Provavelmente, no futuro a História de Portugal registará que a minha geração consentiu com indiferença, em democracia e durante mais de três décadas, o saque fiscal à sua carteira, o enriquecimento fácil de especuladores públicos e privados e pagar uma casa durante toda a vida embora apenas precisasse de um lar decente para habitar e constituir família.
A minha geração iludiu-se com uma bolha imobiliária iniciada na década de 60, supondo investir em património com valorização garantida para no futuro usufruir de uma aposentação mais digna e menos difícil que a dos progenitores e/ou herança para transmitir à descendência. Hoje, porém, esse património nada produz e é inegociável: a gula estatal, municipal e privada excedeu os limites da decência e o país tinha, já há dois anos, todas as habitações de que necessita até 2050, enquanto a lei do arrendamento é uma mistificação.
Ao invés de rendimento esse património pago com esforço gera hoje despesas imprevistas, porquanto o Imposto Municipal sobre Imóveis atingiu valores brutais e a conservação das habitações tem custos incontroláveis, alguns resultantes de legislação avulsa que encara o cidadão como dono de um poço de petróleo. Acresce que as casas usadas se desvalorizam vertiginosamente e já pouco falta para que o valor fiscal das mais recentes exceda o de mercado, embora os poderes central e local continuem indiferentes ao problema.
A minha geração caiu num conto do vigário inédito na História e boa parte dela pode estar condenada a ir para a cova ou para o crematório deixando uma herança infinda de problemas, uma vez que os sucessores são obrigados a pagar dívidas mesmo que a elas alheios. Património de que dificilmente usufruirão, pois a volatilidade e a precariedade do emprego obrigam todos os portugueses activos à migração forçada, como outrora os servos da gleba.
Vem tudo isto a propósito de quê? Da recomendação e da interrogação que se seguem.
Começando pela recomendação, justifico o que acima escrevi com esta notícia da edição do «Público» de 6 de Janeiro.
Concluo com a interrogação: que soluções imediatas e urgentes propõem os autarcas e os candidatos às próximas eleições locais, uma vez que a economia está em recessão há meses, o desemprego começou a disparar em Setembro, haverá muito mais famílias em dificuldades, algumas deixarão de amortizar o empréstimo da habitação, de pagar o IMI, a água e o mais que adiante se verá?
P.S. - Convém ler também esta notícia do «Jornal de Negócios» e consultar a tabela cuja ligação é fornecida no texto.
2 comentários:
O que se pretende é qualquer coisa similar à Idade Média. Nesta havia os aristocratas e os servos da gleba. Hoje, estes são substituídos pelos vastos contingentes de pobres e aqueles por megacapitalistas amiguinhos dos que defendem um peso cada vez maior do Estado sobre a Sociedade. Tudo isto com uma grande desvantagem: se na Idade Média descia sobre a vida das comunidades a fresca brisa da espiritualidade, a quase inexistência desta nos dias de hoje reduz cada um a um monte de carne.
Convencer as pessoas de que a troco do arranjo de passeios, do embelezamento de rotundas, da refeição aos meninos e meninas na escolinha do bairro, etc., etc., etc., nos vão roubando paulatinamente a nossa liberdade é uma carga de trabalhos.
Sim, porque não há liberdade sem propriedade privada, atacada por uma carga fiscal cada vez mais insuportável.
Meus caros,
Devemos encarar este problema de forma séria, honesta e sobretudo previligiando as populações que representamos. De facto, não vale a pena "tapar o sol com a peneira", o presente ano denota dificuldades nunca antes sentidas e que requer capacidade intelectual, inteligência e estratégia para minimizar o impacto negativista que se irá abater sobre nós.
Para Alcochete, estão previstos vários investimentos, e não estou somente a falar do novo aeroporto, há que ter capacidade de negociação, de sensibilização para que tais investimentos privados e públicos, possam trazer mais valias para todos os portugueses em geral, mas perdoem-me a franqueza, em particular para o povo de Alcochete.
Se ficarmos estagnados no nosso canto, o que por vezes é mais fácil, limitarmo-nos a criticar o governo, ou como muitos dizem, o Poder Central, então meus amigos nada feito!!!
Temos de levantar as mangas da camisa, erguer bem alto a cabeça e lutarmos apenas por um objectivo comum a toda a população de Alcochete - o seu bem estar!
E isso reflecte-se em melhor educação, emprego estável, espaços verdes condignos, desenvolvimento sustentado e construção harmoniosa e não desenfreada como acontece actualmente porque assim estamos a pactuar com a especulação.
Mas não ficamos por aqui, naturalmente que muito mais existe para fazer, hajam oportunidades de novas ideias, novos projectos, novas pessoas poderem aparecer a trabalhar por esta terra, considerada "uma pérola do tejo".
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