09 outubro 2006

João Marafuga a Luís Proença (3)

Resposta ao comentário de Luís Proença em "Nazismo e comunismo".
De facto, a salvação para os gnósticos está no "conhecimento" tal como para os homens e mulheres sem Deus nos dias de hoje.
O pecado de Adão e Eva (Humanidade), quero dizer, o pecado original (criminalidade hereditária) assenta exactamente naquele conhecimento humano que erradica Deus da vida do homem.
Quanto a mim, a salvação está em Cristo, no Verbo encarnado, isto é, no sentido que engloba tudo e segue para lá de tudo infinitamente. Sim, porque eu penso que urge afirmar Cristo se não nos quisermos materializar na voragem de um mero imanentismo assassino do homem.
Diz bem o sr Proença: «...o gnosticismo assenta[...] na concepção dual do homem...». Na verdade, o gnosticismo já deve muito a Platão, a saber, ao Platão do Alcibíades. Neste diálogo defende-se que o homem é uma alma que se serve de um corpo. O gnóstico defendia mesmo que se com Deus fosse um, poderia entregar-se aos maiores crimes deste mundo porque isso não lhe afectaria a alma. É aqui que Eric Voegelin também vê a génese da idiossincrasia do ditador totalitário do séc. XX. Neste, Deus será substituído por uma ideologia, por um partido político, pela luta de classes, etc.
Para o gnóstico, sempre de estrutura mental dualista, tanto o Bem como o Mal são absolutos. O mundo é mau porque foi criado por um deus inferior (demiurgo), a matéria é má, o homem é mau. Só os espirituais (pneumáticos) se salvam. Nisto, também Eric Voegelin descortina a raiz do pessimismo e ódio dos execráveis ditadores do séc. passado. De facto, a descrença no homem por parte de muitos doentes que governaram a Humanidade até há bem pouco tempo foi o arranque para o extermínio em massa.
O Mal advém da regressão ao animal, isto é, de uma rendição abjecta a um tempo desespiritualizado. Eis-nos perante a imanência que se recusa a ser cruzada pela transcendência. Aquela e esta separadas não interessam ao homem. Se as unirmos, reganhamos o equilíbrio cujo símbolo mais excelso é a Cruz de Jesus Cristo.
Sem que o sr. Proença consiga surpreender-me minimamente, lê-se um pouco mais à frente no seu comentário: «...o que me interessa particularmente é a necessidade crescente de promover o gnosticismo na nossa sociedade». E pronto, cá estou eu, talvez, com a minha primeira passagem contundente. Sr. Proença, filie-se no Partido Comunista. Esta organização política presta-se à saciedade para a consecução do seu projecto. Mas se achar que o comunismo é veste excessivamente berrante para si, garanto que no Partido Socialista lhe poderão reservar um cantinho suficientemente amplo para bater e dar asas ao seu plano de salvação do mundo.
A seguir, surpreendente e anaforicamente, escreve o sr. Proença: «preocupa-me a secularização crescente da nossa sociedade. [...] preocupa-me [...] a falsificação e confusão dos valores que dominam as almas hoje em dia. [...] ...preocupa-me [...] a perda e confusão de valores que hoje caracteriza a nossa sociedade». Mas quem para melhorar um doente lhe dá um veneno letal? É o que o sr. Proença quer fazer: para melhorar a sociedade propõe como remédio o gnosticismo, sem ver que ele é a antecâmara da Era Moderna que deserdou o homem do Valor supremo, fonte de todos os valores. Desde quando é que o homem pode ser valor do homem? Haverá ilusão mais insolente?
E para meu espanto, o sr Proença culpa a Igreja Católica da desorientação contemporânea, esquecendo-se da luta de vida ou morte da Patrística contra o gnosticismo e do longo Concílio de Trento (séc. XVI) contra a Reforma luterana, também esta devedora da inspiração gnóstica.
A Igreja é santa, mas também pecadora, tal como nenhum santo foi incólume ao pecado, mas a verdade é que o saldo dela ao longo de 2000 anos de história é positivo. E não olhemos só para os defeitos para não nos revelarmos a nós próprios.
Será possível projectar uma história da Civilização Ocidental sem referência à Igreja? A história desta não é boa parte da história do Ocidente? O grande problema para muitos é que a Igreja não vergará facilmente perante os planos de escravização e animalização do homem avançados por forças marxistas pintadas de variadíssimas cores, muitas delas suaves. Eis porque cada vez é maior o ódio à Igreja e o crescendo dos ataques vem de todo o lado. Mas se ela erguer bem alto e denodadamente a Cruz de Jesus Cristo, vencerá.
Que história é essa do "Mestre Interior"? Alguma justificação para eu fazer o que me dá na real gana? Então não se vê que o subterfúgio do "Mestre Interior" esconde a centralidade do homem...a exaltação do eu?
O meu mestre é Cristo, Acto de Deus, o Verbo encarnado desde toda a Eternidade, revelado ao mundo pelo Evangelho da Cruz.
A guardiã da Cruz é a Igreja Católica mais a tradição que ela reconhece.

