28 fevereiro 2006

À atenção do serviço de águas

Esta boca de rega, situada no início do parque de estacionamento da Av.ª D. Manuel I, junto ao restaurante Alfoz, em Alcochete, não estava nas melhores condições na tarde desta segunda-feira.
Porque o local é muito frequentado pelos de cá e pelos forasteiros, causando sempre má impressão situações destas, fica expressa a recomendação ao serviço municipal de águas para mandar reparar a válvula.
Poupem água, vá lá.

27 fevereiro 2006

Impostores intelectuais

Sempre afirmei que sou um homem de medo.
Eu sou um homem de medo porque, ao fim e ao cabo, não sou idealista.
Mas exactamente porque não sou idealista, também sempre afirmei que sei superar todos os medos, menos o de Deus.

Medo de Deus é o medo de perder o amor de Deus. Aqui eu estou muito atento porque para transvio bastou o que tive a meio do caminho.
Medo dos homens não é sentimento cristão.
Hoje em dia, o tipo de homem que mais devemos temer é o impostor intelectual. Este, no fundo, não leva nada a sério a não ser o próprio interesse que assenta numa grande sede de poder.
Se a revolução do proletariado e a transmutação do homem no super-homem comunista falhou, então aí está o meio ambiente, sucedâneo que se presta à mesma imanentização que brutalmente tinha trazido o marxismo. Neste como na defesa daquele estamos sempre perante um saber efectivo, quer dizer, um saber imediato.
Ora o meu saber é mediato, isto é, eu amo o saber, mas não sei tudo. Só Deus sabe tudo.
Esta visão que tenho do homem e do mundo obriga-me a interpor sempre a regra entre mim e todas as outras criaturas porque reservo o saber último para Deus, Regra suprema. Assim procedendo, controlo a libido dominandi nos meus pensamentos, palavras e obras.
Nesta conformidade, nunca poderia estar do lado de intelectuais ecologistas que defendessem a proibição do proprietário de uma herdade dispor desta legitimamente sob o pretexto de que as terras albergam uma espécie de roedores em extinção.
Este exemplo submete-se à ideia de uma sociedade sem propriedade, o que é tão idealista como a ideia de uma sociedade que seja definitivamente livre do medo. Mas o homem verdadeiramente livre, aquele que orderna a sua liberdade a Deus, supera o medo e denuncia aos quatro ventos todos estes impostores intelectuais, assassinos da Democracia Liberal.

Alerta à navegação

De acordo com artigo que pode ser lido no blogue «Escândalos no Montijo» (ver "Água mais cara em Montijo"), no concelho vizinho a água vai aumentar de preço 2,3% e a taxa de saneamento subirá 15% (sete vezes acima da inflação inscrita pelo governo no OGE).
Estamos no mesmo barco do negócio malcheiroso (I) e negócio malcheiroso (II).
Depois não digam que ninguém avisou antes...

Ora bolas!

É aborrecido aparecer nas notícias só pelos piores motivos...

Samouco: aleluia!



Dez dias após ter escrito e ilustrado oportunidades para os nossos autarcas mostrarem serviço em Samouco – exemplos que fizeram com que este blogue ganhasse vários leitores regulares na vila – gostosamente anuncio haver sinais de fumo.
Na rotunda da Rua Bento Gonçalves (imagem 1) foi já cortado o mato. Espero que, em breve, esse pequeno espaço tenha aspecto mais cuidado. De contrário, prometo voltar à carga.
No extremo oposto dessa artéria, na rotunda onde está suspensa a construção de uma fonte modernaça (imagem 2), houve operação de limpeza semelhante.
O mesmo sucede na Rua Luís de Camões (imagem 6), onde o corte do mato estava – neste domingo, pelo menos – apenas iniciado.

Fica provado ser fácil resolver problemas simples. Aleluia!

Parece-me que na reunião da vereação, realizada no dia 22, em Samouco, se falou de outras coisas também aqui abordadas. Mas como considero insuficiente a única pista que possuo, deixo a referência ao assunto para melhor oportunidade.

Não párem para descansar porque a lista de espera cresce todos os dias!

Expliquem-se, por favor


Chamo a vossa atenção para a imagem ao lado. Foi retirada de um programa que recomendei ontem.
Embora esta imagem de satélite seja datada, presumivelmente, do Verão de 2003, gostava que me explicassem se há relação entre a ETAR (à direita) e as lagoas (à esquerda). Visivelmente, as águas destas apresentam tonalidade suspeita.
As lagoas estão integradas na Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo.

O que hoje se pode observar da estrada deixa-me preocupado. Com ou sem razão?

Há alguém que possa fotografar estas lagoas do ar? Envie-me cópias, por favor.

26 fevereiro 2006

Rusticidade

O Presidente da Câmara Municipal de Alcochete, Dr. Luís Franco, entre muitas coisas, declarou ao Jornal "Sem Mais" que «temos características muito próprias, uma rusticidade que queremos manter» (negrito nosso). Destas palavras se arranca o próprio título da notícia: "Queremos manter a rusticidade de Alcochete".
Quantas pessoas nesta terra de Alcochete estão conscientes de que a rusticidade é uma prática simbólica do movimento ecologista ao lado da autenticidade natural, das culturas vernáculas, da nostalgia passadista, etc.?
Andamos de mal a pior. Será que cinquenta anos depois da fraude futurista estamos a regressar ao bucolismo? Não é que eu esteja contra um rebanho de carneiros em pleno Largo do Poço como o documentam várias fotografias em meu poder, mas rusticidade que não se cruze com o digno progresso das populações é crime de lesa-humanidade.

Ser velho é terrível (2)


Há três meses, com o mesmo título e imagem, escrevi acerca dos sentimentos de isolamento e de inutilidade dos idosos, apresentando algumas sugestões.
Em Alcochete temos centenas deles, cada vez mais novos. Iniciativas destas representam alguma coisa. Mas são escassas.
É preciso avisar toda a gente que não há eterna juventude!
É preciso avisar toda a gente que alguns dos nossos idosos são extraordinários artistas e artesãos!
É preciso avisar toda a gente que velhos são os trapos!
Hoje li, no DN, uma notícia que revela dados dramáticos sobre o problema. Não há apenas corrida aos centros de saúde, em busca de remédio que a medicina não tem. Há suicídios!

O poder dos satélites


A quem não tem receio, nem dúvidas, na instalação de programas no computador, recomendo que faça a do Google Earth, que pode ser descarregado gratuitamente nesta página (há hiperligação no canto superior direito da mesma).
Trata-se de um programa fantástico para observar pormenores da Terra a partir do espaço, com grande precisão e relativa actualidade.
Recomendo-o vivamente a todos e, muito em especial, aos jovens. Proporciona horas e horas de pesquisa em todo o planeta e algumas imagens estão em 3D.
Há meses, a imagem respeitante ao concelho de Alcochete tinha ainda fraca definição. Presentemente, há outra mais pormenorizada.
No meu computador obtenho a melhor definição a 200 metros de altitude. Distinguem-se perfeitamente automóveis, navios, barcos de recreio, etc.
Em Alcochete descobrem-se coisas inéditas a partir do espaço. Como o interior de propriedades com edifícios e muros altos em redor.
Pelo estado da construção de algumas obras, creio que a imagem actualmente disponível é do Verão de 2003.

25 fevereiro 2006

Recomendação de leitura (11)

Entrevista do presidente da câmara ao jornal «Sem Mais».
Intervenção da Junta de Freguesia de Alcochete na orla ribeirinha da vila.
Projectos do Centro Social de São Braz de Samouco.

Atenção à História local

Legenda da imagem
Nesta casa, sita no n.º 3 da Rua de «O Século», nasceu José Estevam algures em 1877. Infelizmente, nenhuma placa o referencia.

Desde José Estevam – isto é, meados da década de 50 do século passado – viram a luz do dia raríssimas obras históricas centradas em Alcochete.
Do próprio José Estevam há seis inéditos à espera de publicação. Foram cedidos gratuitamente ao município, há quase dois anos, pelo dr. Elmano Alves, mas continuam desconhecidos porque arquivados algures.
Os títulos das obras são «Efemérides Alcochetanas», «Os Ratões em Alcochete», «A Corte em Alcochete», «A Misericórdia de Alcochete», «Figuras de Alcochete I» e «Figuras de Alcochete II».
Além disso, o ofertante possui imensa documentação contemporânea, escrita e fotográfica, que deveria ser reproduzida e disponibilizada à comunidade, quanto mais não seja sob a forma electrónica se não houver dinheiro para a editar em livro.
Havendo ainda tanta coisa por descobrir e revelar, chamo a atenção de estudiosos da História local para um novo e interessante sítio na Internet, disponibilizado pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Neste sítio há pistas interessantes que podem ter relação com a nossa terra. Pesquisando pela palavra 'Alcochete', encontrei nada menos de seis páginas relacionadas com ela.
Mas presumo que o servidor tem reduzida capacidade de processamento de informação, pelo que pode estar inacessível.

