O comentário de Luís Proença ao meu texto "Ou tradição ou marxismo" começa assim: «caro João, isso já não é ser crente. É uma obsessão».
Eu não sou crente no sentido mais corrente desta palavra. Foi-me dada uma compreensão do Cristianismo. Nisso interveio a razão que iluminou o coração. Este, por sua vez, não deixa que aquela se exceda e vire irracionalidade.
A visão que eu tenho do Cristianismo obedece a um aparato cognitivo que tem a Cruz de Jesus Cristo por centro. Esse texto metodológico está algures neste blog.
Perante os meus alunos sempre denunciei as obsessões porque estas são fruto de uma cegueira intrínseca. No entanto, se o Luís disser que a minha obsessão é Cristo, eu fico lisonjeado, sem que me veja entrar em contradição. Cristo é a saúde absoluta. A obsessão por Ele não me pode adoentar.
Continua o Luís: «já pensou na carreira religiosa[?]». Eu pensei numa carreira religiosa aos meus 10 anos. Aos 12 dei entrada num seminário. Saí voluntariamente aos 17 para endireitar o mundo. Eis o que me fez perfilhar ilusões de esquerda durante 30 ou mais anos. Mas quando se chega aos 50 anos sem deitar para o contentor do lixo essas perniciosas ilusões é porque se tem o síndroma de Peter Pan.
Umas linhas à frente escreve o Luís: «Para mim a injustiça [...] encontra-se precisamente na pretensão cristã e marxista à igualdade». No Cristianismo, a igualdade é cristã e não marxista (ideológica). No Novo Testamento, nomeadamente nas epístulas de São Paulo, mil vezes se diz que Deus não faz distinção de pessoas. Nos Evangelhos, se por um lado Jesus Cristo anatematiza a sub-relação do homem com as riquezas, por outro há várias parábolas do mais profundo sentido teológico cuja personagem central é o bom homem rico.
Adianta o Luís: «o marxista e o cristão têm pois uma origem comum». Se me disser que o marxista e o gnóstico têm uma origem comum, eu aceito. Na verdade, o gnosticismo dos primórdios da era cristã já era eminentemente antropocêntrico (centralidade do homem). Ora é no antropocentrismo renascentista que se deve buscar a origem mais evidente das raízes marxistas que se engrossam com o iluminismo racionalista até à produção de um texto completamente desequilibrado como foi o Manifesto Comunista de Marx e Engels (1848).
A pessoa que tem uma estrutura mental de esquerda tem "consciência" de que a primeira grande empresa a executar é acabar com a ideia de Deus. Assim, duma assentada, se acabaria com a tradição, a religião, A Igreja, a família, o próprio indivíduo como ser livre. Eis a condição sine qua non para o triunfo definitivo do marxismo ou coisa derivada e implantação, à escala planetária, de um totalitarismo gerido por um governo mundial sobre uma humanidade de todo alienada, isto é, escravizada até à animalização.
E pronto! Para o sr. Luís Proença eu sou um doente. Talvez eu estivesse melhor num hospital psiquiátrico ou - quiçá? - eu devesse levar um tiro na nuca. Era a forma fácil de nunca mais o Marafuga falar de Deus, de nunca mais argumentar, de nunca mais fazer perguntas.
Onde é que já todos vimos isto?
6 comentários:
Porque não ser um parvo? Um parvo praticante e diplomado.Ou, se tiver competência para isso, um PPE, Parvo Público Encartado. Pode não parecer quando olha à sua volta, mas não há parvos que cheguem no nosso país.Como resultado disso pode-se ganhar muita fama com a parvoíce. O parvo médio farta-se de escrever nos blogs...E há vagas para parvos em todos os sectores...Cada vez mais pessoas enveredam por uma carreira de parvo freelancer.Ligue já para o Instituto Técnico da Parvoice e receba o panfleto gratuito " Ei, parvalhão, aprende a ser parvo a sério!" A maior parte das pessoas consegue ser parva a promover-se nos blogs mas esta é a sua oportunidade de ser um parvo a tempo inteiro e durante todo o ano. Ligue-nos. Não se faça de parvo, seja um parvo.
