Em termos ideológicos, a expiação é uma categoria fulcral do Cristianismo alheia ao comunismo.
Para expiar um crime, urge a confissão (declaração) seguida de contrição (arrependimento). Ora esta conversão interior (mudança) é visceralmente estranha ao marxismo, matriz de todas as esquerdas.
Posso garantir aos leitores dos meus textos que, na generalidade, os intelectuais comunistas detestam o tema intrínseco a Crime e Castigo do escritor russo Fiodor Dostoievsky (1821-1881). Esse tema é a expiação.
A obra de Dostoievsky, entranhadamente religiosa, faz-nos ver as profundezas insuspeitadas da alma do povo russo, afigurando-se-me, aparentemente, inexplicável que, poucos anos depois da morte do grande romancista, a Rússia entrasse numa revolução para mudar o sentido do Universo.
Essa mutação radical dos mais altos valores humanos à escala planetária que, contra a ingenuidade de alguns, continua a perdurar, não olha a meios para atingir os fins, socorrendo-se por toda a parte do próprio crime. Muitas pessoas vêem nisto a aplicação mais maquiavélica do maquiavelismo, o que é tanto mais verdade quanto menos explica as coisas.
Nicolau Maquiavel (1469-1527), nefasto fundador da prática política como hoje a conhecemos, inspirou-se na lição gnóstica, sempre combatida pela Igreja, mas nunca extirpada definitivamente do subsolo cultural da nossa civilização.
O gnóstico achava que não havia barreira moral ao cometimento de quaisquer crimes desde que ele e Deus fossem um.
Ora nos tempos modernos Deus é substituído pelo Partido. Em nome deste tudo se faz, inclusive os maiores crimes, porque ideologia e consciência são uma e a mesma coisa. Aqui não pode haver arrependimento. Sem este não há expiação. Só o abismo.
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