23 fevereiro 2006

Quando jornalistas perdem o olfacto

Para tentar melhorar um pouco a auto-estima, nasceu um novo estilo de governação. Baseia-se em operações de marketing comunicacional. A maioria dos cidadãos nem dá por isso. Mas elas existem. Quase diariamente aparecem notícias cor-de-rosa para disfarçar as negras que tanto nos incomodam.
Anunciam-se intenções e investimentos de milhões para branquear coisas que nunca mais aparecem, como as prometidas e ansiadas reformas de fundo. Soluções para o subemprego, o trabalho temporário e o desemprego; a despesa pública suportada pelo crescente aumento dos impostos; a inexistência de alternativas profissionais, etc.
Enquanto isso, é crescentemente visível que viver em Portugal está mais difícil e o moral dos cidadãos anda pelas ruas da amargura. Ninguém pode chegar ao cherne nem ao lombo de vaca. Leva-se carapau e alcatra, na melhor das hipóteses.
Calotes levaram à penhora de 3.000 carros por mês, o ano passado. E o fisco tem mais de 100.000 imóveis para penhorar.
A crise é tão séria que se detecta até na estrada. No passado fim de semana, numa ida ao Algarve, comprovei haver mais tráfego na estrada antiga que na auto-estrada.
Tanto à ida (sábado), como à volta (segunda-feira), fiz percursos mistos para tirar a coisa a limpo.
E nos três restaurantes algarvios que frequentei, durante dois dias, eu e quem me acompanhava fomos os únicos portugueses sentados à mesa.
É difícil perceber as vantagens, para o país e para a maioria dos portugueses, de certos investimentos cor-de-rosa que têm sido anunciados.
Hoje anda na berlinda mais um, de 900 milhões de euros, no negócio do papel. Leiam todas as notícias sobre o assunto. Leiam e depois digam-me se não vos parece ser negócio um pouco estranho entre o Estado (que somos todos nós) e privados, a propósito de uma das indústrias mais poluentes do mundo.
Refiro em especial este porque nos toca pela proa. Embora estejamos a algumas dezenas de quilómetros de distância, frequentemente o cheiro entra-nos pela casa dentro. E quase sempre de noite.Trata-se da fábrica de pasta de papel da Portucel, localizada na Mitrena (Setúbal).
Tenho dificuldade em perceber como podem os meios de comunicação deixar-se embalar por uma propaganda que valoriza números mas omite ou suaviza pormenores como a poluição do ar e das águas, a "reeucaliptização" do país, etc.
Mais incrédulo fico por verificar que até jornalistas habitando na própria cidade de Setúbal (refiro-me, em concreto, a dois jornais electrónicos), possivelmente convivendo com o cheiro nauseabundo dessa fábrica, reproduzem hoje notícias assépticas, perderam de repente o olfacto e nada esclarecem sobre soluções para o desagradável problema que afecta centenas de milhar de cidadãos.
Ando nisto da informação há 40 anos e nunca vi tanto ingénuo encartado!

Partilha de informação

Venho partilhar com os nossos leitores mais alguns dos sites que eu consulto há muito tempo sobre Ciência, Política e Filosofia.

www.olavodecarvalho.org

http://pwp.netcabo.pt/netmendo/

www.arvo.net

www.jrnyquist.com

www.danielpipes.org

22 fevereiro 2006

Não metam água, por favor

Entre as notícias de hoje consta esta com origem numa conhecida associação de consumidores.
Pegando nos dados fornecidos, fui ao sítio do Instituto do Ambiente na Internet e descobri que, em 2003, o município de Alcochete falhou, parcialmente, na entrega de informação àquela entidade.
Para certos parâmetros (cádmio, crómio, selénio e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), nesse ano foram somente entregues metade das análises obrigatórias e nos demais parâmetros a falha foi de 1/4.
Se recuarmos a anos anteriores, as falhas do município de Alcochete são ainda maiores.
O que me preocupa no caso da água é a inexistência de uma fonte actualizada de consulta pública. Repare-se que os últimos dados disponibilizados pelo Institito do Ambiente referem-se a 2003!
Mantenho o ponto de vista de que, além da afixação dos resultados das análises à água de consumo nos locais do costume, o município de Alcochete deveria divulgá-los regularmente no seu sítio na Internet.
Tal nunca sucedeu, até hoje.
As análises à água de consumo público são imperativas e devem realizar-se trimestralmente.
A associação de consumidores vem agora recomendar que a informação seja também publicada em órgãos de comunicação locais e passe a constar das facturas da água. Será pedir demais?

21 fevereiro 2006

De Marx a Hegel

O marxista vive uma impostura intelectual, tendo consciência desse facto.
O que faz o marxista persistir na sua ilusão, revolta contra Deus ao fim e ao cabo, é a libido dominandi, vale dizer, a vontade de poder.
Ouçamos Marx: «Um ser só se dá como autónomo quando assenta sobre os seus próprios pés; e ele só assenta sobre os seus próprios pés quando deve a si mesmo a sua existência» (Karl Marx, Der Historische Materialismus. Die Fruhschriften, Landshut und Mayer, Leipzig, 1932, pág. 305).
Tal como se vê, a 'existência' no texto marxiano não significa a efectividade ordenada a Deus. Esta tem de ser destruída, segundo Marx, porque o materialismo dialéctico defende que o homem deve tornar-se no criador da sua existência.
Marx formou a sua ideia de Filosofia a partir de Hegel. Ouçamos este último: «Colaborar para que a Filosofia se aproxime [...] da meta de poder abandonar o seu nome de amor ao saber e ser saber efectivo, é aquilo a que eu me proponho» (Hegel, Phanomenologie des Geistes, Johannes Hoffmeister, Hamburgo, 1952, pág. 12).
Se lermos o Fedro de Platão, o saber efectivo é Deus, mas para Hegel a fonte do saber efectivo é o homem, isto é, a criatura divinizada.
Marx foi um discípulo bem digno do mestre!

O poder e as pessoas

Autor: Bruno Morais (director do blog «Escândalos no Montijo»)
Texto enviado a propósito deste artigo


O poder torna as pessoas estúpidas e muito poder, torna-as estupidíssimas.

