08 agosto 2008
Palavras traiçoeiras: comunicação
Num texto publicado ontem neste blogue, Luís Proença atribuía ao actual executivo municipal "uma irresistível inclinação para o marketing político em detrimento do esclarecimento que deveria sustentar o esforço e o investimento na definição coerente da reabilitação dos espaços urbanos".
Pode presumir-se a inclinação, mas marketing profissional é algo distinto do que observa Luís Proença.
Entre as inúmeras coisas que se ensinam a políticos inexperientes, duas têm aplicação directa ao caso: presunção e credibilidade.
Bem poderão os governantes propalar a qualidade do trabalho realizado, que a propaganda pouco efeito causa quando a percepção dos eleitores é diferente. Mesmo fazendo uma avaliação positiva, estes até podem querer mudar de pessoas e de políticas. O desfecho das eleições locais, em Alcochete, em 2001 e 2005, é um bom exemplo disso.
Confiar na obra feita para conseguir a reeleição é erro frequente em política mas raramente resulta. Supor que o cidadão comum valoriza o trabalho do governante da mesma forma que este, é ignorar que as eleições se disputam em ambiente de esperança e de expectativas de mudança e de inovação. A política desgasta e cansa os protagonistas, mas mais facilmente os eleitores se enfadam com os políticos.
Os excessos informativos podem ter efeito contraproducente na percepção geral acerca destes autarcas e contribuir para o seu funeral político. Porque informação repetitiva é ruído massacrante.
Tenho fundadas dúvidas que algum(a) especialista de marketing político, mesmo estagiário(a), recomende que se noticiem obras triviais antes, durante e após o seu decurso. O meio é pequeno e, seguramente, os cidadãos interessados irão mirar as obras. Depressa concluirão haver ostentação injustificada na maioria dos casos.
E porque os textos são, em geral, prolixos e frouxos, não há comunicação nem se cativam os indiferentes. Aliás, nestes a terapêutica terá de ser específica e prolongada.
Para agravar o panorama, quem deambula pelo concelho depara com pequenas coisas que corroem imenso a imagem e o prestígio de autarcas.
Sirvo-me do exemplo reproduzido nas imagens deste texto, colhidas na confluência das ruas 25 de Abril e Cerradinho da Praia, em Alcochete. Para situar os menos conhecedores da toponímia local, trata-se de artérias situadas a Nascente e Norte dos gigantescos blocos de apartamentos em construção defronte do fórum cultural.
Há dias li, algures, uma notícia anunciando a conclusão da asfaltagem da EM501 junto ao fórum cultural. Ontem chamaram-me a atenção para um passeio há anos esquecido nesse local, onde se acumula água quando chove. Mesmo com tempo seco é difícil circular ali com crianças e carrinhos de bebé.
As imagens são esclarecedoras e poderia complementá-las com outros exemplos antigos e conhecidos, como o do Largo da Feira (junto à antiga fábrica de cortiça Orvalho), a ligação da Av. do Canto do Pinheiro ao outlet, o do lado Nascente e o muro velho do recém-remodelado campo do Alcochetense, etc.
Por estas e outras razões, suponho que a malfadada crise não é o maior problema destes autarcas. A sua desatenção surpreendeu-me no início do mandato e, quase três anos volvidos, os sinais de emenda continuam invisíveis.
Mas os eleitores nunca esquecem, porque passam todos os dias em locais com aspecto desolador e na hora de cobrar o preço é sempre alto.
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