Sempre defendi que as autarquias locais podem e devem ser agentes de desenvolvimento e modernização . Tal visão é manifestamente incompatível com a visão clássica mas estreita evidenciada pela Câmara Municipal de Alcochete , que persiste em , e citando Fonseca Bastos, «vender Alcochete como pólo logistico».
O post de Fonseca Bastos intitulado «Desconchavo» é , na minha perspectiva , um dos textos mais relevantes publicados sobre o futuro de Alcochete.
O que está em causa é , nada mais nada menos , do que a própria estratégia (ou ausência dela ) de desenvolvimento para o concelho , ou seja o rumo que se pretende seguir nas próximas décadas.
A opção da Câmara Municipal neste ponto parece ser a da clara afirmação de Alcochete como zona suburbana , periférica , vocacionada a tornar-se um mega entreposto logistico de mercadorias e de circulação de camiões TIR , em detrimento de uma opção qualificada que , como salienta e bem Fonseca Bastos , atraísse para o seu território investimentos , que na minha perspectiva seriam os mais compatíveis com a vocação que a sua inserção geográfica lhe proporciona.
Apesar de não me surpreender , não deixo lamentar que a Câmara Municipal não tenha percebido o potencial da localização de Alcochete na zona sul da Area Metropolitana de Lisboa , seja pela sua dimensão física e qualidade ambiental , seja pela acessibilidade privilegiada em relação a Lisboa-Cidade , aos grandes eixos rodoviários e ferroviários que ligam o Norte ao Sul e às grandes infraestruturas aero-portuárias existentes ou a edificar.
Uma opção minimamente compatível com a ideia de desenvolvimento sustentável , conceito que a Câmara Municipal obviamente desconhece , seria então aquela que , em função do aproveitamento do enorme potencial da localização de Alcochete , oferecesse às empresas , condições ideais para o desenvolvimento das suas actividades no seu território .
Mais , seria aquela que se traduzisse num forte desenvolvimento do sector terciário de qualidade média superior , estimulando , como têm feito outras autarquias , a criação de espaços, equipamentos e demais condições ideais para o desenvolvimento das suas actividades.
Tal opção determinaria a fixação no concelho de mais empresas , criando mais emprego e a fixação, como residentes , de mais quadros médios superiores , determinando assim , por via indirecta , um acréscimo significativo da receita fiscal da autarquia.
Para além disso , contribuiria para a sua afirmação como um espaço de qualidade residencial por força da inevitável necessidade de envolver e articular esse parque terciário com outros espaços cujos usos e funções lhes são complementares.
Refiro-me naturalmente às áreas habitacionais de standard médio-alto que vão proliferando por Alcochete a maior parte dos quais vazios por falta de compradores e que assim encontrariam um mercado alvo , bem como às áreas de serviços , comércio e turismo essenciais a uma resposta adequada às solicitações geradas a partir da terciarização do concelho.
A terciarização do concelho de Alcochete constituiria na minha modesta opinião um elemento fundamental da política de sustentabilidade urbana do concelho e a linha condutora essencial do seu modelo de desenvolvimento. Seria esse o núcleo mais importante do programa estratégico a consagrar ao nível do PDM de Alcochete.
Infelizmente não é essa a opção da Câmara Municipal e eu percebo porquê.
É que definir uma estratégia que vá além de autorizar a construção de uns quantos armazéns onde os camiões TIR carreguem e descarreguem mercadorias é um exercício demasiado complexo ao nível da qualificação para o actual executivo camarário. Seria uma mudança de rumo em relação àquilo que tem sido a politica autárquica deste concelho fora da capacidade de realização destes autarcas.
Conhecendo o perfil politico dos membros do actual executivo camarário e dos seus seguidores é fácil antecipar uma reacção a estas ideias. Serei naturalmente acusado , como aliás já o foi Fonseca Bastos , de elitismo assoberbado.
Se o fizerem , esquecem que o modelo que é proposto é pelo menos o mais coerente com o aproveitamento das sinergias emergentes da paulatina mas progressiva instalação do concelho de instituições e actividades que reconheceram no seu território , as potencialidades que acima descrevi . Refiro-me naturalmente à Academia do Sporting e , para o bem e para o mal , ao complexo comercial do Freeport.
Por fim resta-me uma vez mais apelar aos autarcas de Alcochete que pelo menos façam o esforço de ler a «Carta das Cidades a Áreas Urbanas e Europeias Rumo à Sustentabilidade» aprovada na Conferência Europeia para as Cidades e Áreas Urbanas Sustentáveis realizada em Aalborg no já longínquo ano de 1994. Diz-se na Carta a dado passo: «Nós , cidades e áreas urbanas , confiantes de que temos a força , o conhecimento e o potencial criativo para desenvolver formas sustentáveis de vida e conceber e gerir as nossas cidades rumo à sustentabilidade».
Infelizmente , no caso da Câmara de Alcochete , não há nem força , nem conhecimento e muito menos o potencial criativo para gerir o concelho e quando assim é...
2 comentários:
Por alguma razão os autarcas de Alcochete têm ignorado a Carta de Aalborg que, pela segunda vez, Luís Proença invoca neste blogue.
Mas na campanha eleitoral de 2009 será, certamente, invocada pelas candidaturas.
Que medidas seriam essas, destinadas a atrair outro tipo de investimentos, potenciadores de mão-de-obra mais qualificada?
E já agora, vejamos o seguinte cenário: uma empresa dirige-se à Câmara Municipal para instalar uma plataforma logística no concelho. A empresa tem tudo legal. A câmara pode impedir que a empresa se instale?
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