22 novembro 2005

Ser velho é terrível


Para variar, até quinta-feira teremos na televisão ecos das deambulações do Presidente da República a propósito dos velhos deste país.
Por motivos óbvios prefiro aproveitar o ensejo para falar dos velhos de Alcochete, acerca dos quais pouco se sabe.
Neste concelho com pouco menos de 14.000 residentes, mais de meio milhar de idosos carecem do apoio directo de uma instituição privada de solidariedade social que sobrevive com imensas dificuldades.
O censo populacional de 2001 apurou existirem então 2.012 residentes com mais de 64 anos e a tendência para o envelhecimento da população residente acentua-se há décadas.
Segundo as estatísticas do desemprego, o escalão etário dos 55 aos 59 anos é o que regista maior número de beneficiários do subsídio de desemprego e, no passado mês de Outubro, Alcochete tinha 94 pessoas desempregadas com mais de 55 anos. Falta saber quantas pessoas do grupo etário dos 35 aos 54 anos (no qual havia 213 inscritos) têm mais de 50 anos e um número de anos de descontos para a Segurança Social suficiente para terem direito à reforma antecipada, legalmente prevista em caso de desemprego de longa duração.
Não se conhecem quaisquer outros indicadores estatísticos e, apesar do Município de Alcochete ter um Gabinete de Acção Social, no relatório de actividades de 2004 da Câmara Municipal não há dados pormenorizados acerca da dimensão social do problema das pessoas inactivas. Mas sabe-se que o número de reformados precoces tende a aumentar exponencialmente.
Em face dos dados conhecidos, admito haver em Alcochete, entre reformados normais e precoces, cerca de 1.500 pessoas inactivas mas com suficientes capacidades de locomoção e de raciocínio e conhecimentos técnico-profissionais adequados para, mediante uma retribuição consentânea com a actividade e as mais valias geradas, desempenharem tarefas nas autarquias, nas empresas, em colectividades e instituições de índole social.
Estas são as pessoas mais estigmatizadas por um imobilismo quase sempre forçado, uma espécie de párias e de vadios que, de tanto gastarem as calças e as saias frente à televisão e em bancos de café e de jardim, cedo ou tarde acabam por gerar despesas evitáveis ao serviço nacional de saúde e problemas aos médicos do Centro de Saúde de Alcochete.
Detectei em todos os programas eleitorais para as autarquias de Alcochete inúmeras referências directas ou indirectas a este problema social. Oxalá não tenham sido meros papéis de embrulho e haja acções coerentes em defesa do fim da caridadezinha dos passeios, dos almoços, das festas e das "fitas à portuguesa".
Lembrem-se do art.º 72.º da Constituição da República Portuguesa: "As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social".
Façam-nas participar nas questões sociais, económicas, culturais, espirituais e cívicas deste concelho, porque têm muito tempo disponível para reflectir e agir e a experiência de vida é sempre enriquecedora.
O envelhecimento activo é um benefício para todos e os idosos têm direito a actividades adequadas às suas necessidades e capacidade para dar respostas novas a problemas antigos.

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