6 comentários:

Anónimo disse...

A minha resposta e atento o desafio lançado pelo Sr. Professor João Marafuga é feita em estilo de difusão.Modestamente procurarei responder ao seu comentário , mas simultaneamente dirijo-me aos "eventuais" leitores deste post.
O que eu tenho procurado transmitir é que a posição sustentada pelo Prof. J.Marafuga traduz aquela que podemos qualificar como a posição vencedora na querela que marcou o cristianismo nos seus primórdios. Bastará ao leitor analisar , ainda que de forma superficial , os textos de Nag Hammadi , para grande embaraço da Santa Igreja Católica Apostólica Romana trazidos à luz em 1945 ( os Evangelhos Gnósticos editados pela Ésquilo estão à venda em qualquer livraria ) para perceber as divergências ideológicas de fundo que marcaram os primórdios do Cristianismo. O Professor João Marafuga alinha precisamente no grupo vencedor , ou seja aquele , que a coberto do poder político e militar do Imperador Constantino , acabou por sufocar pelo uso da força e com a morte , quaisquer pensamentos diferentes dos seus.(Que melhor fonte de legitimação do gnosticismo pelo próprio catolicismo poderiamos querer?) Sem querer ofender ninguém diria que o estilo contundente de um quase "caçador de heresias" que o Professor João Marafuga imprime aos seus posts , ainda apresenta reminiscências dessa agressividade e vontade de aniquilar e sufocar qualquer posição que se distancie da corrente predominante ( continuo a achar que ao considerar-se um "liberal" e "democrata" o Professor está com certeza a cometer um exagero). O Professor João Marafuga assume-se quase como um Irineu de Lyon e os seus escritos são uma espécie de versão pessoal da "Denúncia e Refutação do Falso Conhecimento" , obra daquele autor. Certo é que é importante que o leitor apreenda que a divulgação dos textos de Nag Hammdi e mais recentemente (1970) do Evangelho de Judas ( que Elaine Pagels - já citada pelo Sr. Professor ) qualifica como uma descoberta espantosa , constituiram uma verdadeira REVIRAVOLTA no Cristianismo.A minha mensagem ao leitor é pois uma mensagem de abertura mental e espiritual a uma "nova" maneira de encarar Cristo e a religão , ressuscitada pelas importantes descobertas dos textos de Nag Hammadi e do Evangelho de Judas. O LEITOR DEVE SABER QUE HÁ OUTRA OPÇÃO. É claro que para a corrente tradicional , a vencedora , tudo o que possa de alguma forma representar um exercício consciente de confrontação de coisas até agora tidas como inquestionáveis , deve ser entendido como heresia , ou nas palavras do Professor João Marafuga , de sinais de comunismo ou totalitarismo. É óbvio , para quem tem dois dedos de testa ( aonde é que eu já ouvi esta expressão...?) ,que toda a visão apocalíptica retratada pelo meu interlocutor não passa de um espalhafatoso exercício de diversão. Mais valia o Senhor Professor afirmar que quem ousar ler e analisar as suas convições à luz desses escritos vai arder na fogueira do inferno... É claro que a corrente que venceu nos primórdios do cristianismo , e que estabeleceu as bases da Igreja Católica Romana , rapidamente estabeleceu as bases de uma história segundo as suas conveniências e interpretação , condicionando claramente desde então , o entendimento do Novo Testamento (NT) , apresentando-o como um simples código de conduta ético-moral , escondendo a sua verdadeira finalidade. É neste ponto que eu imputo responsabilidade à Igreja Católica , a Igreja que João Marafuga apelida de « guardiã da Cruz e da tradição».Ora , tal visão do NT promove a cegueira intelectual a que fiz já referência noutros comentários e que o nível de conhecimento da Verdade permaneça - intencionalmente - num estado de escravidão mental. O Professor João Marafuga auto inclui-se portanto naquilo que os sacerdotes católicos gostam de apelidar de "rebanho de ovelhas" , ou seja no grupo de pessoas iludidas pela pretensa tranquilidade proporcionada pela prática meramente superficial das leis impostas pela corrente vencedora , como se tal fosse o único objectivo divino da vida. A minha proposta ao leitor é que vá mais longe na busca do conhecimento , que abra o seu espírito a outra forma de viver o Cristianismo , aprofundando de forma curiosa e pessoal ( sem a supervisão imposta pela Igreja Católica , sempre avessa a qualquer interpretação das Escrituras fora dos dogmas que os seus ministros impuseram ao longo da história).É um convite e um desafio que lanço aos leitores.Ou seja , tendo sempre presente que o catolicismo romano mais não representa do que uma estratégia destinada a superar a ameaça que o gnosticismo representou ,e volta a representar , devemos regressar ao caminho do conhecimento.É óbvio que o proposto pelos Gnósticos nada tem a ver com o "fazer o que me dá na real gana" ou com a "exaltação do eu". Trata-se de um argumento de baixa moral e malidicente que visa exclusivamente ridicularizar o interlocutor ( tal como Irineu de Lyon o fez na obra citada ) e a visão gnosticista do cristianismo , baralhando o leitor menos conhecedor.Naturalmente que a busca do Conhecimento e do estudo de nós mesmos , deve passar por um exercício comparativo dos Evangelhos Gnósticos , dos fundamentos do Velho Testamento e da relação desse alinhamento com os princípios expostos no Novo Testamento com Jesus Cristo , sendo nessa comparação que reside a base de um melhor entendimento e compreensão do Gnosticismo. O despertar do Conhecimento , e a aceitação de um Poder Maior e Divino pode pois passar por um processo crescente de auto-condicionamento (portanto nada imposto) sustentado pela referida análise comparativa daqueles textos , e dos ensinamentos provenientes desse especial Conhecimento ou Gnose registados por anónimos nos Evangelhos de Nag Hammadi.É um processo de busca e conquista que só será bem sucedido com superação dos instintos , e pelo referida auto condicionamento , pelo que o Gnóstico nunca se poderá entregar aos maiores crimes conforme refere o Professor João Marafuga.

Luis Proença

Unknown disse...

