguma. Mas vejo que, em cerca de 30 anos, morreu a Lisboa onde trabalhei quase sempre. Que o Porto histórico está fechado e silencioso. Que a baixa de Coimbra, com tantos encantos, parece uma cidade fantasma. Que o centro histórico da Figueira da Foz parou no tempo. Que o centro de Évora é património a que todos viraram costas há muito. Que os centros de Setúbal e Montijo morrem aos poucos, descontando algumas lojas de produtos chineses.
Visivelmente, em Alcochete temos um problema mais sério: já nem o comércio resiste ao abandono e à desertificação do centro histórico. Em Samouco é ainda pior, porque o seu miolo antigo era marcadamente residencial.
Está tudo por fazer e temo que o destino da maioria das construções antigas seja a ruína total, para em lugar delas surgirem, sempre que possível, blocos de apartamentos. Há vários exemplos recentes. Porquê? Porque são as licenças de construção e de habitação que alimentam a voracidade despesista das autarquias.
Estado, autarquias e cidadãos têm de enfrentar este problema com realismo. Não com a criação de gabinetes de requalificação ou a produção de legislação inútil, nem com excepções aos limites de endividamento municipal.
"Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje", diz a sabedoria popular.
Expliquem-me, ao menos, o que de útil fez ontem e anteontem o Município de Alcochete.
16 maio 2006
Ideologia e denúncia
Eu estou convencido do triunfo da visão liberal do homem e do mundo em todo o planeta porque a força da liberdade é de longe superior à de todas as tiranias. Mas é esta convicção que me alerta sobre a urgência de não cruzar os braços e encostar-me às paredes.
Tenho que deixar o mundo melhor do que o encontrei. Nesta conformidade denuncio chavões responsáveis pelo sofrimento humano.
Não há a menor dúvida de que o humanismo antropocêntrico arreda a ideia de Deus; de que o cogito cartesiano nega Deus; de que o iluminismo e o positivismo são o endeusamento da razão e ciência respectivamente; de que a ideologia marxista é um nihilismo, isto é, a destruição dos mais altos valores humanos.
Sim, o marxismo é uma ideologia. Não é o mesmo paradigma científico e ideologia. É certo que têm elementos comuns, uma vez que a ideologia também é um conjunto de ideias, imagens, representações e valores que servem para interpretar o mundo. Porém, a ideologia distingue-se pelo seu carácter não científico. Ideologia é opinião. Sejam opiniões espontâneas do povo (modos de vida, valores, crenças, etc.), sejam opiniões manipuladas e impostas pelo Estado ou por grupos que acumularam o poder suficiente para impô-las.
Em conclusão, enquanto que o paradigma é algo fundamentalmente intelectual que parte do seio da comunidade científica, a ideologia é uma convicção intelectual que parte do interesse.
Tenho que deixar o mundo melhor do que o encontrei. Nesta conformidade denuncio chavões responsáveis pelo sofrimento humano.
Não há a menor dúvida de que o humanismo antropocêntrico arreda a ideia de Deus; de que o cogito cartesiano nega Deus; de que o iluminismo e o positivismo são o endeusamento da razão e ciência respectivamente; de que a ideologia marxista é um nihilismo, isto é, a destruição dos mais altos valores humanos.
Sim, o marxismo é uma ideologia. Não é o mesmo paradigma científico e ideologia. É certo que têm elementos comuns, uma vez que a ideologia também é um conjunto de ideias, imagens, representações e valores que servem para interpretar o mundo. Porém, a ideologia distingue-se pelo seu carácter não científico. Ideologia é opinião. Sejam opiniões espontâneas do povo (modos de vida, valores, crenças, etc.), sejam opiniões manipuladas e impostas pelo Estado ou por grupos que acumularam o poder suficiente para impô-las.
Em conclusão, enquanto que o paradigma é algo fundamentalmente intelectual que parte do seio da comunidade científica, a ideologia é uma convicção intelectual que parte do interesse.
Subscrever:
Mensagens (Atom)