Registo a honestidade desta sua afirmação: "Foi-me DADA uma compreensão de Cristo". Por ter sido DADA não resultou portanto de qualquer reflexão inquisitiva ou critica. E note que já nem sequer falo em "experiência de laboratório".Registo igualmente que assume a forma menos "cordata" com que se refere aos meus argumentos e aos da Isabel nesta troca de opiniões ,que até ao momento tentei manter num nível minimamente aceitável. Depois de adjectivar a posição da Isabel de "patetice" e alguns dos meus comentários como uma "infantilidade" , apetecia-me sinceramente deixá-lo a falar sózinho ( que é sinceramente o que penso que vai acontecer neste "Blog" depois de ter decidido utilizá-lo como uma espécie de púlpito PRIVADO da sua cruzada pessoal). Contudo , e porque acredito , que quando apelida os outros de "patetas" ou "infantis" , revela uma irritação tipica de quem ainda não se desligou por completo dos "tiques" revolucionários que o afastaram do caminho da Igreja há trinta anos atrás , e que a forma exacerbada como expressa a sua visão do Cristinismo mais não são do que a expressão de uma consciência fortemente vergada por 30 anos de costas voltadas à religião , ou pelo menos , uma forma encapotada de mostrar a sua frustração pelo facto dos seus ideais da juventude lhe terem roubado a vocação religiosa , venho , uma vez mais, à sua "santa" presença. Denoto também uma repentina tendência para a vitimização. Ninguém o apelidou de "doente" , ou sugeriu o seu internamento num hospital psiquiátrico... Quanto à sua referência ao "tiro na nuca" acredito que não passe de uma reminiscência daqueles seus impulsos revolucionários de há trinta anos atrás , ou talvez uma mórbida propensão a mártir da Igreja ... Pelo contrário , num dos meus comentários referi que lhe reconheço o direito de acreditar no que quer , tendo mesmo admitido (sem ironia) , haver algum mérito na fé cega. Depois de ler e reler os seus argumentos , e atenta a aparente hostilidade inerente à forma como qualifica as opiniões dos outros ( uma espécie de ódio instintivo) , sugiro que o João crie um novo Blog com o seguinte título "ODEIA SE AMAS DEUS". É na minha perspectiva um bom lema para a direita religiosa a que manifestamente se colou. Concluou que é impossível discutir consigo os prejuízos e benefícios da crença religiosa. É pena porque reconheço a essas crenças alguma utilidade no que concerne à resposta a algumas necessidades e desejos humanos, muitos deles comuns a todos nós. Para mim João , a força , a liberdade que provém da plenitude do espírito demonstra-se pelo questionar , pela dúvida e em última instância , pelo cepticismo. O João alienou-se de si mesmo...Não ser imparcial , ser plenamente de um partido , ter uma óptica severa e excessivamente zelosa é , na minha modesta opinião , ser antagonista da verdade. Mas compreendo a sua "prisão". O João já não tem a liberdade de ter uma consciência para as questões do "verdadeiro" e do "falso".O condicionamento ( que não ouso qualificar de patológico) da sua óptica fê-lo passar definitivamente da condição de convicto a um fanático pitoresco.
Deste seu intelocutor "infantil"
Luis Proença
"Foi-me dada uma compreensão de Cristo", disse eu, o que é verdadeiro porque a minha atitude perante o Alto é a da criatura sempre pronta a receber. A insolência renascentista acabou com esta postura humilde de raiz cristã.
Se em mim não existisse uma reflexão crítica, como poderia escrever como escrevo? Então não se vê que a minha escrita só pode ser fruto de uma reflexão crítica de longa data? De outro modo, como poderia ter sido possível chegar à elaboração de pensamento que exponho a todos?
Eu não adjectivei as posições seja de quem for de "patetice" porque esta palavra é um substantivo. Ainda assim, aponte-me a passagem de texto meu que empregue aquele designativo para as posições de Isobel.
Por outro lado já considero que várias asserções do Luís se pautam por uma estrutura mental infantil. Por exemplo, a culpabilização do outro, baixa estratégia que vem desde Lenine ("xinga-os daquilo que tu és") e que detectei em si "ab initio", ilustra bem o tal infantilismo.
Quem acha que uma pessoa intelectualmente adulta pode dizer todas as asneiras que disse a meu respeito no comentário imediatamente anterior?
O Luís sabe o que é um debate?
Um debate é uma troca de argumentos. Nesta troca, cada interveniente esforça-se por fazer ver ao outro que o seu ponto de vista é o mais adequado. Tudo isto fica viciado quando não se distingue a vertente racional da emocional.
Os argumentos que se apresentam têm que ser pertinentes à discussão. Os interlocutores devem estar abertos à compreensão dos argumentos de cada um, evitando-se a todo o transe o ataque pessoal, quero dizer, o argumento "ad hominem".
Mas estar aberto à compreensão do outro não é renegar o Princípio de Ordem Superior, isto é, Deus; não é renunciar a tradição da Civilização Ocidental; não é abdicar do Cristianismo nem do modelo de democracia liberal.
Luís Proença, há certos momentos em que a discussão não pode evoluir para outro sentido que não o da ofensa, deslocando-se o fulcro essencial da discussão. Acho que é o que tem acontecido aqui, num espaço que podia ser bastante produtivo.
Não concordo com praticamente nada do que o João diz aqui no blog e o meu único objectivo era discutir ideias.
Todos os meus argumentos são absolutamente refutáveis, até porque estão no pólo oposto ao pensamento do João. Agora, não considero muito saudável a maneira como estão a ser refutados.
Nunca me afirmei como marxista ou qualquer outra coisa. Sou uma pessoa, por acaso mulher, não baptizada, tendencialmente de esquerda mas sem partido. Sou arqueóloga e chamo-me Cátia Santos.
