06 março 2006

Haja coragem e filtremos as águas


Eu sou um homem modesto, mas pergunto-me: e se comem à custa da minha modéstia?
Nasci em Alcochete há 55 anos. Todos os alcochetanos com mais de 20 anos conheceram os meus pais. Muitas centenas deles conheceram os meus avós.
Nasci no Largo Marquês de Soydos, num rés-do-chão virado ao mar que ainda lá está. Os meus avós paternos eram criados da família do Eng.º José Gomes.
Depois da instrução primária tirada na escola do Rossio com o Prof. Francisco Leite, fui aluno da Pia Sociedade de São Paulo (Lisboa) onde me mantive 5 anos. Regressado daquela instituição religiosa, entrei no colégio Sagrado Coração de Jesus (Montijo). O marco seguinte mais significativo da minha vida foi a mobilização para a Guiné. O 25 de Abril trouxe-me de volta. Trabalhei 5 anos na Firestone, casei-me com uma alcochetana, ingressei na Faculdade, acabei o curso, profissionalizei-me no ensino, fico efectivo na Escola Secundária Jorge Peixinho, bato-me pela minha terra.
Este é o curriculum mais curto que já fiz da minha vida. Qual o fim?
Sendo reconhecido que, se não sou homem de cultura, sou, pelo menos, da cultura, faço as seguintes perguntas: quem é o vereador da cultura da minha terra? Quem o conhece? Onde mora? Que fez por Alcochete?
Curiosamente, eu também não conhecia quem era o vereador da cultura da Câmara anterior. Esta constante poderá querer dizer alguma coisa? Quer dizer que para os partidos de esquerda a cultura é, tão só, instrumento para estratégias políticas inconfessáveis.

12 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro João Marafuga,
vejo, com absoluto pesar, que ainda não ultrapassou o trauma de nunca ter sido, pelo menos, vereador da cultura de Alcochete. E não se percebe bem porquê, pois o meu amigo fez questão, nos últimos quinze anos (estou a ser benevolente), de apregoar aos sete ventos que era o único homem em todo o concelho capaz de desempenhar cabalmente a imprescindível tarefa de zelar pela cultura em Alcochete (note bem que não escrevi cultura alcochetana, pois isto da cultura é muito mais dar e receber, do que outra coisa qualquer).
Não venho defender o actual vereador da cultura e muito menos o anterior (cruz, credo! Que o isolamento o conserve lá para as bandas de São Francisco...), mas, pergunto-me: para um homem que se apresenta como único alcochetano capaz de ser vereador da cultura, por que razão nunca entrou no Fórum Cultural ou, sequer, participou nas suas actividades? Lembra-se do lançamento do livro das actas de vereação de Sabonha? Não me diga que não foi um acto cultural... Ou o lançamento do livro sobre a Igreja Matriz, na própria igreja? O festival de expressões ibéricas, numa terra tão ligada ao Sul de Espanha e ao mundo mediterrânico? Ou os inúmeros eventos que passaram pelo Fórum? A maioria, de carácter popular e local, onde sobressai a Banda, mas outros... bem, as exposições de Anderson, do Touro, os ciclos de cinema com públicos-alvo definidos... enfim, há todo um universo cultural que, evidentemente, lhe passa ao lado. Não são apenas, como diz, "estratégias políticas inconfessáveis". São a cultura em Alcochete em movimento. Um movimento e uma dinâmica que estão, notoriamente, muito para lá do seu entendimento.
Um abraço,

Unknown disse...