O psicanalista J. Lacan, observou que a partir do momento em que alguém se vê "rei", ele muda sua personalidade. Um cidadão qualquer quando sobe ao poder, altera seu psiquismo. Seu olhar sobre os outros será diferente; admita ou não ele olhará "de cima" os seus "governados", os "comandados", os "coordenados", enfim, os demais.
Estar no poder, diz Lacan, "dá um sentido interiormente diferente às suas paixões, aos seus desígnios, à sua estupidez mesmo". Pelo simples facto de agora ser "rei", tudo deverá girar em função do que representa a realeza. Também os "comandados" são levados pelas circunstâncias a vê-lo como o "rei do pedaço".
La Boétie parecia indignado em perceber o quanto o lugar simbólico de poder faz o populacho se oferecer a uma certa "servidão voluntária". Bourdieu chama-nos atenção para a força que o símbolo exerce sobre os indivíduos e grupos. Antes de ocupá-lo, o poder atrai e fascina; depois de ocupado tende a colar a alguns como se lhes fossem eterno. Aí está a diferença entre um Fidel Castro e um Nelson Mandela.
O primeiro e a maioria dos ditadores pretendem se eternizar no poder, o segundo, mais sábio, toma-o como transitório, evitando ser possuído pelo próprio. ("Possuído", sim, pois o poder tem algo de diabólico, que tenta, que corrompe, etc).
Uma vez no poder, o sujeito precisará de personas (máscaras) e molduras de sobrevivência. A persona serve para enganar a si e aos outros. A moldura, é algo necessário para delimitar simbolicamente a acção dele enquanto representante do poder. A ausência de moldura ou o seu mau uso fará irromper a força pulsional do sujeito que anseia por mais e mais poder, podendo vir a se tornar uma patologia psíquica. A história colecciona exemplos: Hitler, Stalin, Mobutu, Collor de Melo, Pol Pot, Idi Amim, etc.
No filme As loucuras do rei George III, da Inglaterra, somos levados a perceber duas coisas: o quanto que as pessoas recusavam a ideia de um rei que perdeu a razão em função de uma doença e, que fazer para impedir alguém que representa o poder máximo de uma nação, devido a suas loucuras? O poder faz fronteira com a loucura.
Não é sem motivo que muitos loucos se julgam Napoleão ou o Rei Luis XV. Parece que há algo de "loucura narcísica" nas pessoas que anseiam chegar ao poder político (governante de uma cidade, estado ou país, ministro, membro do secretariado local), ou ao poder de uma instituição, empresa, departamento, pequeno sector de uma organização qualquer ou grupo qualquer. O narcisismo de quem ocupa o poder, revela-se na auto-admiração (o amor a si e aos seus feitos), na recusa em aceitar o que vem dos outros e no gozo que ele extrai do poder, que, levado ao extremo poderia revelar loucura. R. Kurz, é directo ao declarar que "o poder torna as pessoas estúpidas e muito poder, torna-as estupidíssimas".
O sociólogo M. Tragtenberg certa vez observou como muitos intelectuais discursam uma preocupação pelo "social", mas estão mesmo preocupados com a sua "razão do poder". Há uma espécie de "gozo louco" pelo poder, que faz subir a cabeça dos que estão jogando para ganhá-lo um dia.
Do ponto de vista psicológico, observa-se que o poder faz o ocupante perder a própria identidade pessoal e assumir outra, contornada pela "forma" do próprio poder. Os cargos executivos (presidente, governador, vereador, director, reitor, etc), tem uma forma própria, um lugar que marca uma certa diferença em quem a ocupa em relação aos cargos de segundo escalão (ministros, secretários disso e daquilo, chefes de gabinetes, assessores, etc). As "pequenas autoridades" dos escalões inferiores – mas com algum poder – costumam ter atitudes mais protofascistas que as grandes. São mais propensas a "vender sua alma ao diabo" que as grandes para estar no poder.
O psicólogo Ricardo Vieira, da UERJ, levanta os quatro primeiros indicadores de mudanças que ocorrem com as pessoas que chegam ao poder:
1) no modo de vestir: o terno, a gravata, o blazer e o tailleur que, antes eram utilizados em circunstâncias especiais, passam a ser usados quotidianamente, mesmo quando não é necessário utilizá-los. Alguns demonstram certo constrangimento em trocar a surrada camisa e passar a usar um blazer ou uma camisa de linho, pelo menos nas ocasiões especiais. Se antes usava um cabelo comprido, despenteado, logo é orientado a cortá-lo, penteá-lo, dar um trato.
2) mudam as relações pessoais: os antigos companheiros poderão ser substituídos por novos, que o leva a sentir-se menos ameaçado. O sentimento persecutório de "ser mal visto", precisa ser evitado a qualquer preço por quem ocupa o poder.
3) altera o tratamento com o outro, que torna-se autoritário com seus subordinados; gritos e ameaças passam a ser seu estilo. Certa vez, perguntaram a um Presidente da República se era melhor ser amado que temido? "os dois mas se houver necessidade de escolha, é melhor ser temido do que amado".
4) mudam os antigos apoios e alianças. Aqueles que o apoiaram a chegar ao poder, transformam-se em arquivos vivos dos seus defeitos. O poder leva à perda de identificação com os antigos colegas de profissão.
5) Resistência em fazer auto-crítica. Antes, vivia criticando tudo que era governo ou tudo que constituía como efeito de governo. Mas, logo que passa a ocupar o poder, revela "sua outra face", não suportando a mínima crítica. O poder os torna cegos e surdos a crítica.
Numa pesquisa constatou-se que os profissionais de academias apreciam criticar a tudo e a todos, mas são pouco eficazes na crítica para consigo mesmos. Enquanto só teorizavam, nada resolviam, mas quando passam a ocupar um cargo que exige acção prática, terá que testar a teoria; agora é que "a prática se torna o critério da verdade”. Por falta de referencial e por excesso de idealismo, é frequente ocorrerem bobagens e repetições dos antigos adversários, tais como: fazer aumentos abusivos de impostos, aplicar multas injustas, discursos cínicos para justificar um acto imoral de abuso de poder, etc. Há um provérbio oriental que diz: "quem vence dragões, também vira dragão".
Os sujeitos quando no poder protegem-se da crítica reforçando pactos de auto-engano com seus colegas de partido. Reforçam a crença de que representam o Bem contra o Mal, recusam escutar o outro que lhe faz crítica e que poderia norteá-lo para corrigir seus erros e ajudar a superar suas contradições. Se se entrincheirarem no grupo narcísico, o discurso político tornar-se-á dogmático, duro, tapado, e podemos até prever qual será o seu futuro se tomar o caminho de também eliminar os divergentes internos e fazer mais acções de governo contra o povo, "em nome do povo".
Infelizmente assim é o poder: seduz, corrompe, decepciona e faz ponto cego e surdo nos seus ocupantes temporários.

Negócio malcheiroso (II)


Por muitas razões suficientemente documentadas – incluindo pressões governamentais existentes há anos, que impossibilitaram a apresentação de candidaturas municipais a subsídios comunitários e que levaram as câmaras a aderir a sistemas multimunicipais de água e saneamento nos quais a empresa Águas de Portugal detém sempre a maioria do capital – considero negócio malcheiroso o aparecimento da Simarsul-Sistema Integrado Multimunicipal de Águas Residuais da Península de Setúbal, SA e a adesão do município de Alcochete à mesma.
aqui escrevi sobre o assunto. Terminava o texto com um convite sem resposta até à data: explicações precisam-se, porque isto implica um acréscimo de despesas para os munícipes e as vantagens práticas estão por esclarecer.
Tratando-se de documentos administrativos de relevante interesse público, gostaria que a Câmara Municipal de Alcochete desse público conhecimento do teor do contrato de recolha de efluentes que, segundo creio, terá celebrado o ano passado com a Simarsul.
Ao contrário de outros municípios aderentes a essa empresa, o de Alcochete nunca revelou pormenores da operação nem o teor de um contrato que presumo contemplar a cedência de infra-estruturas municipais de saneamento.
Gostaria também de saber o que pensa dessa operação e da Simarsul o actual executivo municipal de Alcochete e quais as implicações do contrato na carteira dos munícipes.
Vem isto a propósito de uma notícia, que não me passou despercebida, publicada na edição de 15 do corrente do «Jornal de Alcochete».
Nela se diz que a Simarsul reclamou ao nosso município o pagamento de 51.228 euros (10.270 contos em moeda antiga), respeitante à recolha de efluentes do concelho no ano corrente. Para tal efeito o município apresentou uma garantia bancária, obtida junto de conhecida instituição de crédito.

20 fevereiro 2006

Anedota do mês

Tendo escrito aqui e aqui o que me parecia lógico fosse anunciado nas reuniões descentralizadas da edilidade, chamo a atenção para uma notícia publicada no «Sem Mais».
A dado passo, o jornal escreve que a descentralização de reuniões "visa obter um melhor conhecimento dos problemas locais".
À primeira vista pareceu-me lapso interpretativo e não acreditei no que lia.
Mas, a seguir, o presidente da Junta de Freguesia de Samouco é citado como tendo afirmado que [a reunião] "constituirá uma oportunidade para tomar contacto com as realidades da freguesia e mostrar algumas das carências mais prementes, cuja vontade política dos actuais executivos, a conjugação de esforços, fará mais que grandes projectos e avultados investimentos".
Maquiavel escreveu em «O Príncipe», há 493 anos, uma frase célebre: “Problemas sérios, no início, são difíceis de identificar, mas são fáceis de resolver; com o tempo, tornam-se fáceis de reconhecer mas difíceis de resolver.”
Em política, a antecipação dos problemas representa sabedoria e prudência.
Tiro no pé? Inabilidade política?
Para mim é a anedota do mês.

Apoiado!

Ler no blog «Escândalos no Montijo» o texto "Populismo e democracia…", artigo de opinião de Susana Almeida, presidente da Junta de Freguesia de São Francisco.
Se o que escreve é verdadeiro – câmara fixa reunião da edilidade para o dia 22 de Março, no salão da junta, sem contactar a entidade proprietária do mesmo – acho que a autora tem razão para protestar.
A quem inscreveu no seu programa eleitoral que "em toda a gestão PS, o traço comum foi a recusa ao diálogo, a prepotência e, sobretudo, a falta de preparação de quem se acha dono da verdade, incapaz, portanto, de ouvir e de trabalhar para as pessoas e, por isso, pouco digno de voltar a merecer a confiança e o voto dos cidadãos de Alcochete", deve exigir-se uma actuação consentânea com as regras da democracia.

