Estava a ler esta notícia e lembrei-me de duas coisas relacionadas.
Primeira, no município de Alcochete temos miúdos que, diariamente, passam muitas horas na rua, quase entregues a si próprios, porque os horários de trabalho dos progenitores são incompatíveis com os escolares.
Segunda, na última edição do «Jornal de Alcochete» um grupo de miúdos da Urbanização do Flamingo reivindica um espaço adequado para usar patins, "skate" e bicicleta sem incomodar ninguém.
Creio que a sociedade local deveria despertar, encontrar-se e reflectir acerca destes e doutros problemas da juventude porque, em meu entender, as soluções dependem mais da coesão da comunidade que das incipientes instituições existentes.
Em dois séculos a população de Alcochete multiplicou-se por sete e, desde 1998 (ano da inauguração da ponte Vasco da Gama), já cresceu quase 50%. Há meia dúzia de anos era ainda um concelho pacato, mas começam a revelar-se problemas típicos da explosão populacional e do crescimento mal planeado, há muito conhecidos e estudados.
Por conveniência financeira do município e dos construtores civis amontoaram-se famílias em centenas de caixotes de betão. Mas ninguém pensou nem planeou soluções para os inevitáveis reflexos a médio e longo prazo.
Visivelmente, as infra-estruturas básicas rebentam pelas costuras e o tráfego automóvel tende a congestionar-se. Até o cemitério é um bom exemplo do deixa andar.
E há outros fenómenos invisíveis, não menos preocupantes, que poucos conhecem. Para encurtar o raciocínio basta recordar o aumento significativo da distância casa-trabalho e o facto dos pais terem menos tempo para os filhos.
Crianças e jovens passam longas horas entregues a si próprios, sem nada de interessante para matar o tempo.
Os de fracas posses andam por aí, um pouco ao Deus dará, jogando a bola, partindo vidraças e candeeiros e fazendo o que lhes apetece. Com tanto tempo livre, por vezes apetece-lhes até serem delinquentes. Então manda-se a polícia tratar do assunto. Sic transit gloria mundi.
Os remediados entregam-se à televisão e ao computador, ou ao "skate", aos patins e à bicicleta, embora ninguém tenha pensado nos espaços seguros e adequados para a prática desses desportos juvenis.
Ali para as bandas da Urbanização do Flamingo, um dia destes apanhei valente susto. Entro na rua Vasco da Gama e aparecem-me pela frente dois putos de "skate". Tinha meia dúzia de metros para travar o carro. Se eu fosse um desses "fângios" que por aí abundam, iriam dormir ao hospital e eu estava metido num sarilho.
Isto não vos faz despertar nem pensar? Não teremos, sociedade e autarcas, capacidade suficiente para enfrentar estes e outros problemas? Não há pessoas disponíveis para ajudar?
Aos putos dos Flamingos deixo uma sugestão: antes que seja tarde, pressionem os papás, a câmara e a petrolífera do posto de combustíveis dos Barris a devolverem-vos aquele espaço para brincar.
Vocês também pagam impostos e têm direito à indignação. Façam muito barulho, se necessário.
1 comentário:
Uma Sociedade que despreze as suas crianças é uma Sociedade decadente.
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