31 julho 2008

Esperanças (4)

As máquinas partidárias locais deixaram-se de narcisismos e acordaram de dois anos e meio de torpor.
Os 30 meses passados não foram bons para a democracia nem para as instituições, que chegam debilitadas ao fim de um invulgar ciclo de alheamento político.
Enquanto olhavam para o umbigo, as máquinas partidárias passaram ao lado de informação preciosa. A maioria da documentação não foi estudada nem arquivada para memória futura. Militantes influentes e dirigentes confessam desconhecer coisas de que não deveriam ter-se alheado.
Resta menos de um ano para estudar assuntos, elaborar diagnósticos, propor soluções, traduzi-las em medidas compreensíveis aos eleitores e convencê-los da bondade das propostas.
Para que estas não se afigurem vagas e utópicas, previamente terá de conhecer-se a real situação financeira da nossa principal autarquia, informação que continua no segredo dos gabinetes.
A lei impõe o contrário mas o assunto é tabu desde um célebre comunicado que, há mais de dois anos, anunciava uma auditoria às contas herdadas. Recentemente, li num documento oficial o seguinte: "Dadas as dificuldades financeiras em que se encontra a Câmara Municipal" (...).
Converso com muitas pessoas e todas me dizem: para quê mais promessas se o imobilismo é visível e os problemas financeiros se pressentem à légua?
Na última década houve aumento populacional sem precedentes, com a consequente alteração do perfil sociológico dos residentes, a maioria oriunda de problemáticos e congestionados meios urbanos.
Gente desenraizada mas sabedora que desenvolvimento baseado em habitação não prenuncia bom futuro, embora desconheça que sem as receitas geradas pelo betão dificilmente a câmara sobreviverá se se mantiver o actual nível de despesa corrente. Essa sobrevivência preocuparia os chegados na última década?
Novos moradores em número tão significativo geraram massa crítica suficiente para uma revolução, se alguém conseguir sensibilizá-los a ir às urnas. A tarefa parece-me hercúlea, tanto mais que no país evoluiu a percepção acerca da política e dos políticos e a abstenção tende a agravar-se.
Sem a mobilização dos cidadãos qualquer campanha será mero desperdício de dinheiro, de capacidades e de energias.
Os eleitores vivem alheados do que existe além da porta de casa: oito em cada dez manifestações públicas não atraem outros espectadores senão os forçados.
Tentar acordar tantos indiferentes, em menos de um ano, exige meios financeiros impossíveis de obter à escala local sem vender corpo e alma ao Diabo!

30 julho 2008

Repto de Marafuga a Boieiro

Se uma das primeiras câmaras comunistas presidida pelo sr. Boieiro nada teve a ver com o restauro da capela de Nossa Senhora da Vida, por que razão as várias denúncias por mim feitas e culminadas no referido restauro passam do quantitativo ao qualitativo com a reacção daquele autarca?
Evidentemente que o sr. Boieiro não consegue sacudir a água do capote como soe dizer-se, razão por que faz uma defesa atabalhoada da sua dama, somando o restauro da capela de Nossa Senhora da Vida com o da Igreja da Misericórdia, calculando a média, considerando que o saldo é positivo e, por fim, retirando toda a pertinência à minha denúncia. Com efeito, a estrutura mental do homem é a de um contabilista de mangas de alpaca, papel e lápis. Nada a fazer.
Pronto, tudo bem. Acabo como começo, quero dizer, com outra pergunta enquanto a pergunta não for proibida: qual seria a defesa que o sr. Boieiro aqui faria do derrube das árvores na Avenida da Restauração, da destruição da escola do Moisém e implantação da gasolineira dos Barris?
Fico à espera.

Cabanas de Tavira

Esperanças (3)

Imagem retirada daqui.


Continuo perplexo com o caso dos subsídios a antigos combatentes no Ultramar, assunto que se arrasta há anos em gabinetes governamentais, com avanços fictícios e recuos estratégicos, tão penosamente quanto se movimentam hoje muitos dos primeiros homens enviados para essa guerra.

O assunto interessa a cerca de 900.000 portugueses que por lá passaram durante 14 anos e ainda mais estranho é o alheamento do país real em relação aos sacrifícios que a tantos foram pedidos.
Sirvo-me de um exemplo local. Existe em Alcochete uma artéria a que foi atribuído o nome do único filho da terra falecido no Ultramar: Rua Carlos Manuel Rodrigues Francisco (aquela em que se situa a Repartição de Finanças). Não contesto essa homenagem, ao contrário de outras.
O que fere a minha sensibilidade é a indiferença geral pelos ex-combatentes do Ultramar nascidos ou residentes no concelho. Quantos serão? Quem são? Como vivem? Alguma vez se tentou reuni-los?
Os mortos justificam homenagem e os vivos não merecem sequer um gesto de simpatia?
As culturas anglo-saxónicas encaram estas coisas numa óptica totalmente diversa. Realizam-se paradas e cerimónias, preparadas criteriosamente, para demonstrar gratidão a sobreviventes de muitas guerras, por serem avós e pais das gerações activas e por terem sido vítimas de opções políticas em que nem sempre participaram.
Os ex-combatentes do Ultramar português não eram militares profissionais, foram enviados à força para a guerra, prejudicaram-lhes a vida pessoal e familiar, os estudos e a carreira profissional, por períodos que variavam (em média) entre três e seis anos e muitos ainda hoje não ultrapassaram as dolorosas sequelas do que viram e sofreram.
Suponho que esmolas a maioria dos ex-combatentes rejeita. Mas duvido que faltassem à chamada se, localmente, alguém tiver a coragem de, pelo menos, reconhecer quanto lhes devemos.
Creio que a História virá a prestar a devida homenagem a estes 900.000 portugueses. Mas custa-me a compreender o receio, a vergonha ou o desinteresse de contemporâneos em entendê-los como a causa maior da explosão popular que se seguiu ao 25 de Abril.

29 julho 2008

Património familiar perde valor

Aponta esta notícia para uma redução de 10% no valor da avaliação bancária de habitação em Alcochete, num único trimestre.
Tal significa que o património das famílias vai de mal a pior e que tem de haver mais cautela na determinação do valor fiscal das habitações para efeitos de Imposto Municipal sobre Imóveis.

Rezo

Contra o desespero, sede de todo o mal, rezo e espero, não sou seguro do meu poder nem de mim próprio, confio em Deus, rezo e espero, Tu ultrapassas-me, rezo, viro a esperança em acto, paz, sucesso, reforço da Fé, medo de Deus, da perda do amor d'Ele, contra o vazio, sede de todo o mal. Amém.

Cabanas de Tavira

28 julho 2008

Portal do Licenciamento - www.portalautarquico.pt

Ilustres, descobri hoje esta informação na net. São boas notícias para todas a entidades envolvidas no licenciamento. Esperemos que funcione...

O Portal do Licenciamento, que permitirá que um mês após iniciado o processo a autarquia elabore o parecer final e informe o requerente, por e-mail, para que este pague as taxas e inicie a obra, fica disponível quinta-feira. Desde o dia da entrada de um pedido até à entrega dos pedidos de autorização junto das entidades externas chamadas a dar parecer decorrem apenas cinco dias, segundo o gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Administração Local, Eduardo Cabrita. As entidades chamadas a dar parecer sobre um processo têm depois 20 dias para se pronunciar, "período findo o qual o pedidos são tacitamente aprovados", de acordo com a mesma fonte. Isto significa que um mês após o início do processo, a autarquia estará em condições de elaborar o parecer final e informar o requerente, por e-mail, para que proceda ao pagamento das taxas e possa iniciar a sua obra. Esta ferramenta estará ao serviço de autarquias, comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e outras entidades externas que têm de se pronunciar num processo de licenciamento. Todos os documentos são digitalizados e disponibilizados aos intervenientes em www.portalautarquico.pt, não havendo circulação de papel. O portal foi pensado e estruturado "em conjunto por todos os intervenientes para que o novo Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação seja facilmente cumprido", permitindo ganhos de produtividade nos serviços e níveis de satisfação elevados junto dos requerentes, refere uma nota do gabinete de Eduardo Cabrita. Com esta plataforma pretende-se conseguir uma informação mais actualizada, registo de acções e sistemas de alertas, ter uma visão global de todos os processos em curso, flexibilidade na gestão dos processos de importância estratégica, o cumprimento dos prazos previstos na lei e uma melhor relação com os munícipes. O novo Regime Jurídico da Urbanização e Edificação entrou em vigor em Março e logo na altura o secretário de Estado anunciou estar em preparação uma plataforma informática para que tudo funcionasse via electrónica, facilitando a relação entre municípios, CCDR e restantes serviços da administração central. "Alguma autarquias já têm sistemas informáticos que funcionam muito bem, outras estão a adaptar-se e a plataforma informática vai melhorar a relação das autarquias com os serviços do Estado", referiu na ocasião em declarações à agência Lusa.

