13 outubro 2006

Não me admira

Dei uma volta por Alcochete e não vi um único sinal de protesto contra o encerramento das urgências do hospital de Montijo. Fiz o mesmo no centro desta cidade e deparei com raros e muito dispersos panos e plásticos negros, símbolos de adesão à campanha da autodenominada Comissão de Utentes da Saúde de Alcochete/Montijo.
"O Zé Povinho olha para um lado e para o outro e...fica como sempre...na mesma" (Rafael Bordalo Pinheiro).
Assim se vê a força do PC!
O povo é quem mais ordena!

1 comentário:

Anónimo disse...

Li há alguns dias na revista "The Economist" um artigo sobre Espanha. Depois de sucessivas revisões em alta da economia espanhola por parte da Comissão Europeia e de outras entidades internacionais , foi com alguma surpresa que constatei naquele artigo , criticas contundentes dirigidas ao Governo espanhol por parte de muitos sectores representativos da sociedade civil espanhola , que se insurgiam contra aquilo que na generalidade apelidavam de gestão pouco criteriosa dos investimentos públicos. Para um simples português como eu , habituado a viver num país onde as previsões económicas são sistemáticamente feitas em baixa , fiquei com a impressão que os nossos vizinhos estariam a ser demasiado exigentes com a performance do seu governo. É certo que estou ciente que Zapatero está a colher os frutos da excepcional governação Aznar , e que o ciclo positivo da economia espanhola dá sinais de algum desgaste , mas será que as constantes previsões de crescimento económico não deveriam suscitar o regozijo dos espanhóis e não o seu cepticismo critico? Será que Espanha já atingiu um patamar de desenvolvimento que não se compadece com qualquer tipo de compreensão face ao poder político? Depois , reflectindo sobre o artigo , não pude deixar de constatar o terrível contraste com a abulia da sociedade portuguesa. Desde a prolongada "lua de mel " entre as principais elites do país e o povo que se viveu no guterrismo , período em que o país andou inebriado com o sorriso ceráfico do Engº Guterres , passando pela forma divertida com que toda a sociedade civil assistiu ao "reality show" santanista , contam-se pelos dedos as bolsas de crispação no seio da opinião pública nacional. Estando os portugueses a atravessar um período já bastante prolongado de grande aperto financeiro , questões como a do encerramento das urgências do Hospital do Montijo , seria motivo suficiente de forte fricção entre o Governo e as populações afectadas com tal decisão. Contudo , ao contrário dos seus vizinhos ibéricos , os portugueses continuam a revelar passividade e indulgência no seu relacionamento com o poder político. Ora sendo a nossa tradição democrática semelhante à espanhola , há que admitir que a origem do problema tem a ver com a nossa falta de cultura cívica , facto ao qual não será alheio o peso do Estado na sociedade civil , a baixa qualidade do ensino , a escassez de espaços públicos , o consumismo anestesiante , entre outros factores mais ou menos descurtináveis. É igualmente patente a falta de iniciativa capacidade discursiva das forças politicas locais , bem como de outros agentes da sociedade civil , que não revelam o mínimo interesse ou pelo menos competência para despertar as consciências criticas dos cidadãos afectados com essa decisão e para promover uma atitude mais empreendedora do povo em geral. Esta é a lição que retirei da atitude de nuestros hermanos.

Luis Proença