Maçãs ecológicas


A pedido do meu filho, jovem de 14 anos que frequenta o 9º ano de escolaridade, há poucos dias comprei um saco de maçãs ecológicas pouco maiores que bolas de ping-pong.
Até ontem ao jantar ainda não tinha experimentado as maçãzinhas. Instado pelo meu filho, lá me decidi a comer uma. Quando a abri, tinha bicho. Chamei a atenção do meu filho com as duas metades na ponta dos dedos viradas para ele que logo me disse: "pai, é a prova de que não usam químicos!"
Não quis logo desmistificar o que ensinam ao meu filho na escola, mas o jovem é já vítima da grande impostura ecologista que se abate sobre a humanidade.
O meu filho está longe de pensar que a resposta dada é visceralmente contra o progresso que a agricultura sofreu em todo o mundo nas últimas décadas, matando a fome a milhões de pessoas.
Será que os ecologistas estão preocupados com o aumento da população mundial? Mas talvez todos os habitantes da terra coubessem no arquipélago dos Açores!

19 fevereiro 2006

"Mídia sem Máscara"

Para que se verifique quanto é camuflada de 'verde' a informação que recebemos das nossas televisões e jornais, venho sugerir aos leitores deste blog a visita a www.midiasemmascara.org
No motor de busca deste site ponha a palavra "ecologia" ou "verdes" ou "ambientalistas" e depois, se essa for a sua vontade, venha aqui dizer-nos qualquer coisa.

18 fevereiro 2006

Ecologia e Ecologismo


Há quem distinga entre Ecologia e Ecologismo: aquela obedece a rigorosos parâmetros científicos e este tem um acentuado cariz político. Por esta distinção, é evidente que os meus textos deixados para trás neste blog estão contra o ecologismo, arma de marxistas e socialistas reciclados. A não desdenha da Ciência, antes uma se cruza com a outra para que a primeira não seja só galão espiritual e a segunda mero horizontalismo.
Quando leio um texto científico sobre Ecologia, verifico que não me é transmitida nenhuma mensagem alarmista, contrariamente ao que acontece nos meios de comunicação social. Estes estão dominados pela propaganda enganosa dos melancias, verdes por fora, vermelhos por dentro.
Na verdade, a fome, o analfabetismo, a esperança de vida e doenças mortais, a distribuição de riqueza, etc., muito longe de qualquer regressão, viram um esbatimento deveras apreciável graças ao progresso da Humanidade em termos gerais.
Inclusive, no discurso científico, problemas como a desflorestação, a água, a poluição atmosférica, o buraco de ozono, o efeito estufa, etc., recebem um tratamento quase diametralmente oposto àquele que é dado nas televisões e jornais. Mas por que razão as coisas são assim?
Eu sei que as pessoas não estão muito familiarizadas com o tipo de discurso da minha resposta, mas, na verdade, as esquerdas sonham com uma catástrofe redentora que tudo reduzisse a escombros. Sobre estes nasceria o novo mundo cujos valores já não se ordenariam ao Ser para lá dos seres. Por cima do homem só a atmosfera. Tudo rodopiaria em função da cidade terrestre, transformada numa grande Animal Farm onde todos seriam iguais, mas alguns mais iguais que outros.

17 fevereiro 2006

A terra é sagrada

A Natureza não é Deus. A Natureza é criatura.
Deus está presente na natureza, mas é distinto dela. Isto é basilar na Teologia cristã e católica.
Se para mim Deus é a Natureza, vivo num mundo imanentista, ou seja, vivo mergulhado na idolatria. O grande problema assenta nos efeitos deste estado de alma: através dos olhos do meu deus, coisa ao fim e ao cabo, só vejo coisas à minha frente. O próprio homem é coisificado para satisfazer a sede do meu poder. Eis-me perante o domínio do homem pelo homem. É a este totalitarismo que nos pode levar a Ecologia encarada como fim.
Mas se eu me ordeno ao "Más Allá", a Natureza é obra do Criador a confrontar-me com o valor da humildade que é a verdade. Esta diz-me que sou criatura e que a Natureza é o grande sinal de Deus para mim. Por isso, eu que descalce os meus sapatos porque a terra que piso é sagrada.

A ponte, o Estado e os nossos direitos


A propósito desta notícia, que evidencia a expansão do conceito "orwelliano" de segurança e informação – matéria aflorada pelo 'comentarista' António num interessante debate que decorre acerca deste texto de João Marafuga – gostaria de partilhar convosco um caso desconcertante, que pode ser facilmente confirmado se nunca repararam nisto.
O mesmo Estado que invoca a segurança e a informação para nos vigiar, presumindo sermos todos mentirosos, relapsos, contumazes e suspeitos, raramente aproveita estas oportunidades legislativas para reconhecer alguns direitos basilares.
Como todos os automobilistas sabem, frequentemente ocorrem acidentes e incidentes na ponte Vasco da Gama. Por vezes mais de duas horas e não raro acima de 60 minutos, centenas de veículos e milhares de pessoas ficam presos nos 13kms do tabuleiro.
É bom recordar que a ponte não funciona desde ontem. Abriu ao tráfego há quase oito anos. Nunca pressenti que o Estado se preocupasse com o elementar direito à informação das vítimas desses imprevistos.
A ponte não é atravessada somente por vacas, porcos, galinhas, bilhas de gás, aço e outras mercadorias. Creio que a maioria do tráfego entre margens continua a ser inerente à mobilidade de seres humanos.
De Sul ou de Norte, à distância suficiente para divergir noutra direcção em caso de bloqueio da ponte, são inexistentes ou nada indicam os painéis avisadores luminosos do IEP.
No sentido Alcochete-ponte, via IC3, nem existe painel algum. Qualquer incauto toma o acesso à ponte e, impossibilitado de retroceder, paga a portagem e vai engrossar a fila.
No sentido Norte-Sul, vindo do túnel do Grilo (CREL), o painel avisador da Lusoponte situa-se em local inapropriado e ninguém com boa visão o lê a mais 300 metros, embora seja impossível tomar qualquer outra direcção, excepto a da congestionada ponte, desde 1.000 metros antes (saídas Sacavém/Aeroporto).
No mínimo, deveria dar-se às vítimas a oportunidade de tomar uma via alternativa, mais rápida, cómoda e segura em situações de ponte bloqueada.
Em meu modesto entender, estas e outras distracções do Estado contradizem as preocupações de segurança e de informação que invoca para nos vigiar, cavando mais fundo o enorme fosso que já o separa dos cidadãos.
Esse divórcio abala a coesão nacional, particularmente em momentos de crise.
Para muitos portugueses o Estado já não é pessoa de bem. Há sinais evidentes de ser sentimento recíproco, porque o Estado tende, crescentemente, a ser policial.
Temo que, qualquer dia, ninguém se lembre que o Estado somos todos nós e que o regime constitucional implantado desde 1976 se baseia na democracia.
Deu-me para reler a Declaração Universal dos Direitos do Homem e fiquei inquieto. Estarão os portugueses a distanciar-se, novamente, dos ideais contidos nos 30 artigos desse documento histórico?

16 fevereiro 2006

Samouco: salvem a Casa do Mirante

Como obra do mandato – passível de concretização em quatro anos, segundo o critério expresso no texto anterior – devo ainda incluir outra jóia: a Casa do Mirante.
Restam no concelho escassos edifícios classificados, quase todos propriedades privadas, que urge preservar.
Residência emblemática de Samouco, construída em 1917 por ordem de Estêvão Rebelo, a Casa do Mirante está classificada, há muitos anos, como imóvel de interesse arquitectónico municipal.
Mas, tal como noutros casos (um deles referido aqui), o seu estado de conservação indicia que, qualquer dia, a casa vem abaixo. No terreno cabem vários edifícios de apartamentos e talvez a rentabilidade futura esteja também na origem do problema, não obstante ser exemplar único na vila e no concelho.
Exteriormente, na Casa do Mirante destacam-se o torreão octogonal, os frisos de azulejo nas fachadas (adufas ou rótulas típicas da tradição alcochetana), em particular os que contêm grandes amores perfeitos, os varandins e o gradeamento em ferro forjado.

Samouco: sugestões para mostrar serviço















Já que a edilidade de Alcochete resolveu descentralizar algumas reuniões públicas – a primeira está agendada para dia 22, em Samouco – deixo à vossa consideração alguns exemplos daquilo que neste texto sugeri: aproveitar tais sessões para anunciar (e cumprir, obviamente) benefícios efectivos aos alcochetanos residentes na periferia do Largo de São João.
As imagens acima ilustram obras por realizar na vila de Samouco, tendo-as ordenado segundo um ponto de vista pessoal também expresso neste texto: obras de curtíssimo prazo (em 100 dias, simples e de baixo custo), de curto prazo (entre 6 meses e um ano, simples e de custo médio) e de médio prazo (segundo e terceiro anos, complexidade relativa e dentro das disponibilidades do município).
Propositadamente, limitei-me a aspectos bem visíveis e que há muito me chocam na vila. Se desejasse ser exaustivo haveria muito mais para apontar. Qualquer autarca que deseje honrar a confiança nele depositada deveria dar prioridade a estes casos.
"Clique" sobre as imagens para ver ampliação.

