15 julho 2006

A transmutação dos valores

Quando ouvimos falar de globalização, não estamos apenas perante um problema político-económico, já que a dita aldeia global interfere com todos os planos da vida humana.
Um desses planos é o religioso.
A globalização, cuja mola impulsionadora mais dinâmica é a esquerda chique americana, vem horizontalizar tudo. A ideia de Deus que a Cruz representa com o traço vertical é totalmente excluída. Mas o globalismo de todos os cantos do mundo não retira Deus do coração dos homens sem preenchê-lo com um substituto.
Esse substituto é o ambiente elevado à categoria de deus. E por que isto é tão fácil assim? Porque ninguém no gozo pleno das faculdades está contra o ambiente.
A partir da divinização do ambiente, isto é, da divinização da criatura, cúmulo de abjecta imanência, transmutam-se todos os valores. Estes agora são a agricultura biológica, a preservação da floresta, os direitos dos animais, etc. Em termos de estrita lógica, como se pode estar contra estes valores e a favor do ambiente? Dentro destas grades vive a maior parte das pessoas.
Ora a defesa do ambiente não se faz por amor ao ambiente mas por ódio ao desenvolvimento.
A agricultura biológica opõe-se a toda a exploração da terra que utilize adubos químicos. Mas se estes fossem preteridos pelos agricultores, em pouquíssimos anos morreriam de fome milhões e milhões de pessoas.
A preservação da floresta e os direitos dos animais são utilizados, por exemplo, para obstaculizar a construção de grandes acessibilidades. Isto não acontece só na América Latina. Leia-se "Ratos impedem avanço do IP8" (Sines-Beja-Espanha) em http://www.setubalnarede.pt :«"Entraves" como "plantas que ninguém sabe o nome e ratos que se dizem únicos" têm "impedido a implementação dos projectos turísticos no Litoral Alentejano" e o "desenvolvimento de melhores acessibilidades", considera o presidente da Caixa de Crédito Agrícola de Santiago do Cacém. Jorge Nunes diz ser a descoberta de um rato "que dizem raro" que "tem impedido a construção do IP8"...».
Poder-me-iam perguntar: mas as coisas são mesmo assim? Respondo: sim, são! Porquê? Porque é à custa do sub-desenvolvimento e grandes catástrofes humanas que se torna possível impor e fazer prevalecer ideologias de esquerda perfilhadas por todos os ambientalistas.

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro Marafuga, desculpe mas a sua arguentação não nos conduz ao desenvolvimento. Teremos à partida de definir desenvolvimento. "P'ra mim, e do pé p'ra mão", desenvolvimento é a aquisição de novas competências ou valores, no caso sociais ou comunitárias, sem pôr em causa as aquisições conseguidas.
Implementar projectos turísticos ou de "melhores" acessibilidades tipo IP8 não é desenvolvimento. E "p'ra mim" nem é preciso apelar aos "valores ecológicos", basta apelar à noção de desenvolvimento.


O que o presidente da Caixa de Crédito Agrícola de Santiago do Cacém quer com a "implementação dos projectos turísticos no Litoral Alentejano" e o "desenvolvimento de melhores acessibilidades" não é de certeza algo de muito diferente do "desenvolviemnto" turístico à moda do Algarve!

A não ser que o sr presidente da Caixa de Crédito Agrícola de Santiago do Cacém se esteja a referir a projectos turisticos baseados em valências de agro-turismo, turismo rural, eco-turismo, turismo cultural, turismo de baixa ocupação do território, turismo baseado nas singularidades locais e irrepetíveis.

De certeza que ele não está a pensar nestes tipos de turismo. Afinal fala-nos do IP8! Ele quer turismo de massas, de Sol e praia associado ao jogo de Tróia - aposto ...

Aliás, a América latina está pejada de "desenvolvimento imobiliário" com muitos projectos turísticos de betão e muitas autoestradas - veja-se as megapólis deles... e ao que leva ... ao desenvolvimento?

Unknown disse...

Como pode separar a implementação de projectos turísticos ou a de acessibilidades do desenvolvimento?
Quem hoje está a favor da algarvização do Litoral alentejano?
Face ao desenvolvimento do Litoral Alentejano, querem-me prender à ideia da algarvização ou à de nada se fazer. Isto é uma falácia! Então não há uma solução de equilíbrio?

Anónimo disse...

Resposta à primeira pergunta: Porque há casos em que os benefícios dos projectos turísticos e das melhorias de acessibilidades não compensam os problemas que desencadearam - partes do Algarve, costa da caparica e outros mostram isto à saciadade!

