15 março 2006

Gripe aviária: faz-se tudo para a evitar?


Suponho que seja desnecessário escrever muito acerca da gripe das aves, porque toda a gente conhece o assunto e, especialmente, os riscos para a saúde pública a ela associados.
Se tomadas as medidas cautelares que a situação recomenda, reduzir-se-ão as probabilidades de aparecimento da doença e a sua transformação em pandemia pode nunca ocorrer.
É fundamental, no entanto, estarmos bem atentos, cumprir e fazer cumprir as recomendações dos peritos e levar as entidades competentes a agir sempre que tal pareça necessário.
O concelho de Alcochete está rodeado de zonas húmidas, onde nidificam, descansam e se alimentam milhares de aves selvagens. Por essa razão, há meses, o Instituto de Conservação da Natureza definiu o estuário do Tejo como zona de risco potencial, devido à possibilidade dessas aves contraírem o vírus H5N1 e contaminarem as domésticas, podendo estas vir a transmitir a gripe aviária aos seres humanos através de secreções e dejectos.
Gostaria de recordar o importantíssimo papel – sobretudo de alerta e de esclarecimento – que as autarquias desempenham no processo, lamentando que a informação disponível no sítio do município de Alcochete na Internet fique muito aquém do necessário.
Há um único e breve texto sobre o assunto, datado do passado dia 2 de Março, com a seguinte redacção:

"A Câmara Municipal de Alcochete informa que, tendo em conta a localização do concelho de Alcochete, situado numa das zonas de passagem das aves migratórias do nosso país, deverão ser tomadas determinadas precauções por parte dos munícipes:
- Fechar, se possível, em capoeiras todas as aves domésticas, ou proteger os espaços onde elas se encontrem com redes, para evitar que as aves migratórias utilizem os comedouros e bebedouros, impedindo assim o contágio;
- No caso de encontrar alguma ave morta, não lhe deverá mexer e deverá avisar de imediato a Câmara Municipal de Alcochete, ou o Instituto de Conservação da Natureza, ou a Guarda Nacional Republicana ou directamente a Médica Veterinária Municipal, para que se possa fazer a sua recolha."

Infelizmente, a primeira recomendação não coincide com o aviso n.º 2 do Ministério da Agricultura, datado de 3 de Novembro. Ele proíbe, explicitamente, a manutenção de aves de capoeira ao ar livre. É verdade que define uma zona de risco especial, um pouco distante do concelho (10 a 15kms, aproximadamente), mas todo o estuário do Tejo está em risco devido às condições naturais que fazem dele a terceira zona húmida mais importante da Europa.
E há um terceiro aviso do Ministério da Agricultura, publicado quatro dias depois da informação municipal de Alcochete acima referida, que reforça as medidas anteriores e outras de natureza administrativa.
Aliás, se bem se recordam, recentemente foi recomendado que nem mesmo as gaiolas de aves de companhia sejam colocadas ao ar livre, dada a possibilidade das selvagens utilizarem os seus comedouros e bebedouros e haver transmissão do vírus por essa via.
Em meu entender, o município deveria estar bem atento ao problema e manter a população alerta. Seguramente a veterinária municipal tem mais recomendações a fazer, porque anda no terreno e a sua experiência é valiosa.
Lendo o último comunicado da Organização Mundial da Saúde Animal (organismo da ONU), julgo ser necessário ir um pouco além em nome do interesse público.
Uma atitude pro-activa tem tido a Sociedade Portuguesa para o Estudo de Aves, provavelmente a organização que mais e melhor informação tem distribuído sobre aves migratórias.
Quem puder consulte esta página regularmente para se manter informado sobre o evoluir da situação.
Gostaria de recordar que a comunicação é o oxigénio dos políticos. Quem não a usar com maestria nunca justificará o poder que detém. E quem não entender isso caminha para a derrota na eleição seguinte.


Fico grato a quem sugeriu o tema e para ele contribuiu com valiosa documentação.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Amigo,

O meio de transmissão do vírus é aeróbico, em linguagem mais simples para quem nos lê, basta inalar, respirar próximo de uma ave contaminada, para se contrair o vírus. Daí a perigosidade do mesmo, sobretudo em regiões onde há uma maior "comunhão" entre pessoas e animais. A aproximação a uma ave suspeita deve ser feita com a máxima cautela: roupa e touca descartáveis, luvas e, claro, a indispensável máscara sanitária. Respeitar estes preceitos é muito importante, não será demais sublinhá-lo e divulgá-lo. Note q um grama de dejectos de uma ave contaminada contém vírus suficientes para infectar um milhão de outras aves. Para mais atravessamos um período favorável à propagação de viroses, com chuva e calor, o q.b. para estas coisas. É preciso não entrar em histeria, não é caso para isso - o seu texto é exemplar! - mas é necessário prudência e conhecimento. E continuem a comer frango, galinha, peru, como eu e a minha família fazemos, mas sempre bem cozinhado. No churrasco evitar o "ai, este perninha está mal passada": mais vale pecar por excesso q por defeito. E muito bom apetite! Hoje, o jantar é...adivinhem: isso, frango de fricassé com puré de batata e uma saladinha de alface e tomate. São servidos?
Um abraço,

António