Obras de curtíssimo prazo

(imagem 1)
A rotunda da Rua Bento Gonçalves tem soluções fáceis. A menos cansativa é mandar lá um rebanho de ovelhas. Nada se perde e alguém ganha para fabricar queijos artesanais.
Pensei em cavar este espaço esquecido e plantar umas couves. Se a terra é de quem a trabalha e a maré política favorável, fácil seria correr com o latifundiário e reivindicar a posse desta terra depois de amanhada com o suor do meu rosto.
Mas decidi ceder o meu direito de superfície se o latifundiário prometer que a rotunda mudará de aspecto nos primeiros seis meses de mandato. Passaram apenas 100 dias, que diabo!

(imagem 2)
As fontes são a tentação de muitos autarcas 'rotundeiros' deste país e "nuestros hermanos" vendem-nas bem e aos molhos. Esta começou há uns meses mas... empanou. Não tem água, nem azulejos, nem luz, nem ponta por onde se lhe pegue. Pensei fundir em bronze uma versão pessoal do Maneken Pis belga, ou esculpir a minha visão do falo de Cutileiro que plantaram ao alto do Parque Eduardo VII (Lisboa), colocando a minha obra no topo deste monumento adiado. Mas desisti porque sou mau demais a partir pedra!
Que prendados são certos autarcas portugueses. E a gente deixa!...

Obras de curto prazo

(imagem 3)
O porto palafítico seria uma "jóia da coroa" – de Samouco e até do concelho – não fosse estar transformado nesta vergonha. Pior cego é quem nunca quis reparar nisto!
Tenho muita pena que as lagartas – as malditas "processionárias do pinheiro" – na origem do forçado encerramento do parque de merendas, desde 26 de Janeiro, não façam romaria à vegetação do quintal de quem deixou jóias ao abandono. Adoro ver Lisboa daqui. Mas só na praia-mar, porque na baixa-mar saio daqui irritado com a estupidez humana!

(imagens 4 e 5)
A Quinta da Caixeira é um dos pontos negros do concelho e por isso mostro duas imagens. Há lá de tudo: entulho, lixo, erva, passeios escalavrados, veículos abandonados, desleixo e incúria q.b. Esse bairro, sim, parece situar-se no Samouco (apetecia-me escrever no ## de Judas, mas o "Diácono Remédios" não deixa).
Poderia ser um bairro pacato e simpático, mas não é. Além do mais, que não é pouco, nele abundam espaços abandonados. Os técnicos denominam-nos "zonas expectantes".
E nós na expectativa de que alguém se lembre de que perto vive gente! Espantado fico eu por a câmara e os seus arquitectos paisagistas não terem o mínimo respeito pelos moradores da Quinta da Caixeira!

(imagem 6)
Até já perderam o respeito ao grande Luíz Vaz! Há tanta erva na Rua Luís de Camões que será necessário apascentar uma boa manada de gado vacuum para a ver dali para fora. Neste caso, com tanto espaço expectante, pensei juntar um grupo de amigos e criar uma horta da malta. Eu produzo rabanetes, o vizinho de cima dedica-se às alfaces, o vizinho de baixo fica-se pelos tomates, o do rés-do-chão planta pepinos e todos juntos temos uma salada comunitária. Agora a sério: tropeço neste sítio há meia dúzia de anos, pelo menos. Não sucede o mesmo com mais ninguém do poder?

(imagem 7)
A Rua Marcelino Vespeira parece-me um caso de estudo. Vespeira é filho famoso de Samouco e um dos grandes pintores portugueses contemporâneos, tendo-se notabilizado pela versatilidade. Passou por várias correntes estéticas e em todas se destacou.
Esta artéria parece-me não ser de Samouco mas do Samouco, outrora sinónimo de um recôndito lugarejo terceiromundista. Nem Vespeira nem os moradores têm direito a alcatrão e passeios. Porquê?
Pergunto: os residentes nesta artéria têm desconto no Imposto Municipal sobre Veículos, considerando que gastam mais que os outros na manutenção dos respectivos popós? Têm desconto na água por serem forçados a lavá-los frequentemente, a limpar o calçado se saírem à rua em dia de chuva e a lavar a roupa mais de uma vez devido à poeira?

Obras de médio prazo

(imagem 8)
A Rua Bento Gonçalves – para quem não sabe é um ex-tarrafalista (1902-1942) – não lembraria ao Diabo.
Tem tanto por onde pegar que o mais difícil é escolher. Neste espaço, em concreto, está tudo por fazer. Presumo que, um dia, quando os homens quiserem, haverá aqui um jardim. Mas como os homens nunca mais se entendem, espero bem que a mãe Natureza faça o favor de cobrir depressa o resto das pedras com erva para ocultar a vergonha.
Esteve um militante comunista preso seis anos e morreu no Tarrafal, para ter direito a uma rua neste estado! Acho que certos homens de hoje mereciam a "frigideira"!

Por agora chega. Quando se aproximar a hora de outras reuniões descentralizadas mostrarei mais misérias.

15 fevereiro 2006

Importam-se de emendar?


Bem sei que, na gíria popular, algo que "fica no Samouco" equivale a ser distante e/ou difícil de localizar.
Mas quem foram os samouquenses que resolveram perpetuar um conceito popular passadista numa placa colocada à entrada da vila, para quem vem de Montijo?
Samouquenses, nada de confusões: a vossa vila é de Samouco e não do Samouco.
Já agora, em bom português aquele a que antecede Vila deve ter acento grave.
Não vos basta haver uma Fundação para a Protecção e Gestão Ambiental das Salinas do Samouco? E que na câmara alguém tenha cometido o mesmo erro, ao escrever a notícia sobre a descentralização de reuniões da edilidade, tal como consta (hoje) do sítio do município na Internet?

Meus Pressupostos e Ecologia


Alguns dos meus textos que ficaram para trás teriam ferido a susceptibilidade de um ou outro visitante. Um pedido de desculpas também é ecológico, razão por que o registo aqui.
Para a clareza do debate, passo a referir os pressupostos subjacentes a tudo o que escrevi, nomeadamente no âmbito da Ecologia.
O homem não foi feito para a Ecologia, mas esta é que foi feita para o homem. Quero dizer, por outras palavras, que a Ecologia não é um fim, mas apenas meio. O fim é o homem, criatura ordenada à transcendência: «o acontecimento decisivo, o acontecimento autenticamente filosófico que fundou a politike episteme foi o discernimento de que os graus de ser que são diferenciados dentro do mundo são ultrapassados por uma fonte do ser e da sua ordem que está além deles» (Voegelin, Eric, Ciência, Política e Gnose, Ariadne, Coimbra, 2005).
Esta é a base de tudo o que doravante escrever em matéria de Ecologia.

14 fevereiro 2006

Recomendação de leitura (10)

Por vezes descobrem-se documentos preciosos na Internet, que nos ajudam compreender melhor os problemas.
Como sabem, o Tribunal de Contas não concedeu visto prévio aos trabalhos a mais realizados no fórum cultural de Alcochete. Por esse motivo, legalmente o município fica impedido de liquidar as verbas adicionais ao empreiteiro. Se agir em contrário, a pena aplicável ao presidente do município é de um de prisão.
Enquanto se aguarda o desenlace desta história, leiam-se dois acórdãos esclarecedores do Tribunal de Contas.
Este é de Agosto passado. Este, proferido há menos de um mês, confirma aquele por inteiro.
Já agora, dou conta de um outro caso que, até há poucos dias, considerava apenas rumor.
Porque acaba de ser confirmado por eleito da CDU, em artigo de opinião publicado na passada sexta-feira, anotem que o pavilhão desportivo da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I, cuja construção foi iniciada poucos dias antes das eleições autárquicas, não tinha então visto prévio do Tribunal de Contas.
No caso de obras públicas, a lei permite que as mesmas se iniciem antes de ser concedido tal visto. O que não autoriza é o pagamento ao construtor. Se agir em contrário, a pena aplicável ao presidente do município é de um ano de prisão.
A menos que haja novos desenvolvimentos em breve, o município corre o risco de ser demandado judicialmente não por um mas por dois empreiteiros. Um já está a arder há meses; outro para lá caminha. Os juros da indemnização são contados ao dia.
Confesso que nada disto me agrada e estranho que se saiba por via indirecta o que os eleitos locais deveriam dizer, em documento próprio, nos órgãos de divulgação do município. Para isso não é sequer necessária auditoria.

