15 janeiro 2006

O comunismo é um fatalismo

A filosofia do comunismo é o marxismo, sistema doutrinário segundo o qual é a produção dos bens materiais que condiciona a vida social, intelectual e política.
O marxismo não cai do céu. Procede do Iluminismo que arvora a razão num imperativo fatal.
O iluminismo é um produto do humanismo antropocêntrico que descentra a ideia infinita de Deus para colocar no lugar d'Este o homem, isto é, a finitude da criatura.
Se recorrermos a um dos representantes máximos do humanismo, Giovani Pico della Mirandola (1463-1496) e lermos o primeiro parágrafo do Discurso sobre a Dignidade do Homem, edições 70, Lisboa, 1998, deparamos logo com a absoluta centralidade do homem: «Li nos escritos dos Árabes, venerandos Padres, que, interrogado Abdala Sarraceno sobre qual fosse a seus olhos o espectáculo mais maravilhoso neste cenário do mundo, tinha respondido que nada via de mais admirável do que o homem». Aqui começa, para os tempos modernos, o fatalismo que estreitará cada vez mais as saídas até aos dias de hoje.
O humanismo antropocêntrico deflagra sobretudo a partir da tomada de Constantinopla pelos Turcos em 1453, marco histórico para o fim da Idade Média. Ao longo dos quase mil anos desta, logo a partir do séc. II, a Igreja travou as veleidades do Gnosticismo, já eminentemente materialista e antropocêntrico.
Os gnósticos defendem que só uma elite se salva, contra a perdição do grosso dos homens. Este fatalismo inexorável tem raízes na concepção grega de destino (moira) ao qual se submetem os homens juntamente com os deuses.
Eis sucintamente o percurso retrospectivo de uma civilização que é a nossa, isto é, a civilização ocidental e cristã cuja bandeira mais alta é a da liberdade. Isto significa que o cristão faz o seu próprio destino. Nesta senda, o Cristianismo nunca pode ser comensal do marxismo porque este pugna por uma organização político-económica dirigida pelo Estado - qual deus - como termo fatal da evolução social.

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