Resposta à segunda pergunta: muitos autarcas do litoral algarvio (ex: o de Grandola) ou o presidente da Caixa de Crédito Agrícola de Santiago do Cacém?

Comentário 1: "não se fazer nada" não é alternativa à "algarvização do litoral Alentejo". Há milhentas coisas a fazer, umas melhores outras piores. Exemplos nacionais de entre as melhores: vale do Douro, alguns empreendimentos alentejanos, Óbidos, Évora, Guimarães, Açores, Marvão, Vila de Sintra, alguns pontos do Algarve... As que parece defender já deram provas de não serem as melhores. É a velha política do facto consumado, da ausência de crítica, doa patos bravos, da "urgência do desenvolvimento" a todo o custo que campeia em Portugal. Aliás é o que está a matar o Montijo e o que não queremos que aconteça em Alcochete!

Comentário final - não há nenhuma falácia - a que alude emerge apenas da sua manipulação das proposições que utilizei.

Unknown disse...

O meu amigo desconfia do desenvolvimento. Essa desconfiança, em si ou em quem quer que seja, procede de uma estrutura mental de esquerda, ainda que repudie a minha asserção. Por que falo assim? Em que parte do mundo é que o socialismo (lato sensu) gerou riqueza? Como é que esta é possível sem desenvolvimento? Este pode ser culpado pelos erros do passado, sobretudo cometidos no Algarve? Se um indivíduo me ofende, quem tem culpa? A Humanidade ou o dito cujo?
Pela razão evidente de que foram cometidos erros, vamos desistir do desenvolvimento sustentado onde quer que seja?
Em ralação a Alcochete, quero que a minha terra se desenvolva, mas obviamente que não preciso de demolições como a do Solar Velho, mamarrachos como o do Moisém, restauros como o da capela de Nossa Senhora da Vida, etc. Isto não é desenvolvimento; isto são crimes que na minha opinião poderiam levar os responsáveis ao banco dos réus.

Unknown disse...

Tal como Francisco Sá Carneiro acreditava, eu acredito que é possível conciliar o desenvolvimento com a justiça.

Anónimo disse...

Nada nos meus textos anteriores permite concluir que "O meu amigo [eu] desconfia do desenvolvimento". Absolutamente nada.

A conclusão que pode tirar, porque é aquilo que eu quis dizer, é de que um desenvolvimento nos moldes do delineado pelo presidente da Caixa de Crédito Agrícola de Santiago do Cacém que citou , não é desenvolvimento. É a multiplicação da má "algarviada".

O bom desnvolvimento é o que resultar de uma intensa barragem crítica por parte da sociedade. Seja acente em valores ecológicos, religiosos, económicos, filosóficos, culturais.
Agora, o desenvolvimento dirigido por unidades sábias isentas, na prática, de escrutínio não é desenvolvimento!

Repito:Nada nos meus textos anteriores permite concluir que "O meu amigo [eu] desconfia do desenvolvimento". Absolutamente nada.

Anónimo disse...

Outro dia um colega, técnico de manutenção queixava-se de que o novo sistema de gestão ambiental era um bloqueio no que dizia respeito à sua actividade. Dizia ele: "Queremos que o sistema seja implementado mas nós temos que trabalhar também. Entrámos em diálogo com os técnicos do ambiente e melhorámos os nossos procedimentos". Esta situação ilustra bem como funciona tal sistema. Qual o seu âmbito de aplicação? Eu diria todas as em presas ou organizações mesmo os processos que incluem chaminés, as que gerem resíduos poluentes e perigosos. A associação do ambiente a salinas e arrozais(vide site da câmara)é um mero expediente de propaganda porque o sistema é transversal a todas as actividades e locais. Isto é demonstrativo de uma visão muito antiquada sobre esta temática. Os emprendimentos devem construir-se, os estabelecimentos agrícolas, industriais, turísticos, hospitalares, escolares, devem ser instalados, devem funcionar vinculados ao que as leis ambientais e outras prescrevem. Quando o responsável autárquico cessante interpela um órgão de soberania (PR)dizendo que o ambiente é um custo podemos sempre retorquir com outra interrogação: A falta de protecção do ambiente não terá um custo ainda superior?
Presumo que sem vontade política para levar por diante e cumprir as promessas eleitorais jamais veremos tal sistema a ser implementado localmente com todas as vantagens inerentes: melhoria do diálogo intra-organizacional,levantamento ambiental,monitorização dos índices de desempenho, educação ambiental, melhoria da imagem da terra, qualificação e certificação das organizações, envolvimento da população, elaboração dos planos de emergência e prevenção de acidentes graves, redução dos diversos tipos de poluição e desenvolvimento com tecnologias limpas.

Luis Pereira