10 maio 2006

Mens sana in corpore sano

A máxima de Juvenal mens sana in corpore sano (mente sã em corpo são) é entendida por alguns como se do estado do corpo dependesse o estado da alma. Ora eu penso que este entendimento é impróprio.
Por mais que eu possa espantar algumas pessoas, na locução deste poeta satírico romano que viveu no 1º e no 2º séc. depois de Cristo, eu vejo algo próximo da Encarnação, descida do logos à carne do homem.
Na verdade, para o Cristianismo o homem é a união de sua alma e de seu corpo; para o Platão do Alcibíades, o homem é uma alma que se serve de um corpo. Perguntar-me-ão se este meu excurso tem alguma coisa a ver com Juvenal. Talvez tenha.
Se procurarmos o verbete "Juvenal" na Grande Enciclopádia Portuguesa e Brasileira, poderemos ler o seguinte: «Assim como Horácio é o satírico do senso do ridículo, assim Juvenal é o satírico da indignação. Não é um mundano mas uma espécie de reformador, e representa na literatura romana um papel parecido ao dos profetas na história da cultura judaica. Usa a sátira, não como um ramo da comédia [...], mas como uma arma de ataque contra as brutalidades da tirania, as corrupções do gosto e das maneiras, os crimes, as loucuras, as extravagâncias de uma sociedade degenerada. A sua sátira é vigorosa, pungente e austera, com relanços de alta poesia moral. Pode ainda dizer-se que Juvenal representa o génio próprio do Romano, distinto daquela mais cosmopolita espécie de talento formada pela cultura grega».
Depois destas palavras retiradas da enciclopédia referida, imaginemos que há quase dois mil anos para trás alguém chegava ao pé de Juvenal e proferia a seguinte frase: «Tenho um corpo, logo existo». Não acham que este grande poeta da Humanidade se indignaria com o materialismo abjecto de tamanha monstruosidade intelectual cuja raiz já vem de Platão, passa pelos gnósticos e estende-se até Descartes? Sim, indignar-se-ia obviamente com a mesma veemência que eu me indignei ontem ao ter a certeza de que alguns professores de Educação Física orientam esta disciplina de todo o ensino até ao 12º ano na senda do cartesianismo mais execrável que alguma vez vi na minha vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

De facto perdeste totalmente o senso da realidade... Professores de Educação Física orientam a sua disciplina para ... o corpo! Daí a adaptação da frase de Descartes e nada mais. O resto só existe na tua mente doente! Quanto a Descartes nem te apercebes que ele tentou salvar o que seria ainda salvável do Transcendente. Mais inteligente do que tu, ele apercebeu-se que já não era possível voltar à Idade Média teocêntrica, mas era preciso opor-se ao Humanismo Renascentista revolucionário e imanente. Olha que o gajo está do mesmo lado da tua barreira!