Paulo Benito

Esperanças (2)

Em Alcochete o terreno é geralmente plano (a maior elevação ronda os 60 metros), mas fora dos centros urbanos não há bermas seguras para peões e muito menos para ciclistas.
Tomemos como exemplo quatro vias extensas, com tráfego intenso, que interligam aglomerados populacionais interdependentes e significativos: Estrada Municipal 501 (Alcochete-Samouco), Estrada Municipal 502 (Alcochete-Atalaia/Fonte da Senhora), Estrada Nacional 119 (Alcochete-São Francisco-Montijo) e Caminho Municipal 1003 (da EM502 à EN119, em São Francisco).
Em todas há espaço livre suficiente mas nenhuma tem bermas arranjadas, sendo perigosas e inseguras para ciclistas e pedestres porque desrespeito pelos outros é o desporto favorito de demasiados automobilistas. Basta atentar na quantidade de lixo acumulado nas bermas, lançado borda fora de veículos em movimento, para perceber quanta incivilidade por aí campeia.
Contrasensos de um concelho plano com excelentes condições naturais para marchar, passear e andar de bicicleta, actividades impossíveis sem riscos significativos porque se desprezam limites de velocidade e nenhum autarca reparou atempadamente na carência de obras pouco dispendiosas e imprescindíveis para o bem-estar de residentes.
Espero que isto seja contemplado em alguma lista de prioridades de candidatos com outra cultura e mais respeito pelas pessoas. Mas que as promessas não fiquem no papel, porque disso estamos fartos.

27 julho 2008

Esperanças

Espero que ninguém aceite aviltar-se para ganhar eleições.
Espero que haja ampla aliança para a valorização da economia local em detrimento de negócios pontuais.

25 julho 2008

Temas tabu

Palavras como "deverá", "prevendo-se" e "provável", que pontuam esta notícia, têm implícito que o aeroporto chegará demasiado tarde – se chegar, porque subsistem sinais de hesitação – para minimizar a crise imobiliária latente a nível local.
Consequentemente, tendo secado a tradicional fonte de metade do orçamento autárquico, as soluções terão de ser adoptadas a outro nível.
A julgar pelas aparências creio ser urgente encontrar um rumo alternativo. As contas do ano passado continuam no segredo dos deuses e o prazo de pagamento a fornecedores excede, em média, 140 dias. Ninguém estranha?
De momento, não vejo outra alternativa senão a redução de despesas. O tema é incómodo mas na campanha autárquica do próximo ano ninguém poderá contorná-lo.
Para quê prometer o Paraíso com apertos de tesouraria?
Para quê sondar os eleitores sobre nomes de potenciais candidatos sem responder, previamente, a tantas dúvidas que assaltam o espírito dos mais atentos?

24 julho 2008

Ó Alcochete, Alcochete


Ó Alcochete, Alcochete

Já chegou o dia

Emerge das profundezas desse abismo

Ó Alcochete, Alcochete

Já está na hora

Deita ao mar a coberta do teu marasmo

Chegou o dia, está na hora

Desaloja essas lajes

Espreguiça os teus braços gigantes

E dá corpo à tua voz

Eco amado de Portugal

23 julho 2008

Não entendo (2)

Frequentemente, critico a carência de áreas de lazer no concelho. Nisso e em muitas outras não estou sozinho, felizmente.
Verde, sombra e espaço contribuem para o bem-estar geral mas têm sido ignorados por sucessivos autarcas, sempre armados de imensas e repetidas promessas em períodos eleitorais.
O problema é acordarem apenas na época da caça ao voto e, se perdem, imediatamente hibernam. Voltarão a despertar na época seguinte e assim sucessivamente.

Os vencedores aproveitam esse amolecimento para semear mais prédios a esmo, por ser urgente realizar dinheiro para alimentar a clientela palaciana.
Um dia, quando não houver mais espaço para promessas, seguramente aparecerá alguém a desculpar-se com as asneiras de quem passou pelo poder.

Entretanto, continua a ser inexistente um sítio adequado para a rapaziada do skate e dos patins se divertir sem prejudicar património individual e colectivo. Vejo dezenas de grelhas de águas pluviais, sistemas de rega e lancis destruídos devido ao uso desses brinquedos em inadequado meio urbano.
Numa época em que muito se recomenda algum exercício físico, continuam a não existir espaços seguros para ciclistas e caminheiros, excepto aquele quilómetro em Samouco.

Mas, tal como escrevi aqui há mais de quatro meses, também não entendo o que levará as pessoas a alhearem-se do Pinhal da Areia, situado atrás do outlet, uma área de 132.984m2 onde existe um circuito de manutenção.
Contudo, arrisco a escrever que até se justificará o desinteresse dos alcochetanos, porque nesse espaço há coisas que a razão desconhece.
Em primeiro lugar, tanto do lado do Sítio das Hortas como do parque de estacionamento do outlet, a sinalização continua a não ser adequada e a esmagadora maioria desconhece o circuito de manutenção.
Em segundo lugar, lê-se na página do outlet na Internet que, de Maio a 15 de Setembro, o Pinhal da Areia está aberto até às 20h.
Porém, quem ontem se abeirasse de um dos portões do Pinhal da Areia verificaria que, em papéis já quase invisíveis devido ao sol e à chuva, constava o encerramento... às 18h!
Como me recuso a crer que alguém tenha decidido mudar o horário sem pré-aviso, suponho que aqueles papéis são os de Inverno, que ninguém substituiu, a 1 de Maio passado, pelos correctos nesta época do ano.
Em terceiro lugar, por esse país fora conheço vários circuitos de manutenção e, normalmente, sugerem uma rota, tendo ainda junto a cada local de exercícios indicações acerca do que deve e não deve fazer-se. No Pinhal da Areia não há rumo recomendado nem sugestões visíveis.
Alguém que suponho conhecer minimamente o problema, dizia-me há tempos que o Sítio das Hortas e o Pinhal da Areia enfermam de grave lacuna: dependem de três entidades (Freeport, Município de Alcochete e Instituto de Conservação da Natureza). Qualquer coisa que se faça ali carece de pareceres de inúmeras mentes brilhantes. E mexer numa palha pode equivaler a agitar águas que nunca foram calmas.
Enfim, tenho pena, muita pena que aquilo não seja devidamente aproveitado pela maioria dos alcochetanos. Mas, além de apontar o que me parece errado, suponho que pouco mais poderei fazer.
Já agora, se e quando quiserem mais gente a usufruir do Pinhal da Areia, prolonguem o horário de Verão até às 21h. Há luz natural suficiente e, em dias muitos quentes, a experiência diz-me ser desagradável exercitar o físico ao ar livre antes das 20h00.

22 julho 2008

Sugestão ao Aposento do Barrete Verde

Há um mês, neste texto, o sr. João Marafuga reproduzia aqui o comunicado em que a Direcção do Aposento do Barrete Verde anunciava o habitual peditório porta-a-porta.
Como o ambiente social está cada vez mais inseguro e difícil, batendo-nos à porta, quase diariamente, inúmeros desconhecidos indesejáveis – de fiéis de igrejas a vendedores de enlatados televisivos – permitia-me sugerir à Direcção do Aposento que, em local bem visível do seu sítio na Internet, colocasse o Número de Identificação Bancária (vulgo NIB) da conta a utilizar para as pessoas enviarem o seu contributo.
Assim, de forma fácil e relativamente segura, a partir de casa ou de uma caixa Multibanco, os sinceros apaixonados pelas festas poderiam enviar a sua contribuição.

Perplexidades

Espanta-me passar pela praia à qual este blogue pediu o nome emprestado e observar duas coisas:
1. Tanta gente exposta ao sol, pelas 15h00, incluindo crianças;
2. Dezenas a tomar banho no Tejo.
Oxalá se sintam felizes por as coisas más só acontecerem aos outros.

