08 março 2006

Para reflectir


Os graffiti são fenómeno relativamente recente no concelho de Alcochete, pelo menos com profusão visível.
Nada escapa, desde paredes a equipamento de parques infantis. Por vezes nem mesmo veículos, edifícios classificados e monumentos.
Dêem uma volta atenta, sobretudo pelas zonas urbanas do concelho, e aperceber-se-ão da dimensão do fenómeno.
A autarquia e os particulares gastam muito dinheiro a apagar estas manifestações artísticas ou criminosas, caracterizadas pelo uso de tintas de difícil remoção.
A colaboração de artistas até seria útil para disfarçar mazelas nos centros históricos de Alcochete e Samouco, onde cresce o número de edifícios à espera de recuperação ou de demolição. Creio termos gente capaz de o fazer, talvez até sem nada cobrar.
Pessoalmente prefiro arte menos abstracta e codificada que a dos graffiti e um destes dias apresentarei algumas ideias sobre o assunto.
Os graffiti são mais um sintoma de que a Alcochete de gente simples e pacata pertence ao passado. A factura do desenvolvimento começa agora a pagar-se. É bom estarmos despertos e atentos aos ventos de mudança e saber compreendê-los.
Nada do que se passa e passará na nossa terra é inédito, no país e no mundo. De Oeiras a Nova Iorque, da Amadora a Paris, de Sacavém a Hong Kong.
As polícias portuguesas (e não só) têm muita informação sobre o assunto e podem fornecer indicações preciosas, nomeadamente porque raros graffiti são inocentes expressões artísticas, manifestações reivindicativas, declarações de amor, ditadas por paixão desportiva ou reflexo de fenómenos de exclusão social.
Leiam este texto disponível no insuspeito sítio da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Tão insuspeita quanto essa é «A Página da Educação», onde também encontrei este texto.
No entanto, três décadas depois do despontar do fenómeno na América, Rudolf Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque, começaria a combater a criminalidade pelos pequenos delitos e os graffiti estiveram sempre na linha de mira. Quem quiser ler algo sobre as suas teses encontrará vasta informação na Internet.
Foi polémica a acção desse mayor, sem dúvida, mas, quando chegou ao fim dos mandatos e estava legalmente impossibilitado de se recandidatar, mais de metade dos nova-iorquinos desejavam poder reelegê-lo novamente. Hoje, Rudolf Giuliani ganha a vida aconselhando autoridades de todo o mundo a seguir os seus métodos. Clientes não lhe faltam.
Parece-me que o assunto dos graffiti de Alcochete mereceria uma reflexão conjunta de jovens, pais, professores, polícia e autarcas. Boa parte da solução para fenómenos embrionários depende mais da sociedade que das forças de segurança.
A matéria é delicada e, por agora, fico-me por essa sugestão.

1 comentário:

Anónimo disse...

A propósito de um texto do comentador Ricardo Santos na caixa de comentário ao texto “Boa recuperação Fernando Pinto!”:

Faça(m) uma análise quantitativa sumária a todas os “desenhos, cores, contornos, tags e muito mais” das ruas que frequenta(m). Quantos deles são “busca de alguma coisa”? Quantos deles “incluem mensagens de natureza reivindicativa, como recados para a mãe, a namorada, um amigo, uma crew ou simplesmente uma dedicatória”?

Duvido que sejam muitos. Pelo menos com o espírito que reivindica – a da busca, a da arte, a da expressão do eu, a da criatividade! No meu humilde entendimento, a sua esmagadora maioria são expressões de mera sujidade… como qualquer outra que ao lado se encontrem! Com a agravante de que resultam de uma acto deliberado!

Insisto: Encontra diversidade criativa? Eu não, mais parece uma repetição monótona do mesmo estilo em cópia e “re-cópia” o que lhes confere uma natureza iniciática a um grupo ou movimento e não, como alude, ao “mostrar a … criatividade”