06 março 2006

Novamente o Rossio, para variar...


Termino os apontamentos sobre pequenas e médias mazelas no antigo Rossio de Alcochete (actual Largo Barão de Samora Correia), não vá alguém supor que habito aí e estou a tratar da minha "quintinha". Resido um pouco longe, por sinal.
Elegi o antigo Rossio porque gosto dele, originalmente bem concebido, como sempre, pelo arq.º Ribeiro Telles. Depois houve umas intervenções que abastardaram a obra, mas ninguém repara nisso.
Tal como eu, inúmeras famílias gostam do Rossio e frequentam-no. Se pudesse ampliava-o substancialmente, conquistando espaço ao rio, hoje inútil, malcheiroso e feio na baixa-mar.
Parece não haver dinheiro para tal, nem imaginação para autofinanciar a obra. Por essas e por outras, limito-me a abordar coisas mínimas. Trocos, diz o Zé Povinho.
Principiando pelo lado Nascente, recordo existir um parque infantil fora-da-lei. Esse e todos os existentes no concelho! Basta ler o decreto que regula esses equipamentos.
No meio nem sempre está a virtude e o busto do Barão de Samora Correia – Carlos Ferreira Prego, grande benemérito da Santa Casa da Misericórdia – continua há anos às escuras.
Em tempos alguém pregou – distraidamente, presumo – uns suportes de iluminação a duas palmeiras próximas, para alumiar o barão. Mas outro alguém, a quem incomodariam excessivamente, deu cabo deles. Os despojos dos suportes continuam pregados às palmeiras, mas o busto do barão jaz apagado e esquecido.
Não é justo para quem doou a casa ao que é hoje o lar de idosos que ostenta o seu nome!
Caminhando para Poente, detenho-me perante a estátua de D. Manuel I, inaugurada a 31 de Maio de 1970. Aqui d'el-rei que embuçaram O Venturoso!!! Ninguém repara que a iluminação não contempla a cabeça?
À noite todos os gatos são pardos e, qualquer dia, confundem-no com a pobre Maria Antonieta, última rainha de França!
Acerca da estátua há outros pormenores a ter em conta.
O plinto que lhe serve de base tem cada vez mais brechas. Oxalá sua majestade não se veja apeada antes de alguém reparar no estado da pedra!
O autor da escultura, Vasco Pereira da Conceição, deixou escrito que ela deveria sobressair no fundo branco do edifício da Quinta da Praia das Fontes: "a mancha de bronze destaca-se sobre o fundo de cal do antigo palácio do Marquês de Soydos(...)", escreveu no programa da inauguração.
Mas isso é passado, do tempo da "Outra Senhora"! É preciso evoluir! Vai daí, alguém achou o cenário despido e não esteve com meias medidas: mandou plantar arbustos e palmeiras onde nada deveria existir. Isto não se faz a uma obra de arte!
À direita da estátua havia três tamareiras. Simbolizavam a vocação africana do nosso antepassado mais famoso. E deram saborosos frutos, segundo alguns alcochetanos que têm agora quase meio século de vida.
Actualmente as tamareiras não simbolizam coisa alguma, excepto o desleixo. E frutos só comprados no supermercado ("Made in Algeria ou Morocco", bem entendido). Há uma floresta de mais de 30 tamareiras no espaço de três!
O artista já cá não está para reclamar por lhe terem adulterado as ideias, mas recordo a sua visão para que conste.
Acabei de demonstrar que, nos primeiros 100 dias de mandato, o novo executivo municipal poderia, com despesa irrelevante, ter dado alguns ténues sinais de haver vontade e interesse em melhorar pequenas coisas a que não se ligou nos quatro anos precedentes.
Como vêem, sou pouco exigente. Não peço que acabem o fórum cultural, por exemplo. Sugiro somente que alindem Alcochete gastando pouco. Será necessário convocar uma reunião da edilidade para o antigo Rossio, para que tomem conhecimento disto?
Bem sei que poderia reivindicar marina, ciclovias, pista de atletismo, piscina de competição e coisas tais, que os candidatos põem sempre no papel quando lhes cheira a voto. Mas para quê se os papéis da última campanha já foram para reciclagem?
Continuarei a abordar outras coisas esquecidas cá no burgo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, parabéns caro Sr. Bastos
De fazer inveja...

Anónimo disse...

Apenas uma correcção, se me permite, caro FBastos: o anterior executivo camarário teve o projecto de avançar o paredão junto ao rio, mas tal não mereceu aprovação das autoridades centrais. A ideia, segundo sei, era fazer um calçadão pontuado por palmeiras, semelhante ao miradouro Amália Rodrigues. Voltamos àquela falta de rigor a que já nos habituou em outras lides...
Pode ser que estes senhores que por agora lá andam queiram retomar o projecto e pressionar o governo central nesse sentido. Mas é mais provável que nem sequer pensem nisso.
No seu artigo (cujas opiniões só o vinculam a si próprio, e aos que o seguirem, pois está claro), faltou referir a trágica praga de mosquitos que invadem o Rossio durante o Verão. Culpa de quem? Claro que só poderia ser: do poder autárquico, então não se está mesmo a ver? Por falar nisso, por onde anda o sr. Pequito, esse nobre paladino da luta heróica de Alcochete contra a mosquitagem? Se o vir, dê-lhe um abraço meu, se não fôr muita maçada.
Outro para si,