12 março 2009
Pensar não causa calvície
Há estatísticas municipais interessantes ou preocupantes, dependendo dos pontos de vista, relativamente às quais fico na expectativa de conhecer planos e ideias de quem aspira a sentar-se no primeiro gabinete da ala esquerda do primeiro piso dos Paços do Concelho.
Em 2006 – quando ainda era possível captar receitas significativas no sector imobiliário – os encargos com pessoal representaram 51,13% das despesas totais do nosso município. Nesse ano, a média nacional foi de 30,71% e a da Península de Setúbal de 43,59%.
Mais: Alcochete foi, entre os 18 municípios da Grande Área Metropolitana de Lisboa, o que maior percentagem das despesas aplicou em pessoal no ano de 2006.
As estatísticas oficiais com difusão geral e irrestrita apenas mencionam esses dados desde 2003. E as despesas com pessoal agravam-se, significativamente, desde 2005, quando o Município de Alcochete passou a ter a maior percentagem relativamente aos demais da Área Metropolitana de Lisboa.
Eis os dados conhecidos de anos precedentes:
2003 - 43,8%
2004 - 42,91%
2005 - 47,91%
Com receita por habitante de 808€ em 2006 – superior em quase o dobro à média dos municípios da região e, na área da Grande Lisboa, só inferior à do município da capital do país – 38,18% dessa receita veio de impostos e 21,83% de fundos municipais. O resto (cerca de 40%) resulta, maioritariamente, do imobiliário, porque as receitas próprias sempre foram baixas.
Três anos depois, com o imobiliário estagnado e a cobrança de impostos em curva descendente devido ao arrefecimento da economia, o município sobrevive a expensas dos fornecedores?
Não sei responder, mas seria bom haver explicações antes que algum perca a paciência e decida requerer a falência da câmara.
Por estas e outras razões serão vãs quaisquer promessas eleitorais irrealistas, a que ninguém ligará a mínima importância porque enquanto houve dinheiro pouco se fez de útil e hoje não há milagres: cada obra de valor significativo implica mais um empréstimo bancário. Ou seja, quem vier a seguir que pague a conta.
Haverá por aí gente corajosa, capaz de prometer menos câmara e melhor câmara: reduzir despesas com pessoal em 20%, aliviar encargos fixos em 25%, diminuir a subsídio-dependência em 90% e aumentar receitas próprias em 50%?
Essa coragem tem risco eleitoral elevado: honrosa derrota ou vitória histórica se a maioria dos eleitores não ficasse sentada em casa.
Vem a talhe de foice recordar que, a 17 de Dezembro passado, escrevi aqui um texto intitulado «É possível alumiar o futuro», de que não me arrependo embora no dia imediato quase fosse crucificado por Luís Proença (com este texto), o qual, menos de duas semanas depois, abandonaria este barco para pilotar o seu.
A solução por mim então apontada é exequível e poderia mobilizar os eleitores. E mesmo que a actual maioria rejeitasse a coligação, as restantes forças tinham condições para a desfazer em cacos.
De contrário, antevejo uma campanha eleitoral autárquica insuportável e, como também escrevi em tempos, abstenção inédita.
POSTA RESTANTE
Sousa Rego envia-me o seguinte comentário a propósito deste texto:
Parece que vamos ter uma “campanha alegre“ no que respeitas às futuras eleições autárquicas.
No entanto, e das ideias chaves do texto, fica-se com a sensação de que sonhar é próprio do homem.
O mundo da utopia é um mundo especial e, em certas ocasiões, ajuda a mobilizar os cidadãos eleitores.
Porém, no caso concreto do concelho, falar em coligações não passa de uma mera hipótese. Aliás, no distrito de Setúbal onde é que se viu uma coisa assim, e com abrangência que é proposta?
Por último, diminuir as despesas com o pessoal representaria um verdadeiro “tiro no pé”, e isto para qualquer partido ou força política que se encontre a exercer o poder autárquico.
