19 julho 2006

Descubram, replantem e protejam samoucos


José António dos Santos Pinheirinho, na interessante obra citada neste texto, apresenta duas teses sobre a origem da designação da vila de Samouco: uma liga-a à existência de um tal Sá, surdo (mouco), em tempos popular na zona; e outra aponta a origem numa espécie arbórea florestal folhosa, variedade de faia que será possível relíquia da época do Terciário (entre 65 milhões e 1,6 milhões de anos atrás), característica de solos arenosos próximos de pinhais.
Esta última tese prendeu a minha especial atenção e estimulou algumas pesquisas na Internet.
Apurei que a Myrica Faia – popularmente conhecida, em vários pontos de Portugal Continental, nos Açores e na Madeira, como Samouco, Faia-das-Ilhas ou Faia-da-Terra – é já muito rara no Continente, estando em risco de extinção. Existem alguns exemplares na Serra de Sintra, perto de Vila Nova de Milfontes e no Pinhal de Leiria.
É uma espécie especialmente protegida nos Parques Naturais de Sintra/Cascais e do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, constando do Anexo II da Directiva 92/43/CEE como espécie de conservação prioritária e valor florístico. Os locais da sua ocorrência são considerados áreas de valor florístico muito elevado.
O desafio que lanço é este: alguém sabe da existência de Samoucos, Faias-da-Terra ou Faias-das-Ilhas na área da vila de Samouco e arredores? Existirá nos terrenos da Base Aérea do Montijo, considerando que os pinhais de outrora foram preservados até meados do século passado?
Não encontrei qualquer pista sobre isso, mas recomendo pesquisa atenta no terreno e peço que me informem se encontrarem algum exemplar. Pela minha parte farei o mesmo.
Apresento acima uma imagem esclarecedora (click sobre ela para ver ampliação), retirada daqui.
Admito, porém, que tal variedade de faia possa ter desaparecido destas paragens. Mas tratando-se de uma espécie arbórea que, embora ameaçada, existe ainda em vários pontos do país, parece-me que deveria surgir um movimento de cidadania para a sua reposição na vila de Samouco.
Possivelmente com o apoio e cooperação do Instituto de Conservação da Natureza (que tutela os parques naturais acima citados) ou similares das regiões autónomas.
Escolas, autarquias e cidadãos de Samouco bem podiam contribuir para a substituição da tão maltratada árvore nacional do Canadá (plátano), profusamente disseminada nas artérias da vila, por uma faia cujo nome me parece um símbolo local e que, a julgar pela imagem acima, é muito bonita.

P.S.-Prosseguindo nas minhas investigações sobre a Myrica Faia, descobri posteriormente ser abundante nas ilhas do Faial (cujo nome se diz derivar deste arbusto ou árvore) e da Graciosa.
Outra importante pista nesta página, pertencente ao Governo Regional da Madeira.
Há ainda uma árvore do género no Pinhal de Leiria, possivelmente centenária, com mais de 45 metros de altura.

Muito importante: ver também as imagens desta página. Demonstram a variedade de tons dos frutos, descritos noutra fonte como saborosos quando maduros.

3 comentários:

Unknown disse...

Samouco, és planta.
Pareces faia.
Ao vento dança,
Linda catraia!

Nota: esta quadra é de autoria de João Marafuga

Fonseca Bastos disse...

Boa inscrição para colocar junto à primeira Samouco que for descoberta ou plantada.

Anónimo disse...

Chamo a atenção para a coincidência dos prefixos dos seguintes termos:
Samouco, Sabonha, Samora(Correia) em espanhol Zamora. O que significa estre prefixo Sa?
Luis Pereira