16 agosto 2008

Dão-se alvíssaras


Esta é a janela central (nove ao todo) do palacete por trás da estátua de D. Manuel I.

Há qualquer coisa nela que a distingue de todas as outras.

O que é?

Faça a sua pesquisa.

Dão-se alvíssaras a quem descobrir.

(Aqui deixo a minha homenagem ao pintor alcochetano João Santana que puxou a minha atenção para o curioso pormenor que agora partilho com todos).

5 comentários:

Fonseca Bastos disse...

Deixo em aberto a resposta à questão levantada, que me parece óbvia se nos recordarmos que o palácio pertenceu aos Marqueses de Soydos.
Contudo, aproveito para recorrer ao arquivo e recordar tratar-se de edifício classificado como imóvel do património arquitectónico, tem a fachada principal virada para o antigo Rossio da vila, com amplas vistas para o estuário e largo passeio de calçada a todo o comprimento. É propriedade privada destinada a Turismo de Habitação.
Constitui um dos mais vastos solares antigos da vila, que ainda hoje domina, pelas suas dimensões, a paisagem urbana.
Muito alterado ao longo dos séculos, é predominantemente setecentista, a que se juntaram evoluções evocativas da casa portuguesa, como o telheiro sobre uma das entradas laterais.
Realce-se que a área envolvente a Sul (hoje a urbanização do Flamingo) era bastante extensa, testemunho do que outrora constituíam os vinhedos dos Soydos.
O interior tem cerca de 22 dependências, das quais se destacam um salão, a casa de jantar, sala de jogos, vários vestíbulos e duas cozinhas.
Quase todas as dependências são revestidas a azulejos dos sécs. XVII e XVIII, ocupando cerca de metade da altura.
Existem vários tapetes forrando paredes e uma galeria de quadros figurando membros da família dos Soydos, entre outras.
A quinta adjacente apresenta uma zona ajardinada e outra de pomar, equipada com piscina e balneários.
O solar foi mandado edificar no séc. XVI por Fernão Patto Correia, capitão-mor do Ribatejo Sul.
Em 1671 morre nesta propriedade António Pereira de Faria, o «Boca Negra», nascido em Alcochete em 1591.
No séc. XVII o solar alberga, por várias vezes, a família real, nomeadamente D. Pedro II, D. João V e o Infante D. Francisco.
O segundo proprietário será o Marquês de Soydos, parente da família dos Pattos. Com a morte deste passou para os herdeiros.
No séc. XIX encontra-se ainda na posse dos Soydos, sendo seu proprietário o quinto marquês de Soydos, D. António Luís Pereira Coutinho Pacheco de Vilhena e Brito de Mendonça Borges Botelho Patto Nogueira de Novais Pimentel, oficial do exército e tenente de D. Miguel, a quem acompanhou no seu exílio em Itália.
Foi depois vendido a Sebastião da Gama, de Aldeia Galega, que o deixou em testamento aos seus herdeiros, que depois o venderam a José Gomes de Jesus, que o deixou a João Pedro Gonçalves Gomes, actual proprietário.
Em 1834 a Câmara pretendeu, sem êxito, comprar aos marqueses de Soydos parte das terras da quinta do solar, que se estendiam para Oeste do Rossio.
Em 1875 o marquês de Soydos doa à Câmara 14.000m2 de terreno, com a condição de neles fazer um passeio público, o actual Largo Barão Samora Correia.
Na década de 90 do séc. XX a edificação foi adaptada a unidade de turismo de habitação pelo seu proprietário.
Permitam-me ainda que recorde, pela enésima vez, ser ideia original do autor da estátua de D. Manuel I – o escultor Vasco Pereira da Conceição – que a mancha de bronze se destacasse sobre o fundo de cal do antigo palácio do Marquês de Soydos.
Contudo, nas décadas de 80 e 90 do século passado alguém achou que aquilo estava mal e decidiu plantar arbustos e palmeiras entre a estátua e o edifício. Hoje a estátua perde-se numa floresta insensata.
Mas há mais: conforme imagens originais de que há cópias abundantes (tenho algumas), intencionalmente o escultor colocou três tamareiras gémeas à esquerda do monumento. Destinavam-se a estabelecer a relação tropical do rei. A floresta de tamareiras hoje existente nada tem a ver com o autor, sendo consequência de desleixo. As originais foram destruídas por uma tempestade no princípio da década de 90 e davam tâmaras, ao contrário destas, nascidas descuidadamente das raízes que restaram.

Fontes:
Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais
Bibliografia: Cor. Eduardo Avelino Ramos da Costa, «O Concelho de Alcochete», 1902 (2.ª edição, Alcochete, 1988);
Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, «Dicionario Historico, chorografico, heraldico, biographico, bibliographico, numismático e artístico», Vol. 1, Lisboa, 1904;
Américo Costa, «Dicionário Chorografico de Portugal Continental e Insular», Vol. 1, Porto, 1929;
Francisco Leite da Cunha, «Subsídios para a História de Alcochete», A Voz de Alcochete, Novembro de 1948;
Luís Santos Nunes, «Vila de Alcochete e seu concelho», 1972;
Luís Maria Pedrosa dos Santos Graça, «Edifícios e Monumentos Notáveis de Concelho de Alcochete», Lisboa, 1997.

Unknown disse...

Sr. Bastos, tem andado muito inspirado nas últimas semanas.
Mais uma vez lhe tiro o chapéu.
Parabéns.

Fonseca Bastos disse...

Não é inspiração mas uso de um arquivo pessoal precioso. Também com a sua ajuda coleccionei muita informação documental e fotográfica que considero valiosa e ajuda a refrescar memórias.
E que há de assinalável naquela janela?

Unknown disse...

O que há de assinalável naquela janela é que no centro do ferro forjado da mesma (creio que é ferro forjado) podemos ver as iniciais M. S. (Marquês de Soydos). Por cima vê-se ainda uma coroa.

Fonseca Bastos disse...

Curioso pormenor que nunca me despertara a atenção, nem consta das referências que possuo em arquivo.
Anotei-a para memória futura.