Declaração de interesses

Para que conste, declaro que não cumprirei este acordo.

O meu herói


Há quem pense que isso de heróis é só para as crianças que, Deus as ajude, idolatram personagens dos contos de fadas e desenhos animados, acreditam no Pai-Natal e no Homem-Aranha, etc.

Os heróis das crianças encarnam o bem e vencem o mal.

Eu também tenho o meu herói que é Cristo, teologicamente a Estrutura da Realidade, o Verbo Divino, o Sentido da minha carne.

Mas isto só por alguns é percebido, razão por que, como cristão, tenho que descer um pouco mais à terra e eleger um herói mais convincente para todos.

Esse meu herói é Churchill, para mim o maior político do século XX. Depois dele, só Reagan. Ambos combateram o totalitarismo, o primeiro o nazismo, o segundo o comunismo.

Sem a envergadura política quase sobre-humana destes homens, eu nunca teria a liberdade de denunciar os pequenos Hitlers e os pequenos Estalines que, embora mortos, por aí andam a dar à pata.

21 julho 2008

Insensibilidades


Espero que os alcochetanos não baixem os braços e, no próximo ano, elevem ao poder local representantes sensíveis aos anseios e problemas de seres humanos, que privilegiem o bem-estar dos seus patrícios em detrimento da betonização apressada e desregrada.
Vem isto a propósito da profusão de barreiras arquitectónicas existentes um pouco por todo o concelho, que restringem especialmente a mobilidade de idosos, de crianças e de deficientes, mas que, num número apreciável de casos, põem até em risco a segurança do peão lesto e previdente.
Desafio qualquer um(a) a dar uma volta por Alcochete, Samouco e São Francisco reparando, atentamente, na quantidade imensa de passadeiras de peões inexistentes ou mal situadas; nos pisos deformados, descuidados e desnivelados; nas artérias sem lancis rampeados ou com inclinação inadequada; em degraus e soleiras que representam autênticas armadilhas; em passeios exíguos ou, pura e simplesmente, inexistentes; pisos com revestimento escorregadio quando molhado, etc., etc.
Tenho para mim que os autarcas de Alcochete – anteriores e actuais – quiçá por usarem demasiado o automóvel, revelam notável insensibilidade pelos problemas de peões e pelo conceito de cidades inclusivas.
Essa indiferença é particularmente gravosa para residentes e forasteiros que se movimentam com dificuldade, por questões de visão ou de locomoção, porque empurram um carrinho de bebé ou a cadeira de um deficiente motor.
Nos centros históricos de Alcochete e Samouco, nomeadamente, conduzir o carrinho de uma criança ou uma cadeira de rodas é autêntico suplício e, mesmo em locais planos, ao fim de 300 metros só um super-homem ou super-mulher não estará esgotado, tal a quantidade de barreiras que lhe aparecem no caminho.
Escrevo-o com pena: os autarcas de Alcochete são insensíveis aos problemas de velhos e trôpegos e não acarinham crianças de tenra idade!

20 julho 2008

Não há dificuldades de sobrevivência?

Notícias como esta do DN deixam-me preocupado, por suspeitar que a tendência política local para o silêncio e o secretismo sobre problemas sociais pode mascarar uma realidade que, fatalmente, se repercutirá na insegurança de toda a comunidade.
Explico isto de outra forma para não subsistirem dúvidas: mais polícia nada resolve quando há dificuldades de sobrevivência nas classes débeis. Medidas sociais correctas, adoptadas em tempo oportuno, evitam intervenções policiais incómodas para todos – incluindo os próprios agentes – porque nunca representam uma solução mas um paliativo.
Conheço algo da realidade social do concelho e duvido que o agravamento das condições de vida no país não tenha ainda reflexos significativos no território de Alcochete. Seria lamentável se existissem mas ignorássemos a dimensão de um problema cujos sinais no país são cada vez mais preocupantes.
Daí o meu apelo aos dirigentes de instituições locais de solidariedade social para que revelem, por qualquer meio de comunicação da sua preferência, o que sabem acerca da evolução da pobreza e das limitações com que se defrontam para ajudar os carenciados de Alcochete.
Se não conseguirem nesses meios a atenção suficiente poderão ainda recorrer à blogosfera, a qual não me parece, por enquanto, amarrada a compromissos.
Estou e sempre estive disponível para ajudar.

18 julho 2008

Surpresas do mundo animal

Ia jurar que as imagens deste artigo foram captadas em Alcochete.
O filme sonoro revela detalhes de uma experiência científica de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: as aves limícolas adaptaram-se à profusão de luz artificial e aproveitam-na para se alimentar também de noite.

Poderá não ser positivo para a conservação de certas espécies, mas talvez seja favorável a outras.
Deixem-nas sobreviver com abundância e paz, porque há sempre o risco de partirem para longe.

17 julho 2008

A capela de Nossa Senhora da Vida ( 2)


Embora não seja eu o autor do texto, recebi do sr. Miguel Boieiro a seguinte mensagem:

"Para os devidos efeitos, quero informar o meu amigo que, contrariamente ao que se encontra escrito no seu blog, a Câmara Municipal nada teve a ver com a reparação da Capela da Senhora da Vida que, como sabe, não é propriedade municipal. Tive conhecimento do estado muito degradado das madeiras que compunham o tecto e das pinturas. Com muita pena, soube depois que a Santa Casa da Misericórdia não as conseguiu recuperar. Felizmente foram tiradas fotografias ao tecto o que possibilita a sua reprodução, quando as pessoas quiserem.

"Já em relação à Igreja da Misericórdia, foi possível estabelecer um protocolo de acordo com a Santa Casa e a Câmara empreendeu, com sucesso, a restauração do edifício, respectivos tectos e retábulo (só estes últimos custaram, na altura 26 mil contos).
"De tempos a tempos, dou uma espreitadela ao blog que, relativamente aos seus textos e a outros, encontro utilidade. Já o mesmo não posso dizer dos textos do Sr. Marafuga. Quando são provocações primárias e descabidas, ainda se tolera, porque, à vista desarmada, se nota não terem qualquer cabimento. No entanto, há outros textos eivados de maldade e de mentira que podem causar confusão nalgumas pessoas menos avisadas. Estou-me a reportar, nomeadamente, a escritos onde aparece o meu nome, referido, quase sempre, com má intenção. É claro que não lhe respondo porque isso não iria adiantar nada, dada a sua comprovada desonestidade intelectual.
"Quero ainda dizer-lhe que nada tenho, nem tive, contra o Marafuga. Pelo contrário, uma vez até o convidei para compilar uma antologia dos poetas alcochetanos e valha a verdade, o homem saiu-se muito bem.
"Ficam pois, estes esclarecimentos para o caso de lhe proporcionarem alguma utilidade.
"Cumprimentos!"

A minha resposta está num comentário a este texto.

Actualização

Após a publicação do texto acima e, a pretexto de comentário que o sr. João Marafuga entendeu fazer, o sr. Miguel Boieiro enviou-me nova mensagem:

"Não teria escrito da forma como o fiz se, antecipadamente, soubesse que o meu amigo iria colocar o texto no “blog” de que é um dos administradores. Para mim, é de facto, o seu blog, porque entendo ser a pessoa que nele tem mais conhecimentos e responsabilidades.

