É um erro trágico pensar que o poeta, no acto da escrita, se põe acima da visão que tem do homem e do mundo. Esta ideia alienante é responsável por o sentido dos textos nos passar ao lado.
O poeta não é um homem acima dos homens, mas entre homens (homo inter homines). Ele é puxavante de um projecto que propõe à tribo. E das duas, uma: ou ele deseja que o mundo melhore ou deseja acabar com o mundo e mostrar outro que ninguém vê excepto os muito inteligentes como na história de "O rei vai nu".
Se o poeta deseja que este mundo melhore, é ramo novo do tronco comum. Aqui percebemo-lo porque o seu poema é uma contínua anagnórise, isto é, reconhecimento.
Se o poeta quer destronar o Criador e colocar-se no lugar d'Ele, recusa o recebido, ou seja, recusa a intertextualidade, diálogo entre textos, para instaurar a intratextualidade que autotexto é. Aqui ele só olha para si próprio como criança para o espelho e diz: "espelho, espelho meu, há deus maior do que eu?"
O poeta António Rei, homem simples de tantas lides comuns, soube, como ninguém, descer às raízes mais profundas da alcochetanidade, mostrá-las aos seus conterrâneos e nós vimo-las, declamamo-las, cantamo-las para que jamais nos esqueçamos que a humildade é a verdade da criação artística. Esta não quer destruir o mundo, mas colaborar na sua construção, denunciando toda a injustiça.
1 comentário:
Talvez ninguém melhor que João Marafuga possa escrever sobre as três figuras premiadas neste 15 de Janeiro de 2006.
Faça-o, por favor.
Sobre duas delas (Simões Arrôs e António Rei), pessoalmente sei alguma coisa e, em tempos, registei as respectivas biografias noutro espaço.
Sobre Maria Leopoldina da Guia escrevi pouco, mas tenho dela uma imagem inapagável: o dia em, pela primeira vez, diante da banda da Sociedade, a ouvi e vi cantar o fado do Barrete Verde, acompanhada por um coro com alguns milhares de vozes. Foi o delírio!
Já lá vão uns anos...
Conservo as imagens em arquivo.
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