26 novembro 2008

Municipalismo de outrora (6): transportes e ligação fluvial


Tráfego fluvial no Tejo em época próxima
da mencionada no texto abaixo
(imagem cedida pelo Dr. João Marafuga)

O primeiro artigo desta série está arquivado aqui. Para consulta directa dos restantes recomendo que, na janela «Pesquisar no Blogue» situada no canto superior esquerdo desta página, seja introduzida a palavra-chave Municipalismo.


Outrora as deslocações em "serviço oficial", do presidente e dos vereadores da câmara, eram indistintamente feitas mediante o aluguer de automóvel ou charrete, sendo inúmeros os prestadores desses serviços citados nas actas consultadas.
Em todas as sessões eram autorizados pagamentos por viagens a Samouco, Montijo e Setúbal e, frequentemente, também a Lisboa.

Em Março de 1939, pela primeira vez, aparece mencionada uma Sociedade Automobilística Montijense como prestadora de serviços de transporte do executivo camarário. Até então eram apenas mencionados nomes individuais de proprietários ou condutores dos veículos.
Em princípios da década de 40 deixam de aparecer pagamentos de despesas de transporte do executivo municipal, pelo que, provavelmente, a câmara terá adquirido nessa época o primeiro veículo para serviço oficial.

Transporte fluvial

O transporte fluvial de passageiros entre Alcochete e Lisboa, então concessionado à Empresa Portuguesa de Navegação Fluvial, principiou a 2 de Agosto de 1904 com um velho barco adquirido na Alemanha e movido a carvão (para mais pormenores consultar este texto).
A linha foi sempre deficitária e dependente, em grande medida, de regular apoio financeiro da autarquia.

No Verão de 1939, já com um segundo vapor «Alcochete» ao serviço (ver imagem no texto com hiperligação acima), uma vez mais a empresa proprietária pede à câmara o fornecimento gratuito de água para a caldeira, de modo a reduzir as despesas e com isso poder manter a carreira. Por maioria, a câmara decide conceder um desconto de 50%.
Em Agosto de 1944 – a escassos dias das Festas do Barrete Verde e das Salinas – novamente a empresa pede à câmara a intercessão junto do Porto de Lisboa para que destrua o maciço de ostras na cala de Alcochete, que dificultava a navegação em todas as marés e ocasionava rombos na quilha do «Alcochete», estando a braços com imensas dificuldades económicas para manter a carreira.
Embora tal seja quase ignorado pelas gerações actuais, convém recordar que, segundo o historiador Joaquim Veríssimo Serrão, durante cerca de dois séculos existiram defronte de Alcochete viveiros de ostras. Foram importante fonte de receita e chegaram a ser exportadas, em grande quantidade, para a Grã-Bretanha, durante o reinado de D. José I.
Desconheço quaisquer estudos aprofundados sobre a matéria – embora haja documentação na Torre do Tombo e no arquivo da Direcção-Geral das Pescas – mas alguns alcochetanos juram que os viveiros só acabaram poucos anos após a entrada em funcionamento do estaleiro naval da Margueira (Almada), devido ao efeito nefasto dos produtos químicos utilizados no tratamento do casco dos navios.

Em 1944 a Empresa Portuguesa de Navegação Fluvial gasta mais de 50 contos na reparação da quilha do vapor, corroída pelo roçar nas ostras, sendo forçada a uma paragem do navio durante 26 dias e ao aluguer do vapor «Renascer», à razão de 970$/dia, sendo de 1.500$ aos domingos. A câmara concedera anteriormente 2.000$00 de subsídio para a reparação do barco e o aluguer do substituto.
Era opinião da vereação da época que a carreira fluvial para Lisboa "é de absoluto interesse para o concelho e somente tem viabilidade com o auxílio da câmara durante a recuperação do vapor «Alcochete»".
Para a maioria dos residentes o vapor era simplesmente "o nosso Menino" e, durante cerca de 30 anos, um dos seus tripulantes mais populares foi Mestre Francisco Marques (1900-1978), alcochetano castiço e 'Petrolino' por alcunha.


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