03 julho 2006

Alcochete 7


Uma alcochetana do alto da sua charrete (primeira metade do séc. XX). Alguém sugeriu que eu fizesse acompanhar estas fotos de textos sobre o passado de Alcochete. Embora a pessoa em causa mereça todo o meu respeito, a verdade é que já não olho para a História Local como há tempos atrás. Falar do passado pelo passado, ou seja, tomar o passado como fim, é fazer o jogo das esquerdas. Tudo o que venha truncado na área do labor intelectual faz o jogo das esquerdas. O passado só vale para iluminar o presente e encarar prevenidamente o futuro. Nos anos cinquenta ainda havia em Alcochete muitas charrettes. Esta foto faz-me lembrar uma cena terrível passada no Verão de 1957. Os salineiros estavam em greve, muitos deles presos e muitos mais feitos malteses pelos campos fora. Num Domingo, depois da missa, uma senhora cujo nome ainda não me atrevo a pronunciar, subia majestosa para o alto da sua charrette. Em baixo, um grupo de salineiros, chapéus nas mãos, pedia-lhe clemência. Então ela, aos gritos, que ainda ressoam nos meus ouvidos, bradava e repetia: «seus comunistas...seus comunistas...eu hei-de prender-vos a todos!» Mas como é que um miúdo de sete anos, in illo tempore, haveria de perceber isto? Hoje já percebo e sei que os comunistas não se prendem, desmascaram-se.

4 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pelas excelentes e memoráveis fotografias ora reveladas. Elas são a memória perene, apesar de todo o saudosimo que encerram, de uma sociedade onde a arraia miúda viveu oprimida, pobre, desprezada, sem igualdade de oportunidades.
Memorável quadro para ser exposto aos novos residentes como alusão às raizes e identidade do nosso torrão natal.

Luis Pereira

Unknown disse...

Luís, a galeria ainda só está no começo!
Obrigado.

Anónimo disse...

Os comunistas não se desmascaram... só se desmascara quem tem máscara. Os salineiros eram salineiros ou eram comunistas?

Unknown disse...

"Os salineiros eram salineiros", mas quando afirmo e mantenho que "os comunistas não se prendem, desmascaram-se", já estou num plano semântico distinto do da dita senhora, Deus a haja em paz.