Num dos seus pertinentes comentários ao «post» aqui editado por J.Marafuga em 31.08 sob o título de «As Listas de Independentes às autarquias , FBastos estabelece uma interessante conexão entre Informação e Participação dos cidadãos nos processos de decisão. Citando as suas palavras «Precisamos, muitíssimo, de gente pro-activa na política, disposta a pugnar pelos verdadeiros interesses da comunidade, inquestionavelmente interessada em informar e esclarecer os cidadãos para os envolver nos principais processos de decisão.»
É por entender que é na relação entre Informação e Participação que reside um dos pontos criticos do tão proclamado desinteresse do cidadão comum na vida politica da sua comunidade e do seu país , que não resisti em escolher este tema como pontapé de saída na minha participação como interveniente neste Blogue.
Tido por muitos como a única causa da apatia cívica generalizada da qual os «fenómenos» da abstenção ou das candidaturas independentes se afiguram como consequências mais evidentes , o fraco desempenho dos agentes políticos , dos partidos e seus dirigentes ,e a crescente desconfiança dos cidadãos na sua idoneidade , encobre uma outra causa , que apesar de menos perceptível , não deixa de ser tão ou mais relevante no que concerne ao alheamento dos cidadãos em relação ao seu direito a participarem na vida democrática. E essa causa explica-se numa frase muita curta: É QUE INFORMAR-SE CANSA!
A maior parte das pessoas acredita piamente que podem informar-se confortavelmente instalados no seu sofá a olhar para o Telejornal da TV. Puro Engano!
Os telejornais são estruturados como ficção. Não são verdadeiramente editados para informar mas sim para entreter. Tudo o que se consegue retirar dos telejornais é uma sucessão de acontecimentos apoiados quase sempre em imagems impressivas , violentas e espactaculares. São sucessões rápidas de noticias breves e fragmentadas que acabam por contribuir por um lado para uma sobre-informação , mas por outro para uma desinformação , num efeito duplamente negativo (muitas noticias , mas demasiado pouco tempo dedicado a cada uma delas).
Por outro lado , face à crise da imprensa escrita , esta viu-se obrigada a optar por aquilo que se pode designar como um verdadeiro mimetismo televisivo , adoptando as caracteristicas dos media electrónicos , com as primeiras páginas concebidas como ecrás , artigos reduzidos , personalização excessiva de certos jornalistas , excesso de títulos agressivos , prática do esquecimento e amnésia generalizada em relação a questões que perderam actualidade mediática.
A informação hoje em dia deve ser fácil , rápida e divertida. Este simplismo dos media , imposto pela ditadura do marketing editorial herdado da publicidade e da procura excitada de um número crescente de leitores impede que se encontre na imprensa escrita , análises profundas e mais exigentes do que aquela apresentada pelo Telejornal.
Este contexto prejudica obviamente a actividade de nos informarmos , actividade que para além disso exige esforço e uma mobilização intelectual para a qual a maior parte dos cidadãos não apresenta disponibilidade volitiva, numa era em que o entretenimento e o consumo nos afastam desse tipo de investimento , e é óbvio que a Informação rigorosa não é uma das vertentes do entretenimento moderno.
Nos raros momentos em que os cidadãos se envolvem na vida politica , nas eleições ou nos referendos , são inevitavelmente confrontados com a crescente personalização da politica , em que um partido ou uma proposta são umbilicalmente associados a um rosto ou a um nome.
Nesse cenário , os agentes politicos são chamados aos estúdios onde são postos a falar. Contudo , ao invés do aprofundamento das suas ideias ou propostas , os cidadãos são conduzidos invariavelmente pelos comentadores para uma mero aprofundamento do perfil do candidato em que o veredicto final passa pela consideração do politico como «convincente ou não convincente» , acabando por não haver grandes diferenças entre um programa dito de política e um programa de grande audiência de Sábado à noite.
Informar-se sem esforço é pois uma ilusão que nos remete mais para a publicidade do que propriamente para a mobilização cívica. Informarmo-nos cansa , mas todos deviamos estar cientes que é à custa desse esforço que os cidadãos adquirem o direito a participar de uma forma fundamentada , inteligente e oportuna na vida cívica. Informarmo-nos é pois uma actividade decisiva para a democracia. Infelizmente a maioria de nós tem cada vez menos oportunidades e vontade de aprofundar os problemas que verdadeiramente nos dizem respeito.
Eis outra das causas decisivas da apatia cívica.
Luis Proença
1 comentário:
Informar-se só cansará quem vive noutra galáxia, embora tenha de pagar bem caro o desnorte desta.
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