Durante os 10 anos em que exerci funções como autarca e assessor noutro concelho aprendi que a realidade ultrapassa muitas vezes a nossa imaginação. Mas também aprendi que as convicções dos autarcas , a sua capacidade de prever e programar e de mobilizar vontades e competências pode efectivamente moldar os contornos do futuro.
Neste aspecto em particular , e agora que conheço melhor a realidade do que tem sido a gestão autárquica deste concelho , não me restam dúvidas que os autarcas que têm passado pela Câmara Municipal de Alcochete têm falhado clamorosamente no que respeita à capacidade de programar e de mobilizar vontades e competências.
O contraste com o exemplo de Cantanhede apresentado por Fonseca Bastos é prova disso mesmo.
Mais do que votar numa sigla , aquilo que deverá fundamentar o sentido de voto de cada um dos municípes de Alcochete nas próximas eleições autárquicas é a resposta a uma pergunta muito simples.
Querem continuar a promover a eleição de autarcas que há muito assumiram como sendo uma fatalidade a transformação irreversível do concelho num espaço de trânsito de camiões de mercadorias ?
Ou , pelo contrário , devem confiar o seu voto a quem manifeste vontade de transformar essa aparente fatalidade em vantagem competitiva fruto da localização excepcional do Concelho?
Para quem goste minimamente desta terra a resposta parece-me óbvia.
Deveremos continuar a promover a eleição de autarcas resignados , ou pelo contrário devemos eleger quem visione o concelho de Alcochete como um município dotado de vida própria , dotado de espaços e equipamentos que elevem a qualidade de vida dos seus munícipes?
Será que a escassez de meios financeiros justifica uma política de resignação a essa aparente fatalidade?
Na continuidade do que aqui já avancei , uma das opções estratégicas que configuro como fundamental à qualificação do concelho passa pela respectiva «terciarização».
Essa opção impõe necessariamente que a Câmara Municipal promova , através dos instrumentos jurídico-administrativos ao seu dispor (Planos de Urbanização ,Planos de Pormenor , Protocolos , Contratos-Programa) , em paralelo com o trabalho de redefinição do PDM e em interacção com os organismos da administração central e com os promotores privados , a instalação no concelho daquilo que poderiamos apelidar de um parque do Terciário.
Com a projecção desse espaço estariam reunidas as condições básicas de apoio a iniciativas de promoção privada que contribuissem para motivar a instalação no concelho de empresas de serviços.
Dessa forma , a Câmara Municipal de Alcochete assumia o papel de «motor do desenvolvimento» , não tanto pelo seu investimento directo ( já todos sabemos que os recursos financeiros são muito limitados) , mas antes através dum processo de planeamento urbano capaz de antecipar e enquadrar uma dinâmica de investimento imobiliário que , no plano qualitativo , vá muito além do licenciamento da instalação das referidas plataformas logísticas ( leia-se «caixotes» em metal e betão).
Por outro lado , impõe-se que a Câmara Municipal aposte decisivamente em quadros que lhe permitam preparar convenientemente e com hipótese de sucesso , a respectiva candidatura aos diferentes programas comuntários de apoio em matéria de urbanismo.
A atracção do sector terciário médio-superior tornar-se-ia então um factor catalizador do desenvolvimento qualitativo do concelho.
Só para o leitor ter uma ideia e com base em casos reais que conheço , a instalação de um «parque de serviços» com cerca de 100.000 m2 representa a criação de pelo menos 5000 postos de trabalho , dos quais 75% correspondem a mão-de-obra qualificada. As plataformas logísticas instaladas actualmente no Concelho de Alcochete ( estarão cerca de 136.000 m2 licenciados) representarão pouco mais de 1000 postos de trabalho não qualificado.
O futuro deste concelho depende da eleição de autarcas motivados e competentes que assumam de caras os riscos inerentes ao início de um processo de planeamento estratégico que se traduza num salto qualitativo para o concelho.
Com todo o respeito que me merecem , a verdade é que já todos constatámos que os actuais responsáveis autárquicos , na senda dos anteriores ,há muito que assumiram como fatalidade , que o concelho de Alcochete não pode ser muito mais do que um «espaço de trânsito de camiões TIR».
1 comentário:
Luís Proença aponta um rumo diferente e deixa caminho aberto para continuar a debater o tema.
Privilegiarei esta discussão, nos próximos tempos, por entender tratar-se de questão crucial para que os futuros autarcas terão de ter soluções ao candidatarem-se.
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