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Interrompida há semanas por razões de oportunidade, retomo agora a publicação de artigos baseados numa consulta a actas municipais com mais de seis décadas. O primeiro artigo está aqui.
Nos sete anos anos abrangidos por esta pesquisa (1938-45), a câmara suportava elevadas despesas com o transporte, tratamento e internamento hospitalar de doentes pobres, cujas profissões mais frequentemente citadas eram jornaleiro (trabalho à jorna) e doméstica.
Como não havia ainda corpo de bombeiros (fundado em 1948), os doentes eram transportados em carros de praça e, por exemplo, na sessão de 19 de Abril de 1939 é autorizado o pagamento de 37$60 pelo transporte de um enfermo ao Hospital de São José.
Em quase todas as sessões camarárias era aprovada a emissão de guias de hospitalização gratuita a favor de munícipes sem recursos e, em Março de 1940, realiza-se um pagamento de 617$50 à Empresa Portuguesa de Navegação Fluvial, respeitante a passes no vapor «Alcochete» para doentes pobres em tratamento no hospital de Lisboa.
A câmara pagava também à Santa Casa da Misericórdia de Alcochete um pequeno subsídio anual, de valor variável, destinado ao asilo. Em 1938 e 1939 o subsídio era de 600$, mas a partir de 1940 baixaria para 230$, possivelmente devido à II Grande Guerra e aos problemas financeiros dela derivados.
Neste mesmo ano, em duas sessões sucessivas aparece um caso curioso respeitante a um indivíduo de apelido Chatillon. Numa primeira sessão, a vereação nega-lhe guia de hospitalização gratuita por constar na vila ter meios de subsistência e, nomeadamente, bens noutro concelho. Na sessão seguinte a decisão é revogada, com o argumento de que os bens (acções do Banco de Portugal) pertenciam a um irmão.
A miséria grassava no concelho e os doentes indigentes eram em número significativo, pelo que, além de pagar verbas elevadas aos hospitais de Lisboa e em transportes, a câmara dispunha ainda de médico próprio para assegurar a assistência local imediata.
Em Março de 1939 foi saldada uma dívida de 2128$90 ao Hospital Escolar de Lisboa e outra de 5512$34 aos Hospitais Civis.
No Natal de 1939 foram também pagos 57$70 ao Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto.
Em acta de 7 de Junho de 1939 surge ainda uma autorização de pagamento de 4$80 a António Rodrigues Regatão – primeiro proprietário da Farmácia Gameiro – pela aquisição de "creolina, sublimado e álcool puro para desinfecção de habitações de pessoas pobres".
(continua)
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Nos sete anos anos abrangidos por esta pesquisa (1938-45), a câmara suportava elevadas despesas com o transporte, tratamento e internamento hospitalar de doentes pobres, cujas profissões mais frequentemente citadas eram jornaleiro (trabalho à jorna) e doméstica.
Como não havia ainda corpo de bombeiros (fundado em 1948), os doentes eram transportados em carros de praça e, por exemplo, na sessão de 19 de Abril de 1939 é autorizado o pagamento de 37$60 pelo transporte de um enfermo ao Hospital de São José.
Em quase todas as sessões camarárias era aprovada a emissão de guias de hospitalização gratuita a favor de munícipes sem recursos e, em Março de 1940, realiza-se um pagamento de 617$50 à Empresa Portuguesa de Navegação Fluvial, respeitante a passes no vapor «Alcochete» para doentes pobres em tratamento no hospital de Lisboa.
A câmara pagava também à Santa Casa da Misericórdia de Alcochete um pequeno subsídio anual, de valor variável, destinado ao asilo. Em 1938 e 1939 o subsídio era de 600$, mas a partir de 1940 baixaria para 230$, possivelmente devido à II Grande Guerra e aos problemas financeiros dela derivados.
Neste mesmo ano, em duas sessões sucessivas aparece um caso curioso respeitante a um indivíduo de apelido Chatillon. Numa primeira sessão, a vereação nega-lhe guia de hospitalização gratuita por constar na vila ter meios de subsistência e, nomeadamente, bens noutro concelho. Na sessão seguinte a decisão é revogada, com o argumento de que os bens (acções do Banco de Portugal) pertenciam a um irmão.
A miséria grassava no concelho e os doentes indigentes eram em número significativo, pelo que, além de pagar verbas elevadas aos hospitais de Lisboa e em transportes, a câmara dispunha ainda de médico próprio para assegurar a assistência local imediata.
Em Março de 1939 foi saldada uma dívida de 2128$90 ao Hospital Escolar de Lisboa e outra de 5512$34 aos Hospitais Civis.
No Natal de 1939 foram também pagos 57$70 ao Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto.
Em acta de 7 de Junho de 1939 surge ainda uma autorização de pagamento de 4$80 a António Rodrigues Regatão – primeiro proprietário da Farmácia Gameiro – pela aquisição de "creolina, sublimado e álcool puro para desinfecção de habitações de pessoas pobres".
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3 comentários:
Por que será que António Rodrigues Regatão, fundador do Aposento do Barrete Verde, não tem uma artéria da vila com o seu nome?
Por ser um forasteiro?
Ele é meu bisavô, nunca tinha visto uma fotografia dele, este blog é fantastico, obrigada!
São estes momentos, estas partículas da vida que infelizmente os nossos mais directos responsáveis pela gestão autárquica desta vila não compreendem, não querem ver e acima de tudo repudiam que lhe proporciona a história viva deste pedaço de terra.
Caro amigo Fonseca Bastos, uma bez mais, como alcochetano que sou, congratulo-me pelo nobre serviço público que está a prestar com a existência deste blogue. Aproveito, a minha ousadia, para endereçar um convite a Isabel M para que se porventura não conhecer Alcochete que nos dê o privilégio da sua visita. teria todo o gosto em mostrar-lhe o Aposento do Barrete Verde - Agremiação Regionalista que o seu bisavô juntamente com outros homens fundou para que os nossos usos e costumes prevalecessem na história desta vila.
O seu bisavô é uma figura que todo o alcochetano que se preze se lembra com orgulho e que no Aposento do Barrete Verde de Alcochete ajudamos a manter acessa esta "chama" de gratidão por tudo o que nos proporcionou.
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