21 março 2006
O menino da sua mãe
O MENINO DA SUA MÃE
No plaino abandonado,
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas de lado a lado –
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue,
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem!
Que jovem era!
Agora que idade tem?
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome, e o mantivera
–“O menino da sua mãe”...
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe.
Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
Do lenço...
Deu-lho a criada
Velha, que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
Que volte cedo e bem!
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe...
Fernando Pessoa
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