"Considero a resposta do Sr. Marafuga, compreensível, dentro do contexto habitual e face aos seus condicionalismos psicológicos. Tudo bem! No entanto, devo confessar que me fascinam os temas abordados e proponho um encontro com ele, só os dois, ou com mais alguém, se acharem preferível, para que possamos debater civilizadamente, olhos nos olhos, com lisura de processos e respeito mútuo, mas abertamente, todas as questões que se vêm levantando.
"Compreende, não me move mais que o prazer intelectual, a análise psicológica da condição humana, a descoberta da “verdade” e a possível irradiação de “ódios de estimação” que não ajudam a bem solucionar os problemas.
"Afinal, somos contemporâneos, temos quase a mesma idade, gostamos muito da nossa terra, porque não nos sentamos para conversar?
"Apaixona-me a crítica, mesmo que infundada, não por masoquismo, mas porque ela permite sempre, através do que agora se chama o “mecanismo do contraditório”, aprender e evoluir positivamente. Adoro discutir política nacional e internacional, linguística, sociologia, psicologia, medicinas não convencionais, religiões (tenho na minha biblioteca particular os livros sagrados das principais religiões mundiais e na última semana de Agosto irei empreender uma espantosa viagem à Grécia e à Turquia, denominada “Os Caminhos de S. Paulo”, conjuntamente com sete padres católicos), bois bravos e mansos (não é impunemente que me chamo Boieiro) e sobretudo, Alcochete com as suas gentes e idiossincrasias muito próprias.
"Naturalmente que o encontro que proponho seria para concretizar quando fosse possível às partes interessadas (dia, hora e local) e sem quaisquer preconceitos, tabus, ou baias limitativas, a não ser as regras da convivência democrática. Ou seja, admitir que possamos estar errados, que a outra parte poderá ter razão e que a meta será sempre o aperfeiçoamento mútuo para tentar influenciar, de modo construtivo, o progresso da sociedade em que nos integramos.
"Deixo ao Sr. Bastos o critério (agora sim) de publicar, ou não, este desafio no “seu” blog.
"Cumprimentos!"

Ao publicar a réplica creio não ter violado qualquer regra das relações humanas, até porque o texto principia com palavras formais: "Para os devidos efeitos(...). Entendi isto como exercício do direito de resposta.
Nem ouso sequer oferecer-me como medianeiro entre os srs. Boieiro e Marafuga, por me parecer haver entre ambos mais que divergência de pontos de vista.
Mas gostava que, em Alcochete, toda a gente dialogasse serenamente. E, sendo raros os acordados e atentos, nada temos a ganhar se alguns andarem de candeias ás avessas.

16 julho 2008

Criminalidade e pobreza


O que gera a criminalidade é a ausência de princípios morais e não a pobreza, embora acredite que no seio desta surjam condições propícias para um número maior de crimes que no de comunidades com as necessidades básicas satisfeitas.

Se não fosse como digo, a hstória dos povos que é uma história de pobres seria apenas um rol inumerável de crimes.

A ideia difundida de que a criminalidade tem a sua causa mais imediata na pobreza serve aos comedores para a justificação e continuação do saque sobre quem trabalha.

Se o fito é combater a pobreza, dêem liberdade aos homens e mulheres que querem produzir riqueza em vez do aperto económico àqueles e estas com taxas sem fim. Eis a regra para diminuir a pobreza.

Mas sem a pobreza como é que os revolucionários culpabilizariam os capitalistas e levariam por diante a revolução?

Aqui fica a resposta a Jorge Giro quando no Jornal de Alcochete de 16 de Julho de 2008, pág. 2, pergunta: «Não será [o] facto de sermos um País com índices de pobreza cada vez maiores (já são dois milhões) que fez disparar a criminalidade?».

Saúde está doente

Há pouco mais de um mês, neste texto, prometera nova intervenção acerca do fecho do Serviço de Atendimento Permanente (SAP) do Centro de Saúde de Alcochete, quando pudesse avaliar o novíssimo Atendimento Complementar (AC).
Na realidade não há evolução positiva para utentes de um centro que, no final de 2007, tinha 17.130 beneficiários inscritos (3.222 sem médico de família), os quais originaram 44.215 consultas ao longo do ano.
O AC é mero remendo para minimizar a surpressão do SAP, que no ano passado assegurara 17.065 consultas urgentes (média de 46,7/dia), mais cerca de uma centena que no ano precedente.
O SAP funcionava sete dias na semana, das 08h às 20h. O AC está disponível aos sábados, domingos e feriados das 10h às 20h, porque nos dias úteis somente existe depois das 14h para quem não tenha médico de família ou o mesmo não esteja presente.
Portanto, se pertencer à casta dos que dependem exclusivamente do Serviço Nacional de Saúde (SNS), doravante, em Alcochete, faça o favor de padecer de maleitas imprevistas apenas nos horários adequados aos interesses corporativos. A alternativa é ir à urgência do hospital mais próximo, onde esperará horas.
E lembrar-me eu que, há cerca de duas décadas, os SAP foram criados para descongestionar as urgências hospitalares!
Há outros dados públicos, nada lisonjeiros nem recentes, muito embora só agora – a pouco mais de um ano de eleições locais – alguém tenha redescoberto a pólvora e reparado naquilo que os factos e as estatísticas demonstravam há uma década.
Em Alcochete, desde 1998, a população aumentou cerca de 60% mas, paralelamente, diminuiu o quadro de pessoal do centro de saúde. No início desta década tinha nove clínicos de medicina familiar. A última informação que conheço, já com três anos, indicava a existência de apenas sete, quando deveriam existir o dobro para nos aproximarmos da meta da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
O resultado prático é que, em sete anos, as consultas por milhar de habitantes baixaram para quase metade (de 3,3 para 1,8), enquanto a meta para a Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo é de 4,5.
Um reparo devo ainda fazer aos responsáveis pela organização do Centro de Saúde de Alcochete, acerca da qualidade da informação disponibilizada. A profusão de papéis afixados é notória, não existe nenhum folheto com informação actualizada e muito menos locais fixos de atendimento e prestação de informações.
Tentem pôr-se na pele do utente e comprovarão que, devido à imprevisibilidade de horários do atendimento médico, uma simples consulta implica, na melhor das hipóteses, duas deslocações ao centro de saúde.
Esta semana já lá fui três vezes, todas inúteis porque continuo sem consulta marcada em tempo útil.
É patente a desactualização de quadros informativos que outrora eram úteis orientadores auxiliares, além de que a informação oralmente fornecida por funcionários raramente corresponde à realidade 48 horas depois.
Por fim, uma recomendação a quem manda no centro de saúde: preocupem-se menos com a esperteza de certos autarcas e escutem os utentes, que aqueles não são.
Certos autarcas demonstram temer painéis de opinião e aconselhamento, embora me pareça possível convidar uma dúzia de utentes regulares do centro de saúde a formar um grupo de apoio que se escutaria duas ou três por ano ou sempre que conveniente.

15 julho 2008

A capela de Nossa Senhora da Vida


O medo de que nos colem rótulos jamais poderá inibir-nos de denunciar a irresponsabilidade e a incompetência que campearam e campeiam nesta terra de Alcochete.

Outro problema que devemos recordar é o do infeliz restauro da capela de Nossa Senhora da Vida por uma das câmaras presidida pelo sr. Miguel Boieiro.

Talvez muita gente não se lembre, mas o tecto da capela de Nossa Senhora da Vida exibia pinturas religiosas que poderiam datar do último quartel do séc XVI, pois é desta altura a construção do inestimável monumento.

Embora as desculpas que se apresentem sejam mais de mil, a verdade é que, por imperdoável incompetência, o tecto foi abatido com a perda irreparável das valiosas pinturas, empobrecendo-se o nosso património artístico.

Lembro-me de se dizer que tinham sido tiradas fotografias antes da destruição do tecto, o que será já algum sinal de má consciência, mas, se há as tais fotos, faça-se ao menos o que se tinha pensado, contrate-se um pintor abalizado para o efeito e restitua-se ao espaço em foco um arremedo da sua dignidade original.

Loja do cidadão longe de todos

Chamo a atenção para este texto porque concordo com o autor.
Numa vila como Alcochete, cujo centro histórico está a esvaziar-se, quase diariamente, de pessoas, de comércio e de vida, não tem sentido plantar uma loja do cidadão fora do miolo urbano.
O anúncio de uma parceria para a criação dessa loja esteve, durante alguns dias, no sítio da câmara na Internet, mas hoje já não o encontrei, pelo que não posso fornecer hiperligação directa. Contudo, há uma notícia idêntica aqui e a fonte é a mesma.
Se tal loja se destina a facilitar a vida aos cidadãos, é perto deles que deve situar-se e não a 5kms do centro ou a mais da maioria dos bairros densamente povoados. Para já não falar dos residentes em Samouco (a quase 15kms de distância), em São Francisco (10kms), na Fonte da Senhora, no Passil, etc.
Loja do cidadão em Alcochete, sim, mas no centro da vila, no qual se situam todos os serviços públicos e onde não faltam edifícios nem antigos espaços comerciais abandonados e adequados ao efeito.
O próprio município tem no seu património um edifício devoluto e abandonado, situado na Rua Ciprião de Figueiredo, onde outrora funcionaram outros serviços públicos.

