No meu texto "Corrida de toiros e ordem", eu escrevi que ninguém ia a uma corrida de toiros esperando uma mudança na estrutura do espectáculo. Passados alguns dias é que eu me dei conta do real valor antropológico das minhas próprias palavras.
A corrida de toiros é uma cadeia de gestos repetidos até ao sexto toiro que acaba o espectáculo como, na Bíblia, ao sexto dia Deus acabou a criação do mundo.
Ora o espectáculo do mundo é a repetição.
De ano a ano, de dia a dia, os movimentos de tanslação e rotação da terra voltam respectivamente ao mesmo ponto. As estações sucedem-se a um ritmo sempre igual. Repetitivas são também as fases da Lua, as marés, as ondas, as próprias refeições, a pulsação cardíaca, o acto de respirar...
Então, a corrida de toiros seria um privilegiado reflexo da repetitividade de todas as coisas que assim se sintonizaria com a imensa harmonia do Universo inteiro.
Eis por que o espectador da corrida de toiros é espectador da representação do espectáculo do mundo à escala microcósmica.
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