Quer se queira quer não, os partidos políticos são a essência da democracia que temos.
Mas, onde os partidos podem vir a ser influenciados é precisamente através das associações cívicas.
E uma associação cívica de todo o concelho pode ser capaz de mobilizar os cidadãos eleitores para patamares de intervenção até hoje nunca vistos. Um Forúm Cívico do Concelho poderá vir a exigir muito dos partidos e da sua actuação concreta quanto ao futuro deste concelho e das suas gentes.
Será mais uma utopia?
Um sonho em vésperas de uma campanha “alegre e triste”?
Em vez do “sonho”, da “utopia”, sempre poderemos ficar com as palavras “duras” de Vitorino Magalhães Godinho, na recente entrevista ao DN de 27-2-2009, ao sustentar que:
-“Nós não temos democracia em Portugal, isso é fantasia.”- O que é que nós temos?, -“Um Estado corporativo como Salazar sonhou e nunca conseguiu. Realizámos o que desejava, que é o poder nas mãos de organizações profissionais-“.
E, a rematar a entrevista, diz-nos o ilustre historiador que,-“possuímos o hábito de decorar cartilhas em vez de pensar os problemas. De maneira geral, o português é preguiçoso a pensar…O português atira-se sempre a algo como um dogma porque gosta muito de os ter. É pouco religioso mas muito dogmático, ritualista e cumpridor de regulamentos. Não é capaz de resolver os problemas pela inteligência-“.
A minha opinião:
Como as demais propostas, um fórum cívico de todo o concelho é possível desde que haja gente suficiente com vontade de regenerar o sistema. Haverá? Onde?
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6 comentários:
Caro Fonseca Bastos,
Com todo o respeito e apreço , importa esclarecer que não se trata de uma questão de optimismo , pessimismo , utopia ou pragmatismo.
A perspectiva de uma campanha eleitoral insuportável e de uma elevada abstenção é infelizmente real e todos estamos cientes dela.
A grande diferença está na atitude perante esse cenário. Ou o repisamos constantemente criando um ambiente de desalento inerente à ideia de que a derrota é sempre certa , e de que não vale a pena sequer debater ou votar , potenciando-se esse mesmo cenário ,desvalorizando-se indirectamente qualquer esforço de apresentação de alternativas , ou então , de alguma forma tentamos valorizar o debate político com temas e ideias que permitam esclarecer e quem sabe motivar o eleitorado.
Há muito tempo que deixei de embandeirar em arco preferindo ter os pés bem assentes no chão , mas isso não me impede de agir procativamente para a valorização do debate politico.
De qualquer forma longe de mim querer crucificá-lo !!!???
Por fim não posso deixar de afirmar a artificialidade da ligação que estabelece entre a criação do meu próprio blogue e esta questão.
Com amizade.
Luis Proença
Caro Luís Proença:
Não fui eu que criei o ambiente de desalento. Foram os partidos da oposição, que durante mais de três anos estiveram em hibernação e deixaram o poder com rédea solta. Consulte o arquivo deste blogue, entre o início de 2006 e o passado mês de Agosto, e comprove em quantos textos chamei a atenção para tal.
Não estranha que, sendo os partidos a essência da democracia, durante mais de três anos o debate de alternativas e ideias tenha existido apenas neste blogue?
A derrota parece-me inevitável porque a hibernação também deu liberdade ao poder para armadilhar o terreno. E não há tempo nem meios para mudar o rumo às coisas. Mas insisto num conselho: quem for oposição e quiser ganhar eleições em 2013, terá de começar a campanha na terceira semana do próximo mês de Outubro (presumindo eu que as eleições serão a 4 ou 11).
Não estou imune a críticas, mas durmo em paz com a consciência porque sendo um simples cidadão lancei neste blogue dezenas de ideias e temas para reflexão, raramente me desviando dos assuntos locais. E com mais de 400 consultas diárias, em média, a textos deste blogue, presumivelmente nem tudo passa despercebido.