Em primeiro lugar, eu não vou mentir, mas dizer a vardade às pessoas: a única ambição que tenho acalentado na vida, em termos de um serviço cívico mais abrangente, é a de poder ser, um dia, vereador da cultura em Alcochete.
Sim, só em Alcochete, a minha terra, porque conheço bem o chão que pisaram os meus pais e avós.
Tenho uma pátria que mátria é no sentido clássico destes conceitos. Infelizmente, não sei quais são as raízes de Zé do Cerrado. Tê-las-á?
O que Zé do Cerrado tem é o síndroma dos esquerdistas herdado de Lenine: "xinga-os daquilo que tu és"!
O traumatizado é Zé do Cerrado, mas pretende xingar-me daquilo que ele é, afirmando que não «...ultrapass[ei] o trauma...» de não sei o quê.
Zé de Cerrado julgará que eu sou a criança que as entrelinhas do discurso dele revela? Qual o texto que Zé do Cerrado pode exibir aos visitantes deste blog onde alguma vez me tenha «...apresent[ado] como único alcochetano capaz se ser vereador da cultura»? Por que Zé do Cerrado não aproveita esta oportunidade para me desmascarar perante todos com a exibição desse famigerado texto? Ou será que Zé do Cerrado vai atrás do 'diz-que-disse' qual Maria vai com as outras?
Os eventos (sinto repugnância por esta palavra) que Zé do Cerrado refere nem tão pouco «são a cultura em Alcochete em movimento», mas sim tenebrosas estratégias que se inserem num movimento muito mais vasto para asfixiar as culturas autóctones, mas isto está «...muito para lá do seu entendimento».
Se eu fosse vereador da cultura na minha terra, virava-me para o folclore (música, dança, lendas, etc.); para a festa brava como a viveram meus pais e avós; para as profissões, traje e culinária tradicionais; para os poetas, pintores, artesãos, fadistas e guitarristas de Alcochete, sempre tendo o cuidado vivificador de cruzar a tradição com a renovação.

Anónimo disse...

Hoje não me dirijo a ti, amigo João, mas aos críticos q por aqui passam com insinuações, nem sempre honestas, não raro torpes. A elas respondo: cuidado com as pedras... Conheço-te há anos, momentos houve de convívio diário, tardes dentro de conversas. Sei-te “de” e “da” Cultura, como também da tolerância, da amizade, da solidariedade, frutos da idade, do conhecimento, do empenhamento. Acalentas, e bem, um desejo: o de vereador da Cultura de Alcochete. Aqui te manifesto o meu apoio!

Unknown disse...

António, obrigado. Pena que eles não saibam quem tu és. Mas sei eu. Isso chega.

Um abraço amigo
João Marafuga

Anónimo disse...

João,

Aqui segue, para meditação dos teus (nossos!) opositores, a primeira lei do Abrupto:

«NOTA 1 : Ao se passar da Posição à Contradição o debate ganha uma dimensão ad hominem. A maioria dos debates na blogosfera são ad hominem, na tradição da polémica à portuguesa.

NOTA 2: A Contradição é sempre apresentada como uma fraqueza moral. A Contradição é sempre do outro.

NOTA3: Se houvesse só Posições na blogosfera esta tinha um tamanho diminuto. A exposição das Contradições é o grosso da actividade da blogosfera. Os Insultos são outra parte importante. Sem Contradições e sem Insultos quase não haveria comentários.

NOTA 4: O número de comentários num blogue têm relação directa com a natureza da nota se esta for sobre uma Contradição (ad hominem) e inversa se for uma Posição. Num mesmo blogue, as notas que não atacam ninguém não têm comentários e as que atacam alguém estão cheias.

NOTA 5: Os Ódios de Estimação têm grande representação na blogosfera».

Os caríssimos opositores deste blogue q se cuidem ou ficam de careca à mostra, o q nada convém à saúde dos mesmos dada a época do ano. E vai frio! Topam?

António

Anónimo disse...

O caro João Marafuga confunde Cultura Alcochetana com Cultura em Alcochete. É assim: um provincianismo bacoco próprio de quem vive no tempo em que não havia Ponte Vasco da Gama, nem novos moradores (em breve asfixiarão os velhos), nem Área Metropolitana de Lisboa...
O que João Marafuga queria para a cultura em Alcochete era a fogaça-rainha, o poeta-local-REI, o faduncho desconchavado e as pintoras de santeiros e de paisagens berrantes... Mas ele não percebe que tudo isso tem o seu espaço (e público) num contexto cultural mais vasto e exigente. Foi para isso que se fez o Fórum Cultural: 1)para atrair novos públicos a novas fórmulas de cultura, que antes nem sequer tinham Alcochete como roteiro; 2)para que esses públicos conhecessem Alcochete e as suas tradições, num equilíbrio entre local e regional/nacional/internacional.
Basta ver o sucesso do Joaquim de Almeida, numa cidade onde os aldeanos são já uma imensa minoria, para se perceber facilmente do que falo.
Em vez disso, o meu caro amigo prefere ser mono-cultural (por baixo, evidentemente), agarrando-se às tradições locais como se nada mais existisse que desse sentido, gozo, fruição, conhecimento, às nossas vidas...
Assim se explica por que razão JOão Marafuga nunca foi vereador da Cultura em Alcochete e por que razão, provavelmente, nunca o será...
Outras razões existem, mas isso levar-nos-ía ao pântano das discussões pessoalizadas e estéreis, que têm o epicentro nas características psicológicas de cada um...
Um forte abraço,

Unknown disse...

