07 março 2006
A grua não sabe voar
Nesta nossa terra de Alcochete há coisas intoleráveis. E essas levo-as muito a sério.
O caso da grua que vos apresento (ver imagem ampliada) parece-me inadmissível. Mais dia, menos dia, pode dar origem a várias acusações de crime por negligência. Não o lamentarei, seguramente. Apenas me preocupam as possíveis vítimas indefesas.
A grua está abandonada há muito tempo e, ao sabor do vento, a sua lança roda sobre um centro de saúde, um bloco de apartamentos onde residem mais de meia centena de pessoas e um quartel de bombeiros. Se duvidam, vão observá-la de perto.
Estimo em cerca de centena e meia as pessoas que, permanentemente, estarão em risco de sofrer as consequências da incúria e do desleixo de quem contemporiza com o caso.
Não pensem tratar-se de risco recente. A grua está ali, que me recorde, há cerca de quatro anos. Reparo nela há muito e tenho acompanhado a degradação crescente da estrutura.
Mais de 90% da superfície está visivelmente oxidada. Já há cabos partidos, só não sei se serão alguns dos fundamentais para o equilíbrio do conjunto. Os contrapesos de betão, existentes numa das extremidades da lança, parecem-me em muito mau estado e susceptíveis de se soltarem dos encaixes. A parte em pior estado – a superior – é também a sujeita a maior esforço, porque batida pelo vento agreste de Norte e pela maresia.
Estas gerigonças são perigosas e exigem cautelas especiais. Há normas rígidas para a sua construção, operação e manutenção.
Imaginem as consequências da queda desta estrutura, com base num acidente ocorrido há seis anos, em Alcochete, durante a construção de determinado edifício.
Na fase de montagem alguém deixou um parafuso solto na lança de grua com altura semelhante a esta. Um belo dia o parafuso precipita-se lá do alto e atinge, de raspão, a cabeça do dono da obra (que não usava capacete de protecção, ao contrário do que impõem as regras de segurança). Resultado: traumatismo craniano e três semanas hospitalizado. E teve muita sorte porque se o parafuso não tivesse roçado simplesmente o crânio teria ido desta para melhor.
Não posso deixar também de referir que, há muitos, muitos meses, em duas reuniões da vereação, testemunhei diálogos entre vereadores acerca desta grua.
No primeiro diálogo, o vereador Miguel Boieiro (oposição) chamava a atenção do executivo camarário para o caso. O vereador Arnaldo Teixeira (maioria), com funções executivas, prometia então tratar do assunto.
Tempos depois, ufano, o mesmo Arnaldo Teixeira responderia a Miguel Boieiro que o assunto estava à beira de uma solução.
Mas não estava, conforme se depreende das imagens captadas ontem à tarde.
Presumo que nenhum nega que essas conversas existiram. Só não anotei as datas. As sessões da câmara não eram gravadas mas, provavelmente, haverá referências a isso nas actas arquivadas no município.
Na câmara e na protecção civil municipal ninguém receia esta grua? Continuará toda a gente a dormir em paz com a consciência?
Expliquem-me, por favor: se, num qualquer dia de temporal, esta grua tombar e atingir pessoas e bens – do que não tenho a menor dúvida, em face da sua crítica localização – exigem-se responsabilidades e manda-se prender quem?
O dono da grua (uma empresa que faliu, tanto quanto sei)? O anterior e o actual presidentes da câmara? O anterior e o actual director do serviço municipal de protecção civil (que, por inerência, são os presidentes de câmara)? O comandante operacional da protecção civil no distrito? O director distrital da protecção civil (que, se não me engano, é a governadora civil)? O presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil? O administrador da massa falida? Os juízes do tribunal que detém o processo de falência?
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3 comentários:
Utopia não é, seguramente, porque o SMPP tem de existir. Pode é funcionar devagar, devagarinho e parado.
A participação que sugere parece-me inútil, considerando que recebo réplicas destes pequenos abalos. Deve haver por lá sismógrafo...
V. Regulamento Geral de Segurança e Higiene do Trabalho nos estabelecimentos industriais, no site da Ordem dos Arquitectos em
http://www.oasrs.org/conteudo/legislacao/documento.asp?dll=LegiXSQLLLDB&base=Portal&id=5848
António
A instalação da grua terá sido licenciada pela CMA, portanto a esta deverá ser imputada a responsabilidade de todo e qualquer acidente q daí decorra. Se a CMA não tem conhecimento do assunto, ou caso invoque o facto para justificar q nada faça, o melhor é enviar carta registada com aviso de recepção a denunciar o assunto. Et voilá, salvo melhor opinião q não sou jurista.
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