03 julho 2009

Erro estético imperdoável




Infelizmente sem máquina fotográfica, passei hoje no Largo de São João e deparei com o biombo em que se anuncia a recolocação do poço (ou uma réplica?) na sala de visitas da vila de Alcochete.

Porque sou coleccionador de documentos e depoimentos de memórias locais, deixo aqui lavrado o meu enérgico protesto pelo desrespeito estético e artístico da estátua do Padre Cruz, obra do escultor Luís Valdés Castelo Branco, uma referência da vila e local de recolhimento e oração de inúmeros naturais, residentes e forasteiros.
A estátua foi inaugurada nas comemorações de 15 de Janeiro de 1969 e representa o sacerdote de corpo inteiro, paramentado com casula gótica, face voltada para a Igreja (matriz de Alcochete) a quem sempre serviu em dedicação total.
A figura, de braços abertos, apresenta uma postura de saudação e acolhimento fraternal a quem na época entrava na vila pelo seu principal acesso, a antiga Rua do Rato e actual Avenida 5 de Outubro. O eixo da via coincide com a base do pedestal do monumento, mas esse efeito perdeu-se, na actualidade, dado que a artéria tem sentido único e ascendente.
O bronze assenta sobre um plano ligeiramente inclinado de pedra branca, que liberta a frente da estátua do contacto directo com a população que, no entanto, pode tocar o pedestal e depositar flores, pela parte de trás, numa circulação que não prejudica o monumento.
Quem decidiu agora recolocar o poço no local original ignorava a concepção estética do autor da estátua? Desconhecia que, ao entrepor o poço entre a estátua e a Igreja Matriz, a leitura artística do monumento é adulterada?
Para mim é inconcebível que o Padre Cruz deixe de estar diante da Igreja mas de um poço
(ou uma réplica?)!



Embora aplauda a devolução do poço
(ou uma réplica?) aos alcochetanos da velha guarda e da nova vaga, recolocá-lo no sítio original, quarenta anos depois da estátua, representa mais um atentado à sala de visitas da vila, que outrora teve belos canteiros floridos mas cuja requalificação com empedrado, há alguns anos, a transformou em deserto ardente no Verão e uma ratoeira escorregadia no Inverno com certo tipo de calçado.

Por favor escutem: estão a tempo de evitar um erro!
Coloquem o poço à entrada da Rua do Mercado, no local onde até há semanas existiu o canteiro mais viçoso e perfumado de Alcochete!
O poço é um símbolo e ficará melhor aí. Afixe-se junto dele uma placa explicando onde estava originalmente e por que mudou de local.

Por favor não cometam erro semelhante ao ocorrido com a estátua de D. Manuel I, cujo autor quis o bronze recortado sobre as paredes brancas da Quinta da Praia das Fontes, efeito que, muitos anos volvidos, alguém decidiu subverter ao plantar palmeiras vulgares e arbustos inúteis entre o edifício e a obra escultórica.

1 comentário:

Unknown disse...

Bom, sr. Bastos, o que eles vão fazer é, de facto, uma réplica.
Quanto à emenda que o sr. Bastos sugere, para um alcochetano, seria pior que o soneto.