O Dr. José Grilo Evangelista nasceu em Alcochete a 11 de Novembro de 1895 e faleceu a 24 de Dezembro de 1972.
Do médico insigne muito se tem dito e escrito. Aqui vou-me ocupar um pouco do meritoso poeta que foi o Dr. Grilo.
Nas mãos do neto, meu saudoso amigo António Carlos Grilo, vi eu uma resma de folhas A4 com poemas do avô. Hoje, quem detém esse espólio?
Para além da reflexão àquilo que desencadeia o próprio processo da escrita, vale dizer, o sentimento no entender de José Grilo Evangelista, na obra deste poeta descobre-se tanto o carinho pela gesta do torrão natal como a solidariedade por todos os que ganham o sustento na árdua labuta de todos os dias. É isto mesmo que testemunha o poema a seguir transcrito.
VIA DOLOROSA
Manhã de São João
Mal desponta o dia
E com ele a canseira no labutar
Premente
De quem precisa ganhar o pão.
Manhã de São João
Brumosa
Fria
Anúncio de sol ardente.
Estrada fora
Lá vão todos à porfia
Lá vão todos sem demora.
Os novos à frente
A galhofar
A rir
Alguns de naco na mão
Lá vão
Lá vão.
Mais atrás os velhos pobrezinhos
A cuspir
A manquejar
Arrumados ao seu bordão
Já lhes pesa o fardo nos caminhos
Na via dolorosa
De quem tem ainda que mourejar.
In "Tempo Livre", 1987
1 comentário:
Caro Professor Marafuga, com este seu post, veio outra vez à minha memória, a minha falecida avó. Trabalhadora incansável que durante anos a fio, foi doméstica na casa do Dr.Grilo. Nunca conheci a pessoa, mas acredito piamente no que a minha avó me contava sobre ele, quando com o pano limpava a sua fotografia guardada religiosamente em cima de um móvel.
Pena não podermos ler tudo o que escreveu. Pelo menos com este pequeno poema, lembrei-me (mais uma vez) e com a lágrima no olho, de quem me criou.
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