O que os autarcas há muito deveriam ter feito – e chegou a ser previsto em 2004 – era criar um posto municipal de turismo no Freeport. Aí faz sentido haver informação e documentação local, porque a maioria dos visitantes do outlet é constituída por forasteiros e porque o posto de turismo existente no Museu de Arte Sacra nunca teve afluência significativa.
Contudo, eu visaria um pouco mais longe e criaria no outlet não apenas um posto de turismo mas um espaço de promoção, divulgação e comercialização de bens culturais e de produtos locais.

13 julho 2008

Remendos


1. Há pouco mais de dois anos, neste texto e com a imagem que ao lado reproduzo, chamava a atenção para brechas visíveis em canteiros do Largo Barão de Samora Correia e da Av. D. Manuel I, porque "mentes brilhantes" resolveram plantar neles palmeiras em vez de arbustos e flores.
Como, ao contrário dos canteiros, as palmeiras crescem e engrossam, o resultado estava à vista.

Só hoje reparei que, em canteiros da Av. D. Manuel I, ao invés de mandar retirar as palmeiras de locais impróprios, alguém decidiu remendar as brechas com cimento.
A coisa parece-me equivalente a aplicar uns fundilhos numas calças rotas, mas crise é crise e, assim, aquilo dá menos nas vistas.

2. O parque infantil do Rossio, reinaugurado na passada sexta-feira, está inacabado e desrespeita a legislação aplicável a este tipo de equipamentos. E se não retirarem depressa aquele "focinho" ao "touro", tenho como seguro que, mais dia, menos dia, haverá uma criança com a cabeça aberta.
Lá diz o ditado popular: "as porcas apressadas têm os filhos marrecos"!

3. Os sistemas de rega automáticos, existentes na maioria dos espaços públicos do concelho, permitem reduzir gastos com mão-de-obra e água. Certo? Errado, a menos que haja manutenção regular.
Na Rua Manuel Gomes da Mestra, na Alameda do Tejo e no Largo Marquês de Soydos notei existirem sistemas de rega a desperdiçar água.
Só eu reparo nisto? Não há manutenção preventiva?

12 julho 2008

Manhosice


No Iraque servem-se da criança para denegrir os EUA que lá combatem o terrorismo.

Em Portugal servem-se da criança para denegrir a corrida de touros.

Muitos destes defensores, quero dizer, impostores, são o mesmos que defendem o sexo intergeracional.

Eles estão-se nas tintas para as crianças.

Apenas se servem dos nossos sentimentos que tão depressa ridicularizam como canalizam contra os valores da Civilização Ocidental Judaico-Cristã antiga de dois mil anos.

Corrida de touros versus ditadura


A queda da URSS provou também que o endeusamento da ciência é um rotundo fracasso, mas no Ocidente vive-se bastante da ilusão de que a ciência nos pode livrar do esforço.

O ódio de muitos à corrida de touros parte do facto de esta se apresentar como uma lição de esforço, divisa principal daqueles cuja opção de vida não é viver à custa dos outros, senão do próprio trabalho. Mas este mesmo é o móbil do capitalismo liberal, alvo da mira das esquerdas à escala planetária.

Nesta conformidade, a corrida de touros é encarada como um entrave à progressão do marxismo, "filosofia" do comunismo, razão por que todos os pretextos são aproveitados para apertar o cerco a uma das manifestações mais prestigiadas da cultura popular em Portugal, vale repetir, a corrida de touros.

Foi o que aconteceu no dia 04-06-08, quando a 12ª Vara Cível de Lisboa, dando provimento a uma providência cautelar da associação ANIMAL, notificou a RTP de que não poderia emitir a 44ª Corrida TV no Domingo de 08-06-08 às 17h30, sob a alegação de que «...as touradas são programas violentos susceptíveis de influir negativamente na formação da personalidade de crianças e adolescentes» (SOL).
Eis uma pequena amostra do discurso falacioso cujo resultado é o rastejante regresso à ditadura, aparentemente sem o culto do chefe, sem polícia política, sem censura, etc., mas com eficaz restrição à liberdade.

11 julho 2008

Ele há coisas...


Eu estava a ver se resistia a contar o que vou contar, mas não consegui. Manifestamente, sou um ouve-aqui-diz-acolá.

Hoje, a meio da tarde, falava com pessoa conhecida da nossa praça que no decurso da conversa me dizia com o ar mais cândido e magistral deste mundo: "...porque, ó Marafuga, como sabe, o poder económico deve estar subordinado ao poder político...».

Vi que não valia a pena contradizer a proposta de ditadura que o meu interlocutor me fazia. Como poderia explicar-lhe que não se trata de qualquer subordinação de poderes, mas de separação? Sim, de separação completa e sã entre o poder económico e o poder político, havendo a preocupação de domesticar o Estado e fazer prevalecer a lei.

O homem falava, falava, falava, mas como acontece em muitas destas vezes, eu consigo dar a impressão de que estou a escutar sem estar, devaneando por paragens longínquas.

Desta vez pensava no filme de Spilberg, A Lista de Schindler. E de que me lembrava eu que já vi o filme há tanto tempo? Lembrava-me de que com o avanço do processo revolucionário, o dinheiro nada vale. A loucura se instala nas instâncias de poder. O próprio Schindler sucumbe com os escravos que inicialmente comprava para os explorar. O poder de matar sobrepunha-se ao poder do dinheiro. Mas essa já era mesmo a lição que vinha de Lenine.

Por fim despedi-me do camarada, vendo-lhe eu no rosto a convicção de que me tinha dado uma ensaboadela.

Reversão da era industrial


«As gerações futuras vão se admirar com a estupidez desconcertante de que o mundo desenvolvido do início do século XXI entrou em um pânico histérico a respeito de um aumento de temperatura global médio de alguns poucos décimos de grau, e, com base em exageros grosseiros de projecções feitas por computador de forma altamente duvidosa, combinado a uma implausível cadeia de inferências, passou a contemplar a possibilidade de reverter a era industrial» (negrito meu).

Este parágrafo, da autoria do professor Richard Lindzen do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, é citado por Václav Klaus, presidente da República Tcheca, em seu artigo intitulado "O que está em risco não é o clima, mas a liberdade" (http://www.midiasemmascara.org/print.php?id=6726).

Ilusões e realidade

Quem leu os programas eleitorais autárquicos da última década encontrou promessas de transformação do concelho de Alcochete num eldorado.
A ponte, as acessibilidades e a paisagem serviram de engodo, os prédios surgiram como cogumelos e vendiam-se muito antes de estarem concluídos, a população residente aumentou 27,9% na década 1991/2001 e os autarcas tiveram mais dinheiro para manter gente aperreada por via do emprego, dos subsídios e daquelas coisinhas em que raros reparam mas que alimentam um "exército" indigente útil para as fotografias e para a estabilidade da votação.
Na política indígena já se mentiu demasiado mas, pasme-se ou não, ainda há quem suponha poder amealhar muitos votos propagandeando novas ilusões de bem-estar com aeroporto, plataformas logísticas, comboio de alta velocidade e empreendimentos alegadamente turísticos ao pé da porta.
A realidade actual é dura e visível por quem não seja cego, mas nenhum semeador de ilusões ousou mencioná-lo no tempo em que se vendia Alcochete como "a Cascais do séc. XXI". Há bem pouco tempo, o desejo oculto de alguns era chegar aos 25.000 habitantes e, em meados do século, confundir-se-ia Alcochete com Almada, Corroios ou Santo António dos Cavaleiros.
O aumento populacional desregrado e mal planeado ocasiona sempre inúmeros problemas, que emergem agora à luz do dia em Alcochete e são de difícil solução.
Ontem estive a ler um documento recente que, no meio de informação importante, continha um arrazoado de demagogia desenvolvimentista para enganar papalvos. Dele extraí mais alguns dados esclarecedores sobre o concelho, que complementam outros do INE que, há uns meses, reproduzi em vários textos publicados neste blogue:
- Taxa de variação da população residente superior a 4% ao ano;
- Quarto concelho da península de Setúbal com a maior média de habitantes por médico nos Centros de Saúde;
- Quarto concelho da península de Setúbal com maior número de acidentes de viação;
- Segundo concelho da península com o maior índice de furtos de veículos e em veículos motorizados.
Há sempre um preço a pagar pelo desenvolvimento desregrado e agora começam a ser conhecidas as primeiras consequências. Outras surgirão no futuro, a menos que se inverta o rumo.
Para mim, o único rumo que à maioria interessa é este: não a mais prédios, mais automóveis e mais gente. Prioridade ao emprego e bem-estar dos residentes, preservar e valorizar o património edificado e cuidar do meio ambiente.