Sim e não

Não sendo aprovadas decisões que concedam benefícios efectivos a esses alcochetanos – que bem os merecem – considero a descentralização de reuniões da edilidade de Alcochete falácia idêntica à do anúncio da criação de novas freguesias.
Concordo com a iniciativa, mas temo que dela possam resultar novas frustrações porque na justificação de motivos se diz apenas haver o objectivo de "alcançar uma maior proximidade aos munícipes, garantir o seu acesso à informação e reforçar a sua participação efectiva na vida do Município".
Nenhum desses argumentos é suficiente se as decisões debatidas e aprovadas nada tiverem a ver com o local da reunião.
Presumo haver algum factor surpresa previsto mas não mencionado, o que em política é normal e nada tem de criticável. O contrário teria consequências.
Se for para anunciar aos principais interessados a solução imediata de problemas, aplaudo. Se for apenas para levantar poeira, lamentá-lo-ei profundamente.
Além do mais porque noutras paragens, frequentemente, reuniões idênticas são algo tumultuosas e de efeito prático nulo.
Julgo poder depreender que a descentralização de reuniões da edilidade é um dos instrumentos da democracia participativa que a actual maioria apresentou no seu programa eleitoral. Mas só resultará em pleno se as sugestões e críticas dos munícipes, recolhidas nessas sessões, tiverem consequências práticas e se nestas tal for mencionado. Cuidado: ouvir, prometer registar mas nada alterar em consequência dessas intervenções é muito pior.

13 fevereiro 2006

Cheira-me a esturro

Confesso que esta notícia não me deixa descansado. Derrama é contribuição ou imposto repartido pelos habitantes de uma povoação.
Será que o Estado se prepara, precipitadamente, para resolver um problema seu (diminuir as transferências financeiras para a administração local) à custa de derrama lançada pelos municípios sobre o IRS?
O Estado cederá ou não parte do que cobra em IRS para compensar o valor da derrama, de modo a evitar aumento dos encargos exigidos aos cidadãos?
Os autarcas estão distraídos?
E os munícipes?

Recomendação de leitura (9)

Tendo, há semanas, chamado a atenção para esta notícia, devo agora fazê-lo também em relação a esta.
Não entendo a origem disto, mas isso é o que menos importa.

100 dias: uma mão cheia de nada


Em Alcochete, o executivo municipal da CDU ultrapassou a meta do "estado de graça", o breve período – tendencialmente decisivo – dos primeiros 100 dias de exercício do poder.
A qualidade dos governantes avalia-se pela definição de preocupações prioritárias. Retrospectivamente, creio que o juízo geral acerca dos da CDU será pouco positivo, porque no período mais favorável do mandato só conseguiram prosseguir a construção da biblioteca municipal.
Ainda assim a maioria dos munícipes continua a ignorar que essas obras se reiniciaram a 9 ou 10 de Novembro, presumivelmente em consequência de uma decisão judicial cujo teor se desconhece.
No entanto, pelas implicações da obra no comércio e na vida de centenas de famílias, a inacabada variante foi a pior herança dos antecessores. Mas continua sem fim à vista e ninguém explica porquê nem quando admite poder concluí-la.
O défice de informação tem sido a pecha da nova maioria, representa o seu pior defeito e não tem justificação conhecida.
Sendo a primeira impressão, perigosamente, a que fica na memória dos cidadãos, a única marcante nestes 100 dias parece-me ter sido a insistência no estado das finanças autárquicas. Mas a forma escolhida pode ter um efeito perverso: a acção foi desenvolvida num palco mediático com reduzido impacte na opinião pública e a antiga oposição, que tinha o direito legal de aceder a documentação esclarecedora, não me parece inteiramente alheia ao problema.
Subsiste uma espécie de pacto de silêncio generalizado. Perante os cidadãos ninguém se explica, nem assume ou nega responsabilidades. Daí que, a médio prazo, os eleitores tendam a presumir uma de duas coisas: as dívidas são desculpas ou andam a enganá-los há muito. Qualquer das hipóteses tem péssimas consequências.
A primeira falha desta maioria esteve na metamorfose da candidatura em equipa de governação, que deve ser percebida pelos eleitores pois o que funciona na campanha não ajuda no poder. O longo período de transição de 21 dias (entre 10 e 31 de Outubro) deveria ter sido aproveitado para o explicar. Mas não foi.
Habitualmente definem-se metas de curtíssimo prazo (as que serão realizadas nos primeiros 100 dias), de curto prazo (em seis meses ou um ano), de médio prazo (segundo e terceiro anos) e de longo prazo (quarto ano e no mandato seguinte). Alguém se apercebeu das metas governativas desta maioria?
Deveria ter sido divulgado um plano das prioridades imediatas do novo executivo, porque o seu programa eleitoral não define nenhum em prazo inferior ao primeiro semestre de 2006, à excepção da intenção de auditar o estado da contabilidade municipal.
Em apenas 14 semanas a nova maioria deixou-se enredar na burocracia e na rotina. Foi banal, pouco criativa e previsível. Será difícil adquirir uma imagem positiva tendo-a descurado (senão mesmo abalado) no período decisivo. Os eleitos sentem-se celebridades e caíram na tentação de usar o palco mediático, sem nunca marcarem a agenda política nem acrescentarem nada de inédito. Deveriam ter privilegiado os canais de comunicação directa, mas descuraram-nos.
Não se entende como a "participação da população na vida política activa deve ser efectiva e permanente, e não só durante e antes dos actos eleitorais» – conforme terá dito Luís Franco na cerimónia de posse, citado pelo jornal «Sem Mais» – se o próprio não der, desde o início, sinais claros de querer contribuir para tal.
Continua ausente um dos principais eixos da democracia participativa, com a única excepção das respostas a mensagens pessoais dos munícipes. Essa correspondência é boa fonte de inspiração para projectar ideias, mas a rotina e a burocracia tornam-na inconsequente.
O pior é que, quando a comunicação social encontrar outros protagonistas para fazer manchetes, esta maioria ficará isolada. Principiará então a sua derrocada. As alternativas já se mexem na sombra.

12 fevereiro 2006

Coisas que intrigam


Nós vemos os ecologistas a manifestarem-se contra a devastação das florestas, a desertificação dos solos, a poluição dos rios, mares e ares, etc.
Mas o que não vemos é os ecologistas a manifestarem-se contra uma clínica de aborto à escala industrial, a violência doméstica, o trabalho infantil, a pedofilia, o terrorismo, etc.
Evidentemente que esta verificação me leva a fazer perguntas...quiça incómodas para muita gente! Eis uma delas: por que razão os ecologistas denunciam a devastação de uma floresta que desertifica os solos, mas não denunciam o terrorismo que mata as pessoas? Esta pergunta instala a desconfiança na consciência de quem a faz e, naturalmente, gera logo outra: quem são os ecologistas e de que lado estão? Serão marxistas reciclados e estarão do lado dos terroristas? Será possível? Os esquerdistas chegaram a isto?
Talvez eu não saiba onde chegaram os esquerdistas de todos os matizes, mas, pelo seguro, sei que não chegaram à verdadeira dimensão do ser humano.

11 fevereiro 2006

Aprende a lição, mas não perguntes!


"Aprender a lição", no sentido que o povo dá a esta expressão, reclama o reconhecimento do erro e a contrição.
Mas o reconhecimento do erro e a contrição são valores nevrálgicos do cristianismo, isto é, valores de uma velha ordem que urge destruir, segundo pretendem todas as esquerdas à escala planetária.
O reconhecimento do erro e a contrição são valores derivados de perguntas feitas por mim a mim próprio. Ora esta estrutura que eu classificaria da mais lídima antropologia cristã, denuncia implacavelmente a grande mentira marxista, razão por que esta ideologia é, fundamentalmente a proibição da pergunta.
A pergunta faz estremecer os alicerces da mentira. Por isso os esquerdistas de todas as cores riem de quem faz perguntas. O medo destas instala-se como um cancro no coração dos homens porque cada vez mais passa por burro quem as faz.
Faço questão em deixar aqui, mais uma vez, o meu testemunho pessoal porque só assumindo a verdade é que poderemos fazer alguma coisa pela mudança das mentalidades, ainda que, nesta sociedade hipócrita, eu conheça bem os riscos a enfrentar com tais ousadias.
Saibam os meus leitores que desde o 25 de Abril as esquerdas nesta minha terra de Alcochete sempre se riram das minhas perguntas. Inclusive, cheguei a ser atacado no extinto jornal "Nova Gazeta" por defender que a pergunta é percurso para a verdade. Nesse tempo, a minha visão do homem e do mundo não era tão clara como é hoje. Eu atribuía à ignorância as posições dessas pessoas contra mim. Talvez não estivesse absolutamente enganado, mas, na altura, não via que até essa ignorância estava e está ao serviço de uma estratégia global que, a concretizar-se, animalizará o homem. Como assim?
É que o marxismo, mais vivo hoje do que nunca, trabalha para uma nova ordem que assenta na imanentização total. Eu não estou contra a imanência. Eu estou contra que esta não se una à Transcedência e não ascenda a um Princípio de Ordem Superior.

