Se olharmos para o homem e para tudo ao redor deste, verificamos que as coisas se realizam sempre pela coincidência de dois pólos, quais sejam, masculino e feminino, antes e depois, aquém e além, etc., até ao infinito.
Toda a gente tem a categoria genérica (abstracta) povo na boca, mas poucos parecem reflectir que sem intelectuais não há povo senão uma mole inerme.
Escusado seria dizer que os intelectuais só se justificam em função do povo.
Não poucas vezes tenho ouvido pessoas aparentemente bem intencionadas a culpar o povo pela situação política que se vive em Alcochete desde o 25 de Abril. Para mim isso é falso.
Perante tremendos desleixos de autarcas ignaros contra as populações do Concelho de Alcochete, onde estão e que fazem os intelectuais? Não é verdade que só do intercâmbio destes e do povo é que as coisas poderão avançar?
Os intelectuais da terra de Alcochete preferem fechar-se na concha da ridícula superioridade a sujar os sapatinhos no terreiro dos problemas colectivos. Não querem deixar de ser tratados por senhores engenheiros ou doutores na praça pública ao invés do João Marafuga que muitos desprezam por se meter onde não é chamado. Mas é isto que se chama cidadania? E se amanhã a liberdade em Alcochete, em todas as Alcochetes deste País, for uma miragem? Falarei de receios infundados?
A consciência de que sou um intelectual - ai de mim se não a tivesse - ordena-me que ponha o meu modesto saber ao serviço do outro. Nos dias que correm, esta opção humaníssima e civilizacional expõe-me à irrisão de muitos.
Sim, não sou tratado por doutor no Largo do Poço, mas jamais pactuarei com os coveiros da alma do povo.
Nota: versus, do Latim, significa em face de.
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