O desinteresse intencional que os governantes têm manifestado em torno de formas de gestão participada dos assuntos de interesse local e nacional ficou uma vez mais patente no facto da única sessão pública de esclarecimento sobre o novo Plano de Ordenamento e Gestão da Reserva Natural do Tejo , agendada para Alcochete , ter tido lugar a um dia da semana pelas 10:00 horas da manhã.
Tal facto foi prontamente denunciado por Fonseca Bastos no seu «post» do passado dia 10 de Setembro.
A questão da participação ou mobilização cívica dos cidadãos na vida política local e nacional tem sido aflorada neste Blogue , e merece a nossa particular atenção na medida em que se trata de um dos principais indicadores do estado da democracia.
A pertinência desta questão assumirá na minha perspectiva uma importância crescente no futuro debate político nacional.
Perante o evidente esforço que os partidos de esquerda têm feito no que respeita à adopção de políticas ditas de direita , são cada vez menores e mais ténues as linhas que distinguem os partidos da direita e da esquerda.
O PS faz «reformas» que outrora não hesitaria em apelidar de «neoliberais» e até o Bloco de Esquerda (todo ele constituido por velhos partidos da extrema esquerda e grupos antidemocráticos) anda muito ordeiro e realista , assumindo inclusivamente o papel de governante da cidade de Lisboa , resignando-se ao prosaísmo do que em tempos apelidaria de «democracia burguesa».
A verdade é que este cenário pode até explicar o desastre dos partidos da direita , a quem já não basta gritar «ó da guarda vem aí a esquerda» para mobilizar a seu favor a preferência dos eleitores.
Então que fazer para demarcar a direita deste esquerdismo neófito nos papeís que reivindica?
Se já não é a democracia , nem o sentido das «reformas» , o caminho passará , na minha opinião , por um reforço na crença nos cidadãos e na sua capacidade de iniciativa e participação.
Uma das formas pela qual os partidos de direita podem evitar o efeito perverso desta evidente colagem da esquerda às suas ideias é assumirem a bandeira da luta pelo reforço dos direitos inerentes à cidadania.
Entre esses direitos estão sem dúvida os denominados direitos sociais urbanos , intimamente ligados à qualidade de vida , e que têm por objectivo a defesa dos cidadãos face aos novos problemas originados pelo desenvolvimento das urbes , e que até agora têm sido esquecidos , como aliás resulta evidente no exemplo que Fonseca Bastos nos trouxe a propósito do Plano de Ordenamento e Gestão da Reserva Natural do Tejo.
Questões como o acesso à Administração , consulta prévia , do direito à sugestão , petição e queixa , audiência pública , iniciativa regulamentar , gestão directa ou conjunta de infraestruturas de equipamentos , privacidade , segurança , e até a da defesa perante a agressividade comercial das empresas de serviços entre outras , podem e devem ser assumidas como traço inovador e distintivo da política dos partidos da direita em sede de poder local.
Só assim se poderá marcar a diferença face a uma esquerda que assumiu definitivamente o papel do «lobo disfarçado de cordeiro».
1 comentário:
Caro Luís, os partidos de esquerda só aparentemente adoptam políticas de direita. Não esqueça, meu amigo, as esquerdas de todo o mundo contemporizam quais tartarugas que nunca têm pressa de chegar ao ponto de chegada. É a isto que se chama socialismo fabiano que a maioria dos nossos chuchalistas não sabe o que é.
Então, o aumento de impostos em geral, a sobrecarga fiscal sobre as pequenas e médias empresas, o peso cada vez maior do Estado sobre a vida dos cidadãos, o ataque lento mas progressivo aos direitos individuais, etc., etc., etc., são políticas de direita?
Os partidos de esquerda encostam-se aos empresários sem que muitos destes percebam que estão a ser traídos, porque, ao fim e ao cabo, o grande alvo a arrasar é o mercado normalizado, isto é, o mercado sujeito a normas. É aqui que entram os "seus" «neoliberais» feitos com as esquerdas de todo o mundo para o controlo deste (eu sei que o meu amigo percebe o que estou a dizer embora possa não concordar).
Portanto, não são «...mais ténues as linhas que distinguem os partidos da direita e da esquerda». Para mim, a distinção entre direita e esquerda cada vez emerge mais como espaço de vida ou morte de uma civilização antiga de 2000 anos.
Onde o Luís quer chegar é às listas independentes como forma de resposta àquilo que considera ser mais ou menos o colapso dos partidos políticos. Se os partidos colapsaram, colapsou a democracia. Nisto não vou eu. Todo o trabalho a levar por diante é dentro dos partidos democráticos a favor da reabilitação destes e não contra eles.
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