11 março 2009
Municipalismo de outrora (13): o 15 de Janeiro
Nas décadas de 30 e 40 do século passado, anualmente, a 15 de Janeiro – data da celebração da restauração do município (1898) – a câmara concedia tolerância de ponto aos seus funcionários, mandava celebrar serviços religiosos na Igreja Matriz e distribuía um bodo aos pobres.
Nomeava-se uma comissão para preparar os festejos, sempre presidida pelo chefe da edilidade, e o programa manteve-se constante em todas as actas dos sete anos por mim analisados.
A título de curiosidade, eis um resumo das despesas do bodo de 1940:
124,5kgs de carne de vaca e toucinho, 747$00;
116kgs de pão, 218$40;
60kgs de arroz, 162$00;
12 dúzias de foguetes e 3 dúzias de morteiros, 184$50;
5 litros de vinho branco e 10 litros de abafado, 52$00;
Pagamento ao pároco Crispim dos Santos (sacerdote alcochetano) pelos serviços religiosos na Igreja Matriz, 170$00;
5kgs de velas de cera para as cerimónias religiosas, 90$00.
A câmara recorria a vários fornecedores para o abastecimento de géneros distribuídos nos bodos, embora os preços unitários fossem rigorosamente iguais, sendo o pão e o arroz adquiridos a quatro fornecedores distintos e a carne a três.
Durante vários anos os programas das celebrações da restauração do concelho seguem um padrão comum, servindo como exemplo o de 1941:
07h30 - Alvorada e recepção à filarmónica nos Paços do Concelho;
11h00 - Missa;
12h00 - Bodo aos pobres;
16h00 - Te-Deum;
21h00 - Reunião solene nos Paços do Concelho.
Nesse ano de 1941, durante a cerimónia litúrgica da tarde, seria benzida a nova bandeira do município – a mesma da actualidade (acima reproduzida) – para a qual foi convidado o padre Francisco da Cruz (Padre Cruz), "alcochetano dos mais ilustres".
Eis ainda o programa das comemorações de 1942 da restauração do concelho:
07h30 - Alvorada e salva de 20 morteiros, com a banda da Sociedade Imparcial percorrendo as principais ruas da vila;
11h00 - Missa na Igreja Matriz sufragando as almas dos dirigentes do movimento restaurador do concelho;
12h30 - Bodo da câmara a 240 pobres;
21h00 - Sessão solene e distribuição de prémios escolares da Junta de Freguesia.
continua
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4 comentários:
Pois é Sr. F. Bastos.A “festa”da restauração do concelho parece que não passava das “ muralhas” de Alcochete. Para as outras freguesias e lugares do concelho a “festa” era bem outra.
O estado de abandono e de esquecimento era precisamente a outra “festa”, produto directo do “centralismo alcochetano”.
O ”centralismo alcochetano”, dos povos em redor da suas "muralhas", limitou-se a cobrar impostos e a olhar sempre de cima,com uma pretensa superioridade,afinal consentida por uma verdadeira teia de cumplicidades e de verdadeiras traições às legítimas aspirações e direitos dos populações.
Estamos convencidos de que uma das formas de quebrar essa teia ,traduz-se, precisamente, no desafio a lançar aos eleitos “fora das muralhas”para falarem bem alto,sem medo,pois as contas que devem prestar são apenas aos seus eleitores.
Não me diga que encara uma declaração de independência de Samouco e promessa de casamento a Montijo?
Não, por favor não voltemos a 1898! Temos mais com que nos preocupar.
Soprem desse lado com muita força, porque talvez um vendaval consiga dissipar o fumo no Largo de São João.
Aliás, nem valerá a pena planear um futuro diferente porque, com a regionalização ou sem ela, lá para 2015 existirão, no máximo, dois municípios na margem sul. Os outros acabarão forçadamente.
Há tempos, alguém que deve saber mais a dormir que todos nós acordados deixou isso implícito perante mais de 100 pessoas. Algumas ficaram encavacadas mas ninguém tugiu nem mugiu! Diz o povo que quem cala consente...
Desculpe Sr.F.Bastos,certamente que não fui bem claro no comentário.As “independências” felizmente que são coisas do passado.Todavia, as “dependências” de vária ordem e do “centralismo alcochetano” são realidades bem presentes mesmo nos nossos dias.
Pelos seus textos e opiniões publicadas não vislumbro que se enquadre como um defensor da corrente”centralista”.
Por outro lado, aos de “fora das muralhas” ,em especial aos eleitos, é exigida uma postura ética e de rigor que em nada se coaduna com as teias e cumplicidades do passado.É esse o desafio a que os mesmos não se podem furtar perante uma opinião pública cada vez mais atenta e consciente dos seus direitos.
Fico mais descansado se o problema é apenas do centralismo.
Obviamente sou contrário ao centralismo e ao caciquismo do Largo de São João e demonstrei-o várias vezes, chamando a atenção para o abandono das periferias.
Bom seria que a opinião pública estivesse mais atenta e consciente dos seus direitos e, principalmente, do seu imenso poder. Mas não estou muito certo disso e receio que esteja, simplesmente, alheada.
Há, é certo, meia dúzia de "andorinhas" esvoaçando por aí. Mas são escassas e a "Primavera" parece-me ainda longe.
Com meia centena faz-se uma revolução!
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