10 julho 2008

Direita e esquerda...outra vez!


Há quem diga e rediga que as categorias direita e esquerda não têm valor nenhum para a análise da realidade política.
Eu cá nunca fui dessa opinião, suspeitando mesmo que o menosprezo pelas categorias direita e esquerda favoreça esta última.
Vejamos então: eu e outros sabemos que o terrorismo não parte dos contingentes de trabalhadores que trabalham nas fábricas e nos campos, mas sim das classes médias. Esta constatação poderia indispor-me intelectualmente com as classes médias se não manuseasse outras ferramentas de análise.
Segundo De Diego, Enrique, El Manifiesto de las Clases Medias, Rambla, 2007, p. 17, «las clases medias se componen de gentes cuya opción de vida no es servirse de los demás, sino servir a los demás; no vivir a costa de los otros, sino de su propio trabajo».
Forçoso é reconhecer que a definição dada por Enrique de Diedo sobre as classes médias se reclama da direita porque privilegia a dinâmica da sociedade contra as mãos mortas.
Aqueles extractos das classes médias dos quais parte o terrorismo, cujo alvo de eleição é a sociedade civil laboriosa e indefesa, são de esquerda, porque, conforme dizem grandes analistas políticos de todos os quadrantes (Daniel Pipes, Jeffrey Nyquist, Thomas Sowell, etc.), há uma aliança estratégica entre o terrorismo e as esquerdas à escala planetária contra as democracias liberais do Ocidente.

Luta contra o insucesso escolar

Coitadinhas das criancinhas! O mal que os adultos lhes fazem!
Clicar sobre imagem para ver melhor.

Novo condómino

Dou as boas-vindas a Paulo Benito, oitavo condómino inscrito neste blogue. Nos últimos meses tem-me enviado úteis ideias e, dispondo agora de completa autonomia para editar textos, mais fácil e oportunamente poderá difundi-las.
Volto a recordar que Praia dos Moinhos é um espaço de debate sobre Alcochete, aberto à participação de qualquer membro da comunidade, tenha ou não pontos de vista coincidentes com os dos condóminos mais antigos.
Quem quiser juntar-se a nós e lutar por Alcochete, nada mais tem a fazer que contactar um dos participantes indicados na coluna da esquerda.

Mero fumo


Os políticos apressam-se a prometer muitas coisas. Para cumpri-las precisam de muito dinheiro. Para conseguir muito dinheiro o que fazem é aumentar os impostos. A promessa mais recorrente é a da igualdade. Esta miragem é paga pelos bolsos dos que trabalham. A estes dizem que o dinheiro se destinará aos mais necessitados. Que nada disto dê certo e que as sociedades onde mais se insiste na redistribuição dos rendimentos sejam as mais pobres, não é algo que importe muito, pois o que vendem os políticos é mero fumo.

09 julho 2008

Choupos ou tílias?


Mas afinal estas árvores são choupos ou tílias?

Alguém com estudos abalizados em Botânica terá a humildade de descer a este blog e deixar a informação pertinente?

Depois que uma das câmaras presidida pelo sr. Miguel Boieiro deliberou derrubar estas árvores e de recentemente o mesmo autarca, hoje presidente da Assembleia Municipal, ter feito a apologia da tília no Jornal de Alcochete, eu ficaria boquiaberto se fossem mesmo tílias as árvores que estavam na Avenida da Restauração antes das palmeiras que tristemente lá se vêem.
Clique sobre a imagem para ver melhor.

De volta à palha

Paulo Benito chama a minha atenção para este texto originário da Oceania, mais uma análise interessante sobre a evolução do mercado do petróleo bruto.
Contém informação acerca de um problema que também afecta todos os alcochetanos, residentes numa área injustificada e forçadamente integrada na Grande Lisboa, e onde, ao contrário dos canteiros do Rossio, dos Restauradores e da Avenida de Roma, ainda existem condições para repensar a produção de cereais e armazenagem de palha, a construção de carroças e diligências, instalação de uma fábrica de bicicletas, etc.
Isto se, entretanto, a simpatia autárquica pela betonização logística, adicionada ao consentimento dos cidadãos, não destruir os derradeiros terrenos aproveitáveis.
Perante documentos destes não é difícil antever que daqui a uns anos – poucos presumo – boa parte da população voltará a carecer de palha e fava para alimentar o burro.
Além disso, é grave o problema da produção de cereais: o país importa 85% das necessidades internas de consumo. Apenas a produção de arroz é considerada suficiente, correspondendo a 70% do consumo.
Tenho um pressentimento que, ao invés de auto-estradas, aeroportos, pontes, comboios de alta velocidade, armazéns, prédios e outros tipos de betonização, a classe política terá de repensar depressa a alimentação futura dos cidadãos.
Já dependemos do exterior para quase tudo em matéria alimentar, dos cereais à fruta, passando pelos hortícolas, pela carne, pelo peixe, etc.

Budas


Acabei de ver no Le Figaro (http://www.lefigaro.fr/), sob o título "L'obésité, le nouveau fléau de la Chine", que este empório comunista é o país do planeta onde o peso médio dos indivíduos está a aumentar mais rapidamente.

Eu pergunto: por que razão os chineses não poderão fazer jus ao seu Buda?

Sociedade civil e poder político


Veja-se como está em Portugal a Saúde, a Justiça, o Ensino...

No caso do Ensino, o que melhor conheço, assistimos, paulatinamente, à instrumentalização da educação para a consecução de objectivos políticos.

Na verdade, cada vez mais a educação pública vai difundindo o credo socialista e ambientalista, ficando para trás o legado civilizacional.

Como dar solução a isto?

A catástrofe final só poderá ser resolvida pela luta da sociedade civil contra os intentos do poder político. Para tal, os tribunais seriam encarados como as instâncias mais qualificadas para s solução de conflitos, vale dizer, a partidarização da escola, a ideologização dos manuais, a apologia de contra-valores, a indisciplina, a violência contra professores, etc.

Ainda estamos a tempo. Se nada for feito, entreter-nos-emos, sem dar por isso, a forjar as próprias cadeias que nos imobilizarão num futuro que poderá não estar muito distante.

08 julho 2008

Gente sem coração

Relativamente a este artigo de opinião de Armando Esteves Pereira, director-adjunto do «Correio da Manhã», a minha única discordância prende-se com o facto de nem só em todas as principais urbes do país se assistir ao fenómeno do abandono dos centros e à construção desordenada nas suas periferias.
Eu que, em anos recentes, dedico parte do meu tempo a rever locais recônditos do país afirmo que o fenómeno se generalizou no litoral, enquanto o interior é um impressionante deserto humano.
Alcochete e Samouco não são urbes principais e enfermam dos mesmos problemas: núcleos antigos desertos e abandonados às inclemências do tempo, onde o comércio vai morrendo ou muda de poiso antes que se afunde de vez, onde não há condições de reocupação sem profundas obras de remodelação de infra-estruturas e de modernização dos edifícios, bem como solução para casos como o estacionamento de veículos dos moradores.
A esse abandono nem sequer escapam edifícios classificados de valor arquitectónico, relativamente aos quais no concelho de Alcochete existem vários casos gritantes e bem visíveis para quem não for cego.
Convém aos especuladores que depressa arda ou acabe por ruir o que é velho e causa problemas e, para piorar as coisas, até a certos autarcas agrada o aumento de receitas, porque cada edifício novo rende imenso em taxas e licenças e, a prazo, representará bem mais em impostos cobrados.
Contudo, esta constatação significa um divórcio de interesses entre autarcas e munícipes conscientes. Por isso o poder local e os cidadãos vivem de costas voltadas.

