15 janeiro 2009

Faleceu o poeta António Rei



Desde há muito que passeando com o poeta António Rei pelas ruas de Alcochete ou sentado com ele à mesa de café lhe ouvia histórias cujo cenário era o mundo inteiro.

Invariavelmente António Rei começava assim: "Não sei se já lhe contei...". Eu dizia sempre: "Não, António, ainda não contou!". E pela segunda ou terceira vez ouvia a mesma história que conservava a estrutura inicial com alteração de alguns pormenores.
António Rei quis presentificar através da escrita um passado cuja trama vai de norte a sul, de ocidente a oriente. No centro está ele de vigia como vezes sem conto esteve em navios de guerra sulcando oceanos e mares.
A escrita deste marinheiro não é só saudade do passado. É também futuro porque António Rei, como todo o homem que assim mereça ser chamado, insurge-se contra a injustiça e antevê dias melhores para a humanidade.
Assim, este grande poeta popular alcochetano insere-se no movimento escatológico de todo o cristão responsável, embora reduza as velhas sacristias a monturos de calhaus. Mas também Cristo destruiu velhos templos e dá-nos todos os dias um Novo Templo cuja realização última será o Reino de Deus ou comunhão total de todos os homens.
O meu nome aparece pela primeira vez ligado ao de António Rei no Jornal Echo d'Alcochete, ano II, n.º 15, Setembro de 1989. Aí, ele ilustra com um belo poema um artigo meu sobre a greve do sal de 1957.
Ao render tão pequena homenagem a António Rei nesta hora de despedida, ligo-me indefectivelmente a todos os homens de bem que buscam o sentido nesta vida.

2 comentários:

Fernando Pinto disse...

Desconhecia a morte de Antonio Rei!
Confesso que soube desta noticia através deste post e digo-vos que fiquei perplexo. Acima de tudo admirava este homem e sei bem da paixão que ele nutria por esta vila. Prova disso são os muitos fados cantados por muitos alcochetanos e não só, onde impera a alegria tipica desta gente, onde se fala do salineiro, do forcado, do barrete verde, dos campinos...O António Rei sentia Alcochete, vivia Alcochete, respirava Alcochete.
Perdemos uma referência da nossa cultura, estamos tristes e atrevo-me com dignidade a dizer:
Silêncio... hoje morreu um poeta
E a carne morreu esquecida
Como esquecida viveu
Silêncio... hoje morreu um poeta
Que espalhou rimas de vida
Nos poemas que escreveu.

Quando um poeta amigo morre! Uma estrela a mais começa a brilhar no Céu! ...

Unknown disse...

Quando em Alcochete há a "Rua das Flores" e outras com os nomes de patrícios nossos que NADA fizeram por esta terra ou com os nomes de individualidades que nos são completamente estranhas, vamos ver o que acontecerá à memória de António Rei, merecedor da maior justiça por ser o maior poeta alcochetano do século XX.