07 agosto 2008
Palavras traiçoeiras: desenvolver
Desculpe-me a insistência mas volto à denominada Avenida dos Barris – a segunda fase da variante urbana de Alcochete – para mostrar algo que, há cerca de três anos, me deixou perplexo, ao observar a construção de um muro alto de betão à beira de residências.
Repare nas duas imagens deste texto, que reproduzem pormenores de edifícios da Praceta 10 de Julho, situada entre a piscina municipal e a Rua Capitão Salgueiro (a artéria do centro de saúde), local que serviu de mote ao meu texto anterior.
Que opinião terão os moradores, nomeadamente os dos pisos térreos, dos eleitos no mandato 2001/2005, os quais, invocando premissas de desenvolvimento, mandaram enclausurá-los por um muro de betão com cerca de três metros de altura?
Que condenaram dezenas de famílias a conviver com tráfego diurno e nocturno – crescentemente indisciplinado – a 25 metros da mesa, da sala e da cama onde, no limite, teriam direito a dormir descansados?
Que os prejudicaram, gravemente, com a desvalorização das propriedades?
Que cruelmente os abandonaram num deserto, porque nem um único canteiro em redor evidencia sinais de preocupação dos actuais autarcas com o seu bem-estar? Infelizmente, até hoje não consegui chegar à fala com ninguém da zona. Bem o tenho tentado, mas parece-me que as pessoas se entrincheiraram atrás de quatro paredes.
Após anos de clausura, naturalmente os residentes nos pisos térreos até poderão enfrentar problemas psicológicos.
Há heróis vivos em Alcochete e estes também são alguns dos meus.
Gente tão duramente afectada justifica autarcas com outra cultura, que respeitem os direitos do seu semelhante.
Noto preocupação crescente com os direitos dos irracionais. Ainda bem.
Mas alguém se inquieta com os direitos dos racionais em Alcochete?
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