Em primeiro lugar, eu quero dizer ao Zé do Cerrado que sou provinciano, embora conheça cidades como Boston, Nova Iorque, Madrid, Paris, Moscovo, São Petersburgo, etc.
Em segundo lugar, eu não sei o que é isso de "cultura em Alcochete". Será isso fazer pouco dos alcochetanos? O Zé do Cerrado conhece a obra do poeta alcochetano Luís Cebola? Já ouviu António Maduro cantar o fado? Alguma vez observou os quadros de António Cruz, pintor em qualquer parte do mundo? Você não sabe o que fala porque fala do que não sabe.
Tem mesmo a certeza que me dá as cartas todas em matéria de 'equilíbrio'? Se Zé do Cerrado soubesse o que é o 'equlíbrio', nunca teria uma estrutura mental tão arreigadamente de esquerda. Estar-me-ia nas tintas que, eventualmente, protestasse aqui ser votante devoto do PSD.
Não me venha falar do «...regional/nacional/internacional», porque à força de ser alcochetano, eu sou do mundo inteiro. Tem a certeza que percebe o que eu estou a dizer?
Zé do Cerrado será um cidadão da Galáxia que nem ao de leve sonha que a liberdade da microcultura alcochetana faz a diferença de milhares de pessoas.
Finalmente, Zé do Cerrado quererá convencer-me que atingiu a adultez? Não atingiu! Tudo o que diz é dança retórica.

Unknown disse...

Volto ainda para dizer o seguinte: a cultura nasce do chão. Quando me fala de "cultura em Alcochete", parece querer deixar a ideia (ou não-ideia) de que a cultura é qualquer coisa itinerante. Estou convencido de que os copos de leite que frequentam o CCB se identificariam consigo.
Zé do Cerrado sabe o que é cultura?

Anónimo disse...

Senhor José do Cerrado, consinta-me uma pergunta: entre uns “jaquinzinhos” fritos com arroz de tomate e um Macburger, entre umas migas com espargos verdes a acompanhar uma carne de porco frita e uma PizzaHut, o seu apurado palato aconselha-o quê? A partir daqui temos pano para mangas em matéria gastronómica – repare, prezado senhor: falo de Cultura. A diferença entre os seus estimáveis pontos de vista e os meus, reside no facto de eu defender a conciliação entre uma Cultura tradicional, de raízes rurais e regionais – q, hélas, se apaga (quem sabe hoje, por exemplo, o q foi uma “muleta”?!) – e uma Cultura urbana e cosmopolita. E não entender isso, nessa conciliação, é, no meu modesto entender, um erro crasso e grosseiro. A ser pago pelas gerações futuras. De acordo?

Anónimo disse...

Ah! Senhor José do Cerrado, deixe-se de apodar de "provincianismo bacoco" quem discorda de si. Já agora, por ser dado a generosidades, vou-lhe ofertar um espelho: é para se ver nele!

António

Anónimo disse...

E mais um pente, para se pentear!

Anónimo disse...

Leiam bem as minhas palavras senhores despeitados: "Foi para isso que se fez o Fórum Cultural: 1)para atrair novos públicos a novas fórmulas de cultura, que antes nem sequer tinham Alcochete como roteiro; 2)para que esses públicos conhecessem Alcochete e as suas tradições, num equilíbrio entre local e regional/nacional/internacional".
A estas duas conclusões (são só duas, vejam bem!), nenhum dos vossos brilhantes e iluminados cérebros (culturais) se dignou a responder. Preferiram bater e reduzir o debate ao nível zero de inteligência, pegando nos mesmos argumentos que defendo (a conciliação cultural entre os diversos estratos e não só a local, como defende Marafuga) para me xingar de tudo e mais alguma coisa... É o grau de cultura que temos a esperar da vossa parte!
Aquele abraço,

PS - agradeço penhoradamente os presentes que me enviam, mas tomo a liberdade de os devolver, se não se importarem. É que eu nunca aceitarei de alguém o que está mais que visto que lhe faz falta!