10 fevereiro 2006

Causa e efeito

Em artigo de opinião inserido na edição da semana passada do «Jornal do Montijo», Arnaldo Teixeira, vereador socialista (oposição) no município de Alcochete, escrevia que o executivo da CDU (maioria) adquirira dois automóveis, um dos quais topo de gama e destinado a um vereador com funções executivas.
Na edição de hoje do mesmo jornal ficamos a saber que um munícipe interpelou a câmara sobre a questão na última sessão pública da edilidade e que o presidente do município negou a história na parte respeitante ao topo de gama.
Não haveria razão para denúncias infundadas, ninguém acreditaria em quem as difundisse e nem se perderia tempo com tal se a câmara desse conhecimento aos munícipes, em tempo oportuno, de todas as decisões. Quaisquer que elas sejam, rotineiras ou excepcionais.
Deveria fazê-lo, pelo menos, no seu sítio na Internet, onde não tem de suportar custos adicionais.
Em nome da transparência esse deveria ser um cuidado elementar, mas não tem sido. Resultam óbvios os riscos do silêncio: durante vários dias o assunto andou de boca em boca e a credibilidade do executivo foi maculada. Quem leu a edição anterior do jornal, mas não a mais recente, continuará a supor que a denúncia tinha fundamento.
Estas coisas causam estragos. Inicialmente os danos são relativos, mas do pouco se faz muito. Oxalá aprendam a lição.

Balanço dos 100 dias


A maioria CDU reentrou na câmara para governar há 100 dias, concluindo hoje a primeira etapa do mandato, o período favorável do "estado de graça".
Prometo tentar, durante o fim de semana, escrever o que penso da acção desenvolvida até aqui.
Convido os prezados concidadãos a demonstrarem que não adormeceram e estão atentos, enviando-nos textos e comentários sobre o tema.

09 fevereiro 2006

Corrida de Toiros e Cristianismo


O cristianismo repousa sobre a ideia de que o sentido desce à carne do homem e à carne do mundo.
Quando falo no sentido, falo no Logos, termo filosófico grego que, originariamente, significa «pensamento», «acção e princípio ordenador da realidade», «lei que estrutura o Universo», «produto da Inteligência que governa o mundo», etc.
O Evangelho de João apropria-se do Logos (Verbo) para identificá-lo com Cristo, Acto de Deus (In principio erat Verbum).
Sempre que o homem age com a humildade de criatura sobre a Natureza, torna-se vaso do Logos e colaborador de Cristo, Senhor pela Criação.
Ora a Corrida de Toiros representa a acção repetida e incessante do homem pela obra da Criação.
Mas do que estamos a falar? Falamos da celebração do progresso que dignifica o homem. Eis por que a Festa de Toiros é tão atacada, aparentemente, em nome dos direitos dos animais, mas é nestes que esses detractores nos querem transformar com consciência disso ou sem ela.

Alcochete como exemplo

Está no blogue «Escândalos do Montijo» um texto de opinião que apresenta o povo de Alcochete como exemplo para o de Montijo. Leia-se «Onde estão as raízes e o orgulho deste povo».
Resta saber se o povo deste lado da Estrada Real tem a clarividência de reconhecer que o seu poder surpremo não se circunscreve à mudança de rostos.

08 fevereiro 2006

De conquista do povo a pantanal

Versão corrigida e aumentada

O poder local democrático foi, durante certo tempo, uma das referências da revolução de 25/4. Era uma das conquistas do povo, dizia-se.
Pouco mais três décadas volvidas ninguém pensa o mesmo. A maioria dos cidadãos virou-lhe as costas. Cresce a abstenção eleitoral. Em Alcochete, no passado mês de Outubro, de longe o partido mais votado foi o dos ausentes.
Em todo o país, raros grupos de cidadãos se apresentam a sufrágio. Os partidos enfrentam dificuldades na hora de organizar as listas. Por alguma razão, nas últimas autárquicas, em Alcochete, dezenas de pessoas que os partidos queriam recusaram-se a participar. Até entre militantes fiéis houve inúmeras negativas, acabando todas as listas maioritamente preenchidas por independentes. Alguns só souberam disso no dia em que lhes pediram para assinar papéis!
Talvez com razão, há quem considere o poder local um pântano de água pútrida. O sindicato dos presidentes de câmara acha que não. Sou menos radical em ambos os sentidos. Creio que a água não será cristalina, considerando que originou, entre 2002 e 2005, quase metade das investigações da Polícia Judiciária em matéria de corrupção. Alcochete esteve na lista mas o processo já não consta da agenda policial, como se depreende desta notícia. Contudo, há poucas semanas os documentos apreendidos faz amanhã um ano não tinham ainda regressado ao município.
Nenhum dos vícios das autarquias se resolve por decreto. O Estado é incapaz de regular o funcionamento delas, embora disponha de órgãos e de mecanismos legais para o efeito.
Também já não basta mandar a polícia investigar. Os corruptores não usam cheques nem exigem recibos de quitação. Os corrompidos têm tantos telemóveis anónimos quantas as necessidades de despistagem e guardam as receitas em paraísos fiscais. Quem sopra no trombone mete-se em sarilhos.
Quando até quem sempre proclamou que o poder local democrático era conquista do povo, uma vez chegado ao poder fecha-se no casulo e manda a coerência às malvas, terão de ser os cidadãos – principais contribuintes líquidos e vítimas do sistema – a virar as coisas do avesso.
Exigir informação, explicações e transparência aos seus eleitos locais, estejam eles no poder ou na oposição. Denunciar casos de laxismo ou de duvidosa legitimidade.
Quem tiver a memória curta observe o significado profundo destas e destas imagens (obrigado TóColante). Há também memória muito recente.

Corrida de Toiros e Religião

Segundo o Dictionnaire Latin Français de Gaffiot, conhecido em todos os departamentos de estudos clássicos das Universidades do Mundo, a palavra religião (religio) relaciona-se com o tema de relegere que significa repassar pelo pensamento (repasser par la pensée), isto é, trazer de novo à memória.
Por mais aparentemente estranho que possa parecer a algumas pessoas, eu vejo-me forçado a aludir à Eucaristia, microcosmo sacramental que rememora minuto a minuto, por toda a face da Terra, a Criação.
Também há qualquer coisa de sacramental na Corrida de Toiros. Na verdade, a repetição ritual deste espectáculo repassa à frente dos nossos olhos a obra da Criação do Mundo, a grande anáfora.
Em conclusão, a Corrida de Toiros não é só de raiz intrinsecamente religiosa por cada Praça de Toiros dispor de uma capela e o sinal da Cruz ser escudo de cavaleiros, toureiros e forcados, mas fundamentalmente por ser imago mundi, quer dizer, uma imagem do mundo, devolvendo este ao seu significado original que é limpo.

Talvez valha a pena!...

Recomendo aos visitantes deste blog que inflictam o rumo da navegação para www.olavodecarvalho.org
Leia uma dúzia de textos deste homem insigne e depois apareça aqui a dar o seu testemunho.
Leia objectivamente o que lá está e não permita que intrusos interfiram na soberania do seu juízo.
Leia e comece a ver o homem e o mundo de uma outra maneira.

07 fevereiro 2006

E ainda há quem se queixe...

Como se demonstra pelos casos de Ponta da Barca e de Ourique, as dívidas do município de Alcochete são irrisórias.
O município de Ponte da Barca tem 12.968 habitantes (menos 2.000 que Alcochete) e uma dívida acumulada de 17,8 milhões de euros (por cá são 2,4 milhões).
E há o caso extremo de Ourique, com várias penhoras por causa de dívidas de 17,5 milhões de euros (oito vezes as de Alcochete) para uma população de 5.909 habitantes (cerca de 40% da nossa).
Contudo, feitas assim as contas podem ser demasiado simplistas. Seria necessário conhecer os orçamentos dos três municípios para haver uma noção mais exacta da realidade.
Espanta-me é que ainda haja empresários dispostos a vender a crédito às câmaras. Serão os preços inflacionados para compensar os inevitáveis reflexos nas suas tesourarias?

