07 julho 2006

Apelo à consciência colectiva

Antigamente os dirigentes das colectividades usavam a imaginação para cativar associados e angariar receitas que permitissem uma gestão equilibrada.
Buscavam novos sócios e donativos de porta em porta, organizavam festas e bailes a pretexto disto e daquilo, alugavam salões e salas para fins privados, exploravam sabiamente restaurantes e bares, procuravam manter as quotizações em dia, prestavam serviços úteis à comunidade, promoviam torneios, vendiam rifas, etc., etc.
Enfim, desdobravam-se em iniciativas para manter a agremiação activa e garantir a sobrevivência com dignidade.
Não obstante as tremendas dificuldades diárias, muitas colectividades chegavam ao final do ano com saldo amplamente positivo e isso permitia-lhes crescer, traçar novos objectivos e sonhar.
Com o beneplácito da maioria dos cidadãos – que não protestam nem reclamam do esbanjamento inútil de dinheiro saído do bolso de todos – há anos que boa parte das colectividades alcochetanas depende, sobretudo, dos subsídios municipais.
Trata-se de uma inversão de princípios, porque os subsídios deveriam ser complementares à actividade normal, atribuídos a título excepcional e apenas se a manifestação apoiada redundasse em benefício da comunidade envolvente.
Até 2001, a atribuição de subsídios pelo município fundamentava-se num documento genérico denominado Bases Gerais de Apoio às Colectividades, vigente desde 1990.
No mandato seguinte seria introduzido o denominado Regulamento de Apoio ao Movimento Associativo, aprovado na Assembleia Municipal a 27/9/2002, que pode ser consultado aqui.
Esse documento continua em vigor e deveria ser respeitado exemplarmente pelo executivo, mas quem esteja atento às listagens de subsídios regularmente publicadas pelo município na Imprensa e ao que se vai sabendo, aqui e acolá, tem legitimidade para questionar se tal sucede na prática ou se na distribuição de benesses influem mais critérios políticos que princípios de transparência, equidade e justiça.
Eu sei que os autarcas sabem haver muito dinheiro esbanjado inutilmente com colectividades mal geridas e outras cuja existência é geralmente desconhecida. Algumas nem sede aberta possuem e, em casos pontuais, só sabemos existirem porque figuram nessas listas.
Eu sei que os autarcas sabem haver certa colectividade desportiva, participante em competições distritais, relativamente à qual se apuraram dívidas acumuladas de valor muito superior à sua capacidade financeira, sinais de gestão equívoca e desregrada e em sérias dificuldades para encontrar um novo rumo. Não faltam interessados na sua gestão, o problema é que ninguém deseja arcar com a "pesada herança". Não é caso inédito, acreditem.
O que sugiro à comunidade é maior atenção ao que por aí se passa e que questione insistentemente os eleitos locais sobre a gestão corrente de fundos públicos, porque os contribuintes estão sufocados pelos impostos e as empresas continuam a falir, embora haja quem desperdice o dinheiro que tanto custa a ganhar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, estamos tramados: cada vez o Estado pode menos, cada vez cobra mais e vemos estas palhaçadas.

Este despudurado desperdício de recursos do país continua, em circuitos fechados de amigos. Não é certamente em nome do bem comum.

A oposição política, essa continua muda e calada (só se justifica por comer à mesma mesa... só pode).

A comunidade essa passa, sofredoramente, por pagadora e fica indiferente! Enfim é a enganada da história.

Isto tem outro futuro? ...Dúvido...

Isto é um caminho para a extinção...

Fonseca Bastos disse...

Caro RPMRibeiro:
Compreendo a sua justificada mágoa, pois também creio que, inconscientemente, caminhamos para o abismo.
É com a indiferença e o distanciamento da comunidade que "eles" contam. Que só continuará enganada enquanto quiser.
Ainda acredito que haja melhor futuro. Mas ele depende da existência de outras lideranças políticas e da vontade dos cidadãos em dizer basta.
Se a extinção a que se refere é a do município, por enquanto parece-me afastada. Não será improvável no médio prazo (até porque há, nas cercanias, quem tenha já demonstrado possuir mais poder que alguns supostos dirigentes políticos locais), mas se houver falência técnica primeiro virá o Estado tomar conta do assunto (vide exemplos de Setúbal e Marco de Canavezes).
Então cortar-se-á a eito e depois logo se vê...

Anónimo disse...

A extinção de que falo e que me preocupa é extinção da qualidade de vida de "origem natural" e é a extinção das potencialidades locais.

Repare, o não aproveitamento de potencialidades já é censurável - mas tolera-se aquando de crises "congelantes".

Agora, o que é grave é a "destruição" ou redução de potencialidades de desenvolvimento de um local por força da mera ausência de visão estratégica ou do anestesiamento da discussão pública.

E deste anestisiamento, todos os agentes políticos de Alcochete são responsáveis. Sim, TODOS!

Por inerência das coisas, TODOS NÓS, os CIDADÃOS, somos responsáveis por aceitar ou não contrariar este anestesiamento!

Fonseca Bastos disse...

Caro RPMRibeiro:
A extinção a que alude também frustrou as expectativas de quem trocou dormitórios por Alcochete e anulou a atractividade desta terra.
É por estarmos enredados numa crise terrível que se justificaria o máximo aproveitamento das potencialidades locais, o que jamais se conseguirá sem a imaginação e a criatividade de muitos ou mesmo de todos.
Não, meu caro, já não há agentes políticos em Alcochete. Uns correm o risco de ser detidos se abrirem a boca. Outros talvez venham ainda a bater com os costados no banco dos réus. Sobram poucos e têm medo de perder o emprego, o biscate ou o subsídio.
Mas daqui a dois anos e meio todos estarão de volta, amigos como dantes, cheios de projectos, de ideias e de promessas.

Fonseca Bastos disse...

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=207614&idselect=11&idCanal=11&p=200