Alcochete acaba de perder António Rei, uma das suas raras referências culturais contemporâneas. Se muitos outros motivos não existissem, o simples facto de, há três anos, ter sido agraciado pelo município com a medalha D. Manuel I justificaria uma nobre atitude pelo seu falecimento.
Um galardão de mérito atribuído por uma autarquia é um gesto de reconhecimento público pela vida e obra de alguém e, se significa algo mais que pretexto para propaganda visando a conservação do poder, a coerência exige que se respeitem a pessoa e a sua memória.
Porém, ao início da madrugada de quinta-feira, decorria o velório do seu corpo, alguém da câmara mandou iniciar um foguetório. A decisão irreflectida repetir-se-ia menos de quatro horas após o funeral. E, novamente, cerca das 20h30, 20h45, 21h00, 21h30 e 22h00.
Admito que o significado fosse a celebração da restauração da autonomia municipal há 111 anos e não um pretexto politicamente perverso.
Contudo, se a causa fosse a primeira, por respeito à memória de António Rei deveriam guardar os foguetes. Porque só a segunda explica a insensibilidade perante a morte de alguém que há três anos se lisonjeava.
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