29 setembro 2007

Com papas e bolos

Este executivo municipal de Alcochete – e os anteriores, porque o problema não é recente – erra na forma como lida com os idosos.
Insiste na receita habitual usada pelos políticos para gastar o seu tempo – 99% em autopromoção e 1% a mudar a realidade – usando mal o dinheiro de todos em caridadezinha e caça ao voto.
Deveria prestar atenção às estatísticas (dados de 2001 sobre Alcochete: 10% de analfabetismo, 94,6% de índice de envelhecimento, 46,3% de índice de dependência total, 200 viúvos), além da inadequação de alojamentos a mobilidade limitada, 141 idosos em lista de espera no lar e dezenas de outros total ou parcialmente dependentes da assistência diária de instituições de solidariedade social, etc.
Há ainda estatísticas nacionais a ter em conta, como 27% de portugueses com mais de 55 anos, 17,3% com mais de 65 anos e 4,3% acima dos 80 anos.
E outras realidades conhecidas, como os "novos velhos" atirados borda fora por um país louco e à deriva: reformados aos 58 anos de idade, ou menos.
Conheço vários casos destes em Alcochete e a maioria goza de boa saúde, tem meios económicos razoáveis, cultura acima da média, especialização profissional, sensibilidade social e muito mais anos para viver.
Podiam ser úteis ao município e aos alcochetanos em geral. Mas esta sociedade insensível e desumana condenou-os duplamente.

Perante esta realidade, que fazem os autarcas?
Promovem, por estes dias, iniciativas pomposamente denominadas «Semana Sénior»: passeios de barco, lanches, bailes e cinema.
Segundo também li algures, recentemente uma junta de freguesia local levou seis autocarros pejados de idosos a Fátima, se a memória não me atraiçoa. Pasme-se: o sr. presidente da câmara e seu séquito apareceram ao almoço! Mero acaso, bem entendido.
Não me cansarei de escrever que o Município de Alcochete e os alcochetanos precisam, urgentemente, de outro tipo de autarcas. Gente que saiba governar em representação dos cidadãos, pondo-os acima de conveniências pessoais e políticas e gastando cada moeda como se fosse a última.
Pouco me importa que sejam comunistas, anarquistas, socialistas, social-democratas, trotskistas ou democratas cristãos. Desde que demonstrem ser gente decente, estou-me nas tintas para a militância.
Seres humanos bem formados e com experiência de vida, que compreendam a importância de iniciativas e organizações como esta. É um simples exemplo. Há milhares deles. Inclusive em Portugal.


P.S. - Faço um veemente apelo a especialistas na matéria, sobretudo residentes em Alcochete pois estão mais próximos da realidade e terão alguma percepção do problema: venham aqui demonstrar como se pode fazer mais e melhor pelos seniores.

2 comentários:

Anónimo disse...

"O sr. presidente da câmara e seu séquito apareceram ao almoço!"

Valha-me Deus, o Dr. Luís Franco está doido!!! Até já aparece em iniciativas promovidas pela Junta de Freguesia de Alcochete!

Sr. Fonseca Bastos, eu até percebo que tenha opiniões e posicionamento político diferentes do actual Executivo Camarário. Mas fazer de TUDO, um cavalo de batalha, parece-me, no minimo, exagerado! É evidente que o Sr. Presidente de Câmara tinha obrigação de estar presente no almoço de confraternização promovido pela Junta de Freguesia. E isto, a meu ver, não é "caridadezinha" é respeito!!!

Anónimo disse...

Demonstrar respeito pelos mais velhos não é gastar cinco horas de trabalho, combustível e mais alguma coisa para ir a um almoço.
Isso nem sequer é caridade, é demagogia. É caça ao voto! É controleirismo de baixo nível!
O Presidente da Câmara faria melhor se mandasse estudar como vivem os mais velhos no dia-a-dia, que problemas de sobrevivência enfrentam, que benefícios regulares pode o município conceder-lhes ou obter junto de entidades privadas e públicas, que qualificações possuem e como poderão ser aproveitadas em benefício próprio e colectivo, que desejam fazer da vida que têm pela frente.
Resolver essas e outras questões no gabinete, convocando as pessoas certas para o aconselharem, isso, sim, seria demonstrar verdadeiro respeito pelos que nasceram mais cedo e merecem um tratamento digno.

Alzira Frazão