Daí estar convicto que, se não mudarmos depressa de rumo, algum "salvador" o mudará por nós. Com bem menos pranto e dor que outrora, mais ano, menos ano, novamente haverá carroças à porta dos Paços do Concelho para carregar o arquivo rumo a outro local.
Nem me admiraria que fosse o mesmo de 1895.
Esperem mais algum tempo sentados, porque para todos os males a classe política sempre encontrou as terapêuticas que mais lhe convêm. E nunca precisou de consultar ninguém antes de tomar decisões, pois basta saber aproveitar o momento oportuno.

07 julho 2008

Salvar as instituições

Tenho, frequentemente, chamado a atenção para a incapacidade das estruturas partidárias e das suas "elites" em reformar o governo municipal, incitando os cidadãos a unirem-se na busca de alternativas independentes.
Somos nós que pagamos tudo e temos o direito de procurar melhores soluções na defesa do interesse colectivo. As coisas continuam a toldar-se, quase diariamente, não se vislumbrando sinais de soluções credíveis.
A organização autárquica está hoje programada e definida de tal modo que qualquer pessoa informada, sensível, sensata, realista e experiente na vida – dona de casa ou ancião, inclusive – fará bom trabalho, mentirá menos e prestará melhores serviços à comunidade que autarcas "profissionais" como os que nos têm governado. Não faltam exemplos por esse país fora.
Numericamente inexpressivas em relação à população residente e, frequentemente, divididas por divergências quase insanáveis, as delegações partidárias locais não dispõem de gente qualificada e são incapazes atraí-la em períodos eleitorais. Nenhuma tem capacidade financeira mínima para suportar uma campanha, o poder torna-se ilusório e acaba condicionado por pressões exteriores, com todos os riscos inerentes e inevitáveis.
Os resultados negativos estão à vista e as consequência também: os programas eleitorais são uma farsa, os partidos assumem compromissos que não tencionam ou não podem concretizar e fazem no poder o inverso do que defendem na oposição.
Passivamente, os cidadãos assistem a indecorosos espectáculos de mentira, que descredibilizam os partidos e tornam esta sociedade cada vez menos coesa e mais decadente.
Os partidos são a essência da democracia. Mas as delegações locais, além de inaptidão para cativar e aproveitar os melhores cidadãos, no poder ou na oposição ignoram os sentimentos da comunidade, afastam toda a gente dos centros de decisão, fomentam o desencanto e o desprestigío das instituições.
É hoje difícil vislumbrar qualquer relação entre estes agrupamentos partidários e a realidade económica e social do concelho.
Os partidos estão doentes e alguma coisa tem de ser feita para salvar as instituições do poder local, usar melhor os recursos existentes e aproveitar os gerados pelos impostos que pagamos com crescente dificuldade.

06 julho 2008

O homem não se reduz ao ambiente


Não adiro ao texto Schmitt, Carl, Terra e Mar, Esfera do Caos, Lisboa , 2008, uma vez que nele há um manifesto desprezo pela burguesia laboriosa ao longo dos séculos, o que não invalida o reconhecimento de que Carl Schmitt (1888-1985) é um filósofo alemão cujos textos têm o poder de nos imergir na mais profunda reflexão. Ora vejamos um extracto da obra que referi: «[...], o homem é um ser que não se reduz ao seu ambiente. Ele tem a força para conquistar historicamente a sua existência e consciência. Conhece não apenas o nascimento, mas também a possibilidade de um renascimento. Numa urgência e num perigo em que o animal e a planta fatalmente perecem, pode salvar-se através do seu espírito, através de uma firme observação e dedução, e através da decisão de uma nova existência. Tem um espaço de acção do seu poder e da sua potência histórica. Pode escolher e, em certos momentos históricos, pode até mesmo escolher o elemento em relação ao qual se decide e se organiza, através de uma acção e de uma realização próprias, como nova forma global da sua existência. [...]» sic.

05 julho 2008

Uma intelectualidade de direita


Venho sugerir o aparecimento de uma intelectualidade de direita nesta nossa terra de Alcochete que defenda os grandes valores da Civilização Ocidental: Fé Cristã, tradição, liberdade individual, livre mercado, propriedade privada, família, cultura popular, etc.
Ideias como lei e ordem, tantas vezes batidas pela direita, se fora de um quadro mais vasto de valores civilizacionais, viram abstracções a favor dos projectos de esquerda.
Temos que estar muito atentos, apercebermo-nos de tudo o que nos circunda, relacionar e concluir para que possamos agir e livrarmo-nos da máxima nefanda de Lenine que recomenda fazer o adversário lutar contra si próprio.
A marxização das sociedades continua já não em nome da classe operária, da revolução, da igualdade, etc., o que deu em cem milhõers de mortos só no séc. XX, mas da salvação do meio ambiente contra as liberdades individuais para a instauração do totalitarismo mais feroz que alguma vez foi imaginado pela Humanidade desde que é Humanidade.
Hoje até os gordos dão azo às esquerdas para denegrir alguma tecnologia electrónica (consolas, por exemplo) e grandes cadeias alimentares que enchem a barriga a milhões de pessoas a baixos custos.
Um dos maiores intelectuais de toda a Cristandade, São Tomás d'Aquino (1224 ou 1225-1274), foi dos mais gordos do seu tempo ao ponto de o altar ser serrado à altura da barriga para esta entrar e permitir que o grande teólogo e filósofo medieval chegasse com as mãos aos objectos de culto durante a celebração da missa.
E quem foi maior que São Tomás d'Aquino?

04 julho 2008

O novo comunismo (2)


Quase todas as semanas, o sr. Miguel Boieiro nos brinda com a descrição de uma planta no Jornal de Alcochete. A última croniqueta (designativo que encabeça os textos do conhecido autarca) aconteceu na edição deste semanário local de 25 de Junho de 2008. Desta vez recebia as honras do culto a tília de onde vem o chá.


Chá não teve uma das primeiras Câmaras presidida pelo sr. Miguel Boieiro quando decidiu arrancar várias dezenas de choupos na Avenida da Restauração sob o pretexto de que as raízes dos ditos levantavam as pedras dos passeios, quando o móbil de fundo se relacionava com o facto de aquelas árvores serem de folha caduca, razão por que foram substituídas por palmeiras, estas de folha marcescente, o que diminui os custos de limpeza, pouco ou nada importando que à frescura das grandes sombras dos verões sucedesse a canícula insuportável sobre o peão.


O sr. Miguel Boieiro liga tanto a peões como a plantas, uma vez que o interesse do comunista mais consequente desta terra de Alcochete é servir o ambientalismo que corrói a liberdade individual em nome da salvação do meio ambiente como o velho comunismo a corroía em nome da igualdade.





Desenvolvimento sustentável?

Em 2005, Portugal era o país da União Europeia mais dependente da energia: 99,4%. A média europeia era de 56,2%
Em 2006, em Portugal, o transporte rodoviário representou 94,9% do transporte total interno, sobrando para os modos ferroviário, fluvial e marítimo somente 4,1%.
Numa década (1995-2005), em Portugal, o transporte ferroviário de mercadorias subiu 20% e, em apenas três anos (2002-2005), o transporte rodoviário equivalente subiu 44,3%.
Também em Portugal, entre 1995 e 2006, o transporte individual aumentou de 71,7% para 82,8% do transporte total de passageiros.
Há duas décadas que Portugal investe excessivamente em construção de auto-estradas mas estão anunciadas mais 20 concessões. Nos últimos dois anos, cerca de 90% do investimento do orçamento do Estado em transportes continuou a ser canalizado para infra-estruturas rodoviárias (confira dados aqui).
Não é de espantar que, além do que isto significa em agravamento de custos, de distorções no desenvolvimento e de dependências económicas perigosas, haja reflexos negativos no ambiente e na segurança rodoviária.
Há duas semanas, nos 32kms de auto-estrada que separam Vilar Formoso da Guarda, cruzei-me com 107 camiões. Por curiosidade, na estação ferroviária de Vilar Formoso consultei os horários disponíveis e contei quatro comboios diários de passageiros com paragem naquela estação.
Dois dias antes, num comboio Intercidades com cinco carruagens, que ligava Lisboa à Guarda, na gare de Celorico da Beira desembarcaram três passageiros e prosseguiram viagem somente uma dezena.
A semana passada, entre Coimbra e Vila Franca, cruzei-me com várias filas compactas de cinco e seis camiões.
Na extremamente perigosa Estrada Nacional 118, entre Alcochete e Porto Alto, frequentemente deparo com filas idênticas de camiões.
Não há muitos meses, na rotunda do Entroncamento, em Alcochete, Luís Proença – condómino deste blogue – numa manhã contava um camião por minuto a caminho dos armazéns no Passil.
Será isto desenvolvimento sustentável?

