04 maio 2006

180 dias depois


Decorridos seis meses desde a tomada de posse do actual executivo municipal (1/8 do mandato), mantém-se a incapacidade em converter as mensagens da campanha em linhas de acção. Não se consolidou a maioria alcançada.
Lamento que nessa maioria haja pessoas que me merecem consideração, mas cuja intervenção ou poder de persuasão parecem limitadas em excesso.
Escrevi aqui, há pouco menos de três meses, que a qualidade dos governantes se avalia pela definição de preocupações prioritárias. Quem hoje governa a autarquia de Alcochete nem essas prioridades conseguiu transmitir à opinião pública, se é que alguma vez as definiu.
Também escrevi que o défice de informação era a pecha da nova maioria, representa o seu pior defeito e não tem justificação conhecida. Nada mudou daí para cá. Até o boletim municipal foi inútil, porque mero instrumento de propaganda como no passado. Há limites para o sigilo e a reserva, mormente quando isso fragiliza o poder e contribui para o seu isolamento, solidão e insegurança.
Escrevi ainda que esta maioria era banal, pouco criativa e previsível. Pior é faltar-lhe tempo ou capacidade para se emendar. Péssimo é não haver oposição visível nem intervenção cívica para mudar o rumo às coisas.
Tudo somado temos Alcochete a fervilhar de boatos. Alguns não podem ignorar-se de todo, sobretudo se põem em causa a honorabilidade das instituições e a dignidade de pessoas. Mais mês, menos mês, alguém acabará por chamar a polícia. É o costume nestas circunstâncias.
Do ponto a que chegámos dificilmente há retorno, a menos que as figuras de referência do sistema puxem dos galões e dêem um murro na mesa. Essa é uma hipótese de regeneração, tanto mais que as carreiras política e pessoal de muita gente boa e séria estão em jogo.
Sic transit gloria mundi.

2 comentários:

Anónimo disse...

Enfim...
tudo sinais de uma decadência letárgica...
tudo sinais de deserto de ideias, de oposição e de exigência...
tudo sinais de que tudo continua como sempre...
tudo sinais de uma cultura instalada, entranhada e alapada sem sociedade civil bastante que sirva de estímulo e antídoto...

Caro Sr Bastos, já reparou certamente que este é um eterno assunto português e alcochetano, que muitas vezes tem sido levantado e de que nunca ninguém se parece preocupar... é que nem se disfarçam as coisas... somos um país velho é o que é! Vivemos por e em inércia cívica

Fonseca Bastos disse...

Caro RPMRibeiro:
O défice de intervenção cívica agrava-se desde o final da década passada, como muitos outros, e acaba de ser demonstrado – presumo que com rigor científico – que 85% dos residentes no continente não se interessam pelo país.
Sem surpresa li ontem esta notícia:

http://dn.sapo.pt/2006/05/04/sociedade/se_portugal_fosse_marca_muito_poucos.html

Suspeito que, relativamente aos assuntos locais, em Alcochete o défice será ainda maior.