09 janeiro 2009

Municipalismo de outrora (8): saúde dos pobres

Até às obras de 1972, quando foi acrescentado o piso superior, era este o traçado original do edifício do Lar Barão de Samora Correia da Santa Casa da Misericórdia de Alcochete. Antes do lar de idosos neste edifício existiu uma fábrica de fósforos.


Interrompida há semanas por razões de oportunidade, retomo agora a publicação de artigos baseados numa consulta a actas municipais com mais de seis décadas. O primeiro artigo está aqui.

Nos sete anos anos abrangidos por esta pesquisa (1938-45), a câmara suportava elevadas despesas com o transporte, tratamento e internamento hospitalar de doentes pobres, cujas profissões mais frequentemente citadas eram jornaleiro (trabalho à jorna) e doméstica.
Como não havia ainda corpo de bombeiros (fundado em 1948), os doentes eram transportados em carros de praça e, por exemplo, na sessão de 19 de Abril de 1939 é autorizado o pagamento de 37$60 pelo transporte de um enfermo ao Hospital de São José.

Em quase todas as sessões camarárias era aprovada a emissão de guias de hospitalização gratuita a favor de munícipes sem recursos e, em Março de 1940, realiza-se um pagamento de 617$50 à Empresa Portuguesa de Navegação Fluvial, respeitante a passes no vapor «Alcochete» para doentes pobres em tratamento no hospital de Lisboa.
A câmara pagava também à Santa Casa da Misericórdia de Alcochete um pequeno subsídio anual, de valor variável, destinado ao asilo. Em 1938 e 1939 o subsídio era de 600$, mas a partir de 1940 baixaria para 230$, possivelmente devido à II Grande Guerra e aos problemas financeiros dela derivados.
Neste mesmo ano, em duas sessões sucessivas aparece um caso curioso respeitante a um indivíduo de apelido Chatillon. Numa primeira sessão, a vereação nega-lhe guia de hospitalização gratuita por constar na vila ter meios de subsistência e, nomeadamente, bens noutro concelho. Na sessão seguinte a decisão é revogada, com o argumento de que os bens (acções do Banco de Portugal) pertenciam a um irmão.
A miséria grassava no concelho e os doentes indigentes eram em número significativo, pelo que, além de pagar verbas elevadas aos hospitais de Lisboa e em transportes, a câmara dispunha ainda de médico próprio para assegurar a assistência local imediata.
Em Março de 1939 foi saldada uma dívida de 2128$90 ao Hospital Escolar de Lisboa e outra de 5512$34 aos Hospitais Civis.
No Natal de 1939 foram também pagos 57$70 ao Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto.

António Rodrigues Regatão

Em acta de 7 de Junho de 1939 surge ainda uma autorização de pagamento de 4$80 a António Rodrigues Regatão – primeiro proprietário da Farmácia Gameiro – pela aquisição de "creolina, sublimado e álcool puro para desinfecção de habitações de pessoas pobres".


(continua)


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3 comentários:

Unknown disse...

Por que será que António Rodrigues Regatão, fundador do Aposento do Barrete Verde, não tem uma artéria da vila com o seu nome?
Por ser um forasteiro?

J. Rodrigues disse...

Ele é meu bisavô, nunca tinha visto uma fotografia dele, este blog é fantastico, obrigada!

Fernando Pinto disse...

São estes momentos, estas partículas da vida que infelizmente os nossos mais directos responsáveis pela gestão autárquica desta vila não compreendem, não querem ver e acima de tudo repudiam que lhe proporciona a história viva deste pedaço de terra.
Caro amigo Fonseca Bastos, uma bez mais, como alcochetano que sou, congratulo-me pelo nobre serviço público que está a prestar com a existência deste blogue. Aproveito, a minha ousadia, para endereçar um convite a Isabel M para que se porventura não conhecer Alcochete que nos dê o privilégio da sua visita. teria todo o gosto em mostrar-lhe o Aposento do Barrete Verde - Agremiação Regionalista que o seu bisavô juntamente com outros homens fundou para que os nossos usos e costumes prevalecessem na história desta vila.
O seu bisavô é uma figura que todo o alcochetano que se preze se lembra com orgulho e que no Aposento do Barrete Verde de Alcochete ajudamos a manter acessa esta "chama" de gratidão por tudo o que nos proporcionou.