O primeiro artigo desta série está arquivado aqui. Para consulta directa dos restantes recomendo que, na janela «Pesquisar no Blogue» situada no canto superior esquerdo desta página, seja introduzida a palavra-chave Municipalismo.
Depois de, dois meses antes, ter decidido arrancar os plátanos que bordejavam a maior parte da estrada Alcochete-Samouco – por causarem constante degradação do piso e suscitarem protestos dos proprietários dos terrenos marginais – na sessão de 3 de Agosto de 1940 a câmara resolve assumir por administração directa a pavimentação dessa rodovia, com o argumento de que em concurso público não teria preço mais favorável.
A pedra calcária necessária foi adquirida numa pedreira de Caxias, a população de Samouco prestou auxílio importante em mão-de-obra, transportes e ferramentas e a câmara usou também o seu próprio pessoal e ferramentas.
Assim, o piso original dos 5kms da actual Estrada Municipal 501 – em 'macadame' e em mau estado, segundo testemunho de quem a conheceu na época – seria feito com a "prata da casa", sendo pavimentada somente no princípio da década de 50.
No terceiro artigo desta série expliquei que a rede de saneamento urbano de Alcochete foi construída no final da década de 40 e, antes de existir, as águas sujas e dejectos da vila depositavam-se em vasilhas (popularmente denominadas "tigela da casa"), recolhidas de noite por veículos da limpeza camarária, puxados por animais e transportando enormes barricas.
O processo da rede de saneamento urbano, longo e complexo, arranca no final da década de 30. Um notório indício surge na sessão de 1 de Junho de 1940, quando o presidente da câmara, Francisco Leite da Cunha (imagem acima, cedida pelo dr. João Marafuga), dita para a acta a seguinte proposta, aprovada por unanimidade:
"Considerando a necessidade inadiável de proceder tão urgentemente quanto possível às obras de saneamento da vila de Alcochete, condição essencial do seu próspero desenvolvimento futuro;
"Considerando que a Agência Técnica Electrográfica, com sede na Rua Serpa Pinto, n.º 12-2.º Esq.º, em Lisboa, tem elaborado projecto da rede de esgotos da vila de Alcochete, proponho: a câmara aceita o trabalho da agência, que compreende o estudo completo do estabelecimento da rede de esgotos da vila e compromete-se a pagar por esse trabalho 2% do valor total das obras.
"Ulteriormente a câmara acordará com a mesma agência sobre a forma de efectuar o pagamento".
O matadouro
Nas actas de 1938 e dos seis anos posteriores há inúmeras referências ao matadouro de Alcochete, que se situava no local onde hoje está implantado o Hotel Alfoz. A proximidade do rio era importante para o escoamento de águas sujas, que certamente constituíram um festim para gaivotas, tainhas e caranguejos.
Em Novembro de 1939 a vereação decide que, de Novembro a Março, a matança se faça às 15h00. De Abril e Outubro seria às 18h00.
As taxas de utilização do matadouro, vigentes em 1940, eram as seguintes: gado bovino - $24/kg; gado suíno - $12/kg; gado ovino e caprino - $22,5/kg. O valor total a pagar era calculado com base no peso das reses à entrada no matadouro.
Em Abril de 1942 é fixada em 3$00 a taxa sanitária a pagar por cada porco morto por José Coelho, residente em Samouco, que possuía matadouro próprio nessa freguesia.
O matadouro de Alcochete seria ampliado em meados de 1944 e a maioria das referências constantes das actas no período analisado prende-se com despesas de manutenção dessa infra-estrutura imprescindível para o abastecimento público do concelho.
Há quem se lembre do matadouro municipal em plena actividade, nas décadas de 50 e 60, cuja higiene deixaria muito a desejar.
Um dos maiores prazeres da petizada era abeirar-se das grades da janela e pedir bexigas das rezes abatidas aos magarefes, que depois de cheias de ar serviam para jogar a bola.
Alguns magarefes da época eram João Moço, Daniel Perinhas, Jorge Sena, José Maria Catalão e os gémeos Robins, entre outros.
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