P.S. - O que o Presidente da República disse hoje, em Alter do Chão, é algo que qualquer português facilmente constata quando se afasta da costa atlântica.
No Minho, de Valença até ao limite do distrito de Vila Real é o deserto humano.
Quatro cidades parecem-me escapar a este fenómeno em Trás-os-Montes: Vila Real, Chaves, Mirandela e Bragança.
Na Beira Alta, de Viseu e Mangualde até à fronteira é o deserto humano. Já é difícil encontrar um restaurante. Modernos centros de saúde estão fechados. Em algumas sedes de concelho os antigos mercados só funcionam uma vez por semana.
Recentemente, no interior das muralhas de Sortelha (Sabugal) – uma das 12 aldeias históricas portuguesas – vi seis residentes: três idosas, dois cães e um gato. T
otalmente recuperada com fundos europeus, existirão nela cerca de meia centena de habitações fechadas.
Na Beira Baixa, com excepção de Fundão e Castelo Branco, a desertificação humana é notória.
No Baixo Alentejo idem e no interior do Algarve o panorama não é melhor.
Um exercício que também recomendo é atravessar a fronteira e conhecer o lado de lá, da Galiza à Andaluzia, onde, há 30 anos, o isolamento não era menor.
Era mas deixou de ser. Todas as cidades deram um salto imenso.

03 julho 2008

Quem fala assim...









Quem não viu ontem Medina Carreira na TV, pode vê-lo agora na Internet.
São cerca de 50 minutos esclarecedores de que continuamos no caminho errado.
Vale sempre a pena estar informado.

P.S. - Convém recordar que, previamente à entrevista, Medina Carreira escrevera este artigo, inserido na edição de 13 de Junho do «Público».
Além de outras considerações, nele há mais uma bicada na geografia autárquica nacional – "o espantoso mapa autárquico desenhado para o tempo da 'diligência' e das carroças" – algo que venho abordando, há uns anos, mas a que localmente a paupérrima e distraída classe política não dá a mínima importância.
Já faltou mais para se armarem em carpideiras.

02 julho 2008

Estar acordado

No discurso proferido em 25 de Abril de 2007, o Presidente da República afirmou, entre outras coisas, ser "necessário que os agentes políticos se empenhem mais na prestação de contas aos cidadãos, que os portugueses conheçam e compreendam o sentido e os objectivos das medidas que vão sendo adoptadas, que exista clareza e transparência na relação entre o poder político e a comunidade cívica".
Recordava tal discurso em rodapé de texto escrito neste blogue, a 22 de Fevereiro passado, a propósito da denominada "Área de Indústria, Comércio e Serviços do Passil". Área que suscitara, de resto, nos meses precedentes, vários textos meus e de Luís Proença.
Acabo de descobrir que, na sessão de câmara realizada em 30 de Abril passado (ver pág. 7 desta acta), o vereador José Dias Inocêncio fez a seguinte declaração de voto:
“Embora a decisão do alargamento do Parque Industrial do Passil tenha sido uma iniciativa do executivo do Partido Socialista no mandato anterior, não podemos votar favoravelmente esta proposta pelo facto de, segundo julgamos saber, se encontrarem já construídos armazéns e em funcionamento actividades empresariais, cuja localização pensamos poderem estar, em todo ou em parte, instaladas em áreas que agora são objecto de emissão de alvará de loteamento.
Pelos motivos expostos e por nos parecer de duvidosa legalidade todo este processo, não podemos, em consciência, votar favoravelmente a proposta.”

Dois meses decorridos e citando a decisão aprovada, por maioria simples, naquela reunião do executivo municipal, surge na pág. 4 da última edição do jornal local um anúncio camarário dando conta da emissão do alvará de licenciamento.

Qualquer cidadão atento estranhará a tramitação deste processo e, na ausência de justificação posterior conhecida do executivo camarário, parece-me lícito interrogar todos os intervenientes.
Particularmente, à direcção e aos vereadores locais do Partido Socialista pergunto o seguinte:

a) É ou não legal a emissão do alvará de licenciamento respeitante à Área de Indústria, Comércio e Serviços do Passil?
b) Contestaram ou não a emissão desse alvará de licenciamento e com que fundamentos?
Não me parecendo conveniente esperar um ano pelas respostas – porque muitas aparecem em campanha eleitoral, quando já nada há a fazer – oxalá desta vez haja esclarecimento em tempo oportuno.

Volto a recordar ser hoje opinião quase generalizada que a chamada
Área de Indústria, Comércio e Serviços do Passil é um monstruoso erro urbanístico, cujas consequências negativas estão à vista e se agravarão com sucessivas expansões, a que acrescem outras recentemente apresentadas, de características habitacionais, nenhuma com justificação ou contestação conhecidas.
No Passil a indústria seria positiva mas é inexpressiva, os serviços enxergam-se apenas à lupa e, na realidade, o que predomina são gigantescos armazéns – servidos por uma rede rodoviária sem condições mínimas adequadas – para os quais converge hoje, em média, um enorme camião por minuto.

01 julho 2008

Consequências imediatas do aeroporto

Está publicado na edição de hoje do «Diário da República» o Decreto n.º 19/2008, que estabelece as medidas preventivas de salvaguarda das condições necessárias ao planeamento, construção, operação e futuras expansões do novo aeroporto de Lisboa, previsto para a zona actualmente ocupada pelo Campo de Tiro de Alcochete.
Este decreto aplica-se em toda a área territorial do concelho de Alcochete.
Não maçarei ninguém com detalhes porque, genericamente, o que à maioria dos residentes interessa é que as medidas preventivas consistem na proibição, ou na sujeição a parecer obrigatório e vinculativo de entidades públicas, da criação de novos núcleos populacionais, nomeadamente turísticos, incluindo operações de loteamento e obras de urbanização. Estão contempladas, nomeadamente:
b) Construção, reconstrução ou ampliação de edifícios, ou outras instalações abrangendo novas instalações ou alterações das já existentes;
c) Instalação de explorações de qualquer natureza ou ampliação das existentes;
d) Alterações importantes por qualquer meio à configuração geral do terreno, incluindo a abertura de novas vias de comunicação e acessos, bem como aterros e escavações;
e) Derrube ou plantação de árvores em maciço;
f) Destruição do solo vivo e do coberto vegetal;
Doravante, no concelho de Alcochete, para quaisquer operações previstas no decreto, proprietários de terrenos e promotores imobiliários terão, previamente, de comunicar os actos ao município e obter pareceres de entidades públicas definidas, as quais dispõem de 30 dias úteis para os emitir, "considerando-se haver concordância desta entidade com a pretensão formulada se os respectivos pareceres não forem emitidos dentro daquele prazo".
A meu ver esta é uma perversão legal, sobretudo se nos recordarmos que o fórum cultural de Alcochete está situado no local problemático e ilegítimo de todos conhecido porque uma comunicação para obtenção de parecer vinculativo semelhante a este perdeu-se nos corredores tortuosos do poder e, um belo dia, quando alguém despertou para a realidade já o prazo prescrevera e o edifício estava de pé.
Outra perversidade está no art.º 14.º, segundo o qual "compete aos municípios abrangidos pela área sujeita a medidas preventivas dar publicidade à adopção das medidas previstas no presente decreto, através de editais a afixar nos paços do concelho, nas sedes das juntas de freguesia e por meio de aviso publicado num dos jornais diários mais lidos da região".
Como a Câmara de Alcochete não publica editais na Internet e ninguém repara nos afixados nos chamados locais do estilo, dificilmente esta medida terá efeitos práticos, nomeadamente do ponto de vista do escrutínio pelos cidadãos.
No caso particular das transmissões de propriedade fundiária e de alterações ao uso do solo, muito estimo que futuros eleitos autárquicos tenham a coragem de publicitar, em tempo útil, no sítio do município na Internet, todos os actos administrativos.
Nenhum acto público é sigiloso e nada justifica que permaneça desconhecido da comunidade em geral, nomeadamente por ser esta a arcar com as consequências de algumas decisões impensadas.