09 julho 2009

Marafuga a Patrícia (3)

A Patrícia queixa-se de que eu «...ref[iro] constantemente o Cristianismo e os seus valores como sendo os valores da Sociedade Ocidental» sic. Ora se a Sociedade Ocidental é a civilização judaico-cristã, como me poderei furtar ao facto denunciado pela Patrícia? Se os valores da Sociedade Ocidental não são os cristãos, quais são então os valores dessa Sociedade? É capaz de me esclarecer? Se o nosso debate não partir de uma plataforma mínima de cientificidade, não estamos aqui a fazer nada a debater.
Continuando: a ideologia marxista que está na raiz de todas as esquerdas é ateia. Esta minha asserção dispensa demonstração tal como aquela outra de que os valores do cristianismo são os valores da nossa civilização dispensam-na também. Não estou agora a fazer uma tese para uma graduação qualquer senão a partir da ideia de que há ideias assentes universalmente para todos. Mas retomando o curso do discurso: digo com toda a sinceridade que eu não sei como se pode ser cristão e simultaneamente perfilhar uma visão de esquerda do homem e do mundo. O comunismo, cuja "filosofia" é o marxismo, é apenas um materialismo, isto é, apenas uma imanência negadora da Transcendência. O que eu estou a dizer não pode ser negado por quem tenha lido um mínimo de literatura marxista...se for alguém intelectualmente honesto. Na verdade, todas estas coisas que insistentemente tenho afirmado neste blog são do que é mais básico no marxismo.
Estou de acordo: quem «...não aceita[-] e teme[-] a diferença», pior que ignorante, é racista. Ora o racismo tem muitos traços comuns com os totalitarismos, nomeadamente o de raça (nazismo) e o de classe (comunismo). Eis a razão mais que suficiente para fugirmos da não-aceitação da diferença do outro a sete pés.
Deixar os dogmas? Mas como? Dogma, do grego, significa decisão, decreto, sentença. O respeito que eu devo à Patrícia é um dogma porque algo decidido entre nós que não carece de demonstração. Mas sem o respeito que devemos uns aos outros não poderíamos viver. Se não vivêssemos, não faríamos Matemática, ciência esta que jamais poderá demonstrar pelas próprias fórmulas o dogma de que nos devemos respeitar uns aos outros. Se calhar, a Patrícia refere-se a outro tipo de dogmas, por exemplo, ao dogma da Imaculada Conceição, isto é, Concepção. Não vêem muitas Patrícias deste mundo que o dogma da Imaculada Conceição é uma forma radical de a Igreja Católica humanizar e, até, espiritualizar a sexualidade. Somos homens e mulheres e não montes de carne. Ora os filhos do espírito não são filhos do falo, por outro modo de dizer, o falo não faz filhos do espírito, isto é, não faz filhos de Deus. Então, já percebe o dogma da Imaculada Conceição? E se em relação a todos os outros dogmas se passar o que se passava com o da Imaculada Conceição? Não esqueça a Patrícia: perante o desconhecido, a primeira reacção do ignorante é rir.
Claro que «...a diversidade é o que nos caracteriza», mas por mais diversos que a Patrícia e eu sejamos, ambos, de certo, concordamos que dois e dois são quatro, que o céu azul de dia ou estrelado de noite está por cima de nós, que há uma moral comum a todos, etc.
Finalmente, a seguir ao já comentado só me merece comentário a insinuação de que sou uma «...pessoa[-] de geraç[ão] mais antiga[-]...». Não sei nem estou interessado em saber que idade tem a Patrícia, mas garanto-lhe com toda a honestidade de que sou feito que o sexagenário Marafuga é várias décadas mais novo que a Patrícia.

3 comentários:

Anónimo disse...

Boas, Sr. JMarafuga

Por ordem decrescente:

- Não fiz nenhuma insinuação, disse o que escrevi. Não me merece comentário a questão da idade, uma vez que, como pôde ler, a expressão "pessoas de gerações mais antigas" remetia para a mentalidade e não somente para a idade física.

- dogma
s. m.
1. Ponto fundamental e indiscutível de uma crença religiosa.
2. Máxima, preceito.

Neste caso, naturalmente, referia-me à acepção nº 1.
Devo talvez agradecer-lhe a "aula", ainda assim.
Como a minha primeira reacção não foi rir, deduzo daí que não me está a chamar ignorante.

"a ideologia marxista que está na raiz de todas as esquerdas é ateia"
até pode ser, mas onde diz que o ateísmo é o contrário do cristianismo? e por que razão o ateísmo (que é também uma crença) é grave?
Porque os valores do Ocidente assentam no Cristianismo? e se não houvesse Cristianismo, viviamos no caos? Então e antes de existir Cristianismo não havia civilização? Os valores por que nos regemos hoje em dia (como o respeito, referido por si) não existiam nas civilizações pagãs?
Roma pré-cristã não é exemplo de um sistema organizado?
O Cristianismo não inventou isto.
Até porque actualmente a "sociedade moderna não é assente na fé, muito menos numa fé única, mas pelo contrário na dúvida, no pluralismo e na tolerância" (M.B. 2009)
Por esta razão discordo da definição "civilização judaico-cristã", mais uma vez porque uma civilização não se define em termos religiosos, muito menos quando se é livre para escolher em que acreditar. Mas isto são opiniões pessoais, e eram estas que contestava no comentário original.

"digo com toda a sinceridade que eu não sei como se pode ser cristão e simultaneamente perfilhar uma visão de esquerda do homem e do mundo"
se partir do princípio que a religião é algo pessoal e cada um é livre para decidir a sua, vai ver que é muito mais fácil.

"O que eu estou a dizer não pode ser negado por quem tenha lido um mínimo de literatura marxista...se for alguém intelectualmente honesto"
Não neguei nada do que disse em relação ao comunismo, apenas acho que se limita nos seus argumentos, pois estes são partilhados não só por movimentos políticos, como também por pessoas alheias à política.
Não li Karl Marx, nem sei sequer o que é considerado o mais básico no marxismo, mas o que estamos a discutir não é apenas a política comunista, ou é?
Pensei que estávamos a partilhar diferentes visões sobre vários aspectos (que eu não considero como maus) associados aos partidos de esquerda e tidos, por si e outros, obviamente, como "exploração da ignorância".

- Quanto à cienticificidade, os factos deve conhecê-los... já enumerei alguns a respeito dos valores originais não serem os Cristãos. Portanto posso perfeitamente não concordar que me diga que a base da Sociedade Ocidental é o Cristianismo. Qualquer sociedade minimamente civilizada, a.C. e d.C., partilha valores como os que nós consideramos básicos, independentemente da sua religião.

Eu dei-lhe a minha opinião sincera e, embora não cite literatura, evitei o "é assim porque sim".
E agora pergunto eu: fui capaz de o esclarecer?

A questão é simplesmente o quão redutor é certos tipos de associação.

E não se chateie comigo porque questiono o que diz, só tento perceber.

Helder Fráguas disse...

Na minha modesta opinião, a questão da idade apenas releva se estvier em causa a maturidade

Anónimo disse...

Para mim não tem relevância.
Maturidade e imaturidade existem em todas as idades.