Nem mais nem menos que isto. Não caibo em nenhuma caixa ou designação, não me presto a isso. Simplesmente, tenho as minhas ideias e a minha ideia de discussão saudável não é o que tem acontecido aqui, o que é pena.
O demonizar de um determinado campo de pensamento, quanto a mim, demonstra ideias fundamentalistas e eu fujo do fundamentalismo a sete pés.
Não acho que quem acredita na existência de Deus esteja errado porque não me cabe a mim dizer isso. Da mesma maneira que não cabe a ninguém julgar-me nas minhas crenças - a não ser que prejudiquem outros.
Boa noite Cátia Santos,
Concordo consigo. Com muita pena minha ,e com todo o respeito que o Fonseca Bastos me merece , penso que o João Marafuga está a condenar o Blog à desertificação. É mais pura e dura forma de secagem intelectual que tenho visto últimamente. Não vou contribuir mais para a "berraria de sacristia" em que aquele senhor transforma os debates. Não passamos de patetas infantis ,incoerentes e , pelos vistos ignorantes ( apesar de licenciando em Direito e Pós Graduado em Estudos Europeus por uma das mais famosas Universidades Europeias "não sei o que é um debate"), Cansei-me de esbarrar com o muro do "Princípio da Ordem Superior" ao qual o João Marafuga se agarra desesperadamente para afastar os seus próprios demónios , os demónios que alimentou durante trinta anos de colagem àquilo que agora ostraciza , odeia e repele. Infelizmente só agora percebi que quer eu , quer a Cátia , acabámos por ser instrumentos de um verdadeiro exercício de catarze pessoal do João Marafuga. Um exercício feito num monólogo , impermeável à troca saudável e cordial de opiniões. Um exercício castrador qualquer possibilidade válida de troca de ideias e perspectivas.Não vale a pena continuar. Deixo o João Marafuga entregue aos seus complexos , ao seu sentimento de culpa por um passado desvirtuado pelo alinhamento em ideais incompatíveis com o "Princípio de Ordem Superior" que agora ostenta como a sua própria tábua de salvação.Despeço-me deste debate e provavelmente deste Blog.
Até um dia destes...
Luis Proença
Cátia, se vir bem, não há ofensa de minha parte a ninguém.
Na defesa das minhas convicçõs, por vezes falo num tom enérgico, pouco comum. Ora acontece que a forma directa de ir às questões nem sempre é bem vista na nossa cultura. Ora eu não estou de acordo com esta vertente da nossa maneira de ser. As coisas têm que ser ditas. Se, sob o meu critério, uma pessoa diz uma parvoíce, não me inibo de dizer a essa mesma pessoa por que razão disse uma parvoíce. Fustiga-se a parvoíce, não a pessoa. Esta, sábia ou inculta, rica ou pobre, branca ou preta, é igual a mim. No que diferimos é na individualidade. Nesta nos complementamos, por exemplo, através do debate.
A Cátia poderia interrogar-se por que «não concorda com praticamente nada do que [eu] di[go] aqui no blog...».
O que eu digo tem por trás a Bíblia, Platão, Aristóteles, Cícero, Séneca, Santo Agostinho, Nicolau de Cusa, Erasmo, René Guénon, Etienne Gilson, Eric Voegelin, Jean Guitton, Roger Scruton, Olavo de Carvalho e tantas dezenas de outros. Ao muito que todos estes disseram eu acrescento um pontinho.
Eu posso entrar em debate com mil pessoas, respeitar a inteligência dos meus adversários, acolher o melhor das ideias deles, mas não posso transigir na ideia de Deus, na grande tradição da Civilização Ocidental, na visão liberal do homem e do mundo, etc.
Uma pessoa não pode viver sem afirmar um conjunto de princípios orientadores da vida. Esta tem um sentido. Sem a descoberta deste não podemos viver. Ora o sentido só nos pode ser dado pela religião que, no nosso caso concreto, é a cristã. É completamente absurdo eu ter nascido num país de tradição cristã, mas virar-me para as tradições orientais que chegam a nós em quarta ou quinta mão. Isto tem a ver com a New Age que é um movimento aliado das esquerdas por esse mundo fora.
A Cátia é "por acaso mulher"? Essa para mim é nova! Alguém é por acaso alguma coisa?
Por que se não baptiza em nome do Pai (Eternidade), do Filho (Criação) e do Espírito Santo (Amor)?
Mesmo que a Cátia não dissesse que é "tendicialmente de esquerda", para mim a estrutura do seu discurso assegurava-me que o era.
Parabéns por ser arqueóloga! Tem a tendência para ir às origens. Tenho a esperança de que a esquerda não a apanhe em definitivo.
Também detesto rótulos. Se tenho um rótulo, nele está inscrito a Cruz de Cristo cujo significado abarca o Universo e ascende ao próprio Criador.
O fundamentalismo em religião, filosofia, política, etc., mata. Tem a Cátia toda a razão para fugir dele "a sete pés".
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