17 março 2006

Esclarecimento trágico

Sou licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa no curso de Línguas e Literaturas Modernas/variante de Estudos Portugueses (já não falo nas várias credenciais que obtive depois da minha licenciatura).
Sou professor efectivo de Língua e Literatura Portuguesas na Escola Secundária Jorge Peixinho (Montijo) onde lecciono há 23 anos.
Sou um homem de família.
Muitas pessoas, com o intuito de me desviarem da minha intervenção cívica e, quiçá, para me intimidarem, chegam-se ao pé de mim e dizem-me que eu não deveria esquecer quem sou.
Sei que vivo num mundo onde a hipocrisia e a mentira cada vez se agravam mais sem travão à vista. Não me basta ser doutor, tenho que parecer. Ora eu não pareço que sou doutor porque não uso fato e gravata nem sou um cheira-cus (peço perdão, mas tem que ser) para ganhar mais uns cobres. Deus fez-me pobre e pobre quero morrer.
Portanto, é com a máxima consciência de homem livre e solidário que afirmo ser um professor que coloca a modesta competência ao serviço do outro. Daqui ninguém me tira, ainda que perca o direito à praxe do "Dr." antes ou, parenteticamente, depois do meu nome.
Alguém em Alcochete costumava dizer que preferia estar no céu com poucos do que no inferno com muitos. Mas eu digo: prefiro estar no inferno com muitos do que no céu com poucos. É uma opção conscientíssima que me irmana com a dor de todos os homens.

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