Entre muitos exemplos que fui coleccionando ao longo da vida profissional, deparei com dois vícios na esfera do poder político.
O primeiro considera os cidadãos estúpidos, ignorantes e incapazes de compreender a lógica das decisões na esfera da governação. Era a visão do Estado Novo acerca da sociedade em geral e, em 35 anos, essa cultura do poder mudou pouco. No actual regime houve, em Alcochete, um arrogante presidente de câmara que reagia desabridamente se confrontado com factos incómodos. Mais tarde veio a perceber-se que tinha telhados de vidro.
O segundo vício traduz-se numa recomendação escutada, inúmeras vezes, em círculos políticos: quanto menos os cidadãos souberem sobre decisões pendentes mais fácil será tomá-las. Também nisto Alcochete é um bom exemplo, porque a opacidade tem sido prática corrente e os reflexos estão à vista.
A sociedade pode travar estes e outros vícios desde que se conjuguem dois factores: que os cidadãos aumentem a pressão directa sobre eleitos para cargos de representação política e que disso dêem público testemunho para que não haja a tentação de simular que ninguém contesta nada.
Como será possível dar testemunho público dessa correspondência? Em blogues, nomeadamente, porquanto a Imprensa de proximidade tende a soprar no sentido dos ventos dominantes.
Tenho a certeza que, particularmente na esfera do poder local, muita coisa mudará no dia em que os autarcas virem divulgadas missivas e mensagens de correio electrónico a eles dirigidas. E, em consequência dessa pressão pública, acabarão por ser os próprios eleitos a fundamentar decisões para o exterior e a reproduzir tal correspondência e respectivas respostas nos órgãos próprios hoje usados sobretudo para propaganda pessoal e política.
1 comentário:
Uma opinião equilibradíssima, mas veja se eles vêm cá comentá-la!
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