16 dezembro 2008

Impactes do novo aeroporto


Não cabe neste blogue colectivo – pelo menos sem grafismo e funcionalidades novos – um longo resumo do que foi dito, no passado sábado, num debate organizado pelo PS no fórum cultural.
Mas algumas intervenções foram importantes, pelo que convém divulgá-las e arquivá-las para memória futura, recomendando também alguma reflexão individual imediata.
Em linguagem quase telegráfica apresento um resumo do que me parece relevante para Alcochete.


Augusto Mateus (professor universitário e consultor)
O mercado de arrendamento habitacional não funciona. Os portugueses foram transformados em "servos da gleba" e forçados a comprar uma casa, quando apenas precisavam de habitação para viver.
O aeroporto tem de ser competitivo, gerir bem os recursos naturais e ser grande centro de comércio intercontinental. Só será concorrencial se as taxas aeroportuárias cobradas ficarem aquém das praticadas no país vizinho. Para que isto seja possível terá de gerar receitas não ligadas à aviação, nomeadamente de pólos empresariais modernos e com qualidade ambiental.
Em redor do aeroporto deverão existir infra-estruturas turísticas e fabricar-se produtos para mercados sedentos de boa qualidade, levantando-se uma barreira à especulação imobiliária. Imprescindível devolver à Zona de Protecção Especial do estuário do Tejo aquilo que lhe é devido.
Se a opção for construir uma grande cidade aeroportuária, em vez dos 14.000 empregos existentes na Portela poderão criar-se 30.000 a 40.000.
Para as pessoas é indiferente a divisão administrativa desenhada há mais de um século, verificada a impossibilidade de gerir equipamentos sociais e colectivos.
Deve travar-se a lógica de dormitório e não estragar o que está conservado. Criar áreas mais bonitas e mais cuidadas.
Península de Setúbal pode ser um dos pólos da cidade de duas margens. Metro Sul do Tejo devia servir todo o arco ribeirinho na margem esquerda (de Almada a Alcochete).
Lisboa tem um rio sem barcos (alusão à inexistência de tráfego fluvial de carga e passageiros).

Ana Paula Vitorino (secretária de Estado dos Transportes)
Prolongamento do Metro Sul do Tejo até Barreiro e Seixal está em estudo. Alargamento ao Montijo está a ser considerado.

Fonseca Ferreira (presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo)
Necessidade de desenvolvimento sustentado e sustentável. Diversificar actividades económicas, alargar o pólo industrial, desenvolver o turismo e a logística (Poceirão e portos) de forma equilibrada e requalificar o arco ribeirinho Sul. Reunir actores e entidades públicas para construir uma região inteligente e com inteligência.
Indispensável considerar a coesão social, porque há situações críticas a requerer atenção.
Alcochete e Montijo têm zonas ribeirinhas que importa recuperar e preservar.
Quanto ao aeroporto: opção deve ser cidade aeroportuária, com habitação apenas para pessoal que nele trabalhará e pouco mais.
A expansão urbana deve ser polarizada em torno dos aglomerados existentes. Prioridade à reabilitação em vez da expansão.
Reforço das áreas de protecção integral e/ou parcial.

João Ferreira do Amaral (professor universitário e especialista em macroeconomia)
Três recomendações:
a) Melhorar a competitividade da economia. Desde os anos 90 perdemos competitividade. Devemos produzir mais bens de consumo corrente;
b) Reduzir as desigualdades. Há elevados índices de pobreza e estamos longe dos padrões europeus aceitáveis. Melhorar a coesão social pode aumentar a produtividade;
c) Lidar com o envelhecimento da população. Sociedade portuguesa envelhece rapidamente e o país foi apanhado de surpresa. Há poucas estruturas com dignidade para idosos.

Nuno Canta (vice-presidente da Câmara Municipal de Montijo)
Costuma encarar Alcochete e Montijo como território único.

José Manuel Palma (professor universitário e consultor)
Tem quase concluído estudo no qual demonstrará que residentes na margem Norte do Tejo não consideram tentador residir na margem Sul. Esta agrada-lhes para passear e comer e, eventualmente, alguns poderão adquirir segunda habitação.
O aumento populacional de Alcochete e Montijo resultou, sobretudo, do desejo da população regional de melhorar a qualidade habitacional.
É errado o desenho concêntrico das áreas condicionadas pela protecção à zona de influência do novo aeroporto, até 25kms de distância. O efeito será desigual nessas áreas territoriais.
As grandes obras devem ser aproveitadas para fornecer compensação e protecção ambiental aos espaços territoriais em seu redor.
Durante 10 ou 11 anos participou em estudos ambientais preliminares sobre as hipóteses de erguer o aeroporto na Ota ou em Rio Frio. Esta opção foi posta de parte devido à irredutibilidade da Força Aérea Portuguesa, que nunca encarou prescindir do Campo de Tiro de Alcochete. A localização definitiva, decidida o ano passado, só foi possível devido à alteração da posição da aeronáutica militar. No processo houve coisas pouco claras e menos transparentes.



Declaração de interesses: a publicação deste texto é acto de mera cidadania. Nada me liga ao PS ou a qualquer outro partido.

4 comentários:

Paulo Benito disse...

Obrigado pela descrição.

Fonseca Bastos disse...

Grato por ter lido.

Fernando Pinto disse...

Meus caros,

O assunto exposto pelo Fonseca Bastos é apenas um resumo do que foi abordado neste Fórum de Ideias que a nós população de Alcochete tanto nos diz.
Lamento o facto de este debate ter decorrido numa altura do mês em que surgem outras ocupações e não posso deixar de referir que esperava sinceramente ver mais pessoas de Alcochete presentes no Fórum, sobretudo num dia em que se fala de algo tão extraordinário como é o novo Aeroporto de Lisboa e os respectivos impactos no concelho de Alcochete.
Infelizmente a minha dispponibilidade não me permitiu assistir o dia todo contudo do que me foi dado a conhecer, rapidamente concluo que esta iniciativa foi assinalada com êxito, pelo tema apresentado e pela frontalidade e objectividade com que se debateram ideias e criticas na busca incessante de melhorar as condições de vida das populações de Alcochete e concelhos limitrofes.
Bem Hajam!
Espero que a Comunicação Social de Alcochete saiba trazer a público esta noticia detalhada para que quem não esteve presente possa de facto ficar elucidado com algumas notas explicativas.

Zeferino Boal disse...

Ao fim de três anos de mandato autárquico continua a falta centro de debate e troca de ideias.

Por dificuldade de agenda não pude estar o dia todo, apenas o período da manhã.

Haja coragem de provocar mais debates desta natureza, nunca tive receio de estar em locais que permitissem provocar o contraditório do debate.