27 outubro 2006

Verdades a que temos direito


Entrevistas lidas no último número do jornal da terra, atinentes ao primeiro aniversário de uma derrota justificada e de uma vitória imerecida no poder local, confirmam duas coisas:
1. O que se escreveu sobre a matéria neste blogue fica aquém da realidade;
2. Para dizer o mínimo, a câmara é um covil de mistificação.
Assumo as minhas responsabilidades na primeira, lamentando ter sido demasiado brando.
Quanto à segunda, que só surpreenderá os distraídos, as soluções terão de partir da comunidade porque individualmente ninguém conseguirá emendar nada.
Colectivamente deveria reflectir-se sobre se merecemos a mentira e a trapaça ou se as entrevistas representam um murro no estômago de quem se sacrifica para pagar impostos.

Se se justifica haver crianças em escolas inqualificáveis, algumas sem nenhum ou com refeitório contentorizado, enquanto se realizaram obras não prioritárias, como um aberrante e dispendioso fórum cultural, uma biblioteca para o quádruplo da população residente e uma avenida a que decidiram chamar variante para o Estado a co-financiar.
Se é justo continuar a subsidiar um associativismo que, em número significativo de casos, serve somente para pobres de espírito e de capacidade de iniciativa se armarem em importantes, embora haja centenas de pessoas que calcorreiam caminhos enlameados e esburacados, como as residentes em Pinhal do Concelho, Passil, Terroal e não só.
Se devemos continuar a contemporizar com o desperdício de dinheiro em festanças a que a maioria não vai, embora haja centenas de idosos vivendo em isolamento e condições tais que, se conhecidos, chocariam até corações empedernidos.
Dou apenas três exemplos para não maçar, embora tenha coleccionado um grande saco deles.
A vós cabe decidir se preferem continuar com a cabeça enfiada na areia ou se é a hora de varrer o lixo, não para debaixo do tapete mas para o local correcto.

Quando pressinto perfilarem-se no horizonte alguns potenciais candidatos a herdeiros desta choldra, peço-lhes um pouco de dignidade e de coragem: demonstrem, previamente, dispor da vassoura adequada para limpar esta porcaria.
Provem ser bons técnicos de limpeza. Porque disto sei que todos são capazes.



P.S.-O blogue «Escândalos no Montijo» republicou este texto, gentileza que agradeço ao seu animador.

12 comentários:

Unknown disse...

Com certeza que temos direito a todas estas verdades.

Anónimo disse...

Li e reli as entrevistas a que FBastos se refere no seu "post". Aquelas entrevistas são o paradigma de uma das maiores dúvidas existenciais da vida política portuguesa. Há alguma fronteira entre a responsabilidade política e a irresponsabilidade política? Será que para os entrevistados qualquer destas designações definem a mesma coisa? Para o bem dos munícipes de Alcochete , que com toda a certeza partilham comigo a legitima vontade de se sentirem respeitados , urge separar estas "gémeas siamesas".O previsivel aumento da quota-parte dos impostos a serem cobrados localmente por força da nova Lei das Finanças Locais vai , por consequência , fazer aumentar a percentagem da contribuição dos munícipes para os orçamentos municipais.Que melhor motivo terão os municípes de Alcochete ( e do país inteiro) para ASSUMIREM UMA ATITUDE DIFERENTE quando se trata de analisar a forma como o seu dinheiro é gasto localmente. Afinal , é preciso que os muncípes assumam definitivamente a consciência que já suportam com os seus impostos uma parte significativa das despesas locais , e que essa percentagem vai aumentar. Das últimas entrevistas do Sr. Presidente da Câmara resulta evidente que a essa atitude de maior exigência que se pede aos municípes deverá corresponder uma maior APTIDÃO a sancionar negativamente uma gestão autárquica que começa a dar sinais evidentes do imobilismo e da ineficiência que caracterizou a gestão autárquica comunista neste Concelho durante 20 anos. Urge pois evitar o adormecimento do sentido critico do cidadão eleitor de Alcochete. Resta saber se os actuais dirigentes políticos locais do PSD e do CDS/PP estão à altura do desafio.

Luis Proença

Ponto Verde disse...

Já agora um convite à borliú para verem o video da Bicicletada de ontem, Massa critica de Lisboa em www.a-sul.blogspot.com

Anónimo disse...

Já quase tenho decidido o meu voto para as próximas eleições autárquicas:
- para os órgãos executivos: VOTO EM BRANCO;
- para assembleias: logo veremos...

Alcochetano disse...

Aqui deixo o meu desabafo utópico:

Quando é que será que os politicos da minha terra me irão representar?
Quando é que olharão para Alcochete sem a ideologia partidária atrás deles?
Quando é que se assume que a cadeira do poder, não é um estatuto de ambição pessoal, mas um voto de confiança de quem os elegeu, para simplesmente nos representar a todos, ricos ou pobres?

Sr. Bastos os seus exemplos são visiveis a todos, pelo senso comum. A politica não usa senso comum.