Claro que a criação do seu blogue nada teve a ver com o meu texto «Alumiar». De resto, a interacção por si frequentemente estabelecida entre o «Alcochetanidades» e este blogue – que agradeço – parece-me estar a resultar: cerca de 1/4 dos acessos dirigem-se depois ao seu.
Caro Fonseca Bastos,
Desculpa a minha franqueza mas a sua postura é totalmente contraproducente numa perspectiva politica.
Bem sei que não se assume como um politico , mas a pertinência da sua intervenção nos últimos anos assume contornos indiscutivelmente politicos , tal como a extrema popularidade (que legitimamente reivindica)do seu blogue impõe algum sentido politico na forma como intervém.
Nessa medida há que ponderar seriamente a utilidade e o efeito de determinado tipo de intervenção.
Apelando desta feita ao pragmatismo , e uma vez que há sangue novo no rol de candidatos nas próximas eleições autárquicos , o que é importante é consolidar uma mensagem muito clara:
Sem dúvida que é dificil combater o caciquismo e a capacidade de mobilização do PC que conta com a sua massa fiel de eleitores politico-dependentes e acriticos para se reeleger em 2009.
Mas em 2009 , e face ao desastroso mandato autárquico e à insatisfação generalizada, é possível reforçar a participação da oposição nos orgãos autárquicos em Alcochete e isso será um passo decisivo para outro tipo de voos em2013.
Nessa medida qualquer discurso de permanente crucificação da oposição , por muito fundamentado que seja , está a contribuir para impedir um objectivo que é exequível.
Mais do que se pensar em derrotar o PC , a grande vitória será eleger mais deputados municipais , mais vogais para as Juntas de Freguesia e respectivas Assembleias e quem sabe até Vereadores para a Câmara Municipal sem o que será dificil atacar outros objectivos mais ambiciosos em 2013.
É em nome desse objectivo e dessa perspectiva pragmática que optei por um discurso positivo , alternativo e mobilizador.
Há pois que DAR ALGUMA MARGEM DE BENEFICIO AOS NOVOS ROSTOS que se apresentarão em Alcochete e que chegam agora à primeira linha do combate politico por Alcochete.
Não lhes negue a oportunidade.
Utilizando uma expressão em voga , não pode andar a «malhar» constantemente na oposição , facto que certamente será do gáudio dos caciques comunistas que lhe ficarão gratos pelo favor.
O seu discurso é desmobilizador e apela tacitamente ao conformismo. Mais do que isso. É meter oposição e comunistas no mesmo saco , é uma mensagem clara que na sua opinião os eleitores devem também castigar a oposição pela sua «hibernação» , quando os visados pelo castigo deviam ser os titulares do poder em Alcochete por um mandato inepto e incompetente.
Para isso e sem prejuízo do que foi a postura da oposição ao longo deste mandato , devemos mobilizar , dando oportunidades àqueles que como eu querem mudar a intervenção politica nesta terra e que querem melhor para Alcochete e que assumem corajosamente essa batalha.
O seu discurso é negativo e politicamente acaba por beneficiar o PC.
Sou o primeiro a destacar a excelência da sua intervenção corajosa e avalizada sobre Alcochete.
Tenho pena é que reduza o impacto dessa intervenção a zero quando por um lado opta por não se envolver partidariamente , e quando por outro lado deita abaixo a oposição partidária em Alcochete.
No meio dos estragos provocados por esta postura quem é que sobra?
O PC está claro...
Caro Luís Proença:
Primeiro, sou politicamente incorrecto: uso a liberdade de expressão e escrevo o que penso. Tenho direito à indignação.
Segundo, sou politicamente incorrecto: não houve nem há, em Alcochete, oposição partidária interventiva e mobilizadora. Simples cidadãos vêm, há anos e a título individual, apontando o dedo ao poder e à oposição. Todos residem (ou residiram, como foi o seu caso) neste blogue. Esses cidadãos conseguiram, por via das suas intervenções públicas neste blogue, melhorar e mudar mais coisas que toda a oposição nos órgãos executivo e deliberativo da câmara desde 2006.
