13 janeiro 2006

Entrevista do presidente da câmara

Li com natural atenção a entrevista concedida pelo presidente da Câmara Municipal de Alcochete ao «Jornal do Montijo», edição n.º 334, datada de hoje (sem página activa na Internet).
Há nove dias escrevia aqui que, até prova em contrário, todos os eleitos no mandato anterior são solidários com o estado das finanças municipais, havendo instrumentos legais para exigir a informação necessária se ela não foi voluntariamente distribuída por quem detinha o poder executivo.
Após ler esta entrevista reforço a convicção de que até o maior partido da oposição (em 2002/2005 com 3 vereadores e 9 deputados municipais) ignorava o estado real das finanças camarárias, possuía informação vaga e dispersa sobre dívidas, arrancou às cegas para a campanha eleitoral e tinha um programa recheado de compromissos políticos que, apenas três meses volvidos, parecem em grande parte infundados e irrealizáveis.
Como foi isto possível e porquê é a explicação que toda a classe política eleita no anterior mandato deveria apresentar quanto antes. Que poder local é este? Que confiança devemos depositar nas instituições se os nossos legítimos representantes desconhecem documentos e informação a que têm acesso por direito legal?
Estranho também a ausência nesta entrevista de qualquer referência à anunciada auditoria às finanças camarárias, promessa inscrita na introdução ao programa eleitoral da coligação vencedora a 9 de Outubro: "Para a CDU, estes quatro anos afastados da gestão das autarquias foram anos difíceis, penosos mesmo, ao vermos o desperdício de oportunidades e de dinheiros públicos com obras 'emblemáticas' da imponderação do executivo PS e com contratações principescas de um 'rol de assessores' que afogam as finanças da Câmara Municipal de Alcochete e às quais tem de ser feita uma rigorosa auditoria, tal deve ser o seu descalabro".
Houve desperdício de dinheiro público? Houve contratação principesca de assessores? Houve descalabro? Em que ficamos: há ou não auditoria?
Se não há auditoria, acreditamos nos argumentos de quem fez o mal ou em quem lançou atoardas?
Finalmente, breve referência a uma alusão à dependência municipal da receita extraordinária oriunda da Freeport, se for concedida a licença de utilização do "outlet". Considero lastimável que, além das vicissitudes suficientemente conhecidas (se bem se recordam algumas envolvem polícia e tribunais), ao nível do poder local o empreendimento continue a ser encarado como a vaca leiteira de Alcochete.
Se isto não parece uma república bananal, macacos me mordam!

2 comentários:

Anónimo disse...

Se pudessemos reler o Tágides muitas destas coisas se adivinhavam!
Nada do que nos diz, caro Sr. Bastos, me espanta!
Quem é que esperava ou espera outra coisa?
Vãs esperanças! Impossíveiis esperanças com esta absoluta ausência de crítica que vela por aqui!
As coisas apenas vão rolando ao sabor da reinante intriga, da vaidade e da perfeita futilidade política!
Pior: são coisas absoluta e enjoativamente inconsequentes!
É que nem pitada de humor ou ironia tempera a coisa!

Nisto tudo, o que verdadeiramente me chateia é parecer que as pessoas não se importam de pagar isto tudo com os seus impostos!
Recordem-se os impostos têm sido aumentados ao longo dos anos para sustentar estas engrenagens inspiradoras das perguntas que o caro Sr. Bastos fez!

Sobre a última frase deste poste: eu já não me importaria que fosse um bananal! Desde que fosse uma República...

Fonseca Bastos disse...

Talvez Tágides não esteja definitivamente morto.
Há várias pessoas que manifestam interesse em envidar esforços para que haja condições de concretização de um projecto que coloca Alcochete e os alcochetanos em primeiro lugar, tendo Tágides papel relevante (mas não principal nem único) no processo.
Esboçaram-se algumas ideias e se o empenho da meia dúzia de "motores do projecto" se traduzir em adesões absolutamente imprescindíveis mas difíceis, morosas e delicadas de conseguir, haverá uma Fundação de Alcochete.
Oxalá grandes empresas do concelho compreendam quão importante é a sua participação, directa e activa, em projectos comunitários. Trata-se de um movimento sólido na cultura anglo-saxónica, mas de que em Portugal há vaga experiência e escasso conhecimento.
Acho que, em torno de Tágides, se conseguirá algo quase inédito em Alcochete: ter gente de todas as sensibilidades político-partidárias a liderar e a participar activamente num projecto que coloca a comunidade em primeiro lugar.
Estou moderadamente optimista mas, por frustrações de que RPMRibeiro foi testemunha, só acredito no dia em que for possível anunciá-lo e demonstrá-lo em público.
Mesmo que as estações do ano pareçam um tanto alteradas, as flores nascem na Primavera.