Sr. Proença, os textos de Nag Hammadi não embaraçam a Igreja Católica porque esta é um rochedo indelével que emerge das entranhas da terra.
Em termos estruturais, Nag Hammadi veio com alguma coisa que não se conhecesse desde quase dois mil anos?
Se o sr. Proença conhecesse o CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA sancionado por João Paulo II a 11 de Outubro de 1992, saberia que a Igreja é una, santa católica e apostólica. O qualificativo de "romana", aparecendo em nota de rodapé, faz reverência à tradição. Esta para o ser verdadeiramente, exige renovação, o que leva a Igreja a transcender-se e cada vez mais a universalizar-se através de um permanente diálogo inter-religioso.
A Igreja, como a própria Cruz estampa, tem uma dimensão temporal representada pelo traço horizontal da Cruz. Neste campo, sempre que se desviou do Evangelho foi humilhada, mas a verdade é que, não obstante as tremendas vicissitudes ao longo dos séculos, a Cruz de Cristo foi sempre a bóia de salvação que nunca falhou. Hoje a Igreja, porque é uma supra-instituição sem par no Ocidente, pede desculpa ao mundo e atravessa mais uma das suas muitas fases de esplendor.
A Igreja de alguma maneira controlou o gnosticismo no longo período da Idade Média, mas não o estripou. A queda de Constantinopla (1453) e as décadas seguintes coincidem com uma fase de relaxamento na Cristandade que propicia o ressurgimento do gnosticismo e a deflagração da Reforma luterana. A adultez da filosofia medieval esfuma-se. Aparece o infantilismo filosófico cartesiano a cortar radicalmente o fio que vem de longe. O Iluminismo (culto da razão) abre o caminho ao positivismo (culto da ciência) e ao marxismo (culto da matéria). Hoje é o nihilismo, quer dizer, o fim dos mais altos valores do homem. Aqui, o próprio corpo humano vira mercadoria ao lado de um par de chancas. Eis-nos perante a antítese do significado da Ressurreição de Cristo tão ferozmente combatido pelo gnosticismo.
Quando nos abrimos a tudo, podemos correr o risco de nos fecharmos ao essencial. Alguém pensa que eu me desviarei da recta via por medo de me apelidarem um homem com palas? Por favor, não percam tempo a pensar o que não me ocorre nem sequer a dormir.
Será que o sr. Proença é defensor da ideia de que cada um interprete a Bíblia a seu belo prazer? É a auto-suficiência do homem moderno desde a Reforma a transpirar soberba por todos os poros e a arvorar-se em mestra de cada um.
Finalmente, o conhecimento não é fim, mas meio. O fim é Cristo, o Verbo encarnado, fundamento do mundo real porque o homem e o mundo estão imersos em Algo que neste passo designo por SENTIDO.
ISTO tem um Sentido. Nós é que não sabemos vê-Lo.

Anónimo disse...