06 fevereiro 2006

Recomendação de leitura (8)

Ontem, no Fórum Algarve (Faro), para grande espanto meu, encontrei, em tradução portuguesa, Voegelin, Eric, Ciência, Política e Gnose, Ariadne Editora, Coimbra, 2005.
Eu recomendo vivamente a leitura desta obra magistral de 130 páginas a todo o espírito que ande à procura da verdade política.
Para terminar, deixo o meu abraço a todos os caminhantes inquietos.

Mosquitos por cordas

Até há uns meses, em Alcochete, era proibido falar dos riscos da proliferação de mosquitos, porque não convinha ao bando do xerife.
Mas casos de malária não são inéditos nestas paragens (que o diga o Dr. Simões Arrôs), pelo que passo ao lado das conveniências políticas.
Recomendo a leitura do artigo «Doenças: A migração temida», publicado no último número da revista «Visão» (não acessível na versão electrónica).
Segundo previsões da OMS, por volta de 2010/2015 a febre hemorrágica (dengue) deverá chegar à Europa Ocidental. Na opinião de especialista nacional citado na revista, poderão ocorrer casos ainda antes do final desta década.
Pelo sim, pelo não, leia-se atentamente o artigo da «Visão». Quem nos avisa...

Obrigado ao «Escândalos no Montijo»

É prática habitual na blogosfera agradecerem-se referências e citações. Faço-o ao autor de «Escândalos no Montijo», que transcreveu um texto meu.
Por estar atento ao que se passa no nosso cantinho, prometo colocá-lo na lista de blogues locais quando alguém os criar ou me informar da sua existência.
Até agora encontrei apenas um, mas inactivo há muitos meses.

ADENDA
Após ter escrito o texto acima, o autor do blogue «Escândalos no
Montijo»
volta a distinguir-nos com referências encomiásticas e
transcreve outro dos nossos comentários. Obrigado, uma vez mais.

Mas convém separarmos as águas: outros transmitem notícias, nós reagimos. A função primordial do nosso blogue não é informar mas esclarecer.
Comentar declarações e atitudes, sugerir e reflectir sobre inquietações individuais ou colectivas. Ao alto da coluna da esquerda inscreveram-se os objectivos: "Aspirações, ideias, comentários e debate sobre assuntos relacionados com o concelho de Alcochete".
Sou menos cáustico em relação à comunicação social local e regional, porque quatro décadas da minha vida foram passadas em redacções da Imprensa e da Rádio.
Duvido que tente manipular. Faz demasiados fretes, talvez. Os jornais, sobretudo, por terem meios limitados, serem de distribuição gratuita e a sua sobrevivência depender da generosidade dos anunciantes.
Não há Imprensa independente sem leitores dispostos a pagar o preço da liberdade de expressão!
É difícil ser-se isento se fontes, autores e protagonistas das notícias vivem perto uns dos outros e se cruzam na rua, nos cafés e no supermercado. Mais ainda se a maioria dos cidadãos é indiferente ao que a rodeia, deixando campo livre ao caciquismo e à manipulação política.

05 fevereiro 2006

Festa de Toiros e Cosmos

No meu texto "Corrida de toiros e ordem", eu escrevi que ninguém ia a uma corrida de toiros esperando uma mudança na estrutura do espectáculo. Passados alguns dias é que eu me dei conta do real valor antropológico das minhas próprias palavras.
A corrida de toiros é uma cadeia de gestos repetidos até ao sexto toiro que acaba o espectáculo como, na Bíblia, ao sexto dia Deus acabou a criação do mundo.
Ora o espectáculo do mundo é a repetição.
De ano a ano, de dia a dia, os movimentos de tanslação e rotação da terra voltam respectivamente ao mesmo ponto. As estações sucedem-se a um ritmo sempre igual. Repetitivas são também as fases da Lua, as marés, as ondas, as próprias refeições, a pulsação cardíaca, o acto de respirar...
Então, a corrida de toiros seria um privilegiado reflexo da repetitividade de todas as coisas que assim se sintonizaria com a imensa harmonia do Universo inteiro.
Eis por que o espectador da corrida de toiros é espectador da representação do espectáculo do mundo à escala microcósmica.

03 fevereiro 2006

As crianças, senhores!

Estava a ler esta notícia e lembrei-me de duas coisas relacionadas.
Primeira, no município de Alcochete temos miúdos que, diariamente, passam muitas horas na rua, quase entregues a si próprios, porque os horários de trabalho dos progenitores são incompatíveis com os escolares.
Segunda, na última edição do «Jornal de Alcochete» um grupo de miúdos da Urbanização do Flamingo reivindica um espaço adequado para usar patins, "skate" e bicicleta sem incomodar ninguém.
Creio que a sociedade local deveria despertar, encontrar-se e reflectir acerca destes e doutros problemas da juventude porque, em meu entender, as soluções dependem mais da coesão da comunidade que das incipientes instituições existentes.
Em dois séculos a população de Alcochete multiplicou-se por sete e, desde 1998 (ano da inauguração da ponte Vasco da Gama), já cresceu quase 50%. Há meia dúzia de anos era ainda um concelho pacato, mas começam a revelar-se problemas típicos da explosão populacional e do crescimento mal planeado, há muito conhecidos e estudados.
Por conveniência financeira do município e dos construtores civis amontoaram-se famílias em centenas de caixotes de betão. Mas ninguém pensou nem planeou soluções para os inevitáveis reflexos a médio e longo prazo.
Visivelmente, as infra-estruturas básicas rebentam pelas costuras e o tráfego automóvel tende a congestionar-se. Até o cemitério é um bom exemplo do deixa andar.
E há outros fenómenos invisíveis, não menos preocupantes, que poucos conhecem. Para encurtar o raciocínio basta recordar o aumento significativo da distância casa-trabalho e o facto dos pais terem menos tempo para os filhos.

Crianças e jovens passam longas horas entregues a si próprios, sem nada de interessante para matar o tempo.
Os de fracas posses andam por aí, um pouco ao Deus dará, jogando a bola, partindo vidraças e candeeiros e fazendo o que lhes apetece. Com tanto tempo livre, por vezes apetece-lhes até serem delinquentes. Então manda-se a polícia tratar do assunto. Sic transit gloria mundi.
Os remediados entregam-se à televisão e ao computador, ou ao "skate", aos patins e à bicicleta, embora ninguém tenha pensado nos espaços seguros e adequados para a prática desses desportos juvenis.
Ali para as bandas da Urbanização do Flamingo, um dia destes apanhei valente susto. Entro na rua Vasco da Gama e aparecem-me pela frente dois putos de "skate". Tinha meia dúzia de metros para travar o carro. Se eu fosse um desses "fângios" que por aí abundam, iriam dormir ao hospital e eu estava metido num sarilho.
Isto não vos faz despertar nem pensar? Não teremos, sociedade e autarcas, capacidade suficiente para enfrentar estes e outros problemas? Não há pessoas disponíveis para ajudar?
Aos putos dos Flamingos deixo uma sugestão: antes que seja tarde, pressionem os papás, a câmara e a petrolífera do posto de combustíveis dos Barris a devolverem-vos aquele espaço para brincar.
Vocês também pagam impostos e têm direito à indignação. Façam muito barulho, se necessário.

02 fevereiro 2006

Recomendação de leitura (7)

Convém ler esta notícia, relacionada com os bombeiros de Alcochete e o complexo comercial.
E também esta, respeitante à fundação das salinas de Samouco.

Os direitos dos animais

Perante este tema, a primeira pergunta a colocar é a seguinte: o que é o direito?
Conduzido pela lição do eminente filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, «o direito é uma espécie de garantia do exercício de um poder...». Nesta noção está implícita outra, vale dizer, a reciprocidade jurídica que pode enunciar-se assim: «para que exista direito é necessário que [...] o titular de um direito seja também titular da obrigação de garantir por sua vez a alguém o exercício do poder necessário a lhe garantir esse direito» (Olavo de Carvalho, Seminário de Filosofia, Set., 1998). Assim, eu tenho direito à assistência na doença nos hospitais públicos, mas também a obrigação de pagar os meus impostos ao Estado para que este mantenha em funcionamento aquelas unidades de saúde.
De livre vontade, eu sustento em minha casa uma gatinha. Este animal tem direito ao alimento? Sim? Mas a bichana garante-me o poder necessário a garantir-lhe esse direito? Por favor, não me façam rir mais!
Os direitos dos animais são direitos humanos. Vejamos o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos dos Animais proclamada em assembleia da Unesco, em Bruxelas, no dia 27 de Janeiro de 1978: «Todos os animais nascem iguais diante da vida e têm o mesmo direito à existência». Substitua-se o sintagma "todos os animais" por todos os homens e releia-se aquele direito. Que vos parece?