Terceiro, sou politicamente incorrecto: vitória mínima é retirar a maioria ao PC, pelo menos na Assembleia Municipal, órgão deliberativo que há muitos anos não serve para coisa alguma porque se limita a caucionar decisões e opções das maiorias instaladas na vereação. Até hoje nenhum dos membros de ambos os órgãos teve a dignidade de honrar o mandato perante os seus eleitores, esclarecendo-os e orientando-os, não obstante terem ao dispor informação privilegiada a que nenhum cidadão comum consegue aceder. A oposição portou-se mal durante três anos e foi tão opaca como o poder. Não há, nem nunca houve desde 2006, percepção exterior que permitisse distinguir a oposição do poder.
Quarto, sou politicamente incorrecto: as ideias dos "novos rostos" são desconhecidas da maioria dos eleitores. Creio que alguns começaram mal, mas o futuro o dirá.
Quinto, sou politicamente incorrecto: prefiro conhecer e avaliar programas, projectos e ideias e só depois o perfil das pessoas. Não se faz política com gente que rasga o programa eleitoral, que no poder pratica o inverso do que preconiza na oposição e que quando perde mete a viola no saco e vai à sua vida. Esse tipo de política conduziu-nos à situação actual: um povo que já não acredita em nada nem ninguém, nem mesmo na sua imensa força enquanto existir democracia. Democracia sem povo é regime a prazo.
Sexto, sou politicamente incorrecto: a maioria dos alcochetanos irá certamente alhear-se das eleições locais, não por minha influência mas porque os partidos se descredibilizaram. Não tenho qualquer poder sobre as pessoas, apenas procuro mantê-las despertas e atentas ao que as rodeia. Também sou povo, não a sua consciência nem o seu líder.
Sétimo, sou politicamente incorrecto: aos do PC não incomodam demasiado as minhas intervenções, pela singela razão de que a maioria dos seus votantes não tem computador nem acesso à Internet.
Oitavo, sou politicamente incorrecto: quem quiser a minha colaboração política terá de começar a trabalhar na semana posterior às eleições, constituir uma equipa de pessoas activas com as quais me identifique e dispostas a trabalhar no duro, organizar o trabalho correctamente e marcar a diferença desde a primeira hora.
Em tempos servi de carne para canhão, porque a tal fui forçado. Depois disso só uma vez me meti na política, porque acreditava nos objectivos e nos líderes e gostava das pessoas que me rodearam. Ganhámos com maioria!
Já perdi a conta aos convites directos e indirectos para voltar a meter a carne no assador, por Alcochete. Até agora não me arrependi por os recusar e todos pela mesma razão: em política tudo se compra, menos o tempo.
A idade e a experiência continuam a ser as minhas melhores conselheiras.
Caro Luís Proença:
Volto aqui para me penitenciar, porque a pressa me traiu. Deixei passar a frase garrafal "dar alguma margem de benefício aos novos rostos que se apresentarão em Alcochete e que chegam agora à primeira linha do combate politico por Alcochete" e, mais abaixo, "devemos mobilizar, dando oportunidades àqueles que como eu querem mudar a intervenção politica nesta terra e que querem melhor para Alcochete e que assumem corajosamente essa batalha".
Em princípio, os novos rostos que venham a candidatar-se às autarquias de Alcochete, Samouco e São Francisco podem contar com a minha solidariedade. E nem excluo todos os rostos antigos, porque privo com alguns que me merecem consideração.
Estamos em má situação, precisamos de cidadania empenhada e de coragem para mudar o rumo às coisas.
Até prova em contrário, dou-lhes o benefício da dúvida.
Caro Fonseca Bastos,
Sobre os oito pontos da sua resposta:
Politicamente incorrectos? Nada disso. Correctíssimos! ...
Mas o seu beneficio da dúvida é que soube a «ginjas».
Abraço
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