Não pretendo ser provocador , mas depois de ter lido com algum detalhe a Lei sobre Detenção e Julgamento de presumíveis terroristas adoptado pelo Congresso dos EUA no passado dia 28 de Setembro , não posso , de forma alguma , deixar de voltar a questionar o perfil de "liberal" e "democrata" com que o Senhor Professor João Marafuga se apresenta neste Blog. Efectivamente , se o leitor deste Blog clicar em "João Marafuga" - "Escrevem aqui" no canto superior esquerdo da página inicial deste Blog , constatará em "About me" que o Senhor Professor se considera "DEMOCRATA , LIBERAL , CRISTÃO." Vem a isto a propósito do tom contundente com que o Senhor Professor João Marafuga interpela os seus interlocutores , reencaminhando sistemáticamente a sua argumentação para a rotulagem daqueles como sendo "comunistas" ou "esquerdistas" , tendo mesmo , mais recentemente , chegado a sugerir que eu me filiasse no partido comunista. Apesar do estilo de argumentação , e do sucessivo recurso ao rótulo de "comunista" apresentarem traços comuns evidentes com a forma como a administração Bush procurou intimidar a comunicação social americana e os criticos da política oficial no que concerne à guerra do Iraque , acusando-os sistematicamente de preconceitos esquerdistas ,nada disto me faria particular impressão , não fora a acusação que o Sr. Professor já me dirigiu , de ser intelectualmente desonesto. Neste ponto , e tendo sempre presente que o Senhor Professor João Marafuga se apresenta aos leitores como "liberal" e "democrata" , não resisto a recordar o que aquele escreveu no passado dia 28.9.2006 numa resposta a um comentário ao post "Estrutura Mental da Esquerda". Escreveu o Professor João Marafuga (sic) «... é da mão das administrações republicanas dos EUA que o mundo ocidental poderá esperar a defesa da liberdade.» Conclui depois dizendo que a base ideológica dos democratas nos EUA corresponde ao partido comunista e socialista em Portugal. Sem tirar nem por. Chegados aqui não resisto igualmente em partilhar com o leitor um pouco daquilo que resulta da aprovação da referida Lei sobre a Detenção e Julgamento de presumíveis terroristas aprovada pelo Congresso dos EUA no passado dia 28 de Setembro.Antes porém , importa referir que o governo Bush aproveitou o enorme receio dos republicanos em perder a maioria nas eleições legislativas intercalares que se aproximam para os levar a aceitar ideias extremamente sinistras sobre o antiterrorismo , as quais , na minha opinião , não só em nada contribuem para melhorar a segurança dos americanos , como poderão por em causa o próprio Estado de Direito que a América ostenta há 217 anos , e que tantas referências elogiosas mereceu dos cientistas políticos desde que Alexis Tocqueville publicou o 1º volume de "Da Democracia na América" nem 1835 ( obra que recomendo vivamente).Foi preciso o Supremo Tribunal dos EUA ter declarado inconstitucional o sistema penal excepcional criado à margem da lei por Bush no que respeita à detenção dos suspeitos de terrorismo , para que este adoptasse um tom urgente no que respeita à sua legitimação pelo Congresso. O problema é que , na minha opinião , o objectivo de Bush é sustentado em permissas no mínimo eivadas de um cinismo condenável. Vai obrigar os democratas a votar contra uma má legislação para depois os poder acusar de laxismo e anti patriotismo em relação ao