Neste momento entre o votar em branco e o não votar, é para mim igual.

Anónimo disse...

"Neste momento entre o votar em branco e o não votar, é para mim igual." - é nisto que eles ganham! A Abstenção é comodismo, é indiferença, é férias, é viagem, é morto...

Numas eleições 30% de abstenção tem o mesmo significado de 30% de VOTOS em branco?

Unknown disse...

Só sei de uma coisa: a nossa brandura para comunistas faz que estes a virem contra nós.
Qualquer dia desenvolverei este tema.

Unknown disse...

E mais: a grande ilusão de muita gente é pensar que há comunismo honesto.
O comunismo, pela própria génese, não pode ser honesto.

Anónimo disse...

Como sempre o que muda são as moscas por a m.... continua a ser a mesma.

AS

Unknown disse...

E finalmente: é preciso destruir a aura de santidade dos comunistas.

Fonseca Bastos disse...

Réplicas a alguns comentários:
"...é preciso que os muncípes assumam definitivamente a consciência que já suportam com os seus impostos uma parte significativa das despesas locais..."
Caro Luís Proença: enquanto cidadãos nacionais e munícipes de Alcochete TODOS suportamos com impostos, taxas e licenças TODAS as despesas locais. Este município tem alguma actividade lucrativa? Que eu saiba, nunca o demonstrou.

"Quando é que será que os políticos da minha terra me irão representar?"
Eles representam-no, de facto e de direito, caro Alcochetano, senão depressa teriam de abandonar aquelas cadeiras. O problema reside na forma célere e despudorada com que inventam desculpas para rasgar os compromissos.

"Quando é que se assume que a cadeira do poder, não é um estatuto de ambição pessoal, mas um voto de confiança de quem os elegeu, para simplesmente nos representar a todos, ricos ou pobres?"
Em meu modesto entender, caro Alcochetano, está a inverter a questão.
Quem se senta na cadeira do poder mereceu a confiança dos eleitores para uma missão de serviço em prol da comunidade, tendo como primeiro dever demonstrar capacidade para honrar os compromissos que justificaram a vitória.

Permitam-me, enfim, recordar que o meu texto sugere algumas acções:
1. Colectivamente deveria reflectir-se sobre se merecemos a mentira e a trapaça ou se as entrevistas representam um murro no estômago de quem se sacrifica para pagar impostos. Parece-me transparecer dos comentários o consenso sobre ambas as coisas. Mas ninguém aponta caminhos...
2. A vós cabe decidir se preferem continuar com a cabeça enfiada na areia ou se é a hora de varrer o lixo. Quem interveio parece-me contrariar a primeira hipótese e inclina-se para a segunda. Mas ninguém aponta caminhos...
Só a fruta madura cai da árvore. E esta fruta, embora má, está verde. De duas uma: ou se abana fortemente a árvore ou a fruta ficará agarrada mais três anos. Entretanto, fará imensos disparatares. E alguns, como os imobiliários, não terão emenda no futuro.

Anónimo disse...

Caro FBastos,

Naturalmente que concordo consigo. Fui explicito no meu comentário quando referi o aumento da quota parte dos impostos a serem cobrados pelas próprias câmaras municipais , um dos "cavalos de batalha" da nova Lei das Finanças Locais que mais desagradou aos autarcas. É óbvio que tal facto vai contribuir ( penso eu...) para uma maior atenção dos municípes para a forma como os dinheiros da autarquia são gastos. Infelizmente , até à data , o facto de todos contribuirmos , indirectamente , através do orçamento geral do Estado e das subsequentes transferências de verbas da administração central para as autarquias , não foi suficiente para um despertar das consciências nesse sentido. Pode ser que agora , ao se imputar às Câmaras Municipais uma maior fatia das receitas fiscais a serem cobradas directamente por seu intermédio , as pessoas prestem mais atenção à forma como os seus tributos são gastos. Quanto a este ponto fica clara a razão da animosidade dos autarcas relativamente a esta proposta de Lei das Finanças Locais. Até agora , o "trabalho ingrato" da cobrança das receitas fiscais era feita pela administração central , mesmo que parte dessas receitas fosse afectada às transferências para a administração local. Agora , as câmaras municipais terão de partilhar esse esforço com a administração central no que concerne a uma parte mais significativa das suas receitas , com o inerente desgaste que tal pode acarretar junto do eleitorado. Por isso reafirmo que no futuro , os municipes poderão estar mais sensíveis e atentos à forma como o seu dinheiro é gasto . Já não é só esse ente distante e abstracto ( Estado na sua vertente longínqua da administração central) que cobra os impostos. Quando deixarmos só de ir à Câmara Municipal para pagar água , esgotos e começármos a ter que nos dirigir aos serviços camarários , ou a receber notas de cobrança de impostos emitidas directamente pelas Câmaras Municipais , algo pode mudar na forma como os cidadãos acompanham a gestão dos seus representantes nos orgãos autárquicos.

Luis Proença