07 outubro 2006

De filhos da sociedade a filhos do papão

Os filhos cada vez são mais da sociedade e menos dos pais porque a autoridade destes é cerceada em todas as frentes com a cumplicidade dos Governos.
Tudo e todos fora de casa distraem os jovens com o nada. A compreensível irreverência da juventude dá lugar à estupidez que cada vez tem menos freio. Os teenagers não respeitam as instituições senão que estas se curvam àqueles. Os mestres já acabaram há muito. Os professores estão em vias de extinção. A escola perde o seu significado. Eis-nos perante a antecâmara do grande projecto para o mundo inteiro.
Amanhã, preparadinha a superfície, poderá emergir das catacumbas o Papão omnipotente, acusar cinicamente os pais da perca de toda a capacidade para encarregados de educação das criancinhas e propor o regresso a qualquer modelo espartanizado.

1 comentário:

Fonseca Bastos disse...

Aqui está um assunto que me parece útil ser debatido por muitos pais, educadores e professores.
Apenas posso dar testemunho da minha experiência de pai de dois cidadãos já adultos, cuja educação e acompanhamento nunca deixei ao cuidado de estranhos.
Custou caro e implicou sacrifícios pessoais, mas hoje reconheço ter sido a melhor opção.
João Marafuga tem razão, em parte, ao escrever que "os filhos cada vez são mais da sociedade e menos dos pais porque a autoridade destes é cerceada em todas as frentes com a cumplicidade dos Governos".
De facto, parece-me que, hoje em dia, os filhos são cada vez mais da sociedade porque a maioria dos pais deixou de poder guiá-los e educá-los e não porque a autoridade lhes tenha sido deliberadamente cerceada.
A cumplicidade dos governos manifesta-se não por isso mas pelo distanciamento de soluções sociais que permitam aos pais gerar e educar filhos. O papel dos pais é insubstituível, não apenas na educação mas em quase tudo o que representam para um ser humano a infância e a juventude, ainda que os professores fossem todos bem formados e conscientes e a escola a melhor do mundo.
É sempre com alguma perplexidade que leio notícias, debates, reivindicações e queixas sobre a ocupação dos períodos de férias e de tempos livres na escola, o que me parece, além de tortura, uma completa inversão de valores.
Se crianças e jovens passam 2/3 do dia fora de casa, entregues a professores, educadores e vigilantes, a escola deixa de ser centro de conhecimento e de saber e vira campo de concentração, o lar familiar tem o valor de hotel e o papel essencial, que dantes pertencia aos progenitores, acaba por se diluir.
A meu ver, a sociedade apática, agressiva e pouco solidária que hoje temos é produto da enorme acumulação de disparates educativos.