terrorismo , tentando retirar dividendos eleitorais desse mesmo facto.Depois do acordo com três senadores republicanos "rebeldes" , Bush conseguiu impor praticamente tudo o que quis. Isso inclui , atente o leitor , num perdão total dos crimes cometidos por americanos ao serviço das politicas anti terroristas , prender , sem culpa formada , quem bem entenderem e pelo tempo que quiserem , interpretar de forma UNILATERAL a Convenção de Genebra , a recusa de indemnizações aos detidos por engano e a autorizar a prática da tortura. Vale a pena o leitor tomar contacto com alguns dos pontos mais sinistros da nova Lei. A mesma apresenta uma definição extremamente abrangente de "inimigo combatente" , permitindo à administração Bush deter cidadão estrangeiros no seu próprio país de origem , por tempo indefinido e sem possibilidade de recurso aos tribunais. A nova lei decepou a Convenção de Genebra permitindo a Bush decidir sózinho ( e de forma secreta ) quais os métodos de interrogatório que considera ou não abusivos. As pessoas detidas nas prisões militares ficam impossibilitadas de recorrer ao «Habeas Corpus». Os Tribunais americanos ficam impedidos de analisar a legalidade do novo sistema , não sendo permitido fundamentar qualquer acção judicial com recurso à Convenção de Genebra , o que permitirá a Bush manter em prisão perpétua , e sem julgamento ,quem considere um "inimigo combatente". A nova lei apresenta uma nova definição de tortura. A definição de agressão sexual ( no âmbito das práticas de interrogatório) é limitada às relações sexuais forçadas permitindo quaisquer outras sevicias sexuais. É certo que no futuro grande parte dos americanos não se recordará das circunstâncias e do ambiente pré-eleitoral que permitiu a Bush fazer passar esta lei no Congresso. De qualquer forma a mesma constituirá um dos marcos mais negros da história da democracia americana. Depois de ler isto , sugiro ao leitor que releia o perfil pessoal que o Professor João Marafuga apresenta neste Blog ( "liberal" , "democrata" e "cristão") . Depois releia a sua resposta de 28.09.2006 ao comentário ao post "A Estrutura Mental da Esquerda" no qual afirma e tenho de repetir que «...é das mãos da administração republicana dos EUA que o mundo ocidental poderá esperar a defesa da liberdade.». Não quero de forma alguma ser provocatório , mas continuo a afirmar , respeitosamente , que face ao teor das suas posições neste Blog , certamente que o Professor João Marafuga comete um excesso quando se afirma "liberal" e "democrata". Neste ponto , e voltando ao objecto desta discussão , quase que me atraveria a sugerir ao Professor J.Marafuga que pensasse um pouco nas vantagens do caminho do auto-condicionamento , de superação dos instintos e do arar da própria mennte proposto pelos Gnósticos na sua busca pela Verdade Divina. Parece-me a mim óbvio que a forma prepotente como entende deve ser aceite e reconhecido o Poder Divino , em nada tem contribuido para a moderação da contundência verbal , para o controle da tentação da rotulagem sistemática dos outros e para o recurso à ridicularização das respectivas posições , e até , como me parece evidente para alguma incoerência entre aquilo que se diz que é , e aquilo que transmite ser. A final parece-me a mim que nada disto é compatível com a mensagem de Cristo , seja qual for o nosso posicionamento em relação a Ela.

Luis Proença

Unknown disse...

Então agora do gnosticismo passamos para o terrorismo? Não é que se trate de um salto abissal, mas eu tenho o direito de dizer: basta!

Anónimo disse...

O meu comentário anterior deve ser entendido como um parentesis. na verdade estava a redigi-lo quando V.Exª. "postou" a resposta ao meu comentário anterior. Digamos que depois de tomar contacto com a referida Lei sobre a Detenção e Julgamento dos suspeitos de terrorismo , e lembrando-me das palavras do Senhor Professor , não resisti a realçar a incompatibilidade entre o Perfil com que se apresenta ao leitor inocente , e aquilo que vem sustentando neste Blog. Não é portanto nenhum salto abissal. Redigi o comentário antes de ter tomado conhecimento da sua derradeira resposta a esta modestissima (da minha parte claro...) sobre o gnosticismo. Da minha parte ainda não basta! Até ao momento , e apesar de me ter preocupado um pouco em permitir ao leitor ainda menos atento do que eu a estas questões , tomar um contacto inicial com o gnosticismo , a verdade é que ainda não lhe dei qualquer oportunidade de classificar a minha posição como tal , pelo menos no plano de uma adesão expressa aos principios do gnosticismo. Apesar de já o termos aflorado , e depois de um enquadramento do gnosticismo no plano histórico , certo é que nenhum de nós proporcionou ao leitor uma clarificação sumariada sobre as doutrinas que V.Exª vem energicamente denunciando. É verdade que as mesmas foram afloradas aqui e ali , mas importa agora isolá-las para que este debate possa ser melhor entendido.Antes de mais , e para situar o leitor devemos distinguir GNOSE conhecimento (espiritual) ,de GNOSTICISMO ( aquilo que já foi referido neste debate como uma representação nos movimentos ideológicos da actualidade das doutrinas das seitas gnósticas dos primeiros séculos) e as próprias SEITAS GNÓSTICAS dessa época identificadas com aquilo comumente aceite como heresia gnóstica.Basicamente tais doutrinas denunciadas pela Igreja Católica como heresia traduzem-se num já referido ( por V.Exª.) dualismo absoluto entre o mundo do espírito e a realidade material , portanto um dualismo insuperável entre alma e corpo e o Criador representado como uma divindade secundária imperfeita por comparação à suprema divindade espiritual. A minha única intenção era proporcionar ao leitor no final deste diálogo um conjunto de informações e referências que permitissem ao leitor situar-se nesta questão e demonstrar que a posição redutora do Professor João Marafuga em relação a esta questão não é a mais correcta na minha modesta perspectiva. Pese embora nunca tenha assumido expressamente , como V.Exª , com alguma dose de espírito inquisitorial , quis fazer crer aos leitores , uma posição manifestamente colada a ao dualismo que caracteriza as posições das seitas gnósticas , certo é , que a minha abertura de espírito me leva a aceitar como real (embora não num sentido tão pessimista como Voegelin) a existência de um gnosticismo na actualidade. Muito para além da questão em torno da sua manifestação nos movimentos ideológicos do Sec.XX trazida de forma alarmista por Voegelin , admito a sua expressão em áreas tão diversas como a cultura.É óbvio que , quer isoladamente , quer em conjunto com elementos de índole cristã tradicional , o gnosticismo assume um espaço próprio na nossa cultura , dita ocidental. Nessa perspectiva ,é importante que o leitor entenda que a posição do Professor João Marafuga é amplamente redutora , reduzindo à condição de heresia , manifestação de comunismo , ou marxismo ou qualquer forma perigosa de propensão para o totalitarismo , qualquer manifestação de gnosticismo , mesmo quando inseridos num contexto mais abrangente , que tido na devida conta , lhes dará um sentido completamente distinto.Ou seja , para o Professor João Marafuga é impossível distinguir a Gnose , do Gnosticismo e das correntes doutrinais das Seitas Gnósticas dos primeiros séculos. É tudo metido no mesmo saco como manifestação do Diabo...como uma espécie de guerra contra a Igreja Católica , da qual aquele acredita que eu faço parte integrante.O curioso , é que nem o próprio Eric Voegelin (tantas vezes citado pelo Professor João Marafuga como âncora dos seus argumentos) chegou ao ponto de aventar tal perspectiva de conspiração comunista , nazista , gnóstica contra a Igreja Católica.
Ao leitor ressaltará a convicção de que para o Professo João Marafuga só há duas hipóteses de corrente ideológica na história: A Católica e todas as outras reunidas numa só palavra: os revolucionários!! Nessa medida não me surpreenda que para o Professor João Marafuga eu seja um perigoso revolucionário. Mesmo não me assumindo expressamente como tal , o simples facto de desafiar à abordagem dessa visão numa perspectiva de mero exercício de erudição faz-me rotular de comunista , chegando ao ponto de sugerir a minha filiação nesse partido.A escolha do Professor Marafuga é um verdadeiro acto de fé , e respeito-o como tal. O que já não posso aceitar é que o Senhor Professor queira confundir esse acto com a fé da Igreja Católica rotulando como "esquerdista" ou "comunista" quem não alinhe na sua forma de pensar. Afinal quem é dualista? Tal conclusão é naturalmente extensiva à acusação de quase criminosos perigosos com que atinge tudo o que é sinal de gnosticismo à semelhança do que a Igreja fez nos primórdios do Cristianismo. Como já disse atrás ,o Professor João Marafuga tem todo o direito de defender os seus pontos de vista ( ainda que da forma impulsiva e contundente que ele próprio admite) , mas não pode , nem sequer tem o direito de insinuar que a sua posição corresponda a um dogma da Igreja. Nunca , que eu saiba , a Igreja Católica , associou qualquer forma de espiritualidade não católica com aquilo que qualificou de herético nos primeiros séculos. Nesse aspecto V.Exa. cria uma forma de catolicismo privado , transpondo nitidamente a fronteira da religião no sentido da ideologia. Face ao exposto e à sua forma de pensar devo mesmo ser um gnóstico. Demorei um pouco a chegar a esta julgamento. De facto foi algo inocente na forma como embarquei na sua lógica de "pescadinha de rabo na boca" , numa argumentação irrefutável porque quase "autista". Posto isto concordo que já não há espaço de manobra para prosseguir com esta discussão. Cansei-me de levar com a "Cruz de Cristo". Não serei certamente um gnóstico na acepção mais antiga das seitas dos primórdios do Cristinianismo , como também não sou um alinhado do gnosticismo na acepção voegeliana com que usa a palavra. Se o sou na versão pequenininha e mirradinha com que o Senhor Professor João Marafuga a entende já será um assunto que só a mim dirá respeito. Aos leitores só me resta fazer um voto. Não se inibam com os rótulos e ousem abordar estas questões sem os grilhões que vos querem impor. De outra forma arriscam-se a ficar à mercê de formas extremas e redutoras de ver a Vida , quer no sentido do esmagamento total do conhecimento pela Cruz. Num dos seus raros rasgos de pensamento minimanente perceptível , o filósofo romeno Emile Cioran afirmou "SÓ TEM CONVICÇÕES AQUELE QUE NÃO APROFUNDOU NADA.".

Luis Proença

Unknown disse...

"Só tem convicções aquele que não aprofundou nada" é uma fórmula